Like a Vampire Extra: This is Halloween

Capítulo 3- Cabeça de abóbora


Com a luz de volta e os profetas longe de vista, as garotas aproveitaram o momento para se sentarem apoiadas nas paredes, tentando processar a informação que acabaram de receber.

—Mas por que diabos eles tentariam absorver a magia deles?- Lua perguntou, andando em círculos- O que eles tem a ganhar com isso?

—Já expliquei- Daayene, apesar de nervosa, apenas mexia na sua saia do vestido, explicando.- Porque o núcleo ficaria mais forte com a absorção de magia, e isso não só nos fortaleceria como fortaleceria nosso forte.

—Para de falar na terceira pessoa do plural- Priya colocou a mão na boca de Daayene- Me enjoa saber que você faz parte desse grupo.

Daayene pensou que não fora bem escolha dela, já que ela apenas nascera com o dom das visões e precisava aprender a controlar. Mas não pode expressar o que sentia, já que Haruka bateu a mão na parede, que ficou molhada:

—A gente vai ficar aqui parada ou vai fazer alguma coisa pra impedir eles?

—Ah, agora vocês que viraram as meninas com síndrome de heroína.- Victoria riu, mas recebeu uma fuzilada de olhar das Creedley- Ops, falei demais. Mas não falei nenhuma mentira, então não me arrependo.

—Mas o que vocês sugerem?- Sofie questionou- Não podemos só chegar lá e falar “Ei, tem umas pessoas meio doidas aqui querendo matar e sugar a energia de vocês! Vazando, galera!”. Não é como se fossem acreditar na gente.

—Olhem, eu não sei por que vocês gostam daquelas matracas em forma de vampiro que vocês namoram, casaram, beijam ou sei lá mais o quê. Sinceramente, eu não me importo.- Cousie foi sincera, ajeitando o cinto na cintura- Mas a vida desses imortais inúteis está em risco, e eu não quero ser taxada de responsável por ter deixado algo acontecer.

Todas elas suspiraram juntas, pelo que parecia ser a vigésima vez no dia.

Mas todas elas pensaram que realmente, não podiam deixar isso acontecer.

Foi aí que a cabeça de Brunna brilhou com uma ideia.

Daayene, Marie, Nikki e Victoria praticamente marchavam pelo corredor. Claro, a primeira vez que elas fizeram isso na frente das outras garotas, Haruka faltou puxá-las pelos cabelos e gritar para serem discretas.

Mas, bem, Haruka não estava por perto agora.

Um barulho de cadeira arrastando foi ouvido na sala ao lado. Por instinto, as quatro grudaram na parede.

—O que diabos foi isso?- Victoria perguntou.

—Por que estamos tão assustadas?- Nikki disse ironicamente- É só, sei lá, o vigésimo barulho misterioso que a gente escuta nessa noite.

—O que faz isso ficar mais assustador ainda.- Marie deu de ombros- A gente vai ver o que é?

—Nossa tarefa foi ficar de olhos em profetas.- Daayene suspirou, sendo surpreendentemente uma pessoa sensata perto das irmãs Herbert.- Acho que deveríamos focar nisso.

As outras três concordaram. Bem, se não concordassem, nada impedia Daayene de começar a levitar e lançar magia vermelha e fogo nelas. E apesar delas serem imunes ao fogo, sempre era bom evitar um incêndio.

Foi só Marie, que estava a frente, dar um passo na direção da esquina do corredor, que ela recuou com a mão na cabeça e um gemido de dor:

—AIÊ!

—Oy, Chichinasis!- Ayato reclamou, ajeitando sua longa capa- O que diabos vocês estão fazendo aqui.

—Acho que a gente que devia te perguntar isso.- Nikki estreitou os olhos.- Quem mandou você subir.

—Ninguém. Mas vocês foram embora a umas... três horas atrás.- Ayato fingiu olhar o relógio na parede- E não tinham voltado logo.

—Então vocês ficaram preocupados com a gente?- Victoria parecia não acreditar.

—Não. Ele ficou preocupado com a Sofie.- Daayene corrigiu com um sorriso brincalhão.

—Ah, eu não desmentiria isso~- Laito se aproximou, seu chapéu cartola enfeitando belamente seus cabelos castanhos avermelhados.- Mas não é como se nós não nos preocupássemos com vocês também.

—Há. Piada legal. Agora licença, temos mais o que fazer.- Marie tentou passar por Laito, mas ele agarrou gentilmente sua asa de anjo, a puxando de volta:

—Onde vocês estão indo~?

—Quem sabe longe de vo...- Daayene começou, mas seus olhos vermelhos se arregalaram, apontando pra trás dos Sakamaki- CUIDADO!

Numa fração de segundos, um raio de névoa e luz vermelha saiu das mãos de Daayene, no momento exato em que Ayato se esquivou pro chão. A magia foi numa agilidade incrível, atingindo um profeta no peito e deixando algumas faíscas de fogo espalharem quando o homem encapuzado caiu.

Os Sakamaki olharam pra Hudison assustados, Ayato tinha as orbes esmeraldas arregaladas:

—Como você fez isso?

—Coisa de profeta.- Daayene deu de ombros, como se não fosse nada demais. Ela também limpou as mãos no vestido enquanto seus olhos perdiam o brilho alaranjado.

—Acho que isso é uma prova de que vocês deviam voltar pra sabe-se-lá da onde vocês saíram e nos deixarem resolver nossas coisas sozinhas.- Nikki concordou com a cabeça, deixando os dois irmãos estupefatos:

—Voltar pra festa?

—...Vocês não podem tentar levar todo mundo pro jardim ou algo assim?- Victoria disse, uma ideia surgindo em sua cabeça. Os irmãos riram- O que foi?

—Todas as portas e janela que levam pra fora da escola são trancadas na noite de Halloween.- Laito explicou- Acho que é pra todos conseguirem aproveitar tudo.

As quatro se entreolharam assustadíssimas, sem nem poder falar sobre o que as atormentava.

