Like a Vampire 3: Lost Memories

Capítulo 26- Noite de pesadelos


Narração Sofie

Não consegui dormir de noite.

Virei na cama umas duzentas vezes, mas os acontecimentos dos últimos dias me matavam por dentro. Cada memória era vívida e dolorosa, e eu me sentia próxima de uma crise cada vez que me lembrava delas.

Por isso, fiquei minimamente satisfeita em pegar uma xícara de café e ir pra sacada do último andar da mansão. O café já havia esfriado áquela altura do campeonato, mas ainda era melhor do que voltar pra cama.

Eu sabia, por fofocas, que lá havia sido o lugar de uma parte da morte de Cordelia. Eu devia ter medo disso? Provavelmente. Mas isso não me assustava mais.

Eu havia crescido e amadurecido demais desde a primeira e última vez que destruí a mãe dos trigêmeos. Talvez eu conseguisse combate-la com mais força se fosse hoje.

Mas pensando bem, eu só cheguei aqui por ter feito o que eu fiz naquela época. Então não sei se poderia dizer que estou 100% arrependida das minhas decisões dos últimos 2 anos.

Tomei mais um gole de café.

Vi Laito passando pela janela. Ele fungou o ar, o que me fez rir um pouco. Me percebendo, ele deu um aceno respeitoso com a cabeça. Eu retribuí.

Realmente, eu tinha mudado muito naquele ano. O que eu passei não fora pouco. Mas acho que eu conseguira me manter mais forte, apesar de tudo.

Quase morri do coração quando, lá de cima da sacada, vi um montinho de cabelos ruivos bem conhecidos.

Ajeitei minha saia de novo quando senti um pouco de calor. Mas consegui me acalmar com alguns segundos, percebendo minha garganta um pouco seca.

Mas, percebendo que eu não estava melhorando TANTO, resolvi descer e ver o dono dos cabelos ruivos.

Quase caí das escadas enquanto eu descia. Nem percebi que estava andando tão rápido assim, na verdade. Mas abri a porta rápido, a batendo atrás de mim.

—Sofie?- Ouvi a voz de Ayato. Olhei pro lado, meio afobada.- O que diabos foi isso? Você parece desesperada.

—Ah.- Fiquei meio vermelha- Não é nada. Eu só tava... Na sacada. E eu te vi.

Por Deus, Sofie. Quem diabos você virou? Agora é uma menininha de vestido chique e coração pré-adolescente que não aguenta ver um macho?

—Ah, claro. Não conseguiu dormir?- Ayato me perguntou, se sentando na escada de frente.

—Tipo isso.- Me sentei do lado dele.- Foram dias bem complicados. Você sabe.

— Sei.- Ayato me respondeu. Ficamos em silêncio por alguns segundos.

Senti minhas palmas começarem a suar. Quis me bater mentalmente. O que diabos estava acontecendo comigo?

—Foi bem sinistro.- Ayato quebrou o gelo- Te ver noiva daquele cara e tal.

— Foi "sinistro" pra mim também.- Respondi- Não é todo dia que você fica com o ex da sua mãe, eu acho.

Quando vi Ayato rindo, me libertei e dei um sorrisinho.

—Eu sinto muito pelo que aconteceu com você.- Ayato admitiu, e olhando pra ele eu pude perceber o quanto o ruivo parecia estar tento dificuldade de falar isso.- E com a sua mãe. Não gosto de falar essas coisas, aí eu costumo ficar frustrado e quero agir na violência. Mas acho que esse ano eu entendi que isso não resolve tudo.

—É.- Foi tudo que eu respondi- Ás vezes eu só queria voltar pra minha vida normal. Queria que tudo acabasse. Mas parece que quanto eu mais eu quero sair , mais eu me enfio na bagunça.

Quando Ayato não me respondeu, eu respirei fundo:

—Não dá pra gente parar agora. Não antes de eu descobrir tudo sobre a minha mãe. Não antes de eu descobrir e acabar com o Projeto Eve. E com KarlHeinz.

