Linhas Borradas

Tiro pela Culatra


A matriarca Oliver estava definitivamente fazendo a coisa mais idiota do mundo que por um breve instante, Beck se viu conseguindo sentir uma empatia e entendimento do ódio da esposa pela mãe.

Jade enlouqueceria se estivesse com eles.

Algo lhe dizia que cabeças rolariam.

— Você parece muito bem.

Pegou o copo de suco fitando a mulher em busca de qualquer lembrança da figura dedicada em trazer a atmosfera mais amistosa para que pudessem conversar bem. Precisava reconhecer esse esforço.

— As coisas estão indo bem para você? – perguntou para contribuir para o dialogo, a julgar pela postura dela pode concluir ter dito algo certo.

— Pode se dizer que sim, profissionalmente eu posso garantir que estou indo por um caminho bastante seguro que muito desejei.

— E com o que você trabalha?

— Eu escrevo para a Red Empire, noticias quentes.

Red Empire...

— É um nome familiar – comentou com sigo mesmo, o olhar da mulher se iluminou – Talvez eu devesse acompanhar as coisas deles.

— Você sempre gostou de ler noticias – mais uma vez ele buscou qualquer lembrança em vão. A vontade de ter algo concreto para basear e julgar era frustrante quando nada vinha – Talvez você não tenha mudado tanto.

— Nós não mantivermos nenhum contato depois da faculdade?

Ellen ponderou.

— Bem, nós namoramos na faculdade por 2 anos e meio, depois nos separamos e reatamos anos depois, mas então...

— Então o que?

— Jade surgiu – a mulher emitiu um som muito próximo a um grunhido não o olhando diretamente – Você passou a agir de um jeito diferente depois que ela entrou na sua vida.

— Por que diz isso?

— Eu nunca pensei que você seria capaz de me trair, mas você foi com ela. Confesso que fiquei com muita raiva de você por causa disso na época.

Beck encheu a boca com a comida absorvendo a informação ruim. A comida desceu com peso e acompanhado de um gosto horrível. Esfregou o rosto algumas vezes antes de finalmente tornar a olhar a mulher.

— Eu sinto muito, Ellen.

— Obrigada por dizer isso agora, mesmo que não se lembre das coisas bem – as mãos femininas buscaram as suas sobre a mesa, mais uma vez o desconforto o tomou ao sentir e ver os dedos entrelaçados aos seus, mas havia algo mais que não sabia bem definir.

Culpa talvez...?

Remorso...?

Puxou as mãos pegando o copo de suco fugindo do olhar da mulher que disfarçava arrumando os cabelos atrás da orelha, eles já estavam arrumados ali perfeitamente assim como o colarinho da camisa social rosa que vestia, mas ela insistiu em arrumar.

Certos toques não são impróprios, mas por que estava se sentindo como se o de Ellen fosse?

— Beck.

A voz masculina chamou a atenção dos dois para o lado para ver André se aproximando com um sorriso e olhar que fez o ceio de Beck franzir. O estilo descolado bem aparente nas roupas do homem em alguns momentos eram parecidos com os de Beck ocasionalmente, as camisas que ambos usavam era bastante parecida, assim como os colares com pingente de pedra em uma cordinha de couro.

— Há quanto tempo André, é bom te ver – Ellen saudou sorrindo para o homem em pé.

— Igualmente Ellen, posso roubar o Beck por um momento?

— Claro que pode.

Quando uma distancia suficiente havia sido tomada que finalmente pudera ver a cara do amigo sobre si com direitos as narinas dilatas e os olhos mais abertos.

— O que você pensa que ta fazendo aqui com aquela pessoa?!

— Almoçando.

— Corre daqui antes que alguma coisa acabe mal para você.

— Por que eu faria isso, não há nada de mais em almoçar com uma antiga colega de faculdade.

— Que por acaso foi uma namorada. Como sua esposa fica nessa brincadeira?

— Mais um motivo para que eu fique, porque ninguém me contou que eu trai uma namorada com a mulher que viria a ser a minha esposa no futuro?

— Não foi bem assim. Vocês não estavam juntos, juntos mais.

— Se isso é uma verdade ou não, eu vou ficar aqui para descobrir.

— Você vai mesmo ficar com a pessoa que esta sempre perseguindo sua esposa tentando destruí–la? Ok, há, antes que esqueça aproveita e pergunta sobre a reportagem que ela escreveu contando pra Deus e o mundo que você ta andando por ai desmemoriado, ou ela já comentou sobre isso também? – o homem cruzou os braços tombando a cabeça para o lado, quando maneou a cabeça negativamente ele continuou – Coitadinha, só o chifre dela importa na historia.

— Como assim?

— Pergunta pra sua amiga, já que você quer tanto ficar aqui.

Dando leves batidas no ombro André se foi para o outro lado do restaurante aonde pudera ver dois homens sentados na mesa que o amigo ocupara uma cadeira iniciando um dialogo ao mesmo tempo em que faziam seus pedidos para a garçonete que se pusera a atendê–los.

Por que as coisas tinham que ser tão confusas? Indagou a si mesmo olhando de uma mesa ocupada pelo amiga para a outra ocupada pela mulher.

~*~

— Então... – Sam começou quando o lugar vago no sofá foi ocupado pela amiga. A TV transmitia um programa de entrevistas que falava sobre a vida de um ator zombando de seus atuais problemas que o levara a ser detido pela policia. Nem parecia que a poucos minutos ele fizera o mesmo com o nome de Jade, sem dó nem piedade.

Jade bufou audivelmente.

— Você já pode falar, eu subestimei a vaca fofoqueira.

— A sua mira estava boa, mas o tiro saiu pela culatra do mesmo jeito – Sam soltou deixando os ombros cair.

Os comerciais começaram, Jade brincou com o controle remoto enquanto a loira digitava algo no celular rapidamente, já conseguia ter uma leve ideia do que poderia ser.

— Não acredito que você me chamou na sua casa só para fazer comida para você – resmungou ao trocar de canal, conseguia sentir o aroma do assado no forno fazendo–a buscar o aparelho em busca da hora.

— Freddie está viajando e minha comida é péssima, como amiga é seu dever me ajudar de vez em quando. Eu não ando muito bem.

— Somos duas com problemas então. Podemos começar um clube.

— Ele ficaria cheio fácil, fácil – a outra completou ao abandonar o aparelho.

Um silêncio se instalou entre as mulheres que apenas se limitaram a assistir a matéria que era transmitida por breves minutos antes da loira tomar o controle e zapear os canais em busca de algo que lhe fosse interessante e Jade se levantar indo para a cozinha.

Ouviu o celular tocar na sala seguida pela voz da amiga.

— É seu irmão. Quer que eu atenda?

— Não, depois eu falo com ele. Não quero começar a brigar.

Conseguia ouvir o irmão quase implorar para considerar a separação, se Beck não fosse amigo e sócio de Fred provavelmente seria algo que a própria amiga já estaria fazendo com fervor.

Quando o aparelho parou, o alívio a dominou por breves instantes enquanto juntava a forma de vidro com lasanha e levava para a mesa com as luvas térmicas e via os olhos sedentos da amiga a assistindo do sofá, mas como a paz estava se tornando um termo vago na vida, pode ouvir o som iniciar mais uma vez enquanto o aparelho vibrava encima da almofada peluda.

— Agora é o traste. Quer que eu atenda?

— Eu deveria deixar?