Like a Vampire 2: Bloody Marriage

Capítulo 14- Lar, doce lar.


Narração Nikki

Hoje era pleno sábado. O que também podia ser traduzido para “dia onde finalmente podemos descansar e fazer o que nós bem entendermos” na nossa língua. De algum jeito, nós conseguimos sobreviver a semana letiva que havia se passado de forma até que boa.

Quer dizer, exceto o fato que Lua chorava todo dia porque ela tinha que usar as lentes de contato que Ruki havia comprado pra ela, já que aparentemente seu óculos foi detonado por certas pessoas. Mas ela já tinha começado a superar isso.

Nesse exato momento, estávamos todas nós no quartinho novamente. Dessa vez, havia grandes baldes de pipoca em nossa frente e cobertores que nos cobriam inteiras enquanto assistíamos atentamente o filme na televisão( que sabe-se lá onde ou como os garotos teriam arrumado) como se fosse a coisa mais importante do universo. E naquele momento, era.

Havíamos arrastado o colchão para a frente do sofá, de forma que todas nós pudéssemos caber confortavelmente nos dois lugares. Daayene, Brunna e Anna dividiam o sofá, encolhidas umas perto das outras. No colchão, Victoria e Marie sentavam num dos cantos lado a lado, e Sarah estava com a cabeça apoiada no ombro da segunda mais velha. Entre nós, Priya estava deitada de forma que seus pés estivessem apoiados no sofá e ela se apoiasse no colchão com os cotovelos. Sofie estava encolhida no outro canto do sofá, com a cabeça apoiada no sofá enquanto eu estava ao seu lado, com a cabeça de Lua em minhas pernas.

Eu não podia de deixar de suspirar quando sentia a paz me preencher. Eram raríssimos os dias que eu podia me sentir completamente relaxada, e eu lutei muito tempo por aquela mínima sensação de lar poder ser encontrada por nós em algum lugar.

—Se nós estivéssemos dentro desse filme- Daayene de repente perguntou, puxando a atenção de todas- Quem seria a Regina George?

—Eu voto na Sofie!- Lua respondeu rapidamente, apontando para nossa irmã mais velha, que apenas arqueou uma sobrancelha:

—Você está querendo insinuar alguma coisa com isso?

—EI!- Victoria de repente reclamou, os olhos se estreitando- Eu sou a Regina George desse grupo!

—Eu não acho que isso é algo para se orgulhar, Victoria- Brunna riu com a briga idiota das minhas irmãs, e eu não pude deixar de dar uma risada.

É... E que lar...

Porém nossas risadas foram interrompidas quando alguma coisa bateu na janela.

Após nos entreolharmos de forma estranha, Priya pausou o filme enquanto Marie se levantava para ir até a janela.

—Eu acho que vi algum vulto passando por aqui- A loira soltou, e todos os baldes de pipoca automaticamente foram pro colchão enquanto nós todas nos levantamos.

—A gente tá no terceiro andar, Marie.- Eu respondi em tom baixo, quase preocupada com o que quer que estivesse lá fora- Não é fisicamente possível algo humano passar rapidamente por aqui.

—A-algo h-humano n-não- Anna murmurou entre gaguejos afastando levemente a cortina da janela- Mas a-algo de outra raça s-sim...

E então Anna apontou com as mãos tremendo para o lado de fora da casa, onde Ayato estava parado e olhando diretamente para nós. Eu conheceria aqueles olhos verdes brilhando de raiva em qualquer lugar.

—AH, MARAVILHA!- Victoria se afastou da janela, se jogando no sofá- AGORA VEM ESSE QUERIDO QUERENDO SEQUESTRAR A GENTE DE NOVO!-

—Quantas vezes vocês já foram sequestradas?- Priya perguntou, mas eu podia ver pelo jeito que ela mordia o lábio que ela estava nervosa- Vocês falam como se fosse rotina de vocês passar por isso.

