Like a Vampire Extra: This is Halloween

Capítulo 4- Vilã da própria história


Marie sempre teve uma noção de que poderia morrer cedo.

Quer dizer, nem sempre. Mas desde seus catorze anos, aproximadamente. Depois que viu a mãe morrer tão jovem por causa de um ataque do coração, ela começou a pensar que morte precoce era uma coisa que realmente existia e que talvez pudesse acontecer com ela.

Bem, vinte e um anos era mais jovem do que ela esperava. E, de todas as chances, ela esperava que essa morte não fosse nas mãos de Meg.

E principalmente não enquanto usava uma fantasia de anjo que era pervertida demais.

—Vocês são tão bobinhas...- Meg continuava cantarolando, e só aí que as seis irmãs se tocaram que ela ainda estava falando pelos cinco minutos que se passaram desde que foram acorrentadas e presas na parede.- A curiosidade de vocês um dia vai ser a própria morte de vocês. Se metendo nos planos dos profetas, tentando nos impedir...

—Eu nem sei por que você está aqui- Victoria admitiu, claramente exausta da garota- Te colocaram pra torturar a gente até a morte?

—Eu que falo aqui, coisinha.- Meg disse com tanta nojeira da voz que Sarah chegou a sentir refluxo.- O que as faz pensar que tem algum direito de falar contra mim no meu ambiente?

—Porque você é uma cretina, talvez.- Sofie murmurou, mas foi o suficiente pra Meg escutar.

—Eu não queria ser inimiga de vocês- Meg se aproximou um pouco mais delas acorrentadas- Mas depois de tudo que fazem pra arruinar meus planos... Os planos dos profetas, quero dizer. Depois de manipularem e seduzirem os pobres príncipes a amarem vocês.

—Por Deus, mulher! Você mesma disse que faria o que pudesse pra levar eles pra cama!- Nikki brigou- Só porque você não é gostável o suficiente pra arranjar amor, não estrague o relacionamento dos outros!

Meg jogou os cabelos cacheados pra trás, e seus olhos vermelhos brilharam perigosamente:

—Você fala demais.

E com uma só apertada em seu próprio punho, ela fez Nikki se contorcer de dor na parede.

—Agora, onde estávamos?- Meg tirou a capa preta que usava, revelando um belíssimo vestido vermelho- Ah, sim. Nós tivemos a belíssima ideia de tirarmos as humanas do cômodo da festa. Sabe, não vejo motivos pelo qual devamos arruinar os planos do Rei Vampiro. Mas vocês fizeram isso ser... difícil demais.

—Difícil? Pra você?- Lua questionou- Colega, eu pulei em cima de uma mesa cheia de comida e quebrei um vidro de ponche. Sério, isso doeu em mim inteirinha. E nem estou falando do meu físico.

—Mas talvez vocês tenham uma funcionalidade melhor.- Meg ignorou completamente a Herbert mais nova- Vocês irão se juntar á nós. Não como profetas, é claro, não seriam dadas tal honra. Mas serão nossas servidoras. Pra sempre.

—Eu tenho medo de perguntar o que são servidoras...- Sarah murmurou, e Meg bufou:

—Vocês passarão por um treinamento intensivo. Nos quartéis profetas, é claro. Passarão por momentos de desespero, tendo que aguentar os piores auges do ser humano: fome, frio, solidão... E então vão ser dadas aos poucos a benção da vida eterna, o prazer das necessidades satisfeitas. E aí, puf! A mente de vocês já estará desesperada demais pra qualquer tipo de vontade de fugir.

Meg riu.

—Ah, mas é claro, vocês não vão lembrar nada dessa noite.- Ela deu de ombros- Talvez, não se lembrem nem do que aconteceu com vocês no passado. Talvez só as partes mais traumáticas. Gostamos de deixar essas pra ser mais divertido. Mas antes...

E com um estralar de dedos, vários servidores encapuzados foram até as irmãs, as amordaçando com tecidos presos á suas bocas. As irmãs até tentaram os morder, mas era em vão.

Agora, com suas vítimas sem poder falar nada, Meg deu um sorriso grandioso. Parecia orgulhosa de si mesma. Deveria ter. Derrotar as seis irmãs Herbert de forma tão... fácil, até? Não era pra qualquer um.

Os Sakamaki as tentaram quebrar aos poucos, e acabou que eles acabaram se apegando ás seis, e até se apaixonando.

—Deixem elas aí por um tempo.- Meg ordenou- O Mestre vai gostar de ver nossas novas conquistas. E também, vai ser divertido ver a expressão de horror nos rostos delas quando elas finalmente verem que foi tudo em vão.