—Bem, enfim, tchauzinho, Chichinasis- Ayato deu uma gargalhada- Eu vou me divertir enquanto vocês tentam fazer... o que quer que seja.

E os dois dos trigêmeos desceram pela escadaria lateral, deixando as garotas paradas com um sentimento de culpa as dominando.

—Se eu fosse vocês- Uma voz masculina falou- Não me preocupava com eles. Vocês devem ter uma chance de 0,5% maior probabilidade de salvarem eles se buscarem os profetas ou sei lá qual a palhaçada de agora.

Daayene se virou assustada, preparando a magia em suas mãos, mas o homem só negou com a cabeça:

—Eu não faria isso.

O homem tinha os cabelos loiro-rosados e o olho direito era dourado. O esquerdo era coberto por um tapa-olho, o que fazia as garotas não quererem descobrir o que havia lá em baixo. Seu rosto era estampado por um sorriso meio arrogante, o que também fez as garotas quererem espancar ele.

—Quem é você?- Nikki questionou- Eu tenho um fuzil.

—Aonde diabos você colocou um fuzil?!- Marie brigou, mas quando Nikki a fuzilou com o olhar, ela só pigarreou e voltou sua atenção pro homem- É, quem é você?

—Quem sou eu?- Shin colocou as mãos na cintura- Sinto que devia estar perguntando isso pra vocês, humanas fracotes.

—Tem certeza que quer continuar me chamando de fracote?- Daayene o imitou, com as mãos na cintura- Ainda posso te queimar vivo, se quiser.

—Essa é a especialidade da Nikki, também- Victoria comentou.

—É, eu ouvi dizer.- Shin sorriu- Vocês são parceiras das Creedley. É claro que são. Consigo ver porque elas tiveram afinidade com vocês. São tão incompetentes e pretensiosas quanto elas.

—Moço, se você veio aqui pra ficar xingando a gente, eu acho que você pode sair...- Marie tentou ser educada, mas Shin a interrompeu:

—Eu que dito as regras aqui. Então, já que as Creedley resolveram por algum motivo ajuda-las a “salvar” vampiros inúteis... Eu deveria ajuda-las também. Mas eu tenho um preço, claro.

—Não precisamos da ajuda de um desconhecido. Muito menos pagando algo- Daayene já ia virando as costas e indo pela esquerda.

—Eu não iria aí.- Shin sorriu, e Victoria bufou:

—Você é insolente assim sempre?

—Você não pode me chamar de insolente. Não é minha princesa, senhorita Sakamaki. Seu marido não simboliza nada pra um Primeiro-Sangue como eu.- Shin respondeu com a acidez de um limão.- Eu iria pela direita. É onde os profetas estão se reunindo, sabe. Os patéticos quiseram pegar uma sala de aula vazia pra reunião deles. Lá vocês podem queimar pessoas vivas, eu acho.

—Você é delicado que nem uma pedra voando na cara, sabia?- Marie estava irritada- Não é a toa que você é amigo das Creedley.

—Não sou amigo delas, senhorita.- Shin zombou- Sou quase um noivo.

—Ah, claro.- Daayene revirou os olhos- Direita, você disse, né?

—Vamos mesmo confiar nele?- Victoria questionou.

Daayene o encarou de cima a baixo:

—É. Vamos.

Shin deu um sorriso desgraçado pra cima delas, e as garotas tiveram (novamente) vontade de esmurrar ele.

—Gente, eu acho que isso vai dar errado.- Anna opinou.

—Já escutamos quando você falou pela primeira vez, Anna, não precisa falar mais vinte.- Eliza deu um sorriso, claramente lutando pra encobrir o deboche.

—Eu acho injusto- Sarah fez beicinho- Todo mundo tem uma tarefa legal, misteriosa e tudo aquilo. A gente? Ah, vamos voltar pra festa e ver o que tem pra fazer.

—Eu acho isso legal.- Lua opinou.- Mais uma chance da gente voltar a se divertir.

—Mais uma chance da gente morrer.- Anna parecia querer se arrastar no chão.

—Não pensem assim!- Eliza ajeitou a fantasia de marinheira.- Talvez não esteja acontecendo nada demais, talvez...

De repente praticamente todos os índividuos da festa ganiram de dor, assustando as meninas.

—O que foi isso?- Uma menina do fundo disse.

—Que barulho agudo...- Um menino respondeu.

—E doloroso!- Outra pessoa disse.

Eliza então arregalou os olhos:

—Esqueçam o que eu disse. Está sim acontecendo algo demais.

—O que foi?- Sarah pareceu com medo.

Eliza tirou uma pequena pochete de dentro da sua blusa, e de lá tirou um estilingue:

—Quando uma magia muito obscura está acontecendo, os seres mágicos acabam sentindo efeitos nos cinco sentidos. Eles tem os sentidos mais apurados, sabe.

—É, eu imaginei.- Lua pareceu preocupada- Mas que tipo de magia obscura?

—Profetas?- Anna questionou- Ou... Talvez aquele homem lá que tá misturando alguma coisa no ponche?

—Ah, talvez seja só alguém colocando álcool, acontece de vez em quando em festas.- Sarah explicou.

—Não, não é álcool. Eu vivi na casa de alcóolatras por tempo o suficiente pra saber disso- Anna segurou o vestido de fada, andando nada discretamente até lá.

—Ai meu Deus, alguém segura essa menina!- Lua pediu.

Eliza fungou o ar:

—Anna está certa. Não é álcool. É... Poção do amor.

Sarah não pode deixar de rir:

—Poção do amor? Sério? Tipo as do Harry Potter, que tem cheiro das coisas que mais te agradam?

—Eu vou fingir que você falou alguma coisa que eu entendi.- Eliza suspirou, passando as mãos no cabelo, ficando automaticamente com ele castanho e azul, e os olhos lilases.- Sejamos discretas.

—Fácil pra você, metamorfomaga- Lua fez beicinho- Enfim, por que eles colocariam poção do amor no ponche? Será que querem pedir o crush em namoro mas estão inseguros?

