Like a Vampire 4: Endgame

Capítulo 9- Um homem sem honra


Narração Anna

Acordei no meio da tarde como se não tivesse dormido.

Minha cabeça latejava. Meus olhos doíam e pareciam inchados. Meu corpo estava exausto.

Olhei pro meu lado, sendo até que acolhida pela imagem de Eliza, Sarah e Lua dormindo.

Passei alguns segundos parada, olhando pro nada.

Suspirei alto. Quando vi que Sarah se mexeu ao meu lado, resolvi que seria melhor sair dali antes de acordar as meninas.

Elas deveriam estar cansadas.

Não havia anoitecido completamente ainda. Mas passamos os últimos dias sem dormir, então eu diria que merecíamos descansar.

Andei menos de três minutos antes de achar uma pequena lagoa sem nenhum peixe ou plantas por perto.



Então consegui encher meus pulmões de ar puro.

Olhei pra minha roupa. Não havia notado o quão suja eu estava até agora.

Olhando ao redor, levemente envergonhada, acabei sendo rápida em tirar minhas roupas e pular na água.

Acabei sentando numa pedra submersa. Encolhi meu corpo. Deixei meu cabelo cair pelo meu pescoço e molhar.

Senti automaticamente meu corpo se refrescar, como se uma ardência até aquele momento estivesse queimando minha pele.

Me senti relaxada quase automaticamente.

Respirei fundo.

Me assustei quando ouvi passos na distância.

Meu primeiro instinto foi me cobrir com os braços e me encolher o máximo que eu podia.

Não era lá a posição mais honrada que podiam me encontrar.

A folhagem de frente pro lago começou a se mexer, e minha mente automaticamente viajou para pensar no que gritar caso algum bicho viesse me atacar.



Fiquei levemente chocada quando um jovem rapaz atravessou as árvores, parecendo irritado.



Ele parecia ter a mesma altura de Ayato. Sua pele era extremamente pálida e seus olhos vermelhos escuros grandes estavam semicerrados. O cabelo preto com delicados cachos caía perfeitamente em volta do seu rosto.



Percebi que suas roupas brancas pareciam um pouco molhadas, e quase corei enquanto eu tentava me afundar o máximo possível na água, sem que isso causasse em… sabe. Meu afogamento.

O garoto passou as mãos pelo cabelo, parecendo estressado.

Ele então começou a andar, até seus olhos me encontrarem.



—…Boa tarde.- Ele pigarreou, parecendo quase alheio ao fato que eu estava nua.

—B…Boa...tarde.- Eu levantei minha cabeça apenas o suficiente pra respondê-lo.



—Você por acaso…- Ele fungou.- Ah. Humana. Minha melhor chance. Por acaso você tem um celular com sinal? Porque eu preciso entrar em contato com meu amigo e…

—Bem… celular eu tenho. Só que sinal por aqui é mais difícil de pegar.- Acabei fraquejando no final, mas respirei fundo- Acho que só em alguns pontos bem específicos você vai conseguir um sinal mais ou menos.



Ele xingou baixo.



—Você é vampiro?- Perguntei sem pensar.



—Ah, tá tão na cara assim?- Kino passou de novo as mãos pelo cabelo- Acho que eu não tenho bons representantes aqui considerando o tanto que já recebi cara de desprezo de umas meninas aqui.



Ele então finalmente pareceu notar minha situação.



—Ah.- Ele pareceu se desesperar- Eu não queria parecer um pervertido.



Dei de ombros pra esconder minha própria vergonha.



— Espera. Algum homem te…- O menino pareceu hesitar- Sabe… te tomou…?



—Oi?- Fiquei vermelha.- N…não eu só…só tô tomando banho mesmo. Acampamento.

Meu Deus Anna, só cala a boca.

— Ah. Então me perdoe. Não quis interromper esse… momento.- Ele parecia estar se xingando mentalmente.- Quer saber? Eu só vou embora.

—Obrigada.- Eu respondi, tentando ignorar a vergonha que eu estava sentindo.