—Se você soubesse metade das coisas que nós passamos ano passado, não teria nem feito essa pergunta.- A respiração de Sofie havia começado a ficar irregular, e eu percebi rapidamente que Brunna foi até ela e começou a fazer um carinho bem suave em seu antebraço.

—Tch, pensei que não fossem durar uma semana- Uma voz masculina que apareceu de repente no quarto fez algumas das garotas dessem um gritinho de susto- Mas agora vocês tem a ousadia de fugirem com outros vampiros.

—Pera aí, moço, quem foi que disse que a gente fugiu pra cá?- Brunna deu um passo a frente, e eu percebi que ela já estava segurando a mão de Sofie.

As duas eram estranhamente ótimas atrizes.

—Oresama não estava falando com você- Ayato respondeu bruscamente, seu olhar queimando de raiva e algo que eu não conseguia decifrar ao perceber o contato entre as duas garotas.

—Eh... Você tá num cômodo com todas nós- Priya mexeu nas pontas dos cabelos, arqueando uma das sobrancelhas- Então teoricamente você está, sim, falando com a gente.

Ayato murmurou um "tanto faz" enquanto escancarou a janela. Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, ele pegou as duas cobertas e as amarrou umas nas outras. Sob os olhares de todas, ele amarrou as cobertas na janela, fazendo uma espécie de corda.

—Você tá fazendo a gente...- Sarah parecia confusa demais pra falar alguma coisa- Fugir?

—Marie, você vai dirigir as suas irmãs até a Mansão Sakamaki. Não tentem desviar o caminho, pois eu saberei- Ayato parecia dominado por uma espécie de ódio que eu nunca tinha visto antes- Eu levarei essas...outras até a Mansão eu mesmo.

—E como você pretende fazer isso?- Daayene perguntou, parecendo genuinamente curiosa.

—Vampiros tem poder de teletransporte- Marie respondeu rapidamente- E nós não temos muito tempo. Vamos buscar nossas coisas rápido e voltamos aqui em menos de cinco minutos.

E todas saímos correndo silenciosamente, cada uma entrando em seus devidos quartos. Eu e Priya não demoramos muito tempo pra juntarmos nossas coisas mais básicas nas nossas bolsas.

—Nikki, o que está acontecendo?- Priya me perguntou num sussurro- Por que estamos sendo tão disputadas.

—Eu não sei- Respondi de volta, no mesmo tom- Talvez tenha algo a ver com a questão "Eve", mas não sabemos nada com certeza. Por enquanto, só vamos fazer o que eles querem.

Priya concordou relutantemente com a cabeça, colocando a mochila nas costas enquanto eu pegava minha bolsa e nós corríamos da forma mais silenciosa possível pro quartinho.

Ao chegarmos lá, não demorou muito tempo pra que o resto das garotas chegassem.

Ayato gesticulou para a janela, olhando pra mim e pras minhas irmãs. Eu respirei fundo enquanto era empurrada pra um abraço em grupo de nós dez.

—Nós somos um exército de título- Ouvi Victoria sussurrar absurdamente baixo- Nós vamos ficar bem.

Após aquela despedida extremamente grudenta e clichê pro meu gosto, eu dei um passo em direção da janela:

—Eu vou primeiro- Eu falei pras minhas irmãs, que pareciam ansiosas- Assim eu ajudo vocês a descerem.

Sem esperar muito, eu me agarrei nas cobertas e me pendurei do lado de fora da casa, descendo de forma rápida. Finalmente aquelas escaladas de mentira haviam servido pra alguma coisa.

Quando alcancei o chão, logo vi que a próxima a vir era Marie. Ela parecia estar calma, descendo pelo cobertor de forma rápida e ágil. Ao chegar no chão, ela sorriu pra mim.

Logo Sofie,Victoria e Sarah vieram, quase juntas. Eu sorri ao perceber que os saltos de Victoria estavam numa das mãos e ela escalava com os pés descalços na parede. Ao chegarem mais próximas do chão,Marie ajudou Sarah a ajeitar o vestido que ela estava usando.

E então veio Lua, que estava tremendo logo no início do cobertor.

