P.O.V's Newt

Eu estava procurando desesperadamente por Katharina, e nada de encontra-la. A ultima coisa que ouvi foi um grito frustrado. Eu realmente não queria que isso tivesse acontecido. Era por isso que não contávamos a verdade para os outros. Todos entrariam em pânico e tudo desabaria. E agora, a única garota estava desaparecida e os muros já haviam fechado. Não que isso fosse importante, mas era um alívio para mim ter a certeza de que ela estava na Clareira. Eu precisava encontra-la. Do jeito que ela estava, devia ter se atirado em alguma parede.
Era isso!
Percorri a Clareira toda à procura de uma cabeleira ruiva que destacasse a hera. Eu já havia percorrido quase tudo, mas logo a frente eu a vi. Estava dormindo. Olhos fechados numa expressão de angustia. Devia estar sonhando. Sei lá. Caminhei até ela e a peguei no colo. Suas roupas estavam sujas e surradas. As roupas que hoje de manhã estavam lindas na garota, agora eram farrapos. A grama que estava em volta da ruiva estava detonada, não dava para chamar aquilo de grama. Comecei a caminhar para a ala dos Socorristas. Não teria ninguém lá, apenas eu e ela. O caminho até lá não era muito longo, pois estávamos em uma parte do muro perto dos Socorristas.
Abri a porta e andei até a maca. Pousei suavemente e garota ali e peguei primeiros socorros para fazer um curativo em sua bochecha direita, que estava com um longo corte. Ela começou a murmurar algo, mas logo parei de prestar atenção, pois não dava para entender. Cheguei perto da garota para fazer o curativo. Passei um pano úmido em sua bochecha e em seu rosto. Estava suja demais. Mas ainda assim estava linda. Depois de limpar bem a bochecha de Kathie, coloquei a gase e tampei o imenso corte. Por sorte não pegou em sua orelha.
Me sentei em uma cadeira que havia ao lado da maca e fiquei a observando dormir. Já estava escuro e a maioria dos Clareanos já estavam em um sono profundo. Passei o polegar pela bochecha lisa da garota, deslizando a mão para seu pescoço, e depois para sua clavícula. Tirei minha mão da ruiva e fui olhar o movimento lá fora. Minho caminhava em direção à casa dos Socorristas.
– E ai, cara. Por que esta aqui?- Perguntou Minho.
– A garota.- Ele me observou sério.- Ela teve um ataque de pânico consideravelmente horrível depois que a deixou na Sede. Saiu correndo para a floresta e ficou gritando. Só a encontrei agora com um grande corte na bochecha.
– Nossa... Eu sabia que ela não ficaria muito bem das idéias depois daquilo. Mas também não achei que fosse pirar tanto.- Olhou para dentro, na direção da menina.- Bom, mas acho que irei te deixar com ela. Preciso correr amanhã e não estou disposto a acordar com sono.
– Ta, cara.
Então ele se virou e foi embora. Voltei para dentro e tomei um susto ao ver que a garota já estava sentada e esfregava os olhos com sono. Lançou-me um olhar de raiva para mim e de uma careta ao tocar a bochecha com gaze.
– Mas o que...
– Estava com um corte, então cobri.- Disse dando de ombros .
Ela veio até mim bem devagar. Não me movi, mas tive a doce ilusão -e que ilusão- de que ela iria me abraçar. Mas ao se aproximar mais, começou a me das tapas nos braços e no peitoral. Com a careta de ódio, vamos acrescentar.
– Como pode fazer isso com os outros e nao pensar nem um pouco na sanidade deles?!- Ela parou e me olhou no olhos.- Não fique perto de mim. Se encontrar uma maneira boa de se redimir, venha falar comigo. Não estou pedindo para falar para todos sobre não ter saída, apenas para se redimir.
E saiu marchando para fora. Observei sua silhueta até sumir da minha visão. Ela estava chateada. E o pior, chateada comigo. Meu Deus! Garota estranha. Eu ficarei longe dela e respeitarei sua vontade. Apenas enquanto não encontrar uma maneira de me redimir.

