P.O.V's Katharina

Eu estava apavorada, ainda encostada nos muros que se fecharam. Ah, se eu tivesse pensado duas vezes. Mas esse realmente não era meu forte. Olhei ao redor. O sol ainda não havia desaparecido completamente, mas mesmo que desaparecesse, eu conseguiria ver o Labirinto. Eu precisaria explorar, ja que estava aqui. Certamente morreria. Já havia me condenado no momento em que pisei aqui, mas minha curiosidade se engrandeceu e minha vontade de entender qual é a de quem nos colocou aqui foi maior. Já que eu estou no Labirinto, não há tempo a perder.
Andei sem fazer ruído algum pelos corredores. Era como nos sonhos. Eu sabia para onde estava indo. Mas nos sonhos não haviam Verdugos, eu estava segura. Nos sonhos tudo era mais fácil. De qualquer jeito, era torcer para que nenhum Verdugo cruzasse meu caminho que daria tudo certo. Mesmo eu não sabendo o que fazer. Acelerei os passos e me deixei levar. Eu conhecia o caminho. Era só seguir pelo familiar. Acelerei o passo ao ouvir ruídos, certamente de Verdugos. Gelei ao pensar nisso. Eu já havia visto um Verdugo, e não era nada convidativo. Ouvi novamente. Os sons eram estridentes, como se arranhassem as paredes, inconformados. Virava automaticamente: Direita, esquerda, esquerda, em frente, direita, em frente, direita e assim ia. Tropecei na hera que havia jogada no chão e cai com os cotovelos para tirar o impacto da queda, mas acabou rasgando a blusa que eu usava e cortando-os. Me levantei rapidamente e continuei correndo.
Ouvi os ruídos mais perto, então troquei meu caminho, virando para outro lado. O maior erro da minha vida. Havia um Verdugo, ali, me olhando como se eu fosse carne e ele um carnívoro. E nesse caso, era. Começou a se aproximar de mim, e eu comecei a recuar. Quando estava a uma boa distancia do Verdugo, me virei e corri o mais rápido que pude. E mesmo assim, tudo estava gravado em minha mente. Passei por um local onde havia hera e me escondi ali. O Verdugo passou rapidamente, com suas garras se arrastando no chão e o corpo soltando uma gosma amarela esverdeada, tipo uma gasolina. Ele passou, e sai do esconderijo. Corri novamente em direção ao centro, acreditava eu. Corri até chegar em um lugar onde não havia nada alem de um penhasco. As pedras caíam de lá facilmente, aumentando a cautela para com o lugar. Cheguei mais perto do lugar e olhei para baixo. Uma névoa densa predominava certa parte do penhasco, o deixando mais intrigante. E, de repente, uma luz em forma de quadrado brilhou fracamente. Pulei para trás. Como era possível? Era um penhasco, não deveria estar aqui. Para que um penhasco? Porque né... E brilhou novamente. Ouvi novamente os barulhos que as criaturas nojentas faziam. Ondas de pânico passaram por todo meu corpo. Eu não podia deixar as coisas ali, naquele momento. Peguei uma pequena pedra cinzenta que havia ali e joguei em direção ao buraco brilhante.
Sons mais próximos me interromperam de novo. Mas não antes de eu perceber que a pedra não terminou de fazer seu caminho, apenas desapareceu. Eram cinco Verdugos, e estavam a todo vapor. Avançando loucamente até mim. Pensei em algo para joga-los penhasco abaixo. Então, entrei na frente dos Verdugos e chamei sua atenção. O primeiro preparou suas garras, seguido dos outros, e veio em minha direção. Quando estava quase me pegando, me joguei para o lado e rolei naquela fuligem até os muros que haviam ao lado do penhasco. Senti minha barriga arder. O Verdugo havia conseguido rasgar um bom pedaço da minha camiseta, fazendo também um corte em minha barriga. E em compensação, os Verdugos estavam caindo. Quando os cinco caíram, me aproximei e percebi que também não haviam chegado até o final do penhasco.
