Like a Vampire Extra: This is Halloween

Capítulo 2- Uma heroína fantasiada


—Alguém pode me explicar por que diabos a Nikki me mandou duzentas e cinco mensagens?- Priya olhou pro telefone, apoiada na parede do banheiro.

—Duzentas e cinco mensagens?- Brunna estava apoiada ao lado da irmã- Falando o que?

—Apenas várias variações de “subam pra cá”, “é importante” e “vou matar vocês”- Priya leu, arregalando levemente os olhos- Em Caps Lock.

—Ela não tinha dito que ia no banheiro?- Anna questionou, meio baixo.

—E você acreditou?- Daayene estava retocando o batom dela- Era Ó-B-V-I-O que ela ia era se encontrar com o Shu. Mas você sabe como a Nikki é, nunca vai assumir esse tipo de coisa pra gente.

—Talvez porque nós somos péssimas amigas e ela saiba que nós vamos zoar ela se ela sonhasse em falar sobre ir se encontrar com o peguerado dela?- Brunna suspirou, ajeitando o laço do seu cabelo.

—O que é um peguerado?- Anna questionou.

—Um peguete-namorado, Anna- Priya explicou. Porém, a agradável conversa das irmãs Hudison foi interrompida pela porta do banheiro sendo aberta desesperadamente por uma Lua:

—Caramba! Onde foi que vocês estavam?

—...Aqui?- Daayene olhou assustada pra sua amiga- Que cara de quem viu um fantasma é essa, colega?

—Não vimos um fantasma, mas Nikki e Shu viram um cara quase morto no chão da sala de economia doméstica e ele diz que alguém atacou ele.

As quatro irmãs se entreolharam, antes de saírem correndo seguindo Lua para o andar de cima.

Ao chegarem na frente da sala de economia doméstica, elas se depararam com o resto das Herberts apoiadas numa das bancadas, enquanto um homem pálido estava sentado numa das cadeiras, tomando um copo de água.

—O que aconteceu aqui, exatamente?- Brunna entrou na sala primeiro que suas irmãs e Lua, ajeitando o laço preto em seu cabelo.

—Eu fui atacado!- O homem parecia velho, cerca de cinquenta anos. Rugas enfeitavam seu rosto, sua calvície era bem óbvia, e ele usava roupas que pareciam de um faxineiro. Porém, seus olhos eram meio avermelhados.- Eu estava aqui, arrumando o andar de cima pras aulas de segunda feira enquanto vocês, jovens inúteis, ficavam lá embaixo festejando...

—É óbvio que estaríamos festejando, é Halloween!- Victoria disse, meio que pra si mesma. Se o velho ouviu, preferiu ignorar o comentário:

—O que me atacou era um vulto pra mim. Tinha uma forma, mas não soube ver exatamente como era. E fazia um barulho agudo demais. Quando ele passou por mim, me senti tonto e caí no chão.

—Quando você diz vulto...- Daayene pensou- Você quer dizer tipo um fantasma?

Sofie revirou os olhos:

—Ah nem, nem comecem. Não quero saber. Se me disserem que existe fantasma nesse mundo agora, eu juro que vou embora.

—Não um fantasma. A mera ideia de um fantasma é patética.- O homem bufou, irritado com as humanas, apesar de elas não saberem exatamente o porquê.- Mas algo mais mítico do que eu já tinha visto.

Ele então jogou o copo de vidro no chão, fazendo todas as garotas darem um pulo de susto e um gritinho. O velho deu uma risada:

—Ah, vocês são divertidas. Idiotas, porém divertidas. Humanas, claro. O que vieram fazer aqui numa sala de economia numa festa, ajudando um velho vampiro?

—...Te ajudar, que nem você mesmo falou.- Sarah achou a pergunta do homem- Viemos te ajudar.

O homem se levantou calmamente, e andou até a porta:

—Se eu fosse vocês, teria mais cuidado. Nunca se confia em uma pessoa mágica, especialmente se você é humana numa festa de Halloween.

—Ah, isso até que é um conselho le...- Anna começou a falar. Ela tinha sinceramente achado que era um conselho pra elas tomarem cuidado.

Isso é, até o homem fechar a porta com força, e um barulho de chave ser ouvido do outro lado.

—EI!- Nikki brigou, correndo até a porta e deixando seus pompons caírem no meio do caminho. Ela esmurrou a porta- Desgraçado! A gente veio te ajudar!

—Por que ele prendeu a gente?- Marie se questionou- Desnecessário.

—Ah, jura?- Priya brigou- Ele foi um babaca mal-agradecido, isso sim!

Nikki praticamente arrancou a maçaneta tentando abrir a porta. Ela bufou frustada:

—Trancada.

—Já imaginávamos, Nikki.- Sofie disse.

—E agora, o que a gente faz?- Sarah se escorregou na parede.- Alguém tem sinal do celular?