P.O.V's Katharina

Sai de la andando rapidamente. Eu estava com raiva. Sim, ah, como eu estava com raiva! Eu poderia estrangula-lo se ficasse mais um pouco ali. E por mais que não parecesse, eu estava magoada. Tudo bem que faziam poucos dias que eu havia chegado, mas eu estava sonhando, e estava junto com Newt. Como assim ele não me contou? Okay! Mas eu ia dar um gelo nele, ah, se ia! E eu ainda estava assustada com o fato de não ter saída, mas preferi colocar nas profundezas da minha mente para que ninguém percebesse.
Por um lado, eles estavam certos de não contar isso aos garotos, pois iria causar desespero e destruição. Até porquê, sem a Caixa, não somos nada. Dependemos do funcionamento desse lugar para sobreviver, mas e se isso para de funcionar? O que faremos? Ninguém nunca pensou nisso, tenho quase certeza. E se eles não acreditam que tem uma saída, por que ainda saem da Clareira? Acho que eles ainda tem esperança, mesmo sabendo que não há. Ou talvez eu esteja cega pelo desespero.
"Okay, Katharina, vamos lá. Pense!" Uma voz disse dentro de mim. Mas que voz petulante! Eu estou pensando... Não!
Eu me lembro! Não estamos sem saída. Se não houvesse saída, não haveria propósito! Eles querem apenas testar nossas mentes! É isso! Temos que encontrar alguma resposta no impossível.
Mas antes de tudo, eu precisava de um banho. Saí correndo para a cabana onde eu havia deixado as roupas e peguei uma calça de moleton preta e uma regata lilás acompanhada de roupas íntimas e um par de chinelos. Entrei no banheiro mais próximo e tranquei a porta. Me despi e entrei na agua fria. Tirei a sujeira e a grama dos cabelos e do corpo, e acabei tirando o curativo da bochecha . Só agora havia percebido o quanto eu estava exausta e não poderia fazer nada neste momento. Saí da água e me vesti. Eu estava confortável naquela roupa.
Abri a porta e dei de cara com um ser indesejado. Meu Deus, por que o Senhor ainda me coloca na frente desse estropício? Olhei para o garoto, que me olhava de cima a baixo e sorria maliciosamente.
– É... Não há como negar.- Olhou para mim com o olhar desafiador.- Você até que esta bonita.
– Anda logo. O que você quer, Gally?
– Nada. Vim apenas ver o que uma donzela tããão formosa como você esta fazendo acordada à essa hora da noite.
– Não te interessa, senhor feiura.- Olhou para mim com um sorriso maldoso. Dava até calafrios, mas resolvi não demonstrar.- Vai dormir, vai.
– Vamos, Katharina. Apenas me responda.
– Apenas acordei e resolvi tomar um banho.- Ele me olhou com aquela cara de quem sabe que é mentira e eu fiz uma expressão indiferente.
– Vamos, Kathie. Sei que não estava na sua rede. Eu estava lá perto, e não te vi chegar nem sair de lá.- O garoto dos cabelos pretos e nariz torto já estava começando a me irritar. Será que ele não podia dar o fora?- Quero que me fale apenas o que estava fazendo. Aliás, ninguém se corta enquanto dorme, né?
– Gally, cale essa Mértila de boca e vá cuidar da sua vida.- Tentei sair andando, mas o garoto segurou meu braço. Suspirei pesadamente e olhei para ele.- Não me interessa se você quer saber de algo, não sou eu quem vai falar. Se quiser alguma resposta, pergunte para alguém que esteja acordado também.
Soltei meu braço de suas mãos e saí andando até minha rede. O que será que o garoto queria tanto saber? A criatura parecia desesperada! Eu não contaria nada mesmo, não sei porque ele veio me perguntar algo.
Deitei na rede e olhei para cima, sem focar em nada. Minhas mãos estavam geladas, assim como o resto do meu corpo. Eu estava me sentindo gelada, como se uma camada de gelo percorresse por todo o meu corpo. Me abracei e me enrolei numa coberta que estava na ponta da rede. Era vermelha vinho e peludinha. Eu as adorava, as cobertas. Não que eu gostasse de calor, mas sim da sensação de estar no controle.