Me virei para sair correndo, já estava amanhecendo, mas ainda faltava. Corri por um tempo, até chegar perto dos portões. Senti um forte empurrão que me fez ser arremessada contra um muro, ralando braços, pernas e rosto. Um Verdugo corria furiosamente em minha direção. Observei um dos muros mudando perto dali, e pensei em uma tática para esmagar o Verdugo. Quando ele estava perto, passei por baixo do monstro e corri até o muro. Atraí o Verdugo e corri o mais rápido que pude para não ser esmagada. A sorte foi apenas minha, pois o Verdugo realmente se deu mal. O corpo agora estava esmagado e as tripas mecânicas e não mecânicas saiam para fora do corpo. Notei que havia um brilho em uma das partes do Verdugo. Contra gosto, peguei a coisa gosmenta e a limpei na camiseta, bem, pelo menos no que sobrou dela. Eu estava acabada. Estava de todas as formas possíveis, detonada. Quando terminei de limpar, percebi que a sigla CRUEL estava presente na parte mecânica. Olhei ao redor, percebi que estava longe da Clareira. Depois que o muro que esmagou o Verdugo se fechou, automaticamente acabei longe. Mas precisaria chegar até lá.
Corri desesperadamente em direção ao grande Refugio. Eu sentia o sangue escorrer da minha barriga, mas me recusava a parar. Ja havia conseguido passar a noite. Ja havia conseguido algo sobre os Verdugos e já tinha visto algo de estranho no penhasco. Não podia parar agora. Continuei correndo. Eu não sei como, nem de onde, mas um bloco gigante de pedra estava onde não deveria estar e eu trombei com ele, batendo minha canela. Me contorci de dor e gritei. Como doía! Canelas não deveriam existir! Me levantei relutante e olhei para o bloco. Era apenas um bloco que dizia "Catástrofe Ruina Universal: Experimento Letal". Achei estranho, mas formava CRUEL. Pensei em ter acontecido algo ao mundo para ter esse nome. Curiosidade predominava meu corpo. Mas nada superava a dor que eu estava sentindo.
Os portões já deveriam ter se aberto, então continuei correndo pelo Labirinto, cujo eu havia conseguido passar uma noite. Levei comigo o pedaço do Verdugo. Quando cheguei na frente dos muros, percebi que não era o mesmo pelo qual eu havia entrado. Nem precisava, era um portão e estava bom. Avistei Thomas encostado no muro, mordendo uma maçã verde. Arregalou os olhos quando me viu e correu para me ajudar. Eu devia estar horrível. Mancando, roupas rasgadas, cortes, roxos, ralados e tudo que se pode imaginar. Thomas me pegou no colo e correu para dentro da Clareira.
– O que aconteceu, Katt?- Me perguntou aflito.
– Verdugos... Caixas... Garras... Penhasco...- Disse arfando cansada. Encostei minha cabeça em seu ombro e fechei meus olhos, que estavam cheios d'água pela dor que eu estava sentindo.- Espero que tenha valido a pena. Não entre lá, Tommy. É o lugar mais horrível que um ser humano ja pode criar.
Meus olhos foram se fechando novamente, e eu apenas escutava Tommy me mandando não dormir. Eu gostava do nome Tommy. Era mais familiar para mim. A voz dele começou a ficar mais longínqua, e cai em sono profundo.

P.O.V's Newt

Acordei desconsolado. Eu ainda não acreditava que ela realmente havia feito isso. Eu precisava dela, e ela havia entrado no Labirinto. Eu não a culpava, ela precisava entender coisas. Mas essa definitivamente não foi uma boa maneira de descobrir algo. Não quando se tem uma sentença de morte.
