— Ela atendeu?

Foi à primeira pergunta que deixou os lábios de André quando foi para a sala e se aproximou o suficiente para ver o amigo abrindo a caixa de pizza e intercalando o olhar da comida para o próprio celular aberto em um bate-papo com alguém de nome estranho para si.

Atualizar-se sobre as coisas boas que foram lançadas nós últimos anos era uma tarefa essencial na opinião do amigo e, um pequeno refúgio para sua cabeça da pequena situação que havia sido criada ao ter uma foto sua publicada por alguém na internet com uma legenda maldosa.

A vida era sempre assim ou era apenas coisa de momento?

Se Jade não o atendia era porque sabia disso e tirara conclusões erradas certamente.

Como poderia consertar as coisas se ela não aceitava conversar?

Sem perceber já estava suspirando em pura frustração, ignorando a bendita jornada que se iniciava dos 7 irmãos que se encontravam depois de anos separados no enterro do pai e precisavam impedir o fim do mundo. Seu problema estragava demais sua experiência.

Era o seu casamento que estava em jogo ao que poderia presumir.

— Eu deveria ir até a casa dela?

— Sua casa? – o amigo lembrou sem desviar os olhos da tela pelo tempo de uma cena de diálogo inteiro ocorrer – Seria bom, mas ela não é a pessoa mais paciente e você não está armado com o necessário para enfrentar o dragão. Do mesmo jeito que isso pode resolver o problema isso pode acarretar no pedido de divórcio da parte dela. Quer arriscar?

— Não acho que iria por um caminho tão drástico.

O homem finalmente o olhou.

— Pelo que eu conheço de Jade West, ela iria sim. A mulher é muito doida quando o assunto é tomar decisões.

— Isso não tá me ajudando.

— O que eu tinha pra fazer por você eu fiz na hora do almoço. Você ficou lá porque quis. Agora lide com as consequências como um adulto com a fama de um adúltero e a inocência de um virgem.

O ceio do homem franziu para as palavras do amigo que deu de ombros tornando a prestar atenção ao seriado e comer a fatia bem feita de pizza de calabresa com uma quantidade exagerada de molhos por cima.

Beck pescou o celular dentro do bolso e conferiu o histórico de chamadas. 12 pedidas.

— Eu vou lá – declarou por fim erguendo-se do sofá, dando fim a fatia e correndo para pia e seguido para o quarto.

— Boa sorte...vai precisar – ouviu o amigo murmurar do sofá enquanto aguardava o carregamento do próximo episódio que se iniciava.

Um táxi o levou costurando pelas ruas até o prédio bonito e bem cuidado do condomínio fechado em que viviam e o porteiro o saudou da entrada quando passou correndo para o elevador ocupado por uma mulher de aparência cansada vestindo um terninho e mexendo os pés ocasionalmente de modo desconfortável, aqueles sapatos de saltos altos de bicos finos pareciam a estar incomodando, pensou por um momento antes das portas abrirem e ela sair quase se arrastando para fora com sua bolsa jogada sobre o ombro. Era um soldado voltando cansado da batalha.

Quando as portas abriram no corredor conhecido praticamente saltou para fora em direção à porta enfiando a chave no trinco da maçaneta e entrando no local escuro.

O cão foi o primeiro a surgir quando ascendeu as luzes revelando o lugar organizado completamente dessa vez na parte da mesinha de centro.

Buscou o celular no bolso discando o número mais uma vez caindo no sofá enquanto esperava e sentia o cão deitar a cabeça em seu colo de modo manhoso.

Scar era realmente bonito.

O sol já estava quase se pondo quando pudera ouvir a porta ser aberta levando o cão adormecido a mover-se no colo acordando e atordoadamente descendo com um objetivo claro e ir até a pessoa que chegava.

— Como vai meu garoto? Pronto para correr um pouco? Precisamos nos exercitar e limpar a cabeça um pouco – ouviu-a conversar com o animal alheia a sua presença, ou ignorando de proposito, estava com dúvidas serias sobre o que esperar torcer para ser o certo – Eu preciso pelo menos.

A surpresa só assolou o rosto da mulher por um breve instante quando ela o percebeu ali, parecia bem exteriormente e até poderia ter acreditado que interiormente se não tivesse ouvido seu curto monologo com o animal.

Ela aspirou e respirou pelo nariz antes de começar a se mover em direção à cozinha deixando a bolsa em cima de uma das banquetas após remover o celular que ficou no balcão, sem pressa.