Eu já estava cansada, já havia tido um ataque de pânico e não estava tão sã quanto eu queria. Eu precisava apenas de uma boa noite de sono. Minhas pálpebras foram se fechando, meu corpo amolecendo e fui perdendo a consciência e entrando no mundo dos sonhos.
...
" Era como uma televisão, e eu estava assistindo o meu passado. Sombrio e sem vida. Eu devia ter uns cinco anos ali. Estávamos em uma sala pequena e branca. O sofá de couro, também branco, abrigava umas trinta crianças. Todas encolhidas e amedrontadas.
– Bom, garotos irão se separar das garotas e iremos testar vocês.- Dizia uma loira com a voz mais fria que eu já havia visto, andava pela sala com a postura reta e as mãos atrás do corpo.- Estamos todos aqui por um bem maior. Vocês deveriam se sentir privilegiados de estarem aqui.
Aquela mulher era no mínimo demente! Ela estava falando com crianças de uns cinco anos! Pra que isso? Cara, essas crianças não deviam estar entendendo nada.
– Colocaremos nomes em vocês. E vocês os memorizarão e o aceitarão como seus verdadeiros nomes.- Ela dizia, até que seu olhar pairou sobre um loirinho e ela amoleceu. Mas logo se recompôs.- Já podem ir.
Eu passava junto com as crianças e ia embora para um pátio onde todos ficavam juntos. O pátio era uma superfície de tijolinhos em formato oval, e em volta dos tijolinhos tinha algumas arvores. Depois disso era uma grade que nos aprisionava. Alguns garotos jogavam bola, algumas garotas brincavam e riam. Mas havia um garoto, o loirinho, que estava sozinho. Estava sereno, ponderando em baixo de uma árvore. Eu -a garotinha- corri até lá, sentei-me ao seu lado e olhei para seus olhos castanhos.
– Por que não esta com as outras garotas?- Ele me perguntou.
– Porque estou aqui. E você também não esta com os outros garotos.
– É. Meu nome é Newt.
– O meu é Katt.
– Gosto mais de Kathie.
Ele segurou minha mão e deu um leve aperto. Devia ter uns sete ou oito anos. Enquanto todos estavam brincando, arranjados em grupos, estávamos ali, tentando também nos confortar."
...
Já fazia um mês que eu havia chegado. Hoje chegaria um novo (ou nova) Fedelho. Eu estava bastante ansiosa para não me chamarem mais de Fedelha. Também estava tendo muitos sonhos reveladores. Toda noite eu sonhava com novas memórias. Era interessante, e ao mesmo tempo assustador. Eu havia me lembrado de varias partes do meu passado com Newt, mas ainda não havia o perdoado. Pelo menos, não havia demonstrado isso a ele. Eu já o havia perdoado, mas estava esperando um pedido de desculpas. Sério, meu orgulho realmente precisava disso. No café da manhã, sempre nos encarávamos, mas nada de conversar ou se aproximar. Até Minho veio me perguntar o que havia acontecido, eu não disse nada, mas acho que ele não se contentou. Gally também havia sido picado, e começou a implicar mais ainda comigo. Se não fosse pelos garotos que o seguraram, eu não estava mais tão bem.
Nesta manhã, eu havia tomado um banho, colocado um short, uma camiseta de mangas compridas com uma frase estranha que dizia "bem louco" e um tênis preto. Já havia tomado o café e já estava na area dos Socorristas. Desde quando comecei a trabalhar como Socorrista, não parei mais. Mas eu não queria fazer isso. Eu queria estar no Labirinto, vendo as coisas na vida real, ver com meus próprios olhos se meus sonhos estavam certos. Mas algo me dizia para esperar. E eu estava crendo nesse algo. Estava na sala dos Socorristas quando escutei um barulho. Provavelmente a caixa. Sai correndo igual a uma condenada e fui ver quem havia chegado.
Estava tão em êxtase que nem vi se tinha alguém na frente. E tinha. E eu não acreditava que aquilo poderia acontecer. Bati com tudo no peitoral de Newt. Este me segurou sem nem sentir o impacto da batida. Estava com as mãos em meus braços. Ele me olhava suplicando tempo para se explicar. Lançei-lhe um olhar do tipo "conversamos depois". Eu queria realmente conversar comigo. Toda vez que eu o via, meu coração palpitava mais, e eu sempre sofria amargamente acalmando o mesmo. Newt me soltou e eu me afastei do garoto.