E com isso ela saiu do cômodo, com os malditos lacaios indo atrás, deixando as pobre seis irmãs acorrentadas e amordaçadas na parede de pedra do quarto escuro e frio.

O que deixou as seis frustradas. Primeiro, nunca estiveram literalmente acorrentadas e amordaçadas. Só num sentido mais figurado, quando não tinham fala sobre o que queriam e custavam poder sair de casa. Mas mesmo assim, não poder LITERALMENTE falar nem se mover (coisas que eram feitas com frequência pelas seis) e nem poderem se olhar pela coleira no pescoço e o escuro do quarto, era uma grande tortura.

Não sabiam ao certo quanto tempo se passou desde quando foram presas. Quinze minutos? Meia hora? Uma hora? Talvez já tivesse até acabado a festa, de tão maluco que era aquele lugar com aquelas pessoas.

Mas, num passe de mágica, a porta se abriu. As garotas tremeram no lugar, esperando que fosse Meg falando “Ei, adivinha só?! Achei um chicote incrível pra usar em vocês! Bora testar?” ou algo maluco e bizarro do tipo. Mas não dava pra ver. Estava escuro demais.

Porém, uma pequena chaminha vermelha apareceu do nada, revelando os rostos de duas pessoas familiares demais.

—DashsheusheElisha!!- Foi isso que soou quando Marie tentou falar, mas ela desistiu quando percebeu que a mordaça apenas se apertou mais em sua boca.

Daayene e Eliza trocaram um pequeno olhar divertido, porém não se demoraram muito ao ver a situação das pobres garotas.

—Por Deus, quem foi que fez isso com vocês?- Daayene perguntou, usando a pequena chama em sua mão como iluminação pra Eliza.

—Meshi- Sofie tentou dar de ombros, sem sucesso.

Eliza tirou o chapéu de marinheiro da cabeça, e depois foi até sua raiz do cabelo atualmente natural (ou seja, ruiva) e de lá puxou um pequeno grampo de cabelo. Ela gesticulou que Daayene se aproximasse mais de Marie. Quando a Hudison o fez, Eliza foi gentilmente e com bastante atenção, conseguindo enfiar o grampo num dos cadeados das correntes. Pressionando apenas um pouco e mexendo o grampo, ela conseguiu desprender um dos braços da mais velha.

Foi fazendo isso com todas. Mão por mão, pé por pé. E depois ainda desamordaçou as seis, que reclamaram de dor na boca logo depois.

—Eu senti que tinha uma bola de golfe na minha boca!- Lua reclamou- Sabe quão difícil é pra mim não falar? Muito difícil!
—Eu imagino, sister.- Daayene disse ironicamente- Mas agora vamos, tem uma escola esperando pra ser salva pelas nossas mãos.

Ao escaparem da sala de quase-tortura, as oito esperavam tudo, menos o tumulto das garotas pelo corredor. Cada uma falava por cima da outra, com perguntas e patadas (essas só vinham de Haruka e Cousie, infelizmente) demais. Assim que notou a volta das Herbert, Anna pigarreou. As outras pararam de falar e olharam pro lado!

—O que diabos aconteceu com vocês?!- Priya perguntou, meio preocupada.- Meu Deus, isso são marcas de correntes nos pés e mãos de vocês?

—Ou de cordas.- Cousie analisou- Mas provavelmente correntes. Mas eu usaria cordas.

Brunna cerrou as sobrancelhas na direção da Creedley:

—Valeu pela imagem mental de você torturando alguém.

—Ficaria surpresa por quão bom pode ser.- Cousie disse, meio nem ligando.

—Sem ofensas, meninas... Podemos ir direto pra parte onde a gente salva o mundo e tudo?- Sofie bufou- Eu acabei de ser meio que torturada, encontrei minha quase-sogra, não foi legal.

—Sua... quase... sogra?- Anna pareceu confusa- Tipo a... mãe... dos trigêmeos.... Que vocês mataram?

—É, basicamente.- Sarah concordou com a cabeça.

—Vocês encontraram uma mulher morta?- Haruka perguntou, querendo confirmar aquilo.

—Duas.- Victoria deu de ombro- Eu e Nikki encontramos nossa sogra. Tipo, de verdade?

—Quem você encontrou então, Lua?- Marie perguntou. Lua deu uma hesitada:

—Eu... Eu não encontrei ninguém.

—Ah. Que estranho.- Nikki disse- Mas enfim. Salvar o mundo.