—O Que?- Ayato parecia indignado- Sua mãe eu super entendo. A história dela é meio confusa e pá. Mas acabar com o Projeto Eve e com meu pai é loucura, até mesmo pra você. É um projeto suicida.

—Ayato.- Eu o chamei, com as sobrancelhas semicerradas- Você e seus irmãos se recusam a falar sobre esse projeto com a gente. Então não se façam de sonsos e assustados que estamos indo buscar respostas com as nossas próprias mãos. Vocês esperavam que eu fizesse o que?

—Eu só... Ah, eu sei lá. Vocês são todas loucas.- Ayato bufou, parecendo estar sem paciência.- Suicidas. Isso sim. E agora resolveram seguir aquelas três...

—As Creedley são estranhamente legais. E poderosas. E são incrivelmente inteligentes e políticas. Tem alguma noção de quanto conhecimento e alianças podemos conseguir só estar do lado delas?

—Eu só fico preocupado, ok?!- Ele disse, mais alto do que devia ter planejado- Vocês estão indo contra o homem mais poderoso dos quatro reinos. Talvez do mundo. E não é qualquer política ou inteligência que vai derrotar ele. É por isso que tem o Projeto Eve. TENDEU?

Pensei um pouco.

—Então o Projeto Eve é pra criar alguma coisa tão poderosa quanto o KarlHeinz?- Questionei.

—Que…- Ayato me olhou confuso- É… algo assim.

—Espera aí.- Eu olhei pra ele assustada- Por acaso essa coisa tem que ser….

Fiquei vermelha. Depois arregalei os olhos.

—Um filho de um dos casais?- Escancarei a boca.

—…Eu não vou responder mais nada.

—Ayato! Você tem que me falar! Não percebe? Talvez ele já tenha sido feito, com Victoria e Reijii!

—Oi? Victoria não é a Eve.- Ayato discutiu.

—Então você sabe quem é.- Retruquei.

—Não.

—Então como tem tanta certeza que a Vic não é a tal Eve?

—Não é que eu tenho certeza, é que eu espero que não seja ela.

—E quem você espera que seja?

Ayato me olhou, depois revirou os olhos e reclamou:

—Você é impossível.

—Você me conhece a tempo suficiente pra saber que eu sou bem teimosa.- Me levantei, ficando bem na frente dele.- Agora me fala dessa história.

—Eu não. Você já sabe demais.- Ayato se levantou, mas não saiu do lugar.

—Eu posso saber de tudo se você me falar.

—Eu não quero que você saiba de tudo.

—Por Que? Eu vou acabar descobrindo cedo ou tarde mesmo.

—Porque...- Ele começou, mas não parecia achar nenhum bom argumento.

Comecei a mexer nas pontas dos meus cabelos, tomada pela ansiedade. Ayato me encarou perdido por alguns segundos, antes de simplesmente rugir:

—Porque não!

— Porque não não é motivo!

—Eu não quero que vocês saibam porque é nojento, satisfeita?- Ele brigou.- Todo mundo aqui quer ser parte do Projeto Eve. Mas sabe quantos tem coragem de fazer o que for possível pra conseguir? Zero. Reijii achou que tinha, e olha o que aconteceu!

—…Ayato.- Eu tentei chamar ele.

—Não. Olha a bagunça que foi esse ano. Você acha que alguém aqui tem coragem de verdade de engravidar uma de vocês de propósito? Sofie, eu tenho medo de encostar em você depois do que fizeram contigo, você acha que eu tenho capacidade psicológica de fazer algo a mais? Com você? Com alguma das suas irmãs?

—Mas Ayato…

—Eu sou um dos que mais quer ser parte disso. Sério. Mas eu ODEIO que vocês me fizeram me apegar a vocês. Porque agora que chegou a hora de me provar, eu não tenho coragem. Pronto. Admiti. Eu sou um covarde do caralho! Eu já não sou inteligente. Não sou o mais bonito dos irmãos e agora, pra variar eu sou um covarde!

