P.O.V's Katharina

– Katt!- Abri os olhos e observei um Minho raivoso, me chacoalhando.- Acorda! Fizemos um Conclave sobre você, e você estava ai dormindo!
– Que? Por que um Conclave?- Perguntei me levantando rapidamente da rede.
– Bem...- Ele deu uma leve risada e passou as mãos pela nuca.- Como você passou a noite lá fora, e voltou, Alby achou que precisávamos de você como Corredora... E no Conclave, decidimos que começaria hoje mesmo.
– Vocês só se esqueceram de me perguntar o que EU QUERIA, não?- Minho assentiu lentamente.- De qualquer forma, começar hoja esta bom para mim.
Minho me tirou do chão e me rodopiou em um abraço. Dei uma risada e fui tomar um banho. Eu queria ser uma Corredora mesmo, mas nao pensei que iria ser nessa época que eu conquistaria esse cargo. Tudo bem, até porque eles acham que eu tenho potencial. Então eu devo ter. Estávamos em um dia frio. Peguei uma calça moletom preta, um casaco canguru cinza e um tênis preto. Acho que foi o banho mais demorado da minha vida. Minho só não bateu na porta porque iria ficar constrangido. Sai do banho e coloquei a roupa que havia separado. Dei de cara com um Minho afobado.
– Será que é possível demorar mais?- Ele perguntou olhando para mim. Encolhi os ombros e sua expressão se suavizou.- Deve ser mesmo né, ruiva?- E passou as mãos por meus cabelos molhados.
Assenti e o observei melhor. Estava vestindo uma calça de moletom também, uma regata preta e um tênis de corrida. Pensei em meus cabelos, que estavam grandes demais. Tive uma idéia.
– Minho, você ja cortou cabelo?- Ele negou. Então deveria ter um garoto que sabia fazer isso melhor.- Quem sabe cortar cabelo na Clareira?
– Thales... Mas ele nunca cortou o cabelo de uma garota. Então, não se assuste se depois tiver um erro nessa cabecinha ruiva aí.- Ele disse rindo.
– Okay. Eu preciso cortar esse cabelo antes de entrar no Labirinto.- Olhei para o cabelo, que estava abaixo da cintura, muito grande. Não seria legal para correr no Labirinto.- Às vezes atrapalha, sabe?
– Não, não sei. Agora vem, vamos procurar o Thales. Eu quero entrar logo no Labirinto e com essas suas frescuras a gente não vai nunca.
Sorri e deixei que ele me arrastasse pela Clareira. Quando encontramos Thales, ele estava com uma carranca e com cara de sono. Minho o apressou, e o garoto logo começou a cortar meus cabelos. Eram mechas e mais mechas caindo. Meus cabelos ficaram um pouco abaixo do busto. Praticamente no meio das costas.
– Obrigada, Thales.- Disse sorrindo para ele.- Agora se me da licença, precisamos continuar.
O garoto assentiu e arrumou as coisas. Havia cortado meu cabelo perto do banheiro, para que eu ficasse perto do espelho. Minho me arrastou de volta para perto dos muros. Mas antes de sairmos, o asiático me deu tênis apropriados para a corrida. Me entregou uma mochila, que continha alimentos e um pouco de água, nos alongamos e partimos para o Labirinto.
Começamos a correr e Minho ia me explicando como marcar onde ja havíamos passado. Sempre cortava um pedaço de hera com um canivete que guardava no bolso. Disse também que, para ser um Corredor, a audição também deveria ser aguçada. Pois, se um Verdugo estivesse por perto, uma pessoa com a audição melhor escutaria mais rápido. Corremos por um tempo na mesma velocidade. Sem oscilar. Minho me parou e desacelerou também.
– Então, já estamos meio que no centro.- Olhou para cima arfando. Depois desviou seu olhar para mim, sério.- Preciso que encontre o local onde viu a Caixa, precisamos ver o que tem nela, se é que há algo nela.
– Tudo bem.- Fechei os olhos e respirei fundo.- Consigo me lembrar. Vamos.
Depois disso, comecei a controlar para onde íamos, virando conforme minha mente mandava. Logo estávamos em frente à Caixa, a observando. Cheguei mais perto, me ajoelhei e a observei com mais calma. Era cinzenta, mas havia um pequeno vão que deixava visível que podia ser aberta. Na tampa, havia o símbolo CRUEL, só que não estava abreviado, então era "Catástrofe Ruina Universal: Experimento Letal". Minho olhou para mim, se abaixou e tirou da mala um pé de cabra pequeno. Se posicionou para abrir e tentou por varias vezes, até conseguir.
Quando abriu a caixa, arregalou os olhos e olhou para mim. Me aproximei da caixa e vi que havia um dispositivo quadrado e de bom tamanho. Nem muito grande, nem muito pequeno. Vinha com algumas instruções de uso e um bilhete.