O refeitório estava quieto, todos estavam de luto. Todos estavam desconsolados, assim como eu. Mas ninguém sentia tanto quanto eu. Ninguém nunca iria sentir. Eu nem comi, apenas me sentei e enfiei a cabeça entre as mãos. Minho veio se sentar ao meu lado.
– O que ta acontecendo, cara? Você não comeu nada depois que ela entrou, nem fez nada.- Olhei para ele com raiva.- Ta, eu sei que a Katt vai fazer muita falta. Mas a vida continua!
– Você não entende, Minho!- Disse em um tom de voz derrotado.- Ela era mais do que uma amiga para mim, ela era o que me alegrava aqui. Não que eu não tenha amigos na Clareira, mas nenhum pode substituir Katharina. Porque ela não era só uma amiga...
– Newt!- Berrou Clint correndo até mim. Suas roupas estavam sujas de sangue e terra.- Finalmente temos alguém que sobreviveu!
– O que?!- Falei alterando a voz e pulando da cadeira.- Como assim sobreviveu? Quem sobreviveu?
– A garota! Thomas chegou carregando ela e disse que a viu chegando... Mas ela não esta muito bem, perdeu muito sangue...
Deixei o garoto falando sozinho e corri até a ala dos Socorristas. Meu coração batia tanto que eu acho que ele ia sair para fora. Ela esta aqui, de volta. Segura. Entrei na pequena casa que havia ali e a encontrei deitada na maca. Estava pior do que quando chegou aqui. O corpo cheio de cortes e hematomas. O lençol cobria a maior parte do corpo da garota, mas só o que dava para ver, ja era o suficiente. Do lado da cama havia um mecanismo estranho, com a sigla CRUEL. Ele piscava e emitia um barulho, como se estivesse rastreando algo. Clint chegou um pouco depois.
– Ja a limpamos e fizemos os curativos, mas temos que deixa-la descansar.- Olhou para mim sorrindo.- Afinal, não é sempre que alguém sobrevive a uma noite no Labirinto. Ela tem muita sorte. Ainda esta dormindo, mas logo acorda.
– Ah, okay.- Disse e ele saiu da sala.
Cheguei mais perto da garota e peguei sua mão, dando um leve aperto. Uma sensação de ja ter feito isso se passou pela minha mente. Ela dormia serenamente, como se nada houvesse acontecido. Dormia como um anjo que caiu do céu por engano. Os cabelos ruivo emaranhados, caindo para fora da maca de tão grandes. Ainda eram sedosos. Passei a mão por seus cabelos.
– Você não me deu tempo de te responder...- Disse para ela, mesmo dormindo.- Sabe o quanto eu iria me condenar? Não dizer que eu te amo?
Ri um pouco do que eu disse. Observei mais a garota. Como eu gostaria de ver seus olhos amendoados agora. E, como se fosse um desejo realizado, ela os abriu. Devagar, começou a fazer caretas. Olhou para mim e sorriu. Levantou com dificuldade a mão e passou em meus cabelos.
– Faz quanto tempo que você não corta esse cabelo?- Disse com a voz sonolenta e eu ri.
– Não sei.- Olhei para ela e sorri amargamente.- Eu também te amo. Fiquei com medo de que morresse. Serio, as chances eram muito grandes. Você sabia que foi a primeira a sobreviver la fora?
Ela assentiu. Tentou se levantar, mas olhou para o lençol, suspirou e se deixou cair. Fez um biquinho e olhou para mim.
– Ja posso sair daqui?- Perguntou impaciente. Balancei a cabeça, negando. Ela suspirou e me olhou brava.- É serio, eu estou bem!
Suspirei e peguei uma muda de roupas da garota. Coloquei em cima da cama e perguntei se ela queria ajuda. Ela negou envergonhada e me expulsou do lugar. Disse para eu manter a porta fechada.
E me veio à cabeça, o jeito que não consigo ficar sem ela.