—E-eu não sei se consigo!- Ela exclamou, parecendo tentar conter um gritinho- É muito alto e eu não tô enxergando nada!

—Pode vir Lua, você não vai cair!- Sarah tentou encorajar a irmã mais nova-A gente vai te pegar se alguma coisa acontecer!

Isso não pareceu acalmar minha irmã.

—Lua, aqui é seguro.- Sofie disse de forma mais calma e segura- Vai ficar tudo bem se você descer.

Ela tremeu e tentou descer mais alguns passos, mas não conseguiu:

—Eu tenho medo de altura! Eu vou morrer aqui!

Suspirando, eu subi a corda de novo e peguei minha irmã pela cintura com um dos braços. Ela abafou um grito assustado, mas pareceu se acalmar quando nós duas começamos a descer juntas.

Quando eu cheguei no chão, a ajudei a descer:

—Foi difícil?

—Não muito- Ela enxugou as lágrimas que começavam a sair dos olhos- Obrigada, garotas!

Nós todas sorrimos enquanto íamos até o carro de Marie. Quando chegamos lá, Percebemos que havia uma coisa estranha preta com uma luz vermelha no capô.

—Uma câmera?-Marie bufou, revirando os olhos- Não acredito que eles são tão inseguros nesse nível.

—Isso tudo foi por medo da gente mudar de rota?- Victoria perguntou, se acomodando no banco do passageiro.

—Ou medo da gente tramar alguma coisa- Sofie respondeu brevemente, seus olhos apontando na câmera- Vindo daquela família, não me surpreende.

—Vocês falam como se nos Sakamaki só existisse coisa ruim- Sarah fez biquinho- Eles podem ser bons, só não sabem expressar isso. A Victoria concorda.

Vic fuzilou Sarah com o olhar, e a gêmea mais velha apenas deu uma risadinha.

—Vamos logo. Não temos todo o tempo do mundo- Cortei a conversa, sabendo o quanto aquilo estava sendo vergonhoso pra minha irmã mais velha.

Marie, me ouvindo bem, deu a partida no carro e mandou que todas nós colocássemos os cintos.

Antes de partirmos, dei uma última olhada pra casa. Mas meus olhos pararam em uma das janelas, que estava aberta.

Ruki estava em seu quarto, apertando o livro na mão enquanto olhava fixamente para nós.

Antes que eu pudesse falar alguma coisa, saímos do lugar e eu parti com o sentimento dos olhos azuis de Ruki queimando minha pele.

Após uma viagem relativamente longa, nós havíamos chegado á Mansão Sakamaki.

Senti uma breve onda de nostalgia me preencher quando nós saímos do carro e demos de cara com aquele jardim de rosas brancas e aquele caminho de pedra.

—Eu me sinto do mesmo jeito que eu me sentia quando viemos pra cá pela primeira vez- Lua parecia animada.

—Você estava morrendo de medo de vir pra cá, se eu me lembro bem- Brinquei, mordendo suavemente o lábio.

Lua me fuzilou com o olhar, mas depois caiu na risada:

—Não é culpa minha! Eu tinha medo de viver com um monte de marmanjos desconhecidos!

—E pensar que já vivemos com duas famílias de "marmanjos desconhecidos"...- Sofie suspirou, mas se colocou em frente de nós.- Estão prontas?

Victoria deu um passo a frente, e pegou algo em sua bolsa. Era seu anel de casamento.

—Prontas.- Ela disse com um sorriso enquanto colocava o anel no dedo. Seguindo as duas, nós chegamos em frente á porta.

Nós trocamos um último olhar. E sorrimos umas pras outras. Estava na hora.

—TIRA A MÃO DE MIM SEU PERVERTIDO DO INFERNO!- Fomos interrompidas por um grito feminino vindo de dentro da casa. Tal voz que eu já conhecia muito bem, visto que eu dividia quarto com ela.

Marie abriu a porta rapidamente.