Outros garotos abriam a Caixa e retiravam de lá um garoto moreno com olhos azuis. Senti uma pontada de reconhecimento, mas essa logo se esvaiu de minha mente e fiquei com a curiosidade pulando em meu âmago para conhecer o garoto. Afinal, este seria o novo Fedelho. O garoto veio correndo em minha direção. Como reflexo, me afastei. Ele me encarava fixamente. Por um momento pensei que havia me reconhecido, mas depois que se virou para outro e perguntou onde estava, acabei perdendo as expectativas. Ele correu os olhos pelo Labirinto, aterrorizado, e correu mais para perto. Alguns tentaram chegar perto do garoto, mas ele corria demais e não parecia querer ser alcançado. Eu precisava tentar chamar sua atenção, ele não podia entrar no Labirinto. Alby o baniria.
Corri o mais rápido que pude. Quase alcancei o garoto, mas tropecei e acabei ralando o joelho. Minho me pegou pela cintura e me ergueu. Logo sai de seus braços e voltei a correr. A adrenalina corria tão rápido pelo meu corpo quanto eu corria atrás do garoto. Minhas pernas não faziam mais questão de chamar atenção, pois eu não as sentia mais. Mas aí o grande milagre aconteceu. Pulei em cima do garoto e o derrubei. Seitei em cima de seu abdômen e apontei o dedo em sua cara. Eu estava com raiva. Já estávamos na frente dos portões!
– Olhe bem para a minha cara! Você acha que todos aqui saímos para esse lugar?- Gritei.- Não, quase ninguém sai para fora da Clareira porque lá fora é só plong. Então nem se atreva a chegar perto desses muros!
– Katt?!
Em um pulo eu estava longe do garoto com os olhos arregalados e as mãos cobrindo a boca. Como ele sabia meu nome? Como eu não sabia o dele? Eu o conhecia?!
– Como sabe meu nome?- Perguntei assustada.
– Não sei.- Disse se levantando e passando as mãos pela roupa.
Logo alguns garotos o levaram para o Amansador. Eu estava nervosa. Não sabia como aquele garoto sabia meu nome, mas imaginei ser algo preocupante. Newt veio em minha direção e me arrastou para algum lugar mais calmo. Estávamos ma beira do riacho, com os pés descalços e na água.
– Como se sente não sendo mais a Fedelha?- Newt me perguntou um pouco retraído. Estava nervoso.- Acredite, esses dias serão melhores, bem menos sombrios, mais divertidos e tudo. Acho que o pânico maior passamos no primeiro mês.
– É, também acho.- Olhei para ele. Como não se derreter com um rostinho daquele? Os cabelos loiros caindo em ondas nos ombros, os olhos tempestuosos, tudo. Eu não aguentava mais.- Olhe, eu sei que estava brava com você e te ignorei, e te deixei chateado. E eu continuaria fazendo isso porque eu realmente acredito ter razão, mas eu realmente não aguento mais. Eu preciso de um abraço ou de um ato de carinho. Sabe o que me deu mais pânico? Foi não falar com você. O que mais me quebrou, e quebra é não falar com você. Então Newt, por favor, não me faça ficar aqui falando sozinha!
O loiro me envolveu em um abraço apertado e confortante. Eu estava me sentindo em casa. E devia estar. Então uma onda de tristeza e melancolia se passou por meu coração. Lagrimas escorreram por minha face, olhei para Newt, que me encarava com certa preocupação.
– Eu... Eu quero sair... Sair daqui, Newt. Eu quero ir para casa.- Disse em tom de frustração.- Sabe, eu sonho apenas conosco e arvores secas e desgraça e tudo de ruim!- Choraminguei rapidamente.- Por que?
– Eu não sei porquê.- Enxugava minhas lagrimas calmamente.- Sei apenas que iremos sair. E quando a gente sair, iremos nos vingar de quem nos colocou aqui. Pode ter certeza. Mas mudando de assunto, você se lembra do garoto?