—KINO SAKAMAKI!- Eu ouvi uma voz feminina gritando a poucos metros.

Parecia… familiar.

Detrás das mesmas árvores da onde o menino havia saído, uma garota de cabelos e olhos azuis surgiu.



— Eu tenho cara de sua empregada por acaso? Você acha engraçado me mandar caçar peixes e depois só ir embora passear?- Seu rosto era familiar demais. Seus braços estavam cruzados.



—Madame, se acalma, eu vim procurar frutas.- O garoto reclamou- Só porque você tá irritada com a sua solidão eterna, não precisa descontar em mim.



—Muito engraçadinho, Príncipe.- Ela revirou os olhos, e finalmente eu achei forças pra falar:

—HARUKA?

Ok. Talvez tivesse saído como um grito. Mas não tinha sido minha intenção.

Os olhos azuis da Creedley finalmente me encontraram e se arregalaram logo em seguida:

— Anna?!

—Espera aí, vocês duas se conhecem?- O garoto parecia confuso.

—Por que diabos você tá... nua?!- Haruka então olhou pro menino- Kino, que merda você fez com ela?

—Para de me culpar por tudo! Eu cheguei e ela tava tomando banho, credo!- O tal Kino revirou os olhos.

—Mas você tava… sumida.- Eu raciocinei baixo.

—A culpa é desse sonso aqui.- Haruka apontou pra Kino com a cabeça.- Quer ajuda pra se vestir? Kino, vira pra lá.

Kino bufou e deu as costas pra gente:

—Saiba que estou fazendo isso em respeito á honra da menina desconhecida.

Bem, me considere agradecida, menino desconhecido.

—Claro. Por que você sabe tudo sobre honra.- Haruka revirou os olhos de novo enquanto me ajudava a sair do lago.

Haruka deu as roupas nas minhas mãos e se virou também.

Foi desconfortável colocar a roupa longa com o corpo ainda molhado, mas vida que segue.

—Vocês já acabaram aí? Eu tô com fome.- Kino grunhiu.

— Podem… podem se virar.- Acabei respondendo.

Nós três ficamos nos encarando.

—Então... eu acho que temos uma longa conversa pela frente.- Haruka suspirou.

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—Deixa eu ver se entendi.- Sarah cerrou as sobrancelhas.- Esse cara tentou sequestrar a Nikki, mas acabou sequestrando a Haruka.

—E ele também é o irmão da Mun que agora tá procurando ela?- Lua parecia chocada.

— Basicamente isso. Sim.- Kino concordou.

—Vocês se separaram por reinos? Que ideia estúpida foi essa?- Haruka brigou- E ainda mandaram Sofie pros feiticeiros!

—O que diabos a gente deveria fazer, irmã?- Eliza ficou brava.

—Vocês tiveram alguma notícia das outras meninas?- Haruka questionou.

Negamos com a cabeça.

—Bem, pelo menos cumprimos o que Cousie queria.- Lua forçou um sorriso- Te achamos! E ainda veio o brinde do meu cunhadinho!

—Seu… o que?- Kino questionou.

—Kino, essas são Sarah e Lua Herbert.- Haruka apresentou- Irmãs da menina que você queria sequestrar. E namoradas de dois dos seus meio-irmãos.

— Ah, vocês são aquelas seis meninas que entram e saem do fogo vivas filhas de uma ninfomaníaca?- Kino questionou- Haruka falou muito sobre vocês!

—...Você disse que nossa mãe era ninfomaníaca? Sarah estava confusa.

—Foi modo de falar.- Haruka deu de ombros.- Essa é Anna Hudison. A mais nova da segunda família que eu já tinha te falado.

— Ah. Essa é a que se corta?- Kino questionou.

—Valeu por explanar minha intimidade, Haruka.- Resmunguei baixo.

—Cala a boca, garoto.- Haruka revirou os olhos.- Ah. Essa é a minha irmã, Eliza Creedley.

—…Oi.- Eliza sorriu fraco.