Sem olha-lo uma segunda vez.

— Jade, eu não sabia que iria...

— Não. Para o seu próprio bem é melhor ficar de boca fechada, Oliver – as íris claras o fitaram com frieza pela primeira vez desde que a conhecera no hospital e os posteriores, o sentimento de ver isso não o agradou – Eu vou me trocar para ir correr, quando voltar espero que já não esteja aqui.

— Esta também é a minha casa.

— Casa esta que você não quis ficar, para começo de conversa – retrucou com raiva – Se não deu para perceber eu te digo agora, eu estou irritada pra cacete e conversar é a última coisa que quero fazer. Suas desculpas não resolvem porra nenhuma.

— Eu sei, mas...

— Mas nada – ela o interrompeu com um tom ainda mais mordaz se pondo a sair de sua vista a passos pesados pelo corredor.

Sentado perto da parede estava o cachorro os assistindo sem fazer nenhuma menção de ir para o lado de um dos dois, porem Beck quase podia ver nos olhos claros do animal o leve julgamento.

Pescou o celular no bolso ao sentir vibrar no bolso vendo o nome do pai surgir na tela e ouviu o som de uma porta batendo em algum lugar mais adentro do quarto fazendo-o suspirar enquanto se erguia do sofá. Se havia uma resposta certa para a questão de como resolver a situação ele ainda não sabia, mas encontraria o quanto antes.

Beleza não era algo que realmente lhe chamava atenção, mas reconhecia a beleza de Ellen tranquilamente, ela era o tipo de pessoa que sabia se destacar, não de uma maneira ousada e carregada de toques sensuais em seus movimentos como Jade parecia. Ellen era o padrão do que procurava geralmente no sexo oposto, fácil conversa e humor tranquilo e um jeito de quem gostava de coisas simples.

Só conseguia pensar que a química entre os dois pudesse ter esfriado intensamente para faze-lo buscar algo com outra mulher, não que isso pudesse ser considerado um bom motivo para a suposta traição.

Um motivo deveria ter.

— Acho que o André não gosta mais de mim – Ellen comentou após alguns minutos entre as garfadas, os olhos foram para a mesa ocupada pelo citado que nem prestava atenção neles, mas que agora tinha uma sombra incomodando a ambos, por razões diferentes – Acho que os olhos dele acabaram sendo atraídos para a rede de sedução que Jade tem sobre os homens.

– Eles são bons amigos – afirmou sem muita convicção, se André estava disposto a defender a mulher era porque a valorizava de alguma forma.

— Ele algum momento te contou que escreveu uma musica para ela? – os olhos que fitavam o amigo voltaram-se com velocidade para a mulher que agora o fitava com uma das sobrancelhas arqueada – Acho que foi na época que vocês estavam noivos, ele não confirmou se era ela, mas pela descrição que deu da pessoa que o inspirou eu tenho certeza que era a Jade.

— E o que mais você acha sobre ela?

— Honestamente? – a mulher ponderou por um instante – Ela é alguém instável com suas relações que não se prende há nada por muito tempo e adora ser o centro das atenções simplesmente porque sabe descrever um bom assassinato de vez em quando.

— Por isso você escreve sobre ela, pra mostrar para as pessoas o seu ponto de vista de quem é Jade West?

Ellen largou os talheres com um ruído baixo.

— Algo próximo disso. Até hoje não entendo porque ela foi à pessoa que você escolheu para colocar uma aliança no dedo.

— Porque o Beck de oito anos atrás a amava o suficiente para isso – as palavras saíram sem que pudesse se quer pensar bem. A lembrança da mulher com uma caneca de café pela manhã sentindo o aroma antes de ingerir o liquido veio à cabeça.

Talvez Jade West fosse uma verdadeira jogadora no jogo da sedução, com artimanhas elaboradas e determinação para alcançar quem quer que queira, pelo tempo que quisesse.

Casamento não era uma promessa temporária.

Mas ela o escolheu como marido. Com a dedicação para não desistir durante o atual cenário que faria muitos pensar duas vezes antes de continuar.

Ele não era um qualquer para Jade West.

— Se você não a conhece agora, não da para ama-la nesse momento.

— Não, mas da mesma forma que eu há amei um dia, posso vir a ama-la de novo – fazendo um gesto para o garçom ele pediu a conta. Depois de paga-la ele se ergueu direcionando um olhar para a mulher que o fitava – Como você mesmo disse, ela tem a capacidade de atrair homens para ela e eu não sou de ferro.