Little Angel

Capítulo 17 - Festa


Arrancar a história inteira de Alec foi um pouco difícil. Ele ainda estava em choque, mas após o jantar parecia melhor. Era claro que uma alimentação leve e líquidos o ajudaram imensamente a ganhar um pouco de cor.

Falar do estado de Izzy o ajudou um pouco, pois não tinha o menor problema em admitir que Clary não tinha nenhuma culpa nos ferimentos da irmã. O problema era ele enxergar que o mesmo se aplicava a ele.

— Não é o mesmo. Eu queria.

— Isso não muda o fato de que sem essa possessão você nunca teria feito mal a ela, Alexander.

— Talvez, mas ainda me sinto péssimo.

Jace colocou a sua pequena mão sobre a dele.

— Você não é malvado.

— Talvez eu seja. Eu fiz mal a alguém.

— Não fez por querer, né? - Ele retrucou olhando para Simon como se pedisse confirmação do que falava.

— É, cara. - Simon falou sem prestar muita atenção. Estava com o celular na mão e teclava furiosamente. — Jace, por que você não vem comigo e a gente liga pra Clary? Aposto que ela vai adorar falar com você.

O menino abriu um sorriso e saiu de mãos dadas com o vampiro que sorriu para os dois, dando um pouco de privacidade.

Assim que ele saiu, os olhos dos dois se cruzaram e Magnus pigarreou, fazendo com que Alec desviasse os olhos sem graça.

Então, decidiram se ocupar levando a louça para a cozinha e lavando-a, mesmo sem a mínima necessidade pois Magnus poderia resolver tudo aquilo com um estalar de dedos, mas era bom ter com o que ocupar as mãos enquanto conversavam.

— Até mesmo Jace sabe que você não teve culpa alguma nesse incidente com a Jocelyn.

— Ele nem mesmo entende que eu matei a mãe dele, Magnus.

— Não poderia ter matado o que ele nunca teve, não é? Ela não era a mãe dele nem nunca foi. Pode tê-lo colocado no mundo, mas o contato acabou aí. Não romantize tudo só por conta de uma consciência pesada. Ela não era mãe dele e não era uma boa pessoa. Ela, de fato, foi o motivo dele ter sofrido muito durante a vida.

— Eu sei disso, mas mesmo assim é uma vida.

— Não é fácil matar ninguém, Alexander.

— Você não entende. Não é como matar um demônio um vampiro sanguinário que mata inocentes. Era uma pessoa.

— Era uma pessoa horrível, Alexander. Uma assassina. Ela ser uma pessoa, uma shadowhunter, não faz dela uma pessoa menos pior. Ela começou o Ciclo junto com Valentim, era seu braço direito. Depois tentou matar a ele e o filho, e acabou matando os próprios pais. E agora tentou matar o filho novamente e quando não conseguiu mandou torturá-lo. Ela não chegaria aos céus de qualquer jeito.

— Com certeza não. Deve estar queimando em Edom ou outro reino nesse momento. - Asmodeus comentou ao entrar na cozinha sem a menor cerimônia após ter ouvido parte da conversa.

— Escutar conversa alheia é feio.

Asmodeus deu de ombros e começou a fuçar a geladeira.

— Não quero atrapalhar o que quer que isso seja. - Alec comentou entredentes, gesticulando para Magnus e Asmodeus.

Asmodeus sorriu e voltou sua atenção para a geladeira.

— Atrapalhar o quê? - Magnus não entendeu.

— Agora deu pra entender como houveram 17.000 antes de mim. A fila não anda, corre. - Falou antes de sair e ir procurar Jace.

Magnus revirou os olhos e o seguiu.

— Ele é meu pai, Alexander. - O feiticeiro falou, fazendo Alec sorrir de canto.

— Não quero saber como vocês se chamam na intimidade.

— Deixe de ser infantil!