Ao entrarmos na sala, vimos que todos já estavam lá. Priya estava ao lado de Laito(que, muito para meu nojo, estava tentando colocar a mão na coxa dela) e quase escondida atrás de Reijii, que apenas parecia repreender toda a situação. Anna estava encolhida ao lado de um Shu quase adormecido, e parecia estar assustada por algo que Kanato estava falando com Teddy. Enquanto isso, Daayene e Brunna estavam tentando escapar de uma conversa que Ayato estava tentando manter com elas. E Subaru assistia tudo na distância.

Quando eles perceberam que nós havíamos chegado, eles mudaram rapidamente.

—SÔH, finalmente você chegou!- Brunna saiu correndo para dar um abraço em Sofie, que retribuiu o gesto com mais força- Eu estava preocupada!

—Não se preocupa, a gente tá aqui agora- Sofie a confortou com um sorriso irônico no rosto.

Eu estava me segurando pra não rir de como elas estavam sendo boas pra manter o fingimento delas serem namoradas.

—Não só isso, mas como também eu fiquei sendo assediada por esse pervertido de fedora!- Priya se aproximou de nós, batendo as pernas- Esses babacas que acham que só podem tirar proveito de mim porque eu sou UM POUCO mais baixa que eles!

—Eh... Sem querer ser indelicada, mas você é BEM mais baixa que todo mundo aqui- Marie respondeu, segurando um sorriso- Mas isso não significa que você pode sair assediando as meninas por aí, Laito Sakamaki!

—Awwww, Bitch-chan, está com ciúmes?- Laito se aproximou de Marie, sorrindo e corando levemente- Eu também senti saudades suas~.

—Eu? Ciúmes de você? Vê se me poupa, menino!- Marie se afastou de Laito, jogando as madeixas loiras pra trás.

Ao ver que Anna ainda estava encolhida e sozinha, eu me sentei ao lado dela e dei um sorriso reconfortante para a mesma.

Percebi que, ao nosso lado, Shu abriu os olhos azuis e soltou um sorriso pervertido:

—Olha só quem voltou, a mulher pervertida.

—Eu já voltei a muito tempo, Sakamaki. Se você não faltasse ás aulas, saberia disso.

—Ah, então você percebe minha falta?- Shu brincou.

Eu apertei a manga de Anna, mas não pude disfarçar o tom avermelhado que se formava em meu rosto.

Só fui me despertar da conversa quando vi Sarah empurrando discretamente Victoria para a frente, fazendo com que ela encarasse Reijii.

—Você voltou, Victoria- Eu percebi que o olhar de Reijii suavizou enquanto ele olhava com certa delicadeza pra garota em sua frente.

—É...É, eu voltei...- Ela disse entre gaguejos e uma voz altamente bagunçada- Quer dizer, é claro que eu voltei!

Eu revirei os olhos para a vergonha de minha irmã, mesmo não sendo capaz de esconder um sorriso.

Era bom aquele Sakamaki cuidar bem da minha irmã, se não aquelas presas seriam quebradas.

Por falar em quebrada...

—EI!- Gritei do nada, fazendo Anna quase cair no chão com o susto- SAKAMAKI, ACHO QUE TEMOS NEGÓCIOS A RESOLVER!

Me levantei e me dirigi até Subaru, que se desencostou da parede na hora:

—Quê? Eu não tenho nada pra resolver com você, idiota.

—Ah, sério?- Coloquei as mãos na cintura, cerrando os olhos- Nem sobre a propriedade privada da minha irmã?

Subaru então pareceu entender.

Você não assusta ninguém, Nikki- Ayato revirou os olhos- Eu diria até que você fica ”fofa” quando está brava.

—Você acha que eu fico fofa quando estou brava?- Perguntei, com deboche estampado em minha voz

Tentei respirar fundo três vezes para me acalmar, porém não adiantou nada.

—Então se prepararem, porque eu estou prestes a ficar LINDA.- Respondi rispidamente.

Consumida pela raiva, eu mal pude pensar antes que meu punho fechado fosse de encontro com o queixo de Subaru.

