[Capítulo um: Traição]

Ristuka olhou de esguelha para a mão enfaixada do homem entre Natsuo e Youji, sentado no banco de trás do carro. Soubi havia quebrado o dedo anelar de Nisei à sangue frio. Há alguns meses atrás condenaria este ato como a mais pura crueldade, mas talvez a convivência com seu combatente estivesse modificando um pouco os seus conceitos, pois agora encarava tudo com trivialidade. Não que houvesse se tornado um sádico, mas quase podia agradecer pois as bandagens que ele mesmo fizera, tornava impossível de se ver o verdadeiro nome de seu irmão, Beloved, marcado naquelas mãos imundas.

Amava seu irmão mais do que tudo, e até noite passada acreditava que ele estava morto. Mas uma série de acontecimentos inesperados havia mudado tudo aquilo que vinha acreditando há mais de dois anos. Seimei estava vivo, havia forjado a própria morte e se afastado dele. Por quê? Por que não havia ao menos ficado junto dele? Não se importava de ir pra onde quer que fosse, estaria bem se fosse com seu irmão. Puro capricho? Será que Seimei era realmente aquela pessoa má que todos diziam? Ele havia arrancado os olhos do sensei de Soubi, e mais uma vez Ristuka se perguntava, por quê? E mesmo assim, ele não havia se negado a dizer ao homem, com os olhos enfaixados, vítima da crueldade de seu irmão “Eu não sou seu aliado, eu estou com Seimei.” Não importa o que visse, o que dissessem, ele queria ouvir as palavras de seu oniii-san.

- Estranho, não? Apesar de tudo, Soubi ajudou aquele pirado do irmão do Ritsuka a fugir – Ouviu Youji comentar com seu combatente, fingindo que Nisei não estava entre eles, o que o fez acordar de suas especulações.

- Soubi é um sádico. Ou um masoquista? Você viu como ele ficou depois? – Disse rindo e dando um chute no banco da frente, onde Soubi se encontrava dirigindo.

- Deve ser porque ele acabou machucando o coraçãozinho do nosso Ristuka, né? – O sacrifício da dupla de demônios apoiou-se também no banco da frente, batendo no ombro de Ritsuka.

- Mas o que você não entende, Youji, é que nem sempre é fácil ir contra as ordens do nosso sacrifício. Deve ser pior ainda para um pau-mandado como o Soubi ali.

- É... talvez. E, aliás, Soubi-kun, já decidiu quem é seu combatente mesmo?

O carro freou bruscamente.

- Vocês dois... – Soubi falou pela primeira vez, num tom alto e seco.

- Não, Soubi! Continue, temos que resgatar o Kio. E vocês dois aí, parem de ser TÃO inconvenientes... – Ristuka alterou-se, batendo com os braços do jeitinho uke que só ele sabe. (Nota das autoras: NHAAAAAAAAAAAY).

Natsuo e Youji trocaram olhares.

- Ristuka ás vezes pode se parecer muito com o seu irmão – Youji comentou, tentando fingir uma expressão séria.

- Sim... E aí, Soubi, o que vai fazer?

- Eu acato as ordens de Ristuka – a voz de Soubi soou seca mais uma vez, seguida do barulho do carro dando partida.

- Talvez a gente nunca entenda esse cara... – Natsuo disse, cutucando o dedo machucado de Nisei – Isso dói?

- Não pergunte o óbv... – Nisei começou a responder, antes de ser interrompido por Youji.

- Mas no final das contas, ele está jogando a noite passada toda fora, e indo atrás de outro ainda, o tal do Kio.

- Não seja estúpido, Youji. Kio é o único amigo que Soubi tem. Soubi faria qualquer coisa para salvá-lo. – Ristuka não pode deixar de comentar. Sentia alguma coisa apertando o seu peito. Pena de Kio? De Soubi? Ou será... ciúmes de Soubi? Sabia da relação próxima dos dois e de certa forma isso o incomodava. Enfim, já havia muitas coisas em sua mente, melhor deixar isso para lá.

- É. Afinal sabemos que Ritsuka não é amigo dele, né? – Natsuo mais uma vez chutou o banco do combatente de Loveless.

- Mas eu continuo sem querer trocar este cara pelo Kio agora. Mesmo depois de tanto sufoco para capturá-lo! Afinal, ele é o verdadeiro combatente de Beloved... ele deve valer um pouco mais, não é? Ou então a gente podia ter se divertido um pouquinho com ele. Só Soubi-kun teve a oportunidade. Mas o que acha da gente aproveitar estes últimos instantes, Natsuo? – Lançou um sorriso para seu combatente, que o retribuiu com outro, sendo este o mais sádico que pode, um pouco antes de ser ouvido um grande grito vindo de Nisei.

Desta vez, Soubi não se importou de parar o carro.