"When It Rains, On This Side Of Town It Touches Everything..."

Ichigo acordou sem muita vontade de sequer deixar sua cama. Observava o teto do quarto e mal conseguia pensar em uma razão para se levantar. Sentia-se tão pesado quanto as nuvens acumuladas no céu que ele podia ver por sua janela. Suspirou e passou a mão pelo cabelo. Olhou o relógio em sua escrivaninha, precisava se apressar, ou chegaria atrasado para a aula... e ao pensar nisso, sentiu seu coração machucar uma outra vez. Qual era o sentido de sair mais cedo para a aula, se não encontraria a Rukia no caminho? Se não ouviria sua voz, contando tudo sobre sua noite, ou sobre o “Chappy”? Discutindo coisas que sem ela, eram simplesmente insignificantes? Sentia sua falta. Queria ouvir sua voz, seu riso. Sentia em si um vazio, que pensou impossível.

Tudo tinha acontecido há pouco mais de uma semana.

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No domingo, logo pela manhã, Ichigo resolveu checar como ela estava, como havia sido a noite. Resolvera passar na nova padaria e na cafeteria de Urahara para levar café da manhã, afinal, desde que sua irmã tinha ido embora, ele imaginava como Rukia estaria levando sua rotina. Talvez só mesmo por estar se sentindo bem, até mesmo um bolinho em formato de coelho ele havia comprado. Já podia até imaginar sua reação ao ver aquilo, tinha que admitir, era até mesmo... fofo.

Contudo, quando chegou à sua casa. Devia ter tocado a campainha três vezes, e chamado seu nome mais duas, antes de chegar a conclusão de que ela não estaria em casa. Olhou em seu relógio, eram 08:21h, talvez ela tivesse saído para uma corrida ou algo assim. Sentou-se e esperou por mais 20min, antes de ir e deixar seu café da manhã cuidadosamente na porta, juntamente com um bilhete, pedindo que ligasse para ele, quando chegasse. E então voltou para casa.

Não importava o quanto olhasse ansiosamente para o celular, não importava o quanto o tempo passava, não houve ligação.

Já eram 16:04h quando resolvera voltar à sua casa e ver se ela estaria lá, apenas para encontrar a casa apagada, e o pacote que deixara na porta, exatamente no mesmo lugar. Decidiu ligar para ela, mas ninguém atendeu. Sentia-se aos poucos afundando em desespero, algo teria acontecido com Rukia? E ainda, o que ele poderia fazer? Não tinha como saber se ela estava bem, não tinha como saber onde estava. Seu coração apertou só em pensar nisso.

Tentou ficar ao lado de fora de sua casa, mais um pouco, olhar ao redor. Mas sabia que nada poderia fazer.

No dia seguinte, Rukia não tinha aparecido na escola. Ele podia apenas observar, silenciosamente seu assento vazio, e tentar impedir a propria mente de pensar no pior. Sua angustia era tamanha, para mal conseguir pensar direito. Depois da aula, outra vez voltou à sua casa, ainda parecia vazia, mas o pacote do dia anterior tinha sumido, alguém levara, muito provavelmente. Sentou-se contra a porta e respirou fundo. Sentia-se inútil. Pegou o celular em suas mãos e olhou por um instante, secretamente desejando ao menos um sms, lhe dizendo que estava tudo bem. Discou seu numero mais uma vez, sentindo suas esperanças diminuírem à cada chamada.

Na terça-feira, foi ainda pior. Para sua surpresa, pouco antes da aula começar, Rukia apareceu. Mas já não parecia a Rukia. De alguma forma, ela estava ainda pior do que quando sua irmã foi levada. Fisicamente ela parecia abalada, era como um fantasma. Estava pálida, sombria, e observava o vazio. Era como se sequer estivesse mesmo lá.

Ele a observou toda a manhã, enquanto ela nem mesmo olhou em sua direção. E na hora da saída, depois de chamar seu nome algumas vezes e correr até alcançá-la, ela o olhou como se não o visse de verdade, como se não quisesse fazê-lo, ela não olhou em seus olhos.

–Rukia, você tá bem?- Perguntou mesmo que estivesse óbvio de que não estava. Ela continuou andando, sem olhar em sua direção. Ele continuou lhe acompanhado, tentando. - Ei, o que aconteceu? Onde você esteve?- Ela parou de repente, e finalmente o olhou nos olhos. Não sabia o que era pior, ver aquele olhar ou ouvir suas palavras.

–Ichigo, é melhor se afastar de mim. - Disse num tom frio. - Eu... - Ela começou e então interrompeu-se por um instante como se procurasse por uma forma de arrumar as palavras.- Não quero ser sua amiga. Não se envolva mais comigo. - E então voltou a caminhar.

Naquele momento, Ichigo sentiu uma dor ainda pior do que quando foi esfaqueado. Era como se seu seu peito sofrera uma implosão, estava quebrado por dentro e certamente já começara a refletir por fora. Mal conseguia respirar, muito menos ir em sua direção. Enquanto sua mente tentava lhe dizer que era mentira, de que não tinha acontecido aquilo. Ou que ela estava brincando, que viria e lhe daria um soco no estomago e diria “Até parece que vai se livrar de mim assim, tão fácil, idiota!” e riria, seu riso tão tranquilizador. Mas, a visão de suas costas, afastando-se cada vez mais enquanto as primeiras gotas geladas de chuva caíam sobre sua pele, era bem claro. Não era brincadeira dessa vez, e como antes, não sabia mais o que poderia fazer para remediar.