Percebi que ele estava quase chorando. Vendo isso também, ele virou as costas e começou a andar. Eu fui mais rápida e o puxei pelo braço, sendo rápida em envolver ele num abraço.

—Me solta…- Ayato já parecia exausto, nem conseguia se debater. Eu coloquei a mão no cabelo dele, começando a brincar com os fios e massagear seu couro.

—Sh…- Eu sussurrei.- Tá tudo bem. Você tá bem. A gente tá bem.

Ayato relaxou em meus braços. Eu respirei fundo.

—Você não precisa se esconder.- Eu disse no ouvido dele.- Você tem direito de mostrar sua fraqueza.

Ayato tremeu.

—Tá vendo isso?- Eu peguei a mão dele, e entrelacei cada um de nossos dedos por vez.- Sua mão encaixa na minha. Você sabia disso?

—Sofie…- Ele tremeu de novo.

—Sh… Foca só na minha voz. Ok?- Eu olhei pra ele e sorri de leve.

—…Ok.

Ficamos um tempo lá. Eu de vez em quando falava sobre a cor do cabelo dele, sobre as rosas do jardim ou sobre o colar que eu estava usando. E eu só o soltei quando percebi que ele estava 100% calmo.

—Você é uma bruxa.

Eu ri.

—Sério. Eu sei que você tem sangue de feiticeira. Mas isso é loucura.

—Nós, humanos, costumamos fazer esse tipo de coisa ao acalmar outra pessoa de um ataque de ansiedade ou de pânico.

—Ah. Isso faz mais sentido.

—Sim. Eu não sei nenhum feitiço. Pelo menos por enquanto.- Eu dei de ombros.

—Aposto que sabe…- Ele murmurou.

—Eu fico agradecida com um obrigado, não precisa dessa parte de me convencer que eu sei de bruxaria.- Eu brinquei.

Ayato me olhou, meio nervoso. Ele não disse nada.

—Sem obrigado? Ok. Eu aguento.- Continuei falando.

Fui tomada de surpresa quando Ayato me puxou com bastante delicadeza pelo antebraço e me colou nele, unindo nossos lábios.

Apesar do choque total, o jeito que Ayato relaxou os braços ao meu redor após os primeiros segundos me tranquilizou. Era como se ele me desse a chance de fugir.

Mas eu não queria.

Foi por isso que as minhas mãos foram direto nas costas dele. Tentando chegar o mais perto possível. Eu sentia um calafrio sinistro percorrendo minhas costas.

Quando o oxigênio faltou e eu fui obrigada a me afastar do vampiro, percebi um pouco de sangue na minha boca.

—Ah. Mals.- Ayato pareceu envergonhado- Devo ter mordido sem querer.

Limpei a boca com a manga.

—Tá de boa, eu nem senti.- Sorri de leve, também envergonhada.- Melhor assim do que de outro jeito mesmo.

Ayato ficou me olhando. Eu fiquei olhando pra ele.

Me senti tremer quando ele arrumou meu cabelo.

Meu Deus. Quem eu havia me tornado?

Um barulho de uma espécie de canhão me assustou.

—O que foi isso?- Ayato questionou.

—Eu não sei. Mas não parece nada bom.

Ouvi o barulho de várias janelas abrindo. Provavelmente todos tinham acordado com o barulhão.

Logo depois veio o de uma marcha bizarra. Como se dezenas de pessoas estivessem chegando cada vez mais perto da Mansão.

—O que diabos tá pegando?- Nikki chegou, já com o fuzil em mãos.

Dei de ombros na direção dela. Aos poucos eu ia vendo mais pessoas descendo pra sala. Eu ia ouvindo as perguntas e dúvidas sendo sussurradas do lado de dentro.