—Nossa, ela é sua irmã?- Kino pareceu chocado- Como que toda a beleza e doçura da família foi parar em uma só?

—Há. Muito engraçado, Kino.- Haruka revirou os olhos.

—Obrigada…Eu acho.- Eliza desviou olhar.

— Seu nome é Kino?- Sarah perguntou.

—Kino. Quinoa.- Lua riu- As piadas são intermináveis.

—Juro que quando eu ouvi falar de vocês eu achava que vocês eram bem ameaçadoras do que isso.- Kino apontou pro nosso grupo.

—Acredite em mim. Pelo menos as que estão aqui não tem força pra matar uma mosca.- Eliza se levantou.- Exceto a Haruka. Essa é uma psicopata.

—Levarei como um elogio.- Haruka colocou as mãos na cintura- Enfim. Qual o plano?

Sarah estalou a lingua:

—Bem, acredito que acabamos nossa missão aqui nos Lobisomens. Talvez devêssemos voltar pros Demônios...

— Eu tenho uma ideia melhor.- Lua opinou- Já que a nossa maior preocupação é a Sofie, por que não vamos pros Feiticeiros tentar achar ela e Brunna.

—Ótima ideia.- Opinei baixo.

—E bem mais prática,considerando que logo logo a gente atravessa pro Reino Feiticeiro.- Eliza afirmou.

— Eu vou precisar de umas sérias aulas de história. Alguém pode me explicar tudo o que aconteceu até agora enquanto caminhamos?- Kino questionou.

—Depende. Você vai ficar reclamando de ficar andando a cada dois segundos?- Haruka bufou.

— Você sempre pode me carregar no colo se não quiser me ouvir reclamando.- Kino sorriu debochado.

—Ou eu posso te jogar na água como sacrifício.- Haruka revirou os olhos.

—Já vi que os dois são igualzinho a Nikki com o Shu…- Sarah disse baixo.

— Quem são esses?- Kino perguntou pra ela.

—Nada!- Lua foi rápida em se intrometer- Bem, senhor Quinoa. Eu tenho uma história bem grande pra contar então se prepare!

Bem, não era necessário um mega gênio pra entender que as próximas 3 horas foram recheadas de uma Lua contando a história de tudo que havia acontecido até agora. Sarah fazia comentários ocasionais.

Haruka estava na frente, parecendo irritada com tudo. Enquanto isso, eu e Eliza andávamos lado a lado em silêncio apenas absorvendo o ar da conversa.

Não havia barreira de guardas na travessia pro Reino Feiticeiro.

Achei estranho. Mas ignorei.

A meta era encontrar alguma forma de achar minha irmã. E Sofie.

Falando em irmã, eu tinha achado estranho o reencontro de Eliza e Haruka ter sido tão… seco.

Mas quem era eu pra julgar? A família Creedley não havia sido um símbolo de carinho até onde eu as conhecia.

—Vamos atravessar uma ponte.- Haruka avisou, atrapalhando a conversa.-Tomem cuidado, ela é velha.

— Foi isso o que falaram sobre você antes de tentarem te encarar numa briga, Haruka?- Kino zombou.

Haruka estendeu sua mão num gesto obsceno na direção de Kino, o que o fez rir.

—Mas como eu estava te dizendo...- Lua voltou a conversa- As duas tiveram uma briga pesada mesmo, sabe? Sarah deu um tapa, Sofie puxou o cabelo… Foi tão Meninas Malvadas!

—Lua, acho que ele já entendeu a sua explicação de dez minutos da minha briga com a Sofie. Pode passar pra próxima.- Sarah suspirou.

—Mas foi tão legal! Quer dizer, na hora foi irritante. E desesperador. Mas agora olhando pra trás, é tão legal!- Lua comemorou.- Tipo, Sarah. Eu tô feliz que você não tá mais pirada. E espero que sua jornada de auto-descoberta seja linda e florida. Mas você vestida de emo era irad…OOOOO!

A única coisa que ouvi foi o barulho de madeira se partindo. Em miliegundos, Lua estava segurando numa corda solta da ponte.