—Eu acho que não...- Anna opinou- Aquele cara não é um estudante. É um profeta tentando ser estudante.

—Como você sabe?- Lua questionou, assustada.

—Porque... ele parece dez mil vezes mais velho do que um estudante de verdade, ele tem olhos vermelhos que nem a Daay, e ele está vestindo uma fantasia de um anime da década de 80.

—Eu deveria ficar preocupada que você sabe sobre os animes da década de 80?- Sarah perguntou, mas foi rápida em se concentrar- Mas por que eles fariam isso?

—Pra transformar esse lugar numa completa orgia, distrair todo mundo e aí sim sugar a magia deles?- Eliza sugeriu- Muito provável. Todos estão bebendo do ponche. Ou seja, todos vão se apaixonar loucamente um pelos outros.

—Todos?- Lua ficou séria de repente- Todos, todos?

—É, presta atenção- Eliza a repreendeu- Por isso, eu sugiro que sejamos discret.... LUA, O QUE DIABOS VOCÊ TÁ FAZENDO?

De repente, tudo se passou em slow motion e muito rápido ao mesmo tempo. Lua começou a correr, até dar um salto digno de Olímpiadas, mirando no profeta que agora olhava a garota que vinha dos céus até ele como se estivesse num filme de terror.

Mas os cálculos de Lua não deram muito certo, já que ela caiu BEM em cima da mesa. Não só quebrando a mesa no caminho, mas derrubando toda a comida e o balde de ponche no chão, junto com ela.

Resultado? Uma Lua que podia estar morta ou desacordada, duas mesas quebradas, várias comidas amassadas no chão, junto com muito vidro e todo o ponche derramado. O profeta, vendo a situação, correu para a distância.

—Eu pego ele- Eliza disse, e se afastou das meninas- Só... ajudem a coitada.

—Lua, você tá bem?- Sarah se aproximou da irmã, a ajudando a se levantar.

—Ele morreu?- Lua questionou, parecendo zonza pela queda.

—Quem morreu?- Anna chegou perto também.

—O... ponche.- Lua apontou pro chão.

Olhando pra onde Lua apontava, Anna percebeu um pequeno frasco, quase vazio, com um líquido rosa dentro.

Poção do amor.

Ela guardou em um dos bolsos escondidos do vestido, se voltando pra amiga.

—É, o ponche morreu.- Sarah riu, abraçando a irmã- Você foi bem badass, pulando em cima do cara.

—Da mesa.- Anna corrigiu.

—É, da mesa.- Sarah deu de ombros.

—MAS QUE DIABOS?- O grito de Yuma fez elas darem um pulo- O que foi que vocês arrumaram aqui?

—Chegou uns cinco minutos atrasados- Shu, que estava meio entretido e confuso( como todos os outros na plateia), disse- Foi lindo.

—Obrigada, Shu.- Lua fez um joinha.- Eu sei que sou incrível.

—Foi...ironia?- Azusa questionou.

—EI, PAREM DE OLHAR!- Subaru brigou, e então puxou Lua pra si- EU DISSE PRA PARAREM DE OLHAR, MALDITOS!

—Por que você tá brigando com eles?- Lua questionou- Não foi legal?

—Você tá bem?- Subaru parecia preocupado- Pulou em cima de uma mesa e de um pote de vidro.

—Mas foi legal?- Lua parecia bem mais preocupada com isso.

Subaru revirou os olhos:

—Foi majestoso.

Lua fez uma pequena comemoração.

Discretamente, Anna colocou o frasco de poção de amor no bolso da fantasia de gângster de Subaru.

Porém, todo o momento fofo foi arruinado em segundos.

—ORA, SEU!- Era Eliza. Não só era chocante vê-la raivosa, mas ela estava mirando seu estilingue no profeta, ainda correndo atrás dele.

Ela não teve tempo de desviar quando, em um salto, o agarrou pela cintura. Por isso, quando começaram a escorregar, acabaram levando Sarah, Anna, Lua e Subaru juntos.

E acabaram no meio da decoração.

—Pai amado...- Shu disse, apesar de não ser religioso.

Quando se levantaram, perceberam o homem desacordado. Como se não bastasse isso, olharam pro lado:

Várias abóboras destroçadas.

E claro, eles estavam totalmente sujos da cabeça aos pés.

Eliza se levantou, não percebendo a escola rindo dela:

—O que aconteceu?

—Eliza...- Sarah disse.

—Não, me fala!- Ela estava eufórica- Porque tá tão quente e melento? Eu quero saber.

—Eliza...- Sarah continuou a chamando.

—O QUE FOI?- Eliza estava desesperada.

Lua segurou pra não rir:

—Tem uma abóbora enfiada na sua cabeça.

Não ouvindo qualquer um dos barulhos dos andares de baixo, Sofie, Brunna, Priya, Haruka e Cousie continuaram andando pela biblioteca vazia.

—Tem certeza que aqui que eles estudaram?- Brunna questionou- Parece óbvio, não? Estudar numa biblioteca.

—Pra começar, qualquer um que estuda no Dia das Bruxas é completamente fora de si.- Priya reclamou- E por que estou com vocês, nerds? Não deveria estar no grupo parada-dura junto com a Nikki, a Marie, a Vic...

—Talvez porque você não pare de reclamar- Cousie bufou, ainda procurando pela prateleiras mais altas- Temos que achar alguma coisa.

—Por que? Porque a sua auto-estima não permite que você erre?- Sofie debochou.

—Minha dignidade não permite, completamente diferente.- Cousie revirou os olhos com o coice da morena.

—Eu acho que achei algo.- Haruka disse, jogando um dos livros na mesa e descendo da escada.

—Tem como parar de jogar livros na mesa?- Brunna brigou- Um pecado, isso.

—Eu podia estar movendo eles com água, o que seria bem pior.- Haruka arqueou ambas as sobrancelhas.