Consegui ver de longe alguns soldados marchando. Fiquei tensa. Quando percebi uma bandeira com o símbolo de um cervo negro balançando pelo ar, senti que ia desmaiar.

Vi Alice, Robert e Tyrosh nos cavalos da frente, parando bem no portão. Meu coração disparou. Ayato deve ter percebido, pois apertou um pouco minha mão.

—Rosemary.- Ouvi a voz de Ruki logo atrás de mim. Olhei pra trás. Todos já haviam acordado e estavam em total alerta, prontos pra qualquer seja a mensagem que os Rosemary queria enviar.

Com uma mexida da mão, Robert escancarou o portão de metal da casa. Ele me notou na frente de todos, e logo foi apontando:

—VOCÊ!

Robert praticamente pulou do cavalo, e Alice foi logo atrás dele. Ela tinha um olhar cheio do medo, e parecia tentar segurá-lo pra trás. Tyrosh precisou de ajuda de um dos guardas para descer de seu garanhão.

Chegando perto de mim, Robert já foi tentando me pegar pelo braço. Obviamente, Ayato me segurou mais forte e o impediu de me arrastar pra perto dele.

—SOLTA ELA! SOLTA MINHA NOIVA!

—…Não.- Ayato disse com toda a simplicidade.

—Reizinho, com toda a gentileza do mundo... Só que não.- Priya apareceu do meu lado.- Aceita que dói menos. A Sofie não te quer.

—É, cara. Se manda, você tinha 0,001% de chance e você conseguiu arrumar um jeito de estragar ela.- Subaru bufou.

—Minha noiva. -Robert tentou me puxar com mais força, uma fúria surreal preenchia seus olhos- Minha propriedade.

—Escuta aqui, será que dá pra tirar a mão da minha irmã?- Victoria se colocou do meu lado- Se ela fugiu de você, deve significar que ela não quer mais ficar com você.

—Ela está certa, sabe…- Alice segurou seu irmão mais velho pelos ombros- Você é um rei, mas ainda não pode obrigar uma menina de 20 anos a ir com você.

Robert fez um movimento brusco com o braço, fazendo Alice quase cair em cima do irmão mais novo. Ele tirou a espada de seu cinto e apontou a ponta pra barriga de Victoria.

Todo mundo engoliu em seco.

—É isso agora, vadia?- Robert riu de um jeito maníaco.- Você quer que eu mate seu filhinho querido? O seu príncipe? Então deixa a noiva em paz.

—Eu te adverteria pra ter cuidado, Robert.- Reijii surgiu- Ela continua sendo minha esposa. E se você encostar um dedo nela, eu te recomendo tomar mais cuidado.

—Está me ameaçando?- Robert riu.- O principezinho mimado parece querer uma morte certa pra seu herdeiro.

A lâmina da espada passou pela barriga de Victoria. Vi ela tremer do meu lado.

—Não precisamos disso, também.- Tyrosh se meteu entre nós. - Sofie é noiva de Robert. Podemos fazer um anúncio oficial daqui a poucos meses. Explicamos uma história de família. Algo assim.

—Ela não vai voltar.- Brunna brigou- Não com vocês.

—E eu recuso ficar sem ela.- Robert apertou meu pulso.

—Talvez seja a hora de começar a aceitar que ela não é sua, então.- Yuma estalou a língua.

Ayato me afastou de Robert, tendo a total coragem de me abraçar de lado ainda. Nem retruquei, eu estava entre um homem que eu simplesmente odiava e outro que eu gostava.

—É assim, é?- Robert sorriu.- Guardas…

Ele então olhou pra mim.

—Tragam a cabeça de todos. Menos da minha noiva.

Foi quase um passe de mágica. Os guardas pareciam se multiplicar enquanto eles agarravam minhas irmãs e amigas. Com um gesto da mão, Robert prendeu Daayene no ar, e nada parecia a fazer conseguir praticar sua magia.

Os rapazes foram presos por laços dourados brilhantes, e eles grunhiam de dor enquanto se debatiam no chão.