Subaru colocou as mãos na região da boca, preenchido por dor.

—POR QUE VOCÊ ME BATEU?- Subaru grunhiu de dor. Só então eu percebi que sua boa estava cortada e sangrando um pouco, mas não me arrependi.

—Se você mexer com uma das minhas irmãs mais uma vez- Eu puxei ele pelo colarinho, colando minha testa na dele- Você vai receber muito mais que um soco, Sakamaki.

Quando me virei, minhas irmãs estavam me olhando chocadas. Porém, as Hudison me olhavam com uma espécie de orgulho.

—POR QUE VOCÊ BATEU NELE?- Marie berrou, e Sofie revirou os olhos enquanto falava algo sobre ele ter quebrado o óculos de Lua- Espera aí... Eu como irmã mais velha deveria criticar a violência, mas eu como irmã mais velha deveria elogiar o ato protetor. O que eu faço?

As minhas irmãs deram de ombros.

—Garota, você a cada dia me choca mais- Priya deu um sorriso cheio de admiração em minha direção- Não que isso seja uma coisa ruim.

—Eu pisquei na hora do soco, pode repetir?- Daayene brincou, com um sorriso divertido estampado em seus lábios.

—De jeito nenhum!- Subaru reclamou, e as garotas todas tiveram que abafar uma risada- Entrega isso pra sua irmã de uma vez, então.

Ele tirou então de dentro do casaco uma espécie de caixinha vermelha para óculos. Eu me choquei ao abrir e ver um óculos novinho em folha lá.

Passei a caixa pra Lua, que colocou os óculos no rosto e logo depois sorriu:

—FINALMENTE EU ENXERGO!

Enquanto Lua pulava com as garotas e gritava sobre enxergar bem após uma semana, eu me virei pra Subaru:

—Não pense que isso vai fazer eu me desculpar pelo soco.

—Não precisa.- Subaru deu de ombros- Eu bem que mereci.

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Após eu e minhas irmãs termos apresentado a Mansão pras Hudison, nós fomos jantar. Fiquei estranhamente feliz em poder conversar com minhas irmãs durante as refeições de novo( Mesmo que Sofie e Brunna não pareciam estar tão felizes em sentarem lado a lado enquanto se comportavam como um casal).

As divisões dos quartos ainda eram as mesmas. Por isso, eu mostrei meu quarto para Priya. Ela ficou extremamente fascinada quando eu a mostrei meu fuzil e meus equipamentos de luta. A deixando ser feliz a sós, resolvi dar uma volta pelo jardim.

Andei calmamente, tentando reviver cada memória que eu tinha passado naquele lugar. Me lembro do primeiro dia que nós viemos pra casa, da vez que encontramos Jackson, da vez que eu e minhas irmãs vimos o quarto das bonecas, e até mesmo o dia que tivemos que fugir da “Cordelia”. E claro, do dia que tentamos correr dos Mukami.

E pensar que nunca tivemos como entregar as rosas pro Subaru.

Aquele jogo tinha sido divertido, deveríamos fazer um de novo. Só que dessa vez dentro da casa e com as Hudison.

—Perdida em seus pensamentos?- Ouvi uma voz conhecida, e me virei pro lado para dar de cara com um Shu recostado na árvore- Não sabe o que aconteceu da última vez que você e sua irmã resolveram andar descuidadas pelo jardim á noite?

Não pude deixar de rir secamente:

—Sei o que aconteceu comigo bem o suficiente pra trazer meu fuzil aqui pra fora hoje.

Os olhos de Shu se abriram, e eu encontrei uma certa paz desconhecida naquele azul-oceano.

—Até que você não é tão idiota que nem meus irmãos dizem “Senhorita Herbert”- Shu comentou, com certa ironia no apelido.

Não pude deixar de fazer um sorriso escapar enquanto me recostei na árvore do lado dele.

Após passarmos alguns segundos, eu falei uma dúvida que estava na minha cabeça:

—Ei, o que vocês fizeram nos meses que estivemos fora? Quer dizer, de comida.