—É só uma escola.- Eliza arqueou as sobrancelhas.

—Tem gente que considera a escola o mundo, mas são pessoas burras.- Daayene deu um pulinho, animada demais pra quem acabara de ver as amigas presas e prestes a serem torturadas.- Mas enfim, Cousie e Haruka descobriram algo.

—Como sempre.- Haruka deu de ombros.

—Sabemos onde o núcleo dos profetas está.- Cousie explicou- Sala 3. Agronomia, eu acho. Por que diabos vocês tem aula de agronomia?

As Hudison e Herbert deram de ombros como resposta.

—Enfim, é bem fácil.- Brunna voltou ao assunto- A gente chega lá, destrói o núcleo e Puf! Não precisamos mais nos preocupar com nada!
—Tem certeza que precisamos destruir o núcleo?- Daayene questionou, hesitando- E se eu... perder meus poderes?

—Você não vai perder seus poderes, pode só sentir uma tontura.- Haruka disse.- É como se você tivesse uma... queda de pressão, como vocês humanos dizem.

—Queda de pressão não é uma invenção humana.- Sofie disse.- É uma coisa tipo... Real.

—Bem...Não importa!- Daayene pulou de novo, com um guincho irritante- Let’s go!

Anna cerrou os olhos pra irmã mais velha:

—Você tá bem?

Daayene então pareceu tomar um choque de realidade, e simplesmente parou e ficou séria. Ela pigarreou de forma bizarra, e então fez uma voz mais grossa:

Let’s go.

Todas as outras nove se entreolharam, achando o comportamento de Daayene bizarríssimo. Porém, elas resolveram fazer uma das piores decisões da noite: Ignorar e seguir em frente pra sala 3.

Chegando lá, perceberam que as Creedley estavam certas, de novo. O núcleo de energia profeta estava bem lá, em toda sua majestade. Preso sob um apoio dourado, o núcleo era basicamente uma bola de vidro bem grande, cheia de uma espécie de névoa e brilho vermelho.

Anna, pelo canto do olho, viu Daayene engolir em seco.

—Como a gente destrói esse troço?- Marie questionou.

—Sei lá.- Cousie deu de ombros- Tentativa e erro.

—E se a gente só derrubasse ele do apoio?- Sofie sugeriu.

—Não funcionaria.- Daayene disse sem pensar- Isso ia fazer com que toda a energia se espalhasse, e mataria vocês.

—Uau.- Priya arregalou os olhos pra irmã- Valeu pela informação delicada, Daay.

Mas Anna e Brunna se entreolharam, sabia que alguma coisa estava muito estranha.

—Então o que você sugere, profeta?- Lua perguntou diretamente pra Daayene, que engoliu em seco novamente:

—Vamos... d-d-derrubar do apoio.

—Mas você acabou de falar que isso mataria a gente.- Victoria olhou pra Hudison.

—Eu... Me confundi. – Daayene se justificou.

—Você “se confundiu”?- Haruka cruzou os braços, olhando diretamente pra ela- Sobre uma coisa que você mesma falou que ia matar a gente? Uau.

—Haruka...- Sarah disse, num tom de quem quer manter a calma.

—Nananinanão, eu já vi o que tá acontecendo aqui.- Haruka deu um passo á frente- Senhoras e senhoritas, temos uma espiã.

Um silêncio constrangedor preencheu o comôdo. Daayene riu:

—Há. Espiã. Essa é boa. Boa piada, Haruka!
—Você queimou um homem quando estávamos todas juntas.- Nikki pensou pra si mesma.

—Era um profeta.- Daayene revirou os olhos- Isso não é prova.

—E quase queimou aquele cara que estava procurando as Creedley.- Marie disse.- Você disse que foi sem querer, mas talvez... não tenha sido.

—Ah, não sejam bobas!- Daayene riu- Eu nunca faria isso de propósito!

—Eu não acredito em você.- Cousie disse.

—Mas vocês...- Daayene começou, mas Eliza disse:

—Só volte a sua aparência normal. Você é metamorfomago. Ou metamorfomaga. Eu sei disso. Eu devo ter visto o seu cabelo variar do loiro claro ao platinado umas duas vezes. Eu vi você mudando o tamanho da própria unha!

—E você... não disse nada?- Brunna achou estranho.

—Eu precisava de mais provas do que só “ver”. Podia ser uma alucinação, afinal.- Eliza justificou.- Se revele!

—Ora, ora, ora, olhem quem está aqui...- Meg apareceu detrás delas.- Pode abandonar o roteiro, Hellsing. Já vi que você foi um espião inútil de qualquer jeito.