P.O.V's Katharina

Ele estava feliz. Eu estava viva. Newt estava comigo. O enxotei para poder trocar de roupa. Me levantei com dificuldade. Newt não sabia mesmo escolher roupas! Não tinham nada a ver. Uma regata amarela com estampa verde e um short vermelho com as pontas desfiadas. Junto com um tênis cinza. Coloquei as roupas e fui para a porta. Eu conseguia andar, porque, pelo menos, meus pés estavam bem. E isso já era muito bom. Abri a porta e vi que Newt estava apoiado em uma árvore a três metros de onde eu estava.
– Newt, querido, você é daltônico?- Perguntei sarcasticamente e ri. Ele me acompanhou.- Tenho certeza de que você só não se veste assim porque essas cores não estão disponíveis para garotos.
– Pois é, Kathie.- Ele disse fazendo uma voz fininha. Eu ri igual a uma idiota.- Acho que irei mandar em um bilhete pela Caixa que quero uma dessas também.
– Para com isso!- Eu disse rindo. Meu estômago se remexeu.- Eu estou com fome, vamos comer! Vem.
Eu estava machucada, mas era tudo superficial. Então eu iria fazer tudo o que precisava. Antes de deixar o local, me lembrei do dispositivo que havia no Verdugo. Dei um gritinho e voltei para a casinha. Peguei o treco esquisito e balancei para que Newt visse. Este concordou. E mudamos nosso rumo para a Sede.
– Clint disse que você precisava descansar...- Ele olhou para mim. Eu neguei com a cabeça.- Mas você precisa...
– Não preciso não. Você esta me vendo cansada?- Ele ia responder, mas o cortei já sabendo a resposta.- Não, eu não estou cansada. Portanto, iremos resolver isso.
Sai andando mais rápido. Abri a porta da Sede, assustando a todos que estavam lá. Minho correu para me abraçar. Nós nos aproximamos bastante desde que cheguei aqui. Minho só parecia durão, porque na verdade era um poço de mel. E, me aproximando de Minho, percebi que ele também tinha sonhos pertubadores. Falava de uma garota morena cujo nome era algo como Har-alguma-coisa. Eu não me lembrava, mas o garoto parecia ter um crush pela garota. Ele me apertava como se achasse que eu iria fugir. Me separei dele e olhei ao redor. Ainda tinha o mecanismo nas mãos. Olhei para Alby, Winston e toda a galera que estava na Sede na última vez que estive aqui, para decidir onde eu trabalharia. Alby se levantou.
– Bom, estamos aqui para decidir o que fazer com Katharina. Esta, por sua vez, entrou no Labirinto.- Olhou para mim intrigado.- Bem, Katharina, pode começar a dizer porque entrou no Labirinto.
Meu coração parou. Eu estava gelada, estava nervosa. Mas não podia deixar que percebessem isso. Me sentei no lugar onde mandaram e pigarreei.
– Na verdade, eu não sei dizer que impulso me levou a entrar no Labirinto. Mas não havia volta. Primeiro, encontrei um Verdugo, mas consegui despista-lo. Então corri até chegar a um penhasco, era como se eu conhecesse o caminho. Estava na minha memória. Quando fui observar melhor o penhasco, vi que tinha um quadrado que brilhava fracamente, mas dava para ver. Então vieram cinco Verdugos de uma vez só.- Olharam pra mim intrigados.- O que me levou a perceber que são burros e agem ridiculamente, pois quando consegui fazer um se jogar do penhasco, os outros foram juntos. Quando já estava voltando, esbarrei com uma caixa que não deveria estar naquele lugar. Acredito que nenhum de vocês tenha visto, e talvez tenha algo dentro, mas não é possível abrir sem alguma ferramenta de força bruta.- Por fim olhei para minhas mãos, que seguravam o mecanismo e me lembrei do último Verdugo.- Ah, e antes da caixa.- Balancei o mecanismo.- Tive mais um encontro com um Verdugo. Mas esse deu para esmagar com um muro que estava mudando de posição. Esse treco estava piscando e achei melhor traze-lo para cá. Pode ser alguma chave de comando ou algo do tipo.