—Nada.- Shu deu de ombros, como se estivesse falando que comprou pão.

—Como assim “nada”?- Eu perguntei, abismada.

—“Nada” tipo nada, ué- Ele respondeu, calmamente.

—Eu sei o que nada significa- Reclamei, me ajoelhando na grama e encarando ele- Mas... como vocês conseguem ficar quase três meses sem comida?

—Depende do vampiro- Estranhei Shu estar com tanta paciência para me explicar as coisas. Ou melhor, já fiquei assustada por ele estar acordado- Normalmente os vampiros puros conseguem ficar até quatro meses sem tomar sangue e sem sofrer de uma dor e sede insuportável.

—Vampiros puros?- Eu perguntei, realmente curiosa com aquela informação.

—Os que já nascem vampiros, como nós- Shu explicou, seus olhos vagando na distância- Os impuros são como os que te sequestraram, que foram transformados em vampiro.

Arregalei os olhos. Os Mukami eram... transformados?

E como diabos o Shu sabia disso?

Eu achava que os Mukami só mantinham contato com KarlHeinz...

—Mas eles ainda são idiotas o suficiente pra acharem que podem ser Adam para as Eve...- Shu sussurrou.

Foi então que meus olhos se arregalaram ainda mais e minha boca se escancarou.

É O QUE?

Os Sakamaki também sabiam dessa treta Eve? Será que eles estavam envolvidos? E que droga é essa de Adam?

—Como assim?- Perguntei, agora o loiro tinha minha atenção total- O que é essa coisa de Eve, afinal?

Shu olhou pra mim, parecendo suspeitar de minha pessoa e depois sorriu secamente:

—Você faz perguntas demais.

E com isso ele me levantou e me colocou sentada em suas pernas, ato que me fez ficar vermelha até as pontas das orelhas:

—OQUEVOCÊPENSAQUEESTÁFAZENDO?

Shu riu, e eu não sabia se era uma risada sincera ou debochada. Ou talvez fosse uma risada de deboche sincera. Ou uma risada sincera com deboche?

Qual era a diferença entre as opções?

—Você é realmente uma garota pervertida, Nikki Herbert- Ele se aproximou mais do meu rosto, e eu senti que fosse desmaiar por superaquecimento.- Ficando nesse estado só porque está no meu colo, o que será que sua mente suja está pensando?

—NÃO É COMO SE EU SENTASSE NO COLO DE OUTRAS PESSOAS COM FREQUÊNCIA, SEU IDIOTA TARADO EMBUTIDO- Eu gritei, nem conseguindo me mexer no meio do ódio, vergonha e susto.

Shu, ainda não desgrudando os olhos azuis dos meus e com um sorriso sarcástico ainda brincando em sua boca, usou uma mão para abaixar a gola da camiseta que eu usava. Enquanto isso, a outra desprendia o fuzil da minha perna e depositava a arma ao nosso lado.

Com uma calmaria e paciência que era até irritante, ele me apertou mais em sua direção, e fez com que meu pescoço ficasse estendido para ele. Sem pensar muito, eu senti suas presas perfurarem meu pescoço.

A intensidade e o desespero daquela mordida me fizeram ter a certeza de que os irmãos não estavam tão “de boa” quanto eles diziam estar quando nós estávamos fora. Shu me mordia profundamente e intensamente, quase como se aquelas fossem as últimas gotas de sangue que ele iria ter pelo resto da eternidade.

Sentindo a dor me preencher e a área mordida em meu pescoço começando a ficar levemente inchada e dormente, fechei os olhos com força e me dei a permissão de tentar relaxar.

Enquanto eu sentia as forças saindo do meu corpo e meus sentidos voando para longe de mim, eu pensei nas novas informações que eu havia adquirido.

A gente ia conseguir descobrir tudo, com certeza.

Mordendo meu lábio fortemente para abafar um gemido de dor, deixei com que eu mesma desmaiasse sob a luz do luar.

Eu estava em casa agora.