A “Daayene” bufou e se mudou de forma, mostrando um homem alto e barbudo, de olhos azuis bem claros e cabelos pretos.

—Cadê a minha irmã?- Priya questionou.

—Nossa irmã, Priya.- Brunna corrigiu.

—Isso, nossa irmã.- Priya repetiu.

—Ah, ela.- Meg deu um sorriso- Me ocorreu que ter uma profeta no time oposto seria um tanto quanto... triste. Por isso, antes que todas vocês se separassem naquela... bobeira de vocês, eu pedi que Hellsing tomasse o lugar da garotinha. E vocês nem notaram.

—E onde ela tá?- Lua estava furiosa. Ou irritada, pelo menos.

—Não sei.- Meg deu de ombros.- Não fui eu que cuidei dela.

—Eu ainda dou na cara dessa menina.- Victoria parecia orar- Eu juro que dou.

—Agora, onde estávamos?- Meg sorriu- Ah, sim, na parte sobre eu ter estragado o plano de vocês e querer torturar vocês.

—Ah, vem pro X1 então.- Nikki se preparou pra brigar.

—Nikki, não.- Marie a impediu.

—Nikki, sim- Cousie torceu.

—Eu não brigo fisicamente.- Meg sorriu de canto- Só quando eu tenho que lutar.

—Você controla fogo, né?- Haruka deu um sorriso- Então cai dentro. Eu dou conta de vocês dois.

—Ah, não dá não.- Meg negou.

—Esse cara não fala?- Sofie apontou pro tal Hellsing.

—Cortei a língua dele.- Meg disse como se fosse normal.

—Ah claro, por que não?- Sarah deu de ombros.

—Com licença, alguém aqui viu uma tal de Meg?- Uma voz conhecida surgiu detrás delas- Porque eu tenho um presentinho pra ela?

Era Daayene. Mesmo com o cabelo bagunçado, a maquiagem borrada e o vestido praticamente estraçalhado, ela estava preparada.

—Aí sim!- Priya comemorou- Essa é minha irmã!

—Você não poderia...- Meg começou a falar, mas Daayene nem deu tempo dela terminar. Só jogou ela pro lado, junto com o tal Hellsing, e os prendeu usando sua magia vermelha.

—Ah, sério?- Nikki pareceu decepcionada- Não posso dar porrada nela?

—Quem sabe outro dia.- Sofie a consolou.

—Temos assuntos mais importantes pra resolver.- Daayene instruiu, ainda usando uma de suas mãos pra prender os dois na parede. Só então as meninas perceberam que estavam desmaiados, vendo o silêncio deles.- Haruka, consegue defender a gente da magia com água?

—Vai adiantar?- Haruka pareceu surpresa.

—Eu consigo segurar um pouco da magia no meu corpo quando eu quebrar o núcleo.- Daayene explicou- Mas não posso garantir que um pouco não vá pra aí.

—Ok.- Haruka suspirou- Pessoal, faz um bolinho perto de mim se não quiserem morrer. Obrigada, de nada.

Quando todas as outras garotas se juntaram atrás de Haruka, ela ergueu as mãos. O bebedouro ao lado tremeu, até que o chão bem á frente da Creedley se abrisse numa fenda, criando uma espécie de escudo de água jorrando. Com os dedos, Haruka conseguiu guiar a água até que formasse uma bolha ao redor delas.

—Ai meu Deus, isso é muito legal.- Lua disse, feliz da vida.

Á frente do escudo de água, Daayene chutou o apoio do núcleo, deixando que ele caísse no chão e trincasse bem aos poucos, até a magia começar a ser expelida para o ambiente.

Daayene se concentrou e fechou os olhos, sentindo seus pés saírem do chão e seus olhos e mãos começarem a brilhar. Ela então sentiu, com toda a força, uma onda entrando dentro dela. Apesar da bambura momentânea, ela se manteu firme no ar.

As ondas vermelhas que Daayene não absorvia, acabavam sendo ricocheteadas pelo escudo de água. E quando tudo acabou, foi o som de Daayene caindo ao chão que fez com que Haruka cancelasse sua magia.

—Você tá bem?- Victoria perguntou, vendo o nariz de Daayene sangrando.- Ai meu Deus, você tá morrendo?

—Não...- Daayene tossiu- Só... muita... energia...

E então Meg e Hellsing caíram no chão, ainda desmaiados.

Mas foi um gritinho vindo do andar de baixo que as fez notar uma coisa. Sofie sorriu:

—Nós conseguimos.