– Bem. Isso pode nos ajudar tanto quanto pode não fazer nada. Mas acredito que você deva ficar.- Olhou para todos.- Irei fazer uma votação. Quem quer que Kath fique e quem quer que ela seja banida. Minho.
Que? Alby queria que eu ficasse? Será que esse também foi picado? Ta, né.
– Eu acho que ela deve ficar. Olhem, ela conseguiu não ser picada, e ela entrou no caminho de sete Verdugos! Precisamos mais dessa braveza.
– Pode ir, Caçarola.- Disse Alby.
– Eu gosto muito da Katt e não acho que deva ser banida. Afinal, eu vejo bondade nesses olhos.- E sorriu para mim.
– Tudo bem. Pode ir, Winston.
– Eu acho que ela deve ser banida.- Olhou para mim.- Não tenho nada contra Katharina, apenas acho que as leis devem ser preservadas.
– Ta. Sua vez, Gally.
– Vocês não veem?! Ela esta infringindo uma regra! Só temos três, e ela esta as detonando!- Olhava raivoso para mim.- Se vocês tivessem visto o que eu vi, não estariam ai parados.
– Ta bom. Vai, Stewart.
– Acho que ela deve ficar. Katt é uma garota legal e, se ela descobriu algo, deveremos nossa fuga à ela.
– Ta. Newt.
– Desde que essa garota chegou aqui, eu venho me atrapalhando com pensamentos idiotas. Eu me lembro, mas apenas das boas lembranças, que são muitas. Eu nunca vi um garoto sequer se atrever a entrar e conseguir voltar. Apenas ela, que é uma garota! Vocês não veem? Ela é forte, se quisesse fazer algo de ruim já teria feito. E com isso,- Apontou para o mecanismo.- Podemos tentar descobrir mais coisas e estaremos mais perto de achar uma saída. Meu voto é para que ela fique.
– Ta bem... Kath, como teve gente que escolheu para que você fosse banida, você passará uma noite no Amansador. Apenas para que não fique injusto para os outros. E você continua na Clareira. Estão liberados.
Sai da Sede e fui em direção a ala dos Socorristas, precisava continuar o trabalho. Mas antes que eu pudesse entrar, escutei o barulho da Caixa subindo. Meu coração disparou. A Caixa não deveria estar subindo hoje. Corri até lá. Fui a primeira a chegar, pois os garotos estavam meio em choque. Abri a Caixa. Quase cai la para dentro quando vi o que havia dentro, mas me segurei. Era a garota. A garota de Thomas. Pulei para dentro da Caixa e me abaixei perto dela, que estava inconsciente. Todos os garotos já estavam lá, mas estavam olhando. Vi que havia um bilhete em sua mão. Abri o bilhete.
" Ela é a última."
Me assustei e li em voz alta para que todos escutassem. Pedi ajuda para tirar a garota e alguns garotos a puxaram para cima, e depois me puxaram. Eles olhavam curiosos para ela, mas Thomas observava com os olhos arregalados. Lancei um olhar do tipo "É ela?" E ele assentiu. De repente, a garota acordou e agarrou minha mão. Olhou para mim com os olhos mais azuis que eu já havia visto.
– Se preparem, porque agora tudo irá mudar!- Olhou ao redor, até encontrar Thomas.- Thomas!
