Enquanto a noite de sexta-feira avançava, Orihime mexia-se inquieta pela casa. Certamente já terminara tudo o que tinha que fazer, até mesmo tentara sentar-se e estudar um pouco, apesar de estar ansiosa demais para isso. Ligou a TV.

[...]Dois corpos foram encontrados nessa tarde...”

Desligou-a. Suspirou.

Estava nervosa. Parecia besteira, se pensasse demais no assunto, mas a verdade era que, pela primeira vez desde que se conheceram, ela sentia a seriedade naquilo tudo. Era diferente de antes, porque, agora estavam juntos de verdade. Não era uma fantasia, ou um devaneio advindo de pensar demais. Ele não era mais o rapaz charmoso que ela admirava ao longe, para quem ela imaginava uma história, várias histórias. Não, agora ela estava de frente com quem ele era de fato, e talvez fosse isso que a estivesse deixando tão nervosa.

Depois de tanto tempo imaginando e idealizando-o, no fundo ela temia que as coisas não fossem tão boas assim, mesmo que negasse com todas as forças. Ela não sabia muito sobre Ulquiorra, não sabia de sua vida, não conhecia ainda aquilo que ele gostava e o que o aborrecia. Não sabia quais eram seus hobbies, não sabia sobre sua familia... Era como se sequer o conhecesse de fato.

Suspirou uma outra vez. Quando pensava nesse tipo de coisa, sentia-se tão solitária e assustada, e se por um acaso ela não gostasse de alguma dessas coisas que viria a descobrir, ou pior e se ele não gostasse de algo sobre ela...? Não, não ia se permitir ficar triste. Não às vésperas do seu tão esperado encontro! Afinal de contas, todas as vezes em que mesmo imaginava seu olhar, não conseguia pensar em algo que possivelmente fosse capaz de não gostar nele, mais ainda algo que fosse prejudicar a forma como se sentia, não parecia possível. Ela não devia mais se concentrar em coisas que lhe afligiam daquela forma.

Ao invés disso, tinha tantas coisas melhores para pensar. Depois de revirar seu guarda roupa de ponta-cabeça, ela finalmente tinha se decidido sobre o que usar, apesar de que, se olhasse demais para a peça, sabia que podia uma outra vez mudar de idéia, e por tanto resolveu não fazê-lo muito mais que uma vez.

Havia cuidadosamente posicionado o vestido, que ia até pouco antes dos joelhos era de um tom claro, coberto de flores cor de rosa, justo abaixo dos seios e cintura, e solto dos quadris em diante, junto com o cardigan do mesmo tom das flores, e sapatilhas brancas. Era um visual simples, mas após pensar e repensar no assunto, não queria exagerar também, então a simplicidade parecia melhor.

Estava ansiosa. Queria apenas poder fechar os olhos e de repente já ser manhã, para que finalmente voltasse a encontrar abrigo naqueles braços, encontrar conforto em seus lábios. Mas não podia e então suspirou aconchegando-se no sofá.

–Ah, por que não pode ser logo manhã?- Perguntou-se tristemente, abraçando uma almofada. E então, como se os céus ouvissem suas preces, ela ouviu alguém em sua porta.

Era inexplicável, por um momento parecia até estranho a sensação que tinha em seu peito, ela sabia que era ele, mesmo sem abrir a porta, ela sabia, sabia tão bem! Ainda assim, quando o viu, seu coração parecia palpitar como se fosse a primeira vez que o via.

Dessa vez, não tinha nada que pudesse entrar em seu caminho, nada que a pudesse impedir, então ela não demorou em se atirar aos seus braços. Não se viam havia agora quase duas semanas, mas Orihime sentia que estava completa, que se encontrava finalmente naquele abraço, era como se não se vissem há anos, e ela sentiu a dor que mal sabia que estava ali, se aliviar. Afrouxou o abraço e então o beijou. Um beijo gentil no meio de um sorriso.

