Little Angel

Capítulo 15 - Sem saída


Quando voltaram para o loft, Jace estava com um humor totalmente diferente, e parecia elétrico.

Ele pulava contando sobre as brincadeiras com Madzie e as outras crianças que conheceu.

Como ele conseguia falar sem parar para respirar era um milagre.

— Ok, mocinho. Banho e comida.

— Não. - Ele reclamou, fazendo bico.

— Você está fedendo, filhote.

— Não tô.

— Está sim. Os gatos até se esconderam por conta do cheiro. - Comentou, e o menino procurou pela sala e realmente não viu nenhum gato por perto.

Provavelmente estavam se escondendo de Jace por ele ter mania de abraçar os gatos o tempo todo e não pelo cheiro, mas o menino não precisava saber disso.

— Mas você ia ligar pro Simon vir. Eu tô com saudades dele.

— Que tal você tomar um banho primeiro?

— Aí eu posso vê-lo?

— Claro.

— Promete?

— Palavra de honra, filhote.

Jurou que aquela seria a última vez que Magnus prometeria algo ao menino sobre algo que não estava no seu controle.

Acontece que depois do banho mais rápido da história, ele não conseguiu falar de jeito algum com o vampiro.

Seu celular estava na caixa postal, e nem mesmo Luke sabia de seu paradeiro.

Obviamente, Jace não ficou nem um pouco feliz com isso.

— Você prometeu.

— Eu sei, filhote, mas o que posso fazer se não o acho em lugar algum?

— Vamos procurar por ele. Tá tarde já. - O menino falou, apontando para a noite que corria solta e era visível da porta da varanda.

Não teve coragem de explicar que para vampiros, a noite só estava começando e que não era motivo para preocupação. Achava ótimo o menino demonstrar preocupação e carinho pelas pessoas. Era uma mudança e tanto do seu eu adulto.

No fim, acabou cedendo aos pedidos do menino e saiu em busca do vampiro.

A primeira parada foi na delegacia, onde pegaram alguns itens pessoais de Simon para auxiliar na busca.

— Ele simplesmente decidiu se mudar há uns três dias, juntou a maior parte das coisas e saiu com a van.

— Van?

— Ele tem uma van que usa para levar equipamento pros shows. Tem uns desenhos que a Clary fez. Um panda.

— E pela placa não conseguiu achar nada?

— No primeiro dia, ela foi vista estacionada quase o dia todo próxima ao parque, mas depois disso nada. Acho que ele pode estar usando a van para dormir.

Magnus fez uma careta. Não devia ser nada confortável.

— Não é como se tivesse para onde ir. - Luke explicou. — Me ligue se encontrá-lo.

— Claro.

— Tchau, moleque. - Luke bagunçou o cabelo de Jace.

— Tchau tchau, Sr. Luke.

***

Demorou quase uma hora para encontrarem a van debaixo de um viaduto distante e tão sinistro que nem moradores de rua se atreviam a ir.

Era um local horrível, cheio de pneus e lixos jogados.

Um local próprio para desovar um corpo.

Jace se negou terminantemente a pisar no chão e ia no colo de Magnus, agarrado ao seu pescoço. Era visível que estava com medo.

Se por eles ou pelo amigo sumido, não sabia dizer.

— Vai ficar tudo bem, filhote. Eu prometo - Magnus falou no ouvido do menino antes de abrirem a porta.

E se arrependeu amargamente quando viu o estado de Simon que tinha enormes queimaduras pelo corpo e os encarava com os olhos opacos e sem vida.

Jace começou a chorar quando viu o vampiro.

Magnus realmente deveria parar de prometer coisas que fugiam do seu controle.

***

Levar uma criança em seus braços e um jovem adulto praticamente catatônico de volta ao loft por um portal não tinha sido umas das tarefas mais fáceis.

O bom é que chegando lá, foi como se tivessem apertado um botão switch em Jace. Ele parou de chorar e só parecia interessado em ajudar o amigo.

Ele lhe alcançava alguns itens e poções enquanto Magnus curava as piores queimaduras do vampiro, falando sem parar enquanto contava tudo o que lhe aconteceu nos últimos dias.

E isso era ótimo, pois era uma distração excelente já que algumas daquelas feridas pareciam extremamente doloridas.

O vampiro não reclamou quando lhe levaram para o banheiro e lhe mandaram tomar um banho e lhe deram roupas limpas.

Ou quando lhe deram um copo enorme de sangue.

— Quando foi a última vez que se alimentou?

Ele não lembrava. Deu de ombros.

— Você saiu no sol, não foi?

Ele só concordou.

O menino pareceu alarmado com aquilo.

— Por quê?!

Ele olhou o menino que estava incrivelmente chateado e pensou nos motivos de tal ato.

Ele não podia voltar para casa, sua vida já não era uma vida, seu clã tinha-o expulsado e os lobisomens também.

Sua melhor amiga que o jogara naquela vida não respondia suas mensagens. Não podia ficar perto da família para não colocá-las em risco.

Era um problema atrás do outro, e sem ninguém para ajudá-lo.

Ninguém o queria por perto e ele não conseguia agradar ninguém.

Mas como falar para um menino pequeno que o mundo estaria melhor sem Simon Lewis?

— Não pode fazer isso! - Jace ralhou com ele. — Fala pra ele que não pode fazer isso!

— Não é simples assim, filhote. Simon está… - Como explicar depressão para uma criança? — ...triste. - Decidiu resumir de modo que ela pudesse entender, apesar de tal afirmação não chegar nem perto da realidade.

O menino pareceu se acalmar, olhou um vampiro e logo em saída saiu correndo da cozinha.

— Eu sinto muito. - Simon falou num fio de voz ao ver que o menino saiu de lá, possivelmente irritado. Sentiu-se péssimo por estar atrapalhando. — Acho que já vou indo.

Antes que ele pudesse se levantar, Jace voltou correndo com algo nas mãos e entregou ao vampiro.

Era seu dragão de pelúcia.

— Eu abraço ele quando fico triste e não tem nenhum gato pra apertar. - Explicou. — Os gatos fogem quando você aperta. - Parecia triste por esse fato.

Aquilo fez o vampiro dar um sorriso triste.

— Eu não posso ficar com o seu brinquedo.

— A gente pode dividir, é mais fácil de apertar que os gatos.

— Acho que ele não arranha, não é? - Sorriu para o menino.

— É. - Jace riu ao ver o sorriso do vampiro. — Eu também não. - E deu um abraço no vampiro, que retribuiu.

Magnus não poderia ter se sentido mais orgulhoso de Jace que conseguiu lidar com a situação de uma forma muito melhor que ele próprio, conseguindo com que Simon reagisse.

Por isso, conjurou uma comida sem interromper os dois e com Jace jantando, Simon começou a se alimentar também, o que melhorou consideravelmente seu humor e disposição.

Claro que tudo o que Jace fizera não foi realmente uma solução definitiva, mas com certeza era um ótimo primeiro passo.

Amanhã daria um jeito de ajudá-lo. Hoje ficariam bem ali.