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Agora, já no colégio, assim como nos outros dias, ele mal a via, mesmo de longe. De alguma forma, nada daquilo parecia certo. Não se sentia bem com tudo aquilo, era como se seu mundo estivesse virado de ponta cabeça sem Rukia por perto. Mas se ela não queria, ele não podia simplesmente forçá-la. Ele havia inclusive, tentado falar com ela desde então, apenas para receber o frio silencio em retorno. Já não havia o que fazer.

Seu sofrimento era maior, talvez depois de ter conversado com Tatsuki. Ele a havia encontrado no ginásio uma tarde qualquer. Sentia-se um pouco nostalgico ao fazer isso. Tatsuki era sua amiga mais antiga, eles tinham ouvido os problemas um do outro por tanto tempo, naquele mesmo lugar, que chegava até mesmo a fazê-lo sentir menos mau.

Contudo, algo que ela lhe havia dito naquela ocasião, caiu como uma bomba em sua mente.

Ele não pretendia tocar no assunto, inicialmente, então eles conversaram um pouco sobre as preocupações dela em relação ao tal do namorado de Orihime. Algo que era até preocupante, mas mesmo que ele não lhe tivesse dito, ela podia apenas estar exagerando um pouco. Ele ainda não tinha conhecido o cara, então, decidira não opinar nesse assunto. Foi então que mudaram o tópico da conversa.

–E ai, o que tá rolando entre você e a Rukia? Brigaram?- Ela perguntou como se fosse mais que óbvio de que era essa a razão de ele não estar tão bem ultimamente. Ichigo suspirou.

–Mais ou menos. - Respondeu e voltou seu olhar para outro lugar, encarando o vazio.

–O que aconteceu? - Ela perguntou preocupada, genuinamente, fazendo-o voltar a olhá-la. - Ichigo, você sabe que pode conversar comigo...- Foi sua vez de suspirar.- Às vezes nem parece mais que somos amigos.- Ela comentou tristemente, e ela tinha razão. Havia um tempo desde que conversaram sério sobre seus problemas. Tatsuki costumava lhe dar conselhos, e de alguma forma estava quase sempre certa. Talvez essa fosse uma das vezes.

Ichigo respirou fundo e resolveu lhe contar tudo, ainda que omitindo toda a parte sobre vampiros e caçadores. E quando terminou, ela o olhou e sorriu, como se fosse muito óbvio a resposta.

–Acho que tá mais que claro, o que tá rolando. - Ela disse e riu, deixando-o ainda confuso.

–O que quer dizer? - Perguntou franzindo o cenho, desconfiado.

–Cara, você tá perdida e até ridiculamente apaixonado. - Ela disse ainda com um sorriso no rosto, e então colocou a mão em seu peito. - E essa dor que você tá sentindo aqui... não é nada mais que um coração partido.

–D-do que tá falando?! - Podia sentir seu rosto corar, enquanto inevitavelmente deixava que as coisas fizessem sentido em sua mente, como se tudo se encaixasse. Mas não podia ser! Ele saberia se estivesse apaixonado, não é mesmo? Mas... afinal o que era estar apaixonado?

Começou a mentalmente listar coisas que agora fariam mais sentido, como por exemplo, pensar nela o tempo todo, ou sentir seu coração ficar inquieto quando ela estava por perto. Vê-la sorrir lhe causava uma felicidade tão grande, tanto quanto a dor de vê-la triste. Queria estar sempre perto dela e protegê-la de qualquer forma. A primeira vez que a abraçou, sentira como se estivesse completo. E quanto mais tempo passavam separados, maior era sua dor... Estava mesmo... Apaixonado afinal de contas?

–Você sabe que tô certa. Sua cara já diz tudo. - Tatsuki parecia se divertir com sua reação. - Bom, agora, sobre o por que da Kuchiki estar fazendo isso.- Ela voltou a falar já sem mais rir. - Opção 1: Ela descobriu os seus sentimentos e não sente o mesmo e resolveu se afastar de você. - Ela ficou em silencio um pouco, dando-lhe tempo para pensar. Se fosse esse o caso... O que ele poderia fazer? Não queria afastá-la... Mas também não sabia mais o que fazer, se a forma como estava agindo era assim tão óbvia, como ele esconderia, então? - E opção 2: Ela tem alguma razão muito boa para te afastar, de uma hora para outra...- Bom, Rukia já havia feito algo assim antes, não era mesmo? Quando sua irmã foi atacada, ela tentou afastá-lo... será que estava acontecendo outra vez? De alguma forma, isso lhe era mais reconfortante do que a primeira opção.- Olha, Ichigo, honestamente eu iria pela opção 2. - Tatsuki chamou sua atenção outra vez. - Sabe esse olharzinho ridículo que você faz quando a vê, ou quando fala dela? - Ele ignorou a parte do ridículo, e prestou atenção noque ela dizia. - Bom, a Kuchiki faz exatamente a mesma coisa, quando se trata de você.- Ela disse e sorriu, não em zombaria dessa vez, mas sim como se procurasse lhe dar conforto. - Você devia procurar saber dela, o por que dela estar fazendo isso, quer dizer, eu só estou fazendo hipoteses aqui, só ela pode te dar certeza.

Depois disso, enquanto caminhava para casa ou para a escola, enquanto fazia as coisas mais comuns de seu dia-a-dia, Ichigo tentava processar tudo o que acontecera. Será que a Tatsuki estava certa ainda outra vez? Apesar de quê, a parte sobre seus sentimentos parecia ficar cada vez mais indiscutível conforme os dias passavam e ele pensava mais profundamente no assunto. Mas já quanto as razões do por que ela tê-lo afastado, não podia deixar de se sentir ansioso e ainda, assustado pela verdade, enquanto a olhava, distraidamente escrever alguma coisa em seu caderno à apenas algumas cadeiras de distancia da sua.

"[...]Now I Can't Breathe, No I Can't Sleep, I'm Barely Hanging On..."