—O que é isso?- Sofie segurou o livro sem pedir permissão.- Latim?

—Pera aí, vocês sabem latim?- Priya questionou.

—Vocês não?- Cousie perguntou, como se fosse óbvio que todos deveriam saber latim.

—É uma língua morta.- Brunna retrucou- Não faz sentido aprender algo que não é usado.

—Bem, pra nós faz.- Haruka tomou o livro das mãos de Sofie- Agora, se me dão licença...

—Mas que reunião é essa aqui?- A voz de Ruki surgiu, e o coração de Brunna acelerou.

—Ah, não. Eu não tô no clima desses machos virem atuzinar a gente aqui não.- Cousie revirou os olhos.

—Irei me retirar antes que eu ferva o sangue de alguém sem querer.- Haruka se afastou, se sentando ao lado de Cousie numa mesa e abrindo um livro.

—Garotas idiotas.- Kanato estava ao lado de Ruki.

—É... elas tem um jeito diferente de mostrar carinho, só isso.- Sofie respondeu- Mas enfim, o que estão fazendo aqui?

—Não ficaram sabendo?- Ruki questionou.

—IMPOSSÍVEL!- Kanato brigou, recebendo um “Shhh!” raivoso das Creedley.

—Sabendo do que?- Priya perguntou.

—Suas irmãs e amigas arrumaram maior problema no pátio de festa- Ruki respondeu calmamente, olhando principalmente pra Brunna- No nível patético de destruírem mesas, quebrarem o vidro do ponche e uma abóbora na cabeça.

—Por que tudo isso só me lembra da Lua?- Sofie brigou pra si mesma- Eu disse que não era a melhor das ideias deixar aquelas quatro juntas. Mas por que vocês estão aqui?

—Fiquei preocupado.- Ruki assumiu- Eu não sabia onde você estaria, mas imaginei que, se fosse concluir um mistério, ficaria com a parte que envolvia a biblioteca.

—Você me conhece bem.- Brunna deu um sorriso carinhoso- E você, outro menino?

—Sarah me mandou aqui.- Kanato brigou- Disse que era o único grupo de pessoas sensatas.

—Bem, errada ela não tá.- Priya deu de ombros- Por que?

—Alguma coisa sobre orgia, poção e profeta.- Kanato resmungou- Não prestei atenção.

Brunna, Sofie e Priya se entreolharam muito confusas.

—Só isso?- Sofie questionou.

—Uhum.- Kanato disse com cara feia.

—Então pode voltar pra festa.- Sofie retrucou.

Kanato não precisou de nem dois segundos pra obedecer.

—Vocês precisam de ajuda?- Ruki ofereceu.

—Agradecemos, mas não.- Brunna se aproximou dele- Estamos resolvendo algo muito perigoso.

—E eu... sou menos responsável pra isso do que vocês?- Ruki pareceu não entender.

—Sem querer ofender, mas nós temos... traços fortes de personalidade que nos ajudam.- Brunna deu uma piscadela pra Ruki.

O Mukami percebeu que não ia fazer sentido retrucar, então só foi embora, dando um selinho em Brunna.

—Achamos algo- Haruka disse, quando entendeu que Ruki não ia voltar pra beijar Brunna.- O núcleo só pode ser destruído com força tão forte quanto a que ali está consumida, porém deve ser oposta a dos profetas.

—“Força tão forte?”- Sofie achou estranho.

—Tradução- Cousie deu de ombros- Também, os profetas costumam usar o Halloween para esses testes, já que normalmente é uma data de auge de magia, e onde os mortos conseguem entrar em conexão com os vivos.

—Já vi esse filme antes.- Priya sussurrou- Viva. Lindo, chorei tanto.

Uma voz masculina então surgiu:

—E adolescentes tem magia mais aguçada que todos.

Um homem de cabelos platinados longos, olhos dourados e metade do rosto coberta por lenços e mais lenços, se aproximou das Creedley, que foram bem rápidas em se levantar e dizer em uníssono:

—Carla.

As outras três acharam isso bizarro.

—Os profetas são espertos. Sabem que adolescentes, não só tem energia e magia no ápice...- Carla permaneceu falando- Mas também sabem que suas mentes são fracas e hormônios são fortes, o suficiente pra distraí-los, pelo menos.

—Me diz que isso não tem nada a ver com a parte da orgia...- Sofie murmurou.

—Orgia?- Cousie não entendeu.

—Temo que sim, Srta. Herbert.- Carla disse, sua voz rouca e grossa chegando a arrepiar.

—Você veio pra nos ajudar ou nos deixar mais confusas ainda, afinal?- Haruka brigou.

—Ah, eu sei de algumas coisas.- Carla respondeu- Mas não há sentido em responder, quando estão tão perto da resposta.

E com isso, desapareceu.

—Eu odeio quando ele faz isso...- Cousie murmurou.

—Ele faz isso com muita frequência?- Priya questionou, e as duas Creedley concordaram com a cabeça- Ai, homens...

—EI!- Uma voz bem grossa disse- QUEM ESTÁ AÍ?

De repente elas viram. Uma dúzia de profetas encapuzados, no mínimo. Pelo corredor.

—Ai. Meu. Deus.- Brunna murmurou.

—Alguém tem um plano?- Sofie obrigou as Creedley a fecharem o livro.

—Ah, eu tenho.- Priya olhou pra elas- CORRE, NEGADA!

As doze garotas se encontraram no terceiro andar, todas sem folêgo.

—O que diabos foi aquele barulho lá em baixo?- Marie questionou.

—Ah, a gente pode ou não ter atraído uns profetas na biblioteca.- Priya recuperou a respiração- Nada demais, sabe.

—É, eu provavelmente acabei desmaiando umas cinco pessoas enquanto eu destruía a mesa do ponche.- Sarah suspirou tristemente- E perdi meu arco. Agora eu sou só uma menina de saia e glitter.

—Sério que essa é sua prioridade agora?!- Cousie parecia quase ofendida.