E desmaiou. Seu grito saiu esganiçado, mas a voz fina da garota o deixou gracioso. Havia largado minha mão e todos olhavam para Thomas agora. Perguntavam quem era, mas ele não sabia responder, ou não queria. Me levantei e tentei pegar a garota, mas eu era fraca demais. Então Clint e Jeff trouxeram uma maca e a levaram para a enfermaria. Caminhei junto com eles, afinal, essas eram as vantagens de ser um Socorrista. Perguntei sobre Ben no caminho, e me disseram que o garoto estava no segundo andar da Sede e que sua situação era estável, mas o jeito que o garoto estava, ou seja, emocional, estava estranho. Disseram que não era o mesmo Benny. Sai de meus devaneios e os ajudei a colocar a garota na cama. Acabaram por definir que a garota estava em coma. Portanto, não havia o que fazer, e já estava na hora do almoço.
Fui até o refeitório, peguei minha comida e me sentei ao lado de Thomas, estávamos sozinhos na mesa.
– Então, era aquela a garota?- Ele olhou para mim e assentiu.
– Tem notícias sobre ela?- Perguntou colocando um pedaço de frango na boca.
– Esta em coma.- Arregalou os olhos.- Fique calmo, tenho certeza que ela irá acordar.
– Okay...- Continuou comendo.- Mas... Se você sobreviveu no Labirinto... Por que não é uma Corredora?
– Porque não é tão simples assim. Precisa de treino e tudo mais. Não sou corredora porque sou considerada fraca.- Me olhou com cara de descrença. Dei uma risada.- É serio. E acabei me acostumando como Socorrista.
Assentiu e continuamos comendo. Quando terminei, levei meu prato até a cozinha e recebi um abraço de Caçarola, dizendo que pensou que eu não ia voltar. Sorri para ele e fui embora.
– Katt!- Me virei e vi que era Clint me chamando.- Garota! Você precisa descansar, senão amanhã você não acorda de tanto cansaço!
– Mas eu estou bem.- Ele fez que não e começou a me arrastar, literalmente, para a minha rede.
– Tome.- Me deu uma garrafinha de água e um comprimido.- Beba isso... Estou esperando.
Suspirei e ele batucou o pulso, como se quisesse me apressar. Tomei o negócio e deitei na rede. Clint cobriu-me com a coberta, deu um beijo em minha testa e saiu rindo. Aquele remédio não era uma coisa legal. Eu já estava com as pálpebras pesadas, e minha respiração estava regulada. Acabei caindo no sono mais rápido do que previa.
...
"- Ele não vai te perdoar!- Eu gritava para Ava Paige.- Não vai! Olhe o que esta fazendo.
– Ele vai! Você só esta desesperada porque também vai para lá, só que para a outra!- Olhou para os homens que estavam nos escoltando.- Levem-na para a sala do Dissipador!
– Depois de tudo o que fez, ele não vai te perdoar! Não adianta me colocar longe dele, não sou eu quem esta colocando essas ideias na cabeça dele!
Eu já havia cortado meu pé por causa dos cacos de vidro no chão. A loira avançou em mim e deu uma pancada em meu ombro com a arma que segurava. Gemi de dor. Ela riu e pegou em meu rosto.
– Querida, estou fazendo isso pelo futuro.- Olhou para Jason (Eu particularmente, nas conversas mal sucedidas o chamava de homem-rato), que estava no outro canto da sala, e o mesmo assentiu.- Você vai para a Clareira dele sim, isso não mudará nada. Aliás, podemos faze-la de cobaia para novas Variáveis. Isso mesmo! Esta decidido. Levem-na para a sala do Dissipador, agora mesmo! Não esperem mais!
– Não adianta! Ele não irá te perdoar! Que tipo de mãe é essa?- Eu gritava enquanto me arrastavam.- Você o abandonou! Ele me contou. Ele me ama. Não adianta negar. Eu não irei me esquecer. Disso não..."
– Kathie!- Newt estava me chacoalhando.
– Hã?- Disse esfregando os olhos.- Que horas são?
– Já esta de noite! Você perdeu uma serie de acontecimentos. E por conta disso não tem mais Amansador para você.- Ele disse rindo. E depois ficou sério.