Todas as meninas se entreolharam, e começaram a pegar os celulares de bolsos, blusas e bolsas.

—Eu tinha, mas por algum motivo não tenho mais.- Victoria parecia chateada- Será que se a gente berrar bem alto o povo lá de baixo escuta a gente?

—Ou será que a gente morre se a gente pular essa janela?- Lua pulou numa das bancadas e olhou pela janela. Ela estremeceu- Não. Esquece. Alto demais.

Todas se olharam, frustradas e um pouco assustadas, por mais que não quisessem admitir. A luz acima delas piscou, quase que num sinal de “Ei, vocês ainda estão num lugar assustador!”

—Caramba, quem diria que esses andares abandonados são tão...- Daayene começou.

—Medonho?- Brunna sugeriu.

—Eu ia falar solitário, mas isso também serve.- Daayene então arfou, uma mão no peito e uma expressão de dor no seu rosto- Nossa, senti uma coisa muito estranha aqui.

—Se você começar a ter uma convulsão no chão enquanto tem suas visões, eu não vou ajudar. Isso me dá medo.- Sofie ajeitou seu chapéu de bruxa na cabeça.

Daayene fez um sinal de negação:

—Não. Não é dor de visão profética, se é isso que você quis dizer. É só uma energia... Sinistra. E dói.

—Ai Daay, desse jeito você me deixa com medo!- Sarah fez beicinho.

E, de repente assim mesmo, as garotas começaram com uma discussão sobre a real natureza daquele homem.

—Mas será que ele era vampiro mesmo?- Priya se questionou.

—Se não fosse, o que diabos era?- Nikki brigou.

—Olha só quem fala, a irmã humana de um lobisomem. E olha só, vocês dois estudam aqui!- Brunna disse com pura ironia no olhar.

Anna apenas observou toda a discussão tomar forma. Por isso que ela foi a única pessoa que notou a maçaneta se mexendo não tão discretamente. Ela também escutou um barulho na distância, como se algo estava lá atrás.

De repente, a porta se abriu num baque, fazendo todas as garotas (menos Anna, já que era a única que estava muito mais entretida de verdade na porta do que na discussão) darem um pulo gigante de susto.

Detrás da porta, uma figura muito conhecida pelas meninas surgiu, com uma fantasia de pirata elaborada demais e um grampo de cabelo nas mãos.

Ela colocou uma das mãos na cintura, numa pose quase heroica se não fosse pelo rosto meio debochado:

—Vocês deviam falar mais baixo, se planejam ficar trancadas numa sala idiota pelo resto da festa.

—COUSIE!- Victoria bateu palmas- VOCÊ NOS SALVOU!

—Nenhuma novidade até então.- Cousie então entrou na sala- Por que diabos vocês todas estavam presas aqui e discutindo ao invés de só arrombarem a porta?

—Um homem prendeu a gente aqui.- Sofie explicou calmamente- Não sei o porquê, na verdade.

Cousie arqueou uma das sobrancelhas, antes de só revirar os olhos e mandar as garotas saírem da sala.

Todas as dez saíram sem questionar muito. Elas todas sabiam que, se Cousie Creedley mandava algo, era melhor não fazer muitas perguntas e obedecer.

Ao saírem da sala de economia doméstica, as dez notaram que Eliza e Haruka estavam pouco á frente, quase como se estivessem fazendo a guarda do corredor.

Eliza tinha uma blusa listrada de branco e azul escuro, com um pequeno laço vermelho. Sua saia era pregada e no mesmo tom de azul da blusa, além de um pequeno chapéu de marinheira enfeitar seus cabelos atualmente rosas, e os olhos verdes naturais estavam á mostra.

Enquanto isso, Haruka tinha os cabelos azuis de lado e os olhos azuis brilhavam sob uma maquiagem dourada. Ao contrário dos tons de azul que costumava vestir, ela usava uma fantasia (obviamente, de sereia) toda de dourado, o que a deixava com um ar mais superior ainda.

—Finalmente achamos vocês!- Eliza deu uma pequena comemorada, seu sorriso genuíno espalhando até chegar em seus olhos.

—Por que estavam nos procurando?- Marie perguntou, realmente curiosa.

—Porque vocês sempre estão em perigo, basicamente- Haruka deu de ombros- Mas também porque nós ouvimos alguns boatos sobre a festa daqui e queríamos confirmar.

—Que tipo de boatos?- Sarah questionou.

—Uma invasão aqui. Eu acho.- Eliza olhou pras irmãs, como se pedisse confirmação. Cousie e Haruka apenas concordaram com a cabeça.

—Talvez capturar um invasor invadindo não seja a melhor ideia...- Daayene pensou alto.

Um grande estralo veio logo de cima delas. Logo seguido de uma sequência de batidas no teto.

—Ah não, de novo esses barulho estranho.- Nikki reclamou- Da última vez, aquele homem foi lá e gratuitamente trancou a gente numa sala.