—Cousie está certa. Por uma vez na eternidade.- Sofie retrucou, fazendo a Creedley mais velha revirar os olhos.- Nós não conseguimos fazer praticamente nada para impedir os profetas!
—Fale por você mesma!- Lua colocou as mãos na cintura- Os profetas estavam tentando colocar poção do amor no ponche e nos docinhos pra distrair os vampiros, ok? E nós fizemos o que? Destruímos tudo.

—Talvez eles estejam chamando a polícia, então.- Brunna sussurrou pra si mesma.

—Tem que ter alguma coisa que a gente não tá vendo.- Eliza disse num suspiro- Precisamos da ajuda de alguém que saiba o que está acontecendo...

—Nem olhem pra mim. Eu já disse que não faço a mínima ideia do plano dos profetas nem consigo adivinhar desse jeito.- Daayene explicou- Somos ensinados a bloquear as tentativas de profetizarem nosso futuro, passado e presente.

Quase como um sinal divino, uma porta no outro corredor se abriu, deixando um vento frio e uma pequena neblina passarem. Dali, saía uma luz azul.

—Mas que diabos...- Nikki xingou baixo.

—Bem, isso que eu chamo de sinal dos céus ou do inferno.- Haruka deu de ombros- Alguém se propõe a ir?

—Eu vou.- Todas as Herbert falaram instantaneamente. Depois se olharam e deram uma risadinha.

—Vocês são malucas.- Cousie decidiu- Piradas. Doidas.

—Bem, eu não vou reclamar.- Anna deu um sorriso fraco- Não sou lá... Boa em descobrir coisas.

—Podemos ficar aqui então.- Eliza gesticulou pra suas duas irmãs- Defenderemos as Hudison com nossas vidas. Vocês seis, vão.

Não precisou de muito pra fazê-las começarem a ir, porém seus passos misturavam o lento e o rápido, fazendo a chegada até a porta bem mais torturante.

Nikki abriu a porta mais ainda, deixando todas suas irmãs passarem antes de entrar e fechar a porta atrás de si.

Estranhamente, elas estavam num lugar aberto, cheio de neve. O chão fofo e branco era amassado a cada passo delas, e do céu não saía nenhum raio de sol pelas nuvens. A neblina era tão densa e forte que todas as seis tiveram que colocar a mão sob os olhos pra conseguirem enxergar seu caminho.

Mesmo de longe, conseguiram ver uma pequena cabana na distância. As irmãs apressaram o passo, o suficiente pra conseguirem chegar até lá. Dessa vez, foi Sofie que abriu a porta.

A cabana não tinha teto, perceberam, mas mesmo assim a neve não caía dentro da morada e a neblina não passava. As paredes e os chãos eram todos feitos de madeira, e um cheiro de bolo de chocolate invadia todo o lugar, fazendo o estômago de Sofie roncar.

Porém foi o que elas viram logo á sua frente que fizeram elas congelarem.

Uma mulher. De cabelos castanhos até os ombros, a pele branca com algumas rugas e os olhos da mesma cor que os fios. Usava uma calça boca de sino jeans, e uma blusa larga azul claro. Seu sorriso era reconhecível demais, e seu olhar brilhava com uma gentileza e felicidade que só podiam pertencer a uma pessoa.

—Mãe?- Marie arregalou os olhos.

Molly finalmente olhou pras filhas, e pareceu ter que encher o peito de ar pra se recompor:

—Meninas... Nossa. Vocês cresceram. Até demais, eu diria. Mas estão lindas.

—Você... mas você... Como?- Victoria não conseguiu não dar um passo pra trás, com medo de tudo aquilo ser uma alucinação maldosa.

—Ei. Relaxem.- Molly fez um sinal pra elas respirarem fundo.- Eu sei. É bizarro. Eu também estranharia se fosse vocês, sabe...

—Como você está aqui?- Sarah tinha os olhos castanhos cheios de lágrimas.

—É a magia dos profetas.- Molly explicou, com uma calma e emoção que só uma mãe podia ter.- Eles são a ponte entre a morte e a vida, sabiam? Então quando estão com grande poder, conseguem fisicalizar a morte. Desse jeito.

—Como você sabe de tudo isso?- Sofie questionou.

Molly deu um suspiro:

—Tem tanta coisa que vocês não sabem ainda. Tanta coisa que eu não pude contar. Que eu não posso contar. Mas vocês tem que descobrir por si mesmas.

—Mas por que?- Nikki questionou de novo. As dúvidas pairavam nas cabeças das seis. E o coração delas não ficava nem um pouco mais calmo por causa da presença da mãe.

Molly deu um passo á frente, o sorriso triste dela finalmente tomando forma por todo o rosto.

—Vocês estão indo tão bem.- Molly engoliu em seco- Estão descobrindo tudo por vocês mesmas, e olha onde chegaram.

Ela então gesticulou pras seis, como se quisesse mostrar o corpo delas:

—São mulheres agora.

—Mãe...- Lua começou- Os Sakamaki... a gente... você.

—Ah, ignorem isso.- Molly deu uma risada- Sabe, de todos os caminhos que eu gostaria que vocês tomassem caso acabassem naquela mansão, amar e ser amada de volta é o melhor, sem dúvida. Talvez eu tenha que agradecer aqueles rapazes por amarem vocês tão fortemente e dar parabéns pra vocês por conseguirem sobreviver tanto.

—Só conseguimos isso porque você nos ensinou.- Victoria parecia prestes a chorar- Você ensinou a gente a sempre ficar unida, não importa as circunstâncias. E a amar, não importando a quem. Sem nossa parceria e vontade de amar, teríamos morrido no primeiro ano.

—Vocês são tão mais fortes do que acham.- Molly ficou na frente de todas as filhas- Não sei como não conseguem se achar tão fortes e tão merecedoras de amor que nem são. Vocês já se provaram, vez após vez, que são capazes. O que há de errado?

Sofie deu de ombros:

—Se não conseguimos salvar todo mundo, então qual o sentido?