–Eu senti tanto sua falta! - Ela finalmente se permitiu falar. Ulquiorra apenas lhe deu um daqueles pequenos sorrisos, olhando em seus olhos, como se procurasse alguma coisa.

–Eu tive um tempo livre, e resolvi vir te ver. - Ele disse finalmente. - Sei que marcamos para amanhã... espero que não tenha problema. - E outra vez aquele olhar.

–N-não, de jeito nenhum! - Disse apressada e com um sorriso largo em seu rosto. -Na verdade, - Ela começou, voltando para dentro e deixando a porta aberta para que ele fizesse o mesmo.- Eu mal podia esperar para que amanhecesse de uma vez, sabe? - Perguntou distraidamente, voltando-se para ele e notando que Ulquiorra não tinha entrado ainda. - Não vai entrar? Tá bem frio ai fora!- Ele nada disse, apenas parecia dar um dos seus sorrisos irônicos, e olhar ao redor da porta então de volta para ela. - Algo errado? - Ela perguntou e voltou para pegá-lo pela mão, talvez ele estivesse sendo tímido, apesar de não parecer com ele. - Pode entrar! - Ela o puxou para dentro da casa. - Viu, não tem nada assustador aqui, eu guardo minhas coisas de serial killer muito bem, sabe?- Orihime disse rindo e fazendo com que ele lhe olhasse com aquele olhar cuidadoso uma outra vez e então sorrisse de volta. Havia algo diferente nele, ela tinha certeza disso. Algo em seu olhar. De alguma forma, seus olhos pareciam tão cansados.

–Bela casa. - Ele disse olhando em volta.

–Ah... Obrigada.- Ela agradeceu um pouco sem jeito. “Ainda bem que arrumei tudo mais cedo!” Pensou consigo mesma aliviada, indo até a cozinha. - Hmn, você quer alguma coisa? Café, suco, chá...? Eu devia ter feito compras, não tenho muito à oferecer. - Riu um pouco envergonhada enquanto olhava ao redor, procurando algo mais que pudesse lhe interessar. E então sentiu-se arrepiar ao mesmo tempo em que seu coração parecia martelar em seu peito, quando sentiu os braços de Ulquiorra lhe acomodarem por trás. Ele então afastou um pouco de seu cabelo para que pudesse sussurrar em seu ouvido.

–Eu só quero você.- Sua voz parecia tão sedutora, e mais ainda tão de perto. Ele realmente sabia como provocá-la. E ela não pensou duas vezes antes de virar-se para ele e beijá-lo, dessa vez apaixonadamente e era como se houvesse uma corrente elétrica os atravessando, e ela sabia que também não havia nada, não havia ninguém mais que ela desejasse, somente ele, sempre ele.

Não sabia ao certo quando tinham chegado ao seu quarto, ou à sua cama, mas tinha toda certeza de que era melhor assim. Seu coração batia tão forte que mais parecia que pularia para fora a qualquer momento, sua respiração já estava acelerada, e afinal era inevitável, enquanto Ulquiorra lhe beijava e abria caminho sob suas roupas para tocá-la. Suas mãos eram quentes e cuidadosas.

Lhe parecia incrível, era como se tivessem a habilidade de voltar exatamente de onde tinham parado da ultima vez. Os mesmos sentimentos daquela noite, que agora parecia ter acontecido há tanto tempo, esses sentimentos continuavam os mesmos, a paixão, a euforia que cada minimo toque trazia, o entendimento, como se estivessem conectados, como se se conhecessem há anos, o desejo que lhe consumia.

Não havia muito no que quisesse pensar agora, se não em seus olhos, esmeraldas brilhantes, gentilmente iluminados pelas luzes noturnas que vinham da janela, seu calor, seu corpo tão próximo do seu agora. Sentia que a cada beijo, suas perguntas eram respondidas e suas inseguranças silenciadas. Orihime agora precisava de repente, lhe encher de caricias, simplesmente não conseguia vê-lo sem que seus lábios fossem de forma incontrolável acariciá-lo.