Perdemos a tábua que havia se soltado de vista enquanto ela caía no grande vazio lá em baixo.

—AI PAI DO CÉU!- Lua berrou- NÃO ME FAZ MORRER AINDA! EU SOU JOVEM DEMAIS PRA MORRER!

—Lua, se acalma.- Haruka se se agachou. Vamos te tirar daí.

Lua se prendeu nas cordas com as duas mãos.

—Segura minha mão, eu vou te levantar!-Eliza teve que gritar pra que Lua, no meio da sua transe de medo, a ouvisse.

—Lua, você tem que confiar na gente!- Sarah gritou de volta.

— Ah, eu confio!- Lua abriu os olhos pela primeira vez- Eu não confio é nesse tamanho de penhasco que se eu cair me mata rápido.

—…Justo.- Suspirei baixo.

—Menina!- Kino gritou- Você tem que deixar a Eliza te ajudar, se não a corda vai arrebentar e aí sim você vai morrer!

Lua tremeu.

—Se sua ideia era acalmar ela, você quer que a gente te parabenize pelo ótimo trabalho?- Haruka ironizou.

—Lua!- Eliza pediu meio desesperada- Pega minha mão! Não sei se essa ponte aguenta muito tempo.

—Ei, Lua!- Kino gritou do nada- Você gosta de Avatar?

—Nossa, que momento legal pra vocês do nada começaram a dividir suas paixões nerd.- Sarah suspirou exausta.

Lua olhou pra cima, encarando Kino:

— Eu amo Avatar.

—Eu também! Eu até fiz cosplay de Zuko uma vez!- Kino continuou falando. Ele fez um sinal pra Eliza tentar pegar ela.- Eu vesti a Mun de Toph e obriguei ela a ir na convenção comigo!

Eliza se esticou e conseguiu pegar uma das mãos de Lua.

— Eu sempre achei a Haruka parecida com a Katara!- Lua disse de volta. Eliza olhou pra gente como se pedisse ajuda.

—Ela seria uma ótima dobradora de água!- Kino opinou.

— Eu não faço ideia do que tá acontecendo.- Haruka disse.

Eu e Sarah ajudamos Eliza a puxar Lua.

Em segundos, ela estava deitada na ponte de novo.

— Quem diria que conhecimento geek acalmaria alguém desse jeito?- Sarah parecia admirada.

—Considerando que estamos falando da Lua,não estou surpresa.- Dei de ombros.

—Ai papai, tô viva!- Lua se levantou -Valeu Kino. E… meninas.



—Sempre bom salvar a vida das pessoas.- Eliza parecia estar com dificuldades pra respirar.

— Você tá bem?- Questionei- Parece pálida.

— Claro.- Eliza arfou- Só vamos atravessar… o resto da ponte.

Todos nos entreolhamos confusos, mas deixamos Eliza seguir na frente.

Andamos por mais meia hora até ouvirmos barulhos de cavalos.

— Ah, não. Eu tô fora. Toda hora acontece alguma coisa. É por isso que eu não gosto dos Feiticeiros.- Sarah reclamou.

—Nem me fale…-Lua ainda parecia meio sem fôlego pelo quase-acidente.

Vários cavalos negros, brancos e beges surgiram, com cavaleiros em cima, cavalgando.

—E… essa é nossa morte.- Haruka reclamou- Kino, cala a sua boca e deixa que a gente resolve.

—Cruzando a fronteira ilegalmente?- Um homem questionou.

— Pra ser justa, não tinha ninguém na fronteira.- Eliza retrucou.

—Vão nos levar pros Rosemary?- Sarah questionou.

— Ah não, os Rosemary não estão aqui.- Outro homem se pronunciou- Foram numa viagem a negócios.

Senti um arrepio me percorrer.

—Se afastem deles.- Ouvi uma outra voz se aproximando.- São da família.

Um homem num cavalo branco se aproximou, e tirou seu capacete.

Lua e Sarah pareceram chocadas:

—Tio Edward?!