– O que aconteceu?- Perguntei preocupada por conta de sua expressão.
– Benny atacou Thomas, após sair da Sede, alegando que ele era o culpado disto tudo, junto com a garota... E você.- Olhou para mim triste e continuou.- E Alby o baniu.
– Como assim baniu?- Perguntei alterada, ele olhou para os muros.- Quer dizer que... Esta proibido de entrar na Clareira?
– Sim.- Lágrimas escorriam de meus olhos. Ben era um bom amigo. É claro, antes de ser picado, mas ainda assim, não posso dizer que não era. Newt me abraçou.- Nem todos tem a mesma capacidade e sorte que você, Kathie. Ben podia até ser um Corredor, mas isso não adianta quando se esta lá fora. Você foi a única que sobreviveu, e não é uma Corredora.
– Sonhei com Ava Paige... Eu ia para a outra Clareira, Newt.- Ele me olhou surpreso.- Não, eu não sei qual é. Mas imagino que seja algo parecido.
– Ava Paige... Eu já escutei esse nome. Eu quase me lembro...- Ele me olhou. E fiz a conhecida cara de fome. Ele riu.- Okay, nós vamos comer. Mas não acho que vá ter gente no refeitório, já esta bem tarde.
Assenti e fomos até lá. Peguei apenas um iogurte e um pote de morangos e me sentei na mesa. Então foi assim que me machuquei antes de vir para cá. Não imagino que muitas pessoas tenham discutido com a loira, afinal, era a mesma do sonho em que ela nos deu nomes. Newt acariciava meus cabelos enquanto eu comia. Era engraçado o jeito como o garoto gostava das madeixas ruivas que eu tinha. Dei risada e ele questionou o que havia de errado. E me lembrei de seus cabelos.
– Vamos cortar seu cabelo!- Me levantei da mesa e ele fez uma careta.- Vamos, Newt!- Disse fazendo um biquinho.
– Ta bom. Mas se fizer merda com meu cabelo eu juro que te deixo pendurada em uma árvore qualquer!- Eu ri e assenti.- Então vamos.
Fomos para a Sede e ele me entregou uma tesoura. Comecei a aparar seu fios dourados. Acabou que ficou bom. Não ficou curto, o deixei até com franjas. Havia ficado mais lindo ainda. Ele estava sentado em uma cadeira. Dei a volta e comecei a distribuir selinhos por seu rosto.
– Ficou lindo, viu? Não precisa me pendurar em árvore nenhuma.- Dei risada e ele riu também.- Ficou legal.
– Se amanhã, um bando de trolhos rirem de mim, você já espere seu trágico final. Em cima da árvore.- Assenti.- Agora você vai dormir mais, porque ainda estou vendo marcas na sua bochecha.
– E o que isso tem a ver?- Perguntei ainda rindo.
– Tem a ver que isso- Colocou a mão no lugar onde eu havia cortado minha barriga e deu um leve aperto, mas sem machucar. Encontrei seus olhos me observando intensamente.- Não vai se curar se isso- Passou a mão por minha bochecha, que estava ralada. Um simples toque.- Não estiver curado. Venha.
Ele pegou em minha mão e me levou até a rede. Apertou minha cintura e me beijou ternamente. Coloquei minha mão em sua nuca, passando-a por seus cabelos. Nos separamos por falta de ar, e olhei para seus olhos tempestuosos. Ah, como eu adorava aquele cinza escuro que predominava suas obres.
– Eu te amo, sabia?- Perguntei ao loiro.- Me sinto segura perto de você.
– Eu te amo mais.- Olhei para ele.- Não tem idéia de como adoro a cor amendoada dos seus olhos. Gosto mesmo.
Dei uma pequena risada e nos separamos. Ele foi para sua rede e eu para a minha. Me enrolei na coberta felpuda e fechei meus olhos imaginado novamente o beijo. Adormeci demoradamente por conta da tarde que passei dormindo.