— Infantil? Pelo Anjo, Magnus. Mais um pouco ele senta no meu colo. É por isso que não me deixa ver o Jace? Não quer que eu veja seu novo namorado?!

— Não seja bobo. Não fiz questão que o visse porque você não hesitou um segundo para entregá-lo para a Clave.

— Eu não entreguei ninguém. Eu tentei proteger você e ele, Magnus. Era óbvio que queriam acusá-lo de ter atacado a Jocelyn, então achei que se deixassem interrogá-lo com a espada em mãos, a verdade viria à tona e ninguém poderia contestar, nem mesmo a Clave. E eu trouxe ele sem falar nada porque você não o traria, e eles te prenderiam por isso.

— Eu tenho um contrato…

— E você acha que a Clave liga para qualquer contrato feito por um feiticeiro, Magnus? A própria mãe do menino o acusou. Eles o acusariam também e você acabaria queimando em Gard antes de conseguir provar que não fez nada. E esse não é um risco que eu quisesse correr!

— Não tinha o direito de decidir por mim. Você devia ter me contado tudo e não agido pelas minhas costas.

— Eu te amo, Magnus! Eu não consegui sequer cogitar que algo pudesse lhe acontecer. Se houvesse qualquer mínima chance de você ser ferido, eu não iria me perdoar nunca.

Magnus pareceu balançado com a confissão de Alec.

— Então, não me chame de infantil por não ter gostado de ver o seu namorado novo. Você não tem ideia do que é ver quem você ama com outra pessoa!

— Eu entendo o porquê você fez o que fez. - Falou e Alec o olhou com esperança.

— Então, dá um pé nesse cara e volta comigo, Magnus. E eu prometo que nunca mais irei fazer nada sem falar contigo primeiro. - Alec implorou, segurando as mãos do feiticeiro.

— Alexander.

— Eu cometi um erro, um enorme erro. Eu não tive 17.000 antes de você para aprender. Você é o meu primeiro amor.

— Achei que Jace tinha sido o seu primeiro. - Comentou com um pouco de ciúmes, sem encará-lo.

Alec deu um pequeno sorriso.

— Jace uma vez me disse que eu o usava como desculpa para não sair da minha área de conforto e ele estava absolutamente certo. O que eu sentia por ele era amor sim, mas não romântico. O que eu sinto por você é tão absolutamente diferente e tão mais forte. - Falou e Magnus arregalou os olhos. — Você é o meu primeiro e o último pensamento do dia. Eu nunca achei que encontraria alguém com quem quisesse ficar a vida toda, mas eu achei e você está aqui, mas agora me odeia e isso está me matando. Então, por favor, me perdoa.

Ele olhou para o feiticeiro que concordou.

— OK.

— É.

— Assim?

— Eu já tinha perdoado quase no começo do seu discurso, mas não quis interromper. Estava tão bonito.

Alec ficou perplexo por alguns segundos até se dar conta do que ouviu e abraçar o feiticeiro e lhe dar um beijo digno de filme de romance.

— Fez as pazes com seu humano de estimação? - Asmodeus perguntou ao entrar na sala comendo uma maçã, interrompendo os dois.

Alec olhou feio para o homem a quem julgava ser uma ameaça.

— Pai, esse é o Alexander Gideon Lightwood, irmão de criação do Jonathan e irmão da Isabelle, que você conheceu no outro dia. Alexander, esse é o meu pai, Asmodeus.

— Asmodeus?! - Alec olhava as semelhanças entre os dois e começava a se sentir um tolo.

— Prefiro Príncipe do Inferno, Senhor de Edom. - Afirmou e deu uma mordida na maçã. — Então, tem mais algum parente que eu não conheci? Uma mãe talvez?

— Pai!

***

— Não corra, Jace. Não quero ser demitido no meu primeiro dia. - Simon pediu para o menino que o ignorou e continuou correndo.

— Mas eu quero perguntar! - Jace falou, pulando animado.

— A gente já vai perguntar.

— Perguntar o quê?