Tentei correr. Até alguém. Não sabia quem. Mas outro guarda me segurou pela cintura. Meus braços pareciam atados. Eu estava praticamente me debatendo no ar.

O que eu sabia ser o comandante tirou uma grande espada prateada do cinto, e foi direto na direção de Sarah.

—NÃO!- Eu gritei- NÃO! POR FAVOR! NÃO!

Ele estendeu a espada no ar, mirando no pescoço da minha irmã assustada.

Fechei os olhos, não me preocupando em chorar mais. Eu só esperava que algo acontecesse.

De repente, gritos horrorizados surgiram.

Eu quase fraquejei em abrir os olhos. Minha irmã. Com a cabeça separada do resto do corpo.

Não era algo que eu queria bem ver.

Mas o que eu vi foi tão assustador quanto.

Todos de alguma forma haviam saído de seus laços. Os guardas estavam em choque. Robert parecia ter saído de seu transe de ódio. Tyrosh parecia engolir o choro.

Mas Sarah estava bem.

Logo a sua frente, estava Alice. Ela estava tremendo. Seus olhos pareciam lacrimejar e querer fecharem. O busto do seu vestido amarelo estava ensanguentado. Muito ensaguentado.

—Alice.- Tyrosh foi até sua irmã- Fique comigo. Fique comigo.

Alice soltou uma respiração funda com dificuldade. Mas deu um sorriso sincero e fraco.

—Eu já deixei você acabar com a vida da minha melhor amiga…- Ela sussurrou- Por favor… não acabe com a das filhas dela…

Robert só teve uma reação:

—IDIOTAAAAA!

Ele sacou sua espada, e foi rápido demais em enfiar a espada diversas vezes no peito de um dos guardas. O homem caiu, morto no chão.

—…Esse homem é louco.- Kanato sussurrou.

Robert olhou com raiva pra Sarah:

—Você também, sua vadia maltrapilha! Não só arruina minha noiva com o seu comportamento digno de uma prostituta, mas mata minha irmã!

—Mas eu não…- Sarah tentou se defender.

—NÃO IMPORTA!- Robert berrou- A CABEÇA DELA!

Nenhum dos guardas se manifestou. O próprio Tyrosh pareceu duvidoso da decisão.

—Ninguém?- Robert riu, olhando a espada sangrenta.- Há. Ótimos. Todos demitidos. Acho que terei que fazer sozinho então.

Quando Robert se aproximou cada vez mais de Sarah, eu senti meu corpo querendo se mover pra frente. Mas não consegui. E claro, uma energia vermelha desarmou Robert.

—Mas o que…- Robert brigou.

—Sou eu, queridinho.- Daayene andou, com tanta raiva no olhar que eu mal reconhecia ela.- Você quer brigar com as minhas amigas? Então vai ter que passar por mim primeiro.

—Há. Eu dou conta de uma menininha como você.

— Talvez até dê.- Nikki se levantou com o fuzil em mãos - Mas você dá conta de duas?

—Ou de três…- Marie tirou sua grande espada das costas.

Nenhuma das outras meninas se atreveu a levantar. Não tínhamos nenhuma arma em mãos. O risco era grande demais.

—Tem espaço pra seis?- Eu ouvi a voz de Eliza. Olhei pra cima, só pra dar de cara com ela e suas irmãs no teto.

—Ah. Agora elas chegam.- Shu bufou.

Cousie pulou do teto, sendo seguida pelas irmãs:

—Os outros precisavam de uma carona pra casa. Mas chegamos em boa hora.

—Isso é um absurdo!- Robert brigou- Traidoras! Todas vocês! O que acham de eu dizer pro reizinho vampiro que uma fugitiva está aqui? Ou que não há bebê na princesa, pois ele já nasceu? Hein?

—Fale o que quiser, Robert.- Victoria se levantou.- É a palavra de um assassino contra a minha.