Molly deu um sorriso tão alegre que, quando a felicidade chegou aos seus olhos, ela chorou:

—Vocês são realmente Herbert. Idênticas aos seus pais, devo dizer.

—A maioria das pessoas dizem que somos que nem você.- Sarah riu.

—Ah não, eu não.- Molly respirou fundo, olhando pra baixo- Eu fiz dezenas de erros. Confiei em centenas de pessoas erradas. Talvez milhares. Mas eu fiz sete acertos nesse mundo, e é isso que importa pra mim.

—Por que você nunca aceita ser o nosso ídolo?- Lua questionou- É a mulher mais forte e icônica que eu conheço.

—Porque se vocês forem que nem eu.- Molly suspirou- Vão fazer as mesmas cagadas que eu. E sinceramente, vocês já me provaram o suficiente que são bem mais do que eu era quando tinha a idade de vocês.

As seis olharam pra mãe, sem saber muito o que dizer. O que poderiam dizer? Fazia quase sete anos que não sabiam o que era se afogar num abraço materno. Sete anos que passaram tão rápido e tanta coisa acontecendo... que a memória do rosto da mãe ia se apagando nas memórias, até virar quase um vulto.

Mas agora ela estava lá, a frente delas, e era real. Pelo menos o máximo possível. E só a presença dela conseguiu causar uma pequena paz no peito de cada uma das meninas.

—Ah, eu queria que o Jackson também estivesse aqui.- Molly deu uma risada fraca- Aproveitei ele tão pouco. Eu também tenho orgulho dele. Sempre tive medo de ter um filho homem e ele acabar sendo um completo idiota. Mas como Jackson poderia ser um idiota? Teve um pai tão maravilhoso... E os outros dois semipadrastos incríveis...

As seis riram, lembrando com carinho das palavras pra falarem pros irmãos.

—Nosso tempo está acabando.- Molly olhou pro céu- Não sou a única com quem vocês precisam falar.

Sofie já ia perguntar quem, já que não conheciam muitas pessoas que estavam mortas. Quer dizer, não que tivessem uma afinidade tão grande. Mas Molly as enlaçou num só abraço apertado como fazia quando elas eram crianças. E aquilo foi o suficiente.

—Eu amo vocês.- Molly suspirou fracamente.- Ah, e os profetas são uns babacas. E burros. Vocês conseguem bater neles fácil fácil.

As meninas mal conseguiram conter uma risada. E aos poucos, foram se desprendendo do abraço. E mais aos poucos ainda, foram saindo pela porta dos fundos da barraca.

Não precisaram dizer tchau. Mas quando Lua fechou a porta, elas respiraram fundo juntas.

Mas estavam do lado de fora. Porém não num inverno, e mais uma... primavera.

Estávamos num parque grande, cheio de árvores e uma fonte ao centro. Alguns castelo passavam ao fundo, o que deixaram as garotas se sentindo estranhas.

Num flashe, várias pequenas estradas se formaram á frente delas.

Lua tinha uma estrada pequena em frente. Nikki e Victoria tinham outra para o sul. Marie, Sarah e Sofie tinham uma outra ainda para o sudoeste.

—Ah, bacana!- Lua brigou- Agora o universo me manda andar sozinha, legal!
—Eu acho que conheço esse lugar...- Sofie pensou alto.

—E eu acho que devíamos ir logo.- Nikki praguejou- Ouviram a mamãe, existem pessoas querendo falar conosco.

Marie, Sarah e Sofie seguiram sua própria estrada, que as levava pra um pouco mais longe do que parecia ser o centro do parque.

Elas só foram interrompidas quando três crianças correram na frente delas, com redes de caçar borboletas nas mãos. Porém, elas gritavam algo sobre buscar morcegos.

Bem, só existia um trio de meninos onde um era ruivo, o outro tinha cabelos castanhos- avermelhados e um outro tinha fios lilases que as três conheciam.

—É absurdo como três crianças podem mudar numa questão de anos.- Uma voz dolorosamente conhecida ecoou atrás delas- Patético, até.

Quando as três irmãs se viraram, a visão da mulher esbelta de cabelos lilases e olhos verdes fez elas bufarem. Sofie foi a primeira que se pronunciou:

—Cordelia.

—Ah, então vocês ainda lembram de mim.- Cordelia disse com uma risadinha sarcástica- É claro que lembram. Como poderiam não lembrar? Eu marquei vocês, né? Bem profundamente, num lugar onde nenhum outro pode ter acesso...

—Fala logo, Cordelia.- Marie ajeitou a roupa branca- O que você quer com a gente?

—Ah, agora vocês ficaram mais arrogantes e presunçosas do que antes.- Cordelia jogou os belíssimos cabelos pra trás- Vocês realmente me dão vontade de esganar vocês até a morte.

—É. Mas nós ganhamos de você.- Sarah colocou as mãos na cintura, e sinceramente parecia a primeira vez que Cordelia sequer notava a presença da gêmea mais velha.- E não importa o que você queira mandar pra gente de... seja lá onde você estar, vamos vencer. A gente sempre vence.

—Há.- Cordelia deu uma risada agora beirando á psicopatia.- Vocês não venceram de verdade, né? Se venceram, poderiam me dizer o que diabos fizeram com KarlHeinz e Ricther, porque eu sinceramente não sei.

—Ricther?- Sarah estreitou os olhos- Ele morreu. Laito o matou.

—Isso é o que você pensa, cavalinho.- O apelido de Cordelia fez Sarah tremer.- Se ele estivesse morto, me perseguiria até no pós-morte.

—Corta essa, Cordelia. Não vai funcionar.- Sofie deu um passo á frente, em desafio- Eu não sei o que passa nessa mente doentia sua ou quanto abuso você teve que sofrer pra virar desgostável desse jeito. Mas sabe o que eu sei? Que isso não vai funcionar com a gente. Eu sei uma parte do que você fazia com seus filhos. Eu sei o quão odiosa foi sua vida e sua existência. E por algum motivo, você escolheu descontar em nós depois da sua morte. Eu realmente nunca vou entender isso. Mas nós somos imunes a suas manipulações doentias. Ficaria surpresa por quanto nós já passamos depois de você.