"Esperamos que vocês entendam, que isso nada mais é, do que uma ajuda para que saiam daqui.
Boa sorte e pensem direito em suas escolhas. Lembrem-se de quem, ou melhor, do que é o maior inimigo de vocês."
Olhei para o asiático, que fez um gesto para irmos embora. E foi o que fizemos. Corremos em um ritmo uniforme, mas um pouco acelerado. Estávamos assustados por com do que havíamos achado. Nao era todo dia que se encontrava uma caixa no meio de um Labirinto. Afinal, não era todo dia que se estava em um Labirinto. Na verdade, não era todo dia que adolescentes e crianças eram colocados dentro de um lugar para coexistir com criaturas nojentas como os Verdugos. Nada daquele tipo acontecia normalmente. Mas a verdade, é que nada, nunca, de maneira alguma, vai ser normal. Disso já sabíamos. Eu ainda achava estranho o CRUEL estar facilitando tanto as coisas. A pergunta era: Onde ficavam os Verdugos de dia? Será que poderiam ser desativados sem contato físico? Apenas por aparelhos...
Pensei no mecanismo que eu havia pegado de um deles... Então era esse o motivo de terem mandado o negócio que me lembrava a palavra touch! Acho que, se ligássemos e tentássemos conectar ao mecanismo piscante, poderíamos obter algum dado que nos ajudasse a sair daqui. Era um idéia boa, mas eu não falaria para Minho agora, pois estávamos correndo e seria difícil recuperar o folego falando.
Quando chegamos à Clareira, fomos até a casa dos mapas, pois na Sede mais gente poderia estar la. E se tinha uma coisa que eu havia aprendido, era que, quanto menos pessoas sabendo o que realmente estava rolando, melhor. O aparelho havia vindo com um carregador. Minho observou com curiosidade. Parecia nao ter a menor ideia do que aquilo era. Então, tirei de suas mãos, e, instintivamente, apertei um botão que havia na parte de cima. A tela se iluminou e um símbolo estranho apareceu, e logo de pois uma tela que dava instruções de como desbloquear. Passei o dedo, deslizando para que desbloqueasse e a tela mudou de novo, indo para uma tela com varias coisas escritas.
O aparelho touch dava informações diversas sobre varias partes da Clareira e como funcionavam. Até chegar em uma parte que estava sublinhada em um tom cinza, que dizia algo sobre Verdugos.
" De: Chanceler Ava Paige
Para: CRUEL
Bom dia, equipe. Com sucesso, terminamos o projeto V1. As criaturas já estão prontas para aniquilar tudo que se atrever a sair do lugar combinado. Mas, é claro, nossos objetivos não são mante-los lá para sempre. Apenas tempo o bastante para perceberem o quão importante são e o que devem fazer.
As criaturas são resistentes ao fogo e água. Mas também tem pontos fracos. Como na parte próxima à cabeça. Apenas um golpe certeiro pode desativa-los. Estou lhes passando essa informação para que não se machuquem na colocação das criaturas no Labirinto. Acho que esse grupo terá menos potencial do que o outro.
Espero que descubram logo o propósito de tudo."
Mostrei para Minho, que leu atento e fazendo caretas. Logo que terminou de ler, apagou o dispositivo e suspirou, passando as mãos pelos cabelos. Olhou para mim e deu um leve sorriso. Entregou a tela para mim e colocou a mão em meus cabelos. Deu uma leve risada.
– Ficou legal. Sério.- Me deu um abraço e olhou para o dispositivo.- Temos que mostrar a Alby e Newt.
– Tudo bem. Ja estou indo mostrar para Newt.- Minho sorriu maliciosamente. Dei risada.- Sério! Para com isso!
– Nem vem que eu vi vocês dois num amasso!- Arregalei meus olhos e corei. Minho riu e colocou as mãos em minhas bochechas.- Nem fique assim tão corada. Eu nem tinha visto nada, sua magrela. Mas agora você me deu uma resposta bem concreta do que aconteceu.
Dei um empurrão no asiático e fui procurar Newt. Eu sei que já havíamos nos beijado e tudo, mas nunca havia falar nada para ninguém, ninguém mesmo. Porque Minho havia se tornado um grande amigo para mim. E eu realmente pretendia contar para ele sobre isso. Se eu fosse contar para alguém. Não acho que os garotos aceitariam isso tão bem, mas também não vejo razão para não aceitarem. Na verdade, meu coração ansiava pelo dia em que iríamos andar por aí de mãos dadas.
Saí de meus devaneios e vi o loiro na horta. Sua expressão parecia relaxada. Os cabelos loiros, agora curtos, brilhavam. Os músculos apareciam pela camiseta de mangas curtas. Eu me julgaria idiota se não o achasse lindo. Que garota não o acharia? Newt