—Guardas! ME PROTEJAM!- Robert berrou- Ou serei obrigado a matar todas.

—Ah, eu duvido muito disso.- Haruka riu.

—Além disso, meu rei.- Um dos guardas tirou o capacete. Ele tinha os cabelos bem longos castanhos e os olhos da mesma cor. Não era tao velho nem tão jovem- Acredito eu que você já tenha demitido todos.

Ele veio até mim, me ajudando a levantar.

—Se você não quer que o pouco que resta da sua família seja massacrado por "menininhas."

Mesmo não sabendo quem o homem era, me senti rapidamente cativada por ele.

—Herberts…- Robert rugiu- Sempre iguais. Eu vou indo. Tyrosh, você vem?

Tyrosh olhou entre mim e seu irmão.

Eu sabia que ele era um homem inteligente. Não o mais belo, mas sabia que era esperto. Sabia que gostava de mim e que gostara de minha mãe um dia.

—…Vou.

Mas sangue é algo forte demais pra ser negado assim.

Tyrosh e Robert desapareceram na escuridão, deixando um desconforto no meu peito.

—Você está bem?- O homem me questionou.

—…Seria melhor perguntar pras pessoas que quase morreram primeiro, sabe?- Lua deu de ombros- Só um comentário mesmo.

—Fica quieta Lua.- Marie disse entre dentes.

—É verdade!- Kou se levantou com classe-Imagina eu, mortinho?

—Meu sonho.- Subaru revirou os olhos.

Eu corri até o corpo de Alice, que apesar de moribunda ainda tinha vida.

—Alice…- Eu a segurei, manchando meu vestido verde inteiro.- Seja forte. Podemos arranjar um jeito.

—Não… Me deixe morrer.- Alice sorriu.- Molly deu sua vida e dignidade á minha família, e estragamos tudo… É justo que eu morra pelas herdeiras dela.

—Mas…. Você não precisa.- Anna suspirou- Reijii pode fazer uma poção e te curar…

—Vocês são gentis. - Alice tossiu um pouco- Mas eu já vivi demais. E sabe o que eu descobri? A imortalidade é um veneno pra alma. Os humanos tem um prazo pra vida, e isso é o que torna cada dia especial. Mas quando todos os dias são apenas mas um dia, qual é a importância?

Olhei pra ela, tendo total atenção em cada uma das suas palavras.

—Qual é a importancia de amar quando se é pra sempre?- Alice olhou pro céu.- A mãe de vocês gostava de responder isso. Ela disse que queria a mortalidade e a dificuldade de uma vida humana.

O guarda que me salvou sorriu com o comentário. Eu senti uma lágrima escorrendo pelo meu rosto.

—Ela ganhou.- Alice deu um sorriso fraco de novo.- E parece ter aproveitado muito seus últimos anos. Era realmente uma mulher incrível. Defeituosa, mas isso que a deixava mais incrível.

Alice segurou minha mão, que estava apoiada em seu rosto:

—Vou falar que vocês deram oi pra ela, ok?

Não aguentei. Deixei as lágrimas caírem como se não houvesse amanhã.

Ayato se levantou do seu canto e tentou me puxar pra longe dela.

—N…não…- Eu solucei. Ele não me deu ouvidos, e me puxou num abraço do mesmo jeito.

Eu me encolhi no peito dele, como se o aperto dele pudesse tirar a dor inesperada do meu coração.

Olhei fracamente pros lados. Todas as meninas estavam chorando. Sarah, Marie, Nikki, Lua e Brunna eram consoladas pelos respectivos namorados. Daayene abraçava Anna, que parecia desabar nos braços da irmã igualmente acabada. Victoria e Priya choravam juntas, ambas sendo consoladas por um Yuma meio envergonhado. As Creedley não derramaram lágrimas, mas o rosto era claramente melancólico. Kou, Azusa e Reijii pareciam filosóficos e pensando demais.