Beijou seus lábios e então seu pescoço, passando ao seu peito desnudo, acima de seu coração, onde pôde ver que ele tinha uma tatuagem, da qual ela preferia não pensar agora. Ele a trouxe para si outra vez e então, houve um instante, que parecia ter durado uma eternidade, quando seus olhos se encontraram, Orihime sentira pela primeira vez, como se uma porta tivesse se aberto para ela, naquele único momento, como se fosse possível para ela, agora, responder todas as perguntas que se fizera sobre ele mais cedo, sentia que uma barreira havia caído, e era como se um sol de felicidade se erguesse dentro dela, não havia solidão, ele lhe permitira entrar.

Mas o momento acabou, tão rapidamente, com um toque de celular. O olhar foi desviado, e com um suspiro mau humorado, Ulquiorra pegou o telefone do bolso, afastando-se dela. “Ah, por favor, não me diga que tem que ir!” Orihime pensou tristemente, mesmo sabendo que era exatamente o que aconteceria.

E então, quando ele voltou a olhar em seus olhos, ela já sabia que o momento tinha acabado. Sabia que podia soar egoísta e teimosa, mas já não tinha vontade de se conter.

–Não diga que tem que ir! - Ela o impediu de mesmo começar a falar. Ele sorriu um pouco e acariciou seu rosto. - Por favor! - Insistiu segurando a mão que ele levara ao seu rosto. Ele a beijou lentamente, mas Orihime não se deixaria enganar, sabia que aquele era um beijo de despedida.

–Vamos deixar para amanhã, meu amor. - Ele disse em tom soave, mas, o simples som de “amor”, vindo de sua voz lhe fez sentir o coração uma outra vez acelerar. - Acredite, não há nada que eu queria mais do que continuar aqui, com você.- Ele lhe disse enquanto abotoava a camisa preta, que ficava tão bem nele... Mas não era hora de pensar nisso! Ele voltou para lhe dar um outro beijo, não tão demorado quanto antes, dessa vez.- Até amanhã. - Disse antes de sair, mas Orihime estava aborrecida demais para responder, então apenas mergulhou em seus lençóis. “O que será que estou fazendo de errado?” Pensou consigo mesma, suspirando, afinal, sua sorte ia tão mal quanto a de um vilão de desenho animado.

Ficou deitada por mais um tempo, tentando memorizar cada detalhe de mais cedo e emocionar-se ao lembrar de Ulquiorra lhe chamando de amor. Talvez fosse o suficiente para melhorar seu humor. E então, ouviu alguém em sua porta uma outra vez e da mesma forma em que mais cedo tinha certeza de que era ele, agora sabia por convicção que não era. Colocou de volta sua blusa e levantou-se sem muita emoção. Abriu a porta mecanicamente, e mal conseguiu fingir um sorriso para Tatsuki, antes de perceber que parecia que sua amiga também estava de alguma forma ligada à ela, enquanto segurava um pote de sorvete e alguns biscoitos numa sacola.

–O que foi, tá de mau humor? - A outra perguntou analisando seu rosto. - Eu vi aquele... - Ela deu uma pausa, como para pensar numa palavra.- Seu namorado saindo, você não devia tá pulando de um lado pro outro? - Perguntou em tom entediado. - Enfim, eu acabei perdendo numa luta mais cedo, quer afogar as mágoas com sorvete e besteiras comigo?

–Ah, você me conhece tão bem! - Orihime sorriu de verdade dessa vez. - Mas me conta, como é possível você ter perdido uma luta? - Perguntou enquanto sentavam-se e ligavam a tv para ver algum filme.

–Boa pergunta! - Tatsuki disse bem humorada. Parecia que a noite não seria tão ruim, no fim das contas.