Sofie estava tão perto de Cordelia que parecia que uma podia sentir o hálito da outra.

—E também, eu te falei da última vez, que eu só queria te ver no inferno. Porque eu sei que não sou nenhuma santa. Eu sei que eu vou pra lá também. Mas eu acho que isso é o mais próximo de inferno que vamos ter.- Sofie tinha um sorriso bem cínico no rosto.- Mas eu não consigo não jogar na sua cara que você perdeu muita coisa. Seu filho mais velho, aquele que você odiou e maltratou por não conseguir ser o seu herdeiro. Ele me escolheu. Disse que gostava de mim. E talvez eu goste dele também. E você não pode estar lá pra ter o gosto da derrota que seria pra você que seu filho se apaixonasse por uma garota que você claramente odeia como eu.

—Eu não te odeio, idiota.- Cordelia revirou os olhos- Não fale tão vulgarmente assim comigo, sua...

—Ah, agora você quer xingar a minha irmã?- Marie se meteu na frente- Nananinanão, não vai rolar. Você dominou meu corpo, me faz passar pela tortura que foi ter minhas irmãs com medo de mim. E eu também descobri que você também é uma mulher sem-caráter, nojenta e manipuladora. Olhe o que você fez com Laito! Ele tinha todas as chances de ser um cara romântico e todas as mil e uma coisas, mas eu não consigo não te odiar por você ter estragado isso pra ele.

—E nem vamos começar a falar de Kanato.- Sarah deu um passo á frente- Eu sei que dois anos atrás você deve ter me achado uma bobinha de cor-de-rosa que só sabia fazer birra. Eu era alguma coisa parecida com isso. Mas agora eu mudei, e você ficaria assustada se soubesse o quanto que eu posso machucar. Ah, principalmente por alguém que eu me importo. Então se eu ouvir que você ousou machucar o Kanato, eu juro que vou pros quintos dos infernos te reviver pra te matar de um jeito mais doloroso ainda.

—Suas insolentes...

—Chega, Cordelia.- Sofie deu de ombros- Você não tem chance contra a gente. Pode vir nos assombrar. Dia após dia. Eu não tenho medo de você. Nós não temos medo de você. E eu diria até que estamos em vantagem, já que seus filhos claramente tem um carinho enorme conosco. Que claramente não tinham com você.

—Meus filhos me amavam!- Cordelia sorriu- Ayato, Kanato, Laito... Todos me amavam pra toda eternidade.

—Se você chama a doença que você passou pra eles de amor.- Marie começou a virar de costas- Então eu tenho medo de que outros sentimentos você possa ter.

E as três começaram a andar na direção oposta, ignorando os chamados arrogantes de Cordelia atrás delas.

Enquanto isso, Victoria e Nikki continuavam andando na estrada delas.

Não porque elas queriam, necessariamente. Mas estavam abismadas demais com a beleza e antiguidade do lugar pra não demorarem um pouco na caminhada.

Elas chegaram a uma espécie de varanda coberta, onde a mesa estava ocupada por uma mulher belíssima bordando.

Ela usava um vestido vermelho bufante, os cabelos eram presos e loiros. Apesar de estar vidrada em seu bordado, Nikki percebeu que os olhos dela eram de um tom de azul apaixonante demais.

Porque ela conhecia bem aquele tom de azul.

—Ah.- Ela se virou pra elas com uma cara quase inexpressiva, seu rosto parecendo levemente assustado ao ver os trajes de Victoria e Nikki.- Podem se sentar, se quiserem.

As duas se entreolharam, mas resolveram não negar o pedido.

—Prazer. Nós somos...- Victoria começou.

—Eu sei quem vocês são.- A mulher disse, ainda sem tom expressivo- Acredito que nós, mortos, tenhamos uma noção de realidade mais sensível que os vivos. Talvez seja por isso que os humanos acreditem que quando uma pessoa morre, ela fique nos observando do céu.

—Você é Beatrix.- Victoria sussurrou, mas foi rápida em se corrigir- Lady Beatrix. Mãe de Príncipe Shu e Príncipe Reijii.

—Não precisa chamar eles assim, eu sei que vocês não os tratam com toda essa dignidade.- Beatrix finalmente largou de seu bordado, mas ainda focava em suas mãos- Nikki e Victoria, correto?

As duas irmãs concordaram avidamente com a cabeça.

—Não queria falar com vocês.- Beatrix foi sensata- Nunca tive o mínimo interesse de conhecer quaisquer parceiras de meus filhos, principalmente se fossem fora da nobreza. Mas o destino me mandou para vocês, e aqui estamos.

—Sei que não somos exatamente o que você procurava numa nora ideal...- Victoria começou, e Beatrix as interrompeu:

—Exatamente? Ah, não, não. São exatamente o oposto de uma nora ideal, ao meu ver. Sinceramente pensei que Shu fosse ter melhor gosto pras mulheres. Até Reijii, talvez.

—Talvez tenham puxado o gosto da mãe pra homens...- Nikki sussurrou, mas levou um pisão de salto de Victoria. Ela engoliu um berro de dor- Mas claramente não o do pai pra mulheres, se você me entende.

—Eu sempre acreditei que Shu fosse herdar o trono de seu pai- Beatrix admitiu- E nunca acreditei em nada específico pra Reijii.

—Reijii é um ótimo homem.- Victoria garantiu- O melhor marido que eu podia pedir... E um pai incrível, também.

Beatrix pareceu um pouco chocada pela afirmação de Victoria. Talvez fosse a ousadia de interrompê-la no meio da frase, ou o olhar meio apaixonado nos olhos dela quando mencionaram seu filho. Fato é, ela pigarreou e continuou:

—Acredito que seja, Srta. Victoria. Mas Shu... era meu primogênito, e agora se tornou um desleixado bom-pra-nada...