Ouvir a última respiração de Alice provavelmente fora a coisa mais dolorosa que me aconteceu até hoje.

Claro, Alice várias vezes tinha opiniões e defendia coisas bizarras. Não era a mulher mais correta do mundo. Mas querendo ou não, ela era a única pessoa disposta a me ajudar no meu período no Castelo Rosemary.

Provavelmente era a única que se arrependia do que sua família havia feito com minha mãe.

E isso era só mais óbvio pelo jeito que ela morreu pela minha irmã.

Eu ia sentir falta dela. Surpreendentemente.

Fiquei chocada ao ver mais cavalos chegando.

—Se for mais alguém tentando matar vocês, eu juro que..- Couise reclamou.

Mas fiquei mais tranquila quando vi a bandeira de um lobo dourado no fundo preto.

—Chegamos tarde?- Katherine questionou, meio com raiva.- Que pena, eu bem que queria enterrar o Robert vivo.

—…Tio?- Lua olhou chocada para Edward, que chegava ao lado da sua esposa á frente de alguns soldados.

—Foi mal quebrar o clima mas… quem chamou a rapaziada?- Ayato questionou.

—Eu.- O guarda que havia me salvado sorriu- Somos família. Protegemos um ao outro acima de tudo.

Ficamos um tempo em silêncio.

—…Tio Benjamin?- Sarah questionou, chocada.

—Eu não desisto da família nunca.- Benjamin sorriu, e eu senti um calor no meu coração.

Katherine e Edward desceram de seus cavalos. Edward olhou com melancolia para o corpo de Alice:

—Pobre mulher… Pagou os erros do próprio irmão. Era uma boa líder.

—Vocês planejavam fazer o que com o corpo dela?-Katherine questionou.

—…Não sei, a gente ainda tava em choque.- Nikki se justificou.

—Ah.- Katherine pareceu considerar.- Podemos enterrar ela aqui mesmo.

—…Á vontade.- Subaru respondeu, não parecendo estar com vontade de questionar a família da namorada.

Mas, mais assustadoramente ainda, uma espécie de explosão foi ouvida.

Nos viramos pra Mansão Sakamaki, que começou a ser rodeada por uma névoa avermelhada, que se expandiu e começou a virar um fogo mais vermelho que o normal.

De repente, os olhos de Daayene ficaram vermelhos. Sua boca começou a gotejar sangue, e seus pés saíram do chão.

—Sangue de Cristo.- Brunna fez o sinal da cruz.

E ela começou a falar, mas com um tom mais grave e sombrio, claramente não dela:

—Inimigas das três forças, cuidado. Até o nascer do sol do dia após dois dias, estejam longe daqui. Vocês foram avisadas. Se não, tudo que lhes forem queridos repetirão os acontecidos da sua querida casa. Assinado, Profetas.

E então Daayene caiu no chão, meio desmaiada, sendo amparada por Kou.

Me virei pra Mansão Sakamaki de novo. De repente, o fogo completou tudo nela, quebrando as janelas e começando a deixar um cheiro infernal.

—Minha casa de bonecas!- Kanato choramingou.

—…Com licença, nossa casa está queimando e você tá preocupado com as noivas mortas?- Reijii questionou.

Conseguimos ver a chama dominando tudo naquele lote, consumindo e devorando.

—O que a mensagem significa?- Anna questionou.

—Não é óbvio?- Haruka questionou- Temos que fugir. Nós treze. A realeza, a rebelião e os profetas estão atrás das nossas cabeças. Temos que ir pra longe.

—Tem o nosso apoio.- Edward comentou, recebendo um aceno de cabeça de Katherine e Benjamin.

—Todos são bem vindos na nossa mansão.- Ruki comentou.- Visto a…situação da casa de vocês.

Sarah deu um pequeno sorriso cúmplice pra mim. Esse pequeno sorriso irradiou para todas minhas outras irmãs.

Marie olhou pro fogo, curiosa:

—Na verdade…Podemos tentar uma coisa?