—Mas do nada?- Haruka não parecia acreditar muito- Por que ele faria isso?

Todas as Herbert e as Hudison deram de ombros, para a decepção das três irmãs Creedley.

Quando a luz em cima delas piscou e finalmente se apagou, as deixando no corredor escuro.

—Há. Agora eu que não fico aqui- Lua estremeceu- Nem a pau, Juvenal.

—Esperem.- Cousie impediu Lua de ir com o seu braço- Escutaram isso?

Se não estivesse tão escuro, as outras garotas teriam se entreolhado.

—Isso o que?- Anna teve a coragem de perguntar.

—Um barulho estranho.- Cousie respondeu.- Vinha lá de cima, eu acho.

—Ah, nananinanão.- Victoria recuou- Eu vim pra cá foi pra me divertir com a minha fantasia, meu namorado e minhas amigas e irmãs! Não tá na hora de resolver mistérios ou ir atrás de encrenca não!
—Victoria, fala baixo.- Haruka instruiu.

—Eu tô brava!- Victoria falou mais alto ainda.- A gente não pode ter um momentozinho sequer de descanso! Sempre é “oh meu deus, temos que resolver isso”, “vamos lutar contra o mal”, e sei lá mais o quê! Eu sei que sou uma noiva de sacríficio, talvez Eve e não sei mais o quê, mas eu acho sinceramente que...

—MEU DEUS, CALA A BOCA!- Cousie gritou, irritada.

E Victoria foi rápida em obedecer. Apesar de Cousie sempre ter algum comentário cheio de deboche e ironia pra falar, não era lá a coisa mais comum ver a Creedley realmente gritando de raiva.

As doze garotas ouviram passos no corredor escuro, o que as fez congelar.

—Quem é?- Sussurrou Sarah pra sua gêmea.

—Sei lá. Sei o mesmo tanto que você- Sofie sussurrou de volta.

Eliza fez um sinal com a mão pras garotas se abaixarem, e elas obedeceram. Na distância, duas silhuetas apareceram.

—Onde o núcleo está?- Era uma voz masculina, todas perceberam.

—Na segunda sala á esquerda do próximo andar.- Uma voz feminina respondeu.- Se eu fosse você, se apressava. A chefe não vai gostar de você se atrasar mais ainda pro grande plano.

—Não sei se concordo com ele, exatamente.- O homem respondeu- Roubar a magia de todos esses adolescentes idiotas parece patético demais, até pra gente.

—Não seja idiota.- A mulher deu uma risada- Eles serem adolescentes só facilita nosso plano. Estão no auge da magia. Além disso, estão ocupados demais dançando, bebendo e beijando na festa pra se preocuparem com qualquer outra coisa.

—Nosso núcleo ficara mais forte de verdade quando terminarmos, certo?- O homem questionou, e houve um pequeno silêncio- Ótimo. E eles, ficarão sem poderes?

—Provavelmente ficarão desmaiados por vários dias. Os mais fracos podem morrer, mas não acredito que serão muitos.- A mulher explicou calmamente- Wajiberd já prendeu as humanas numa sala. Foi fácil demais.

—Humanas?- O homem pareceu confuso pelo tom de voz- Por que?

—Nossa taxa de mortes seria mais alta se deixássemos elas lá.- A mulher deu uma pequena risadinha- Morreriam nos primeiros cinco segundos da absorção de magia.

—...Tem certeza disso?- O homem hesitou- De que esta é a coisa certa a se fazer?

—Só temos essa noite pra isso.- A mulher, ao contrário, não hesitou nem um pouco- É Halloween! Agora vá, antes que a chefe te xingue!
Quando passos se afastaram das meninas, a luz piscou e voltou. As doze soltaram o ar que nem sabiam estar guardando.

—Mas espera aí- Anna disse- Eles estão querendo absorver a magia de todos dessa festa... Pra fortalecer o núcleo deles.

—Isso mesmo.- Daayene disse- Profetas. Eu devia ter imaginado.

—Como assim?- Eliza alisou os cabelos.

—É o único grupo que consegue ter um núcleo movido á magia.- Daayene explicou- Esse núcleo que provide a energia dos profetas pra visões e das casas dos profetas.

—Isso explica porque a gente foi presa gratuitamente- Lua deu de ombros.

—Mas não podemos deixar isso ficar assim!- Priya brigou- Você ouviu eles. Mesmo sem a gente, algumas pessoas podem e vão morrer, e vão ficar desacordadas por dias.

—Talvez alguns fiquem com os poderes fracos- Marie concordou- Não é do nosso fetio deixar algo nessa situação.

—Ah, as heroínas chegaram. Eu devia imaginar.- Cousie bufou.

—Ai meu Deus...- Brunna empalideceu de repente.- Acabei de me lembrar.

—O que aconteceu?- Haruka questionou.

Brunna olhou pras garotas assustada:

—Todos ainda estão lá embaixo.