—Shu é bem mais que isso, se me permite dizer, Lady Beatrix.- Nikki também a interrompeu- Ele é gentil e bem determinado quando quer. Eu sei disso, mais do que ninguém.

Beatrix pensou por um segundo que, se as duas estavam tão avidamente dispostas a defender seus filhos da própria mãe, talvez não fossem as piores noras que pensara.

—Se a senhorita diz...- Beatrix deu um pequeno, o mínimo dos mínimos, sorriso de canto. Não passou despercebido pelas irmãs- Vocês parecem boas mulheres. Eu já quis casar por amor um dia, mas as obrigações não me permitiram. Eu cheguei a achar que meus filhos não seriam capazes de amor. Mas se vocês dizem que eles são tão bons assim... É fácil de acreditar.

As duas irmãs trocaram um sorriso, e depois se levantaram das cadeiras de forma desengonçada:

—Então... Eh... Foi uma honra, Lady Beatrix.- Victoria se curvou de maneira estranha.

—Sempre um prazer.- Nikki disse, meio confusa. E as duas partiram logo depois.

Lua estava claramente confusa sobre a estrada dela, enquanto isso. Era a mais longa de todas, e ela não conseguia entender porque tinha que ir tão longe pra encontrar quem quer que fosse.

Além disso, quantas curvas aquilo tinha?

A estrada acabou cerca de seis minutos após aquele pensamento, e Lua agradeceu aos céus.

Lá, tinha uma mulher que ela não tinha ideia de quem era. Deitada na grama, ela observava o céu.

Lua se sentou ao lado dela, e a mulher foi rápida em se levantar.

Era uma mulher relativamente baixa, e tinha os longos cabelos loiros até a cintura. Lua percebeu também a heterocromia em seus olhos: O esquerdo era verde e o direito era castanho. Ela tinha a pele bem branca, porém não tão branca quanto a de um vampiro. Tinha um corpo avantajado de dar inveja, e era literalmente a garota mais bonita que Lua já tinha visto.

—Ahn... Desculpa, eu te conheço?- Lua questionou.

—Não. Eu também não te conheço.- Ela deu um sorriso angelical- Mas acredito que saiba que ambas ouvimos sobre a outra, Lua Herbert.

O jeito que a mulher sorriu, o jeito como ela olhava pra Lua, a lembrava bem especificamente do sorriso e do olhar de uma outra mulher... Uma certa vampira que ela conheceu na Mansão Sakamaki.

—Você é Evie.- Lua se chocou- Mãe de Lilith. Esposa... Mals, Ex-esposa de Ricther.

—A própria.- Evie riu- E você é Lua Herbert. Filha de Molly Herbert, e parceira de Subaru Sakamaki, acertei?

—Na mosca.- Dei uma piscadela pra ela.- Mas como sabe tudo sobre mim? Eu li o diário da sua filha e...

Lua pensou que talvez não tenha sido a coisa mais esperta de se dizer.

—Os boatos não param nunca, até mesmo no pós morte.- Evie disse com sabedoria- O Dia das Bruxas pode ser uma data comemorativa pros humanos, vampiros, lobisomens, feiticeiros e demônios. Mas pra nós, que se já foram, é a única forma de criar contato e conexão com os que permanecem.

—Então... Não seria melhor você falar com sua filha, seu genro ou seu ex-marido?- Lua questionou- Por que comigo?

—Você e suas irmãs e amigas conseguiram um feito nunca visto antes, Lua.- Evie surpreendeu a Herbert mais nova- Sobreviveram ao noivado de sacríficio, conseguiram se manter unidas, voltaram com os drakons, incitaram a primeira rebelião guiada por mulheres e continuam mais vivas e poderosas do que nunca. E ainda assim, eu me questiono porque ninguém não sabe ainda quem é a Eve?

Lua parecia chocada:

—Você sabe quem é a Eve? Conheço uns amigos que iam adorar descobrir...

—É claro que sei quem é a Eve.- Evie sorriu- Mas qual seria a graça de te contar, se talvez amanhã você pode pensar que tudo isso foi uma alucinação da sua cabeça pela quantidade de ponche que tomou?

—Eu nunca acharia que você é uma alucinação!- Lua retrucou.- É bonita e legal demais pra alguém como eu imaginar!
—Lua- Evie a segurou pela mão- Há coisas que nem os mais sábios dos homens é capaz de explicar. Vocês tem tanto a viver ainda. Tanto para descobrir. Tanto tempo pra amar, se deliciar nos prazeres carnais do mundo. Talvez sejam esposas, talvez sejam mães e talvez avós. Isso não simboliza o fim de tudo. Sempre haverão dúvidas não respondidas. Coisas que matutarão sua cabeça quando você for dormir. E ás vezes... é melhor viver assim.

Lua, de alguma forma, se sentiu quase honrada pelas palavras.

—E você tem tudo que precisa pra conseguir passar pelas perdas e dificuldades que se aproximam de você.- Evie continuou- Vai sofrer. Com certeza vai. Mas vai sair mais forte, e uma vencedora. Quando a hora chegar, vai saber do que eu estou falando.

Lua se sentiu ficar sem fôlego pela estranha familiaridade da frase.

E então, começou a ficar sem folêgo de verdade. Como se uma mão sombria viesse do céu e a estivesse esganando, até que ela caísse no chão.

Mas ela não caiu, ela se sentiu levantar.

E num piscar de olhos, ela e ar irmãs estavam todas acorrentadas pelos pulsos e tornozelos, com uma espécie de coleira as prendendo pela garganta.

—Ah, finalmente elas voltaram!- Um homem encapuzado disse, parecendo aliviado.

—Então... Amorzinhos.- Uma voz familiar disse pra elas- Vocês acham legal ficar realmente mexendo nas coisas dos outros?

As meninas não podiam se virar, mas a origem da voz andou para que pudesse ser vista.

Era Meg.

—Puta puta merda.- Sarah falou baixo.