— Você voltou! - Jace se distraiu totalmente quando viu Asmodeus sentado à mesa, e pulou para o seu colo para lhe dar um abraço apertado, fazendo o demônio rir.

— Alteza. - Simon o cumprimentou antes de se sentar. — Tenho algo para perguntar. - Falou para Magnus, mas parou quando viu que ele e Alec estavam sentados próximos demais.

Magnus revirou os olhos.

— Nós voltamos. - Admitiu, e Simon comemorou com uma mini dancinha até que parou.

— Ainda tenho um emprego? - perguntou quando se deu conta que o principal motivo de ser contratado era para ficar sempre ao lado de Jace e se certificar de que nada que Alec fizesse causaria mal ao garoto.

O feiticeiro sorriu e assentiu. Simon deu um soquinho no ar.

— Que emprego? - Alec estranhou.

— Ele é minha babá! - Jace contou, animado, virando com tudo na direção de Alec.

— O que é uma babá? - Asmodeus perguntou. Não conhecia a palavra.

— Não sei - Jace respondeu — , mas deve ser legal.

Simon riu.

— O que queria perguntar, Shelly?

— Então, não respondi nada ainda porque não sabia o que você acharia. Aí fiquei de ver com você primeiro.

— Para de enrolar. - Alec falou.

— Clary disse que farão um serviço funerário no instituto daqui a dois dias, e queria que nós fôssemos, especialmente o Jace, já que é a única família que ela ainda tem.

— Não acho uma boa ideia. - Magnus começou a falar, mas foi interrompido pela criança que quase subiu na mesa de tanta animação.

— Deixa, vai. Por favor, papai. Vai ser tão legal. A Clary disse que terá um monte de gente e comida. Tipo uma festa. - Ele terminou animado, e Asmodeus cuspiu o pedaço de maçã que tinha na boca e estava quase chorando de tanto rir.

— Por que você tá gravando isso? Não é engraçado! - Alec tentou tapar o celular de Simon que gravava Jace.

— É sim, e ele disse que eu podia. - Apontou para o feiticeiro.

— Jonathan, querido. Um velório não é uma festa, apesar de ter comida e muitas pessoas.

— Mas tem comida e muitas pessoas.

— Não tem música. - Alec tentou ajudar.

— Ou pessoas felizes.

— Então por que elas querem ir?

— Para dar apoio para quem perdeu seus entes queridos que foram para o céu.

— Mas não foi só aquela mulher que morreu malvada que morreu? Achei que tinha que ser bom pra ir pro céu. - O menino comentou confuso.

Asmodeus levantou as mãos com as palmas para cima, na direção do menino.

— Viu? Até ele entende como funciona quem vai para onde.

— Não fale assim da Sra. F, Jace. Apesar de tudo ela ainda era mãe da Clary — Simon comentou, mas nada disse sobre ela ser também a mãe de Jace. — e a Clary deve estar bem triste de não tê-la mais por perto. - Completou, fazendo o menino ficar pensativo.

— A gente podia trazer a Clary pra morar aqui também.

— O quê?

— Aí ela não ia ficar mais triste. Funcionou com ele. - Falou, apontando para Simon, e causando mais algumas risadas.

— Minha casa não é um albergue, filhote.

— Aí a gente podia dar uma festa! - O menino ignorou totalmente o que Magnus falou e continuava seus planos animadamente.

— E convidar a mãe do Alexander! - Asmodeus parecia tão animado quanto o menino.

— Pai!

— Isso é tão errado. A gente não devia estar rindo num momento desses. - Alec comentou com um sorriso no rosto porque apesar de totalmente inapropriado, ele se sentia muito melhor.

— Não mesmo. - Simon concordou. — A festa podia ter uma pinãta. - Sugeriu e o menino pareceu quase explodir de animação.

Alec riu e balançou a cabeça.

***

E pela primeira vez em muitas noites, Alec e Magnus dormiram muito bem um nos braços do outro.