– Sei lá... Tenho quase certeza de que não. Sinto apenas aquela palpitação no cérebro, dizendo que um dia já o conheci.- Disse mais calma.- Acho que vou comer...
Ele riu e se separou do abraço para se levantar e depois me ajudar. Deu uma olhada em meu joelho, que estava com o sangue já seco. Me arrastou até a enfermaria e cobriu o joelho com um curativo, depois de já ter o limpado, é claro. Fomos caminhando até o refeitório e entramos na fila. O garoto estava com Alby. Eu tinha quase certeza de que o nome dele era...
– Thomas!- Isso! Gritou Alby. Eu tinha quase certeza de que o nome do garoto era esse!- Pessoas, esse é o Thomas! Ele se lembrou!
Todos estavam eufóricos. Peguei minha comida e me sentei com alguns garotos que ei não conhecia. Newt se sentou do meu lado. Eu estava nas nuvens, pois estávamos juntos novamente. Bom, quero dizer, nunca estivemos juntos de verdade... Ou estivemos e eu não me lembro. O importante é que havia comida e eu estava com fome.
Caçarola era um ótimo cozinheiro, a única coisa que eu queria era saber o porquê de eles o chamarem de Caçarola. Qual seria seu verdadeiro nome? Será que aquele era um apelido? Também podia ser obra daquela loira diabólica, pois me lembro de tê-la ouvido dizer que eles nos dariam nomes. E talvez o de Caçarola tenha sido este. Eu já havia acabado de comer e fui levar meu prato à cozinha e encontrei Caçarola. Resolvi tirar as dúvidas.
– Ei, Caçarola.- Ele me observou sorrindo. Assentiu com se me desse permissão para continuar.- Seu nome de verdade é Caçarola?
– Ah, sei lá. Eu não me lembrei do meu nome quando cheguei, e acabei me dando bem na cozinha. Então começaram a me chamar de Caçarola.- O observei curiosa.- No começo, achei ofensivo, mas depois entendi que era um ato de carinho. Um ato de irmãos.
– Nossa...- Dei uma risada baixa.- Acho que esses garotos são legais. É preciso apenas se acostumar.
– É...- Disse pegando meu prato. Nem era para ter feito isso, acho que eu deveria ter o mínimo de responsabilidade, mas ele apenas sorriu.- Se me da licença, preciso cuidar das coisas. Tchau, Katt.
Acenei para ele e fui para algum banheiro escovar os dentes. Quando terminei tal ato, encontrei Thomas, que estava encostado em uma árvore, com os braços cruzados. Já havia saído do Amansador. Andei até o novo garoto e olhei em seus olhos azuis. Eram tempestuosos, mas ainda azuis. Senti uma pontada de reconhecimento, um incomodo na mente, que me dizia que eu o conhecia. E devia conhecer, pois ele me conhecia e isso era certo.
– Então, Thomas...- Disse cruzando os braços e apoiando o peso em uma perna.- Como sabe meu nome? Você com certeza deve ter algo melhor do que "sei lá", tenho certeza disso...
– Olhe, me escute.- Ele disse calmamente. Sua expressão demonstrava frustração, mas logo mudou para um fraco sorriso quebrado.- Eu não sei de onde te conheço, não mesmo. Mas sinto uma forte conexão, como se fossemos irmãos.
– Você é estranho. Quando sairmos daqui irei me assegurar de que não temos, ou temos, algum parentesco.- Disse brincando e ele riu. Ele parecia legal.- Então, se lembra de mais alguma coisa?
– Uma garota. Cabelos pretos, olhos azuis e pele branca. Era linda.- Seus olhos brilharam. Eu já havia visto aquela garota em algum sonho.- Não me lembro de seu nome. Isso me deixa mais do que frustrado. Sinto como se minha vida estivesse me deixando de pouco a pouco até sobrar apenas infelicidade.
– Isso passa.- Disse colocando minha mão em seu ombro.- Mês passado, eu passei pela mesma coisa que esta sentindo agora. Preciso te dizer que você realmente ficará infeliz e as coisas são realmente ruins. Mas depois melhora, e com o tempo você acostuma. Não que eu possa dar tantas informações, mas estou aqui a tempo o suficiente para lhe dizer que isso não é fácil.
O garoto pareceu entender. Assentiu e saiu andando por aí. Não o segui, afinal, não tinha nem o que fazer. Ainda estava de dia, então fui para a casa dos Socorristas.
~Algumas horas depois~
Benny havia sido picado. Eu estava atordoada. Ele estava horrível, veias saltadas, corpo branco e todos os sintomas de quem é picado. Ja havíamos dado a ele o Soro da Dor, para que sobrevivesse. Eu gostava de Benny, era um dos mais legais que eu conhecia, apesar de não ter muitas pessoas na Clareira.
Sai do lugar onde eu estava e fui observar um dos muros. Me sentei e fiquei o observando. As pequenas rachaduras, a hera predominando, a cor cinzenta. Tudo estava me chamando. Já estava escurecendo. Logo eles iriam se fechar. Senti mãos apertando meus ombros em uma forma confortável. Era Newt. Estava usando uma blusa branca de mangas curtas, que revelavam seus braços definidos, uma calça bege e um tênis preto. Se sentou ao meu lado e segurou minha cintura. Olhou para onde eu estava olhando.
– O que esta observando tanto?- Me perguntou intrigado.
– Isso...- Apontei com a cabeça.- É bizarro.
– Eu sei.- Disse afagando meus cabelos.- Mas encontraremos uma saída.
– Como? Se vocês estão fazendo as mesmas coisas...- Eu disse saindo de seus braços e fazendo pernas de indio.- Vocês não estão tentando algo novo. Estão encarando o velho como única opção!
Ouvi o barulho dos muros começando a se fecharem. Olhei para Newt, que me olhava com certa irritação. Olhei para os muros, que me pareciam tão convidativos... Aquele algo que me dizia que era errado ir para além, havia sumido. E em seu lugar havia um que me dizia para ir em frente e ignorar barreiras, para entrar e procurar algo que eu devia, mas não sabia onde estava e nem como era encontrada. Mas eu estava começando a cogitar essa ida. Dei um beijo rápido em Newt, me levantei e ele também. Me aproximei de seu ouvido. Ele já estava segurando meu braço, provavelmente já previa o que eu iria fazer.
– Eu te amo. Não importa o que aconteça, eu te amo.
Com dificuldade, me afastei de seu braço e passei pela única fresta que havia para os muros de fecharem. Quase sai espremida, mas acabei para fora da Clareira. Desmoronei no chão. E todo a coragem que habitava minha alma se esvaiu depois de eu ter percebido a cagada que eu havia feito. Agora eu estava para fora. Sem Newt. Sem conforto. Sem proteção. Lagrimas começaram a escorrer de meus olhos e comecei a enxergar tudo embaçado, mas enxuguei-as com as costas da mão e me levantei. Eu seria forte. Encontraria o que quer que fosse e voltaria bem para cá. Já estava feito.
E não tinha volta.

P.O.V's Newt

E pensei que a tortura havia acabado. Consegui me redimir e estava ao seu lado. Mas, de repente, foi levada de novo. Katharina havia entrado no Labirinto, e não havia nada mais que pudesse ser feito. Soltei um grito frustrado e cai no chão. Pequenas lagrimas escorriam de meus olhos. Ela havia ido embora, para um lugar pior. Iria ser picada. As coisas iam mudar, e Kathie iria morrer.
– Minho!- Berrei o mais alto que pude. Corri em direção a Sede, encontrando o garoto conversando com Alby.- Ela saiu! E-ela saiu para o Labirinto. Esta tudo perdido, cara. Katharina se foi.
Minho e Alby estavam com uma terrível cara de bunda, não acreditavam naquilo. Sai correndo para fora e corri para o lago. Pulei na água fria que estava sem correnteza alguma. Por que eu pulei no lago? Não faço a mínima ideia, mas não melhorou nada. Eu só estava mais frustrado por ter me molhado. Sai de lá, tomei um banho e me deitei na rede encolhido. Ela havia saído mesmo, e eu não a veria mais. E ela havia dito que me amava. Não me deu tempo de responder, nem de fazer carinho em seus cabelos sedosos. Não deu tempo de responder que eu a amava, e ela nunca saberia disso.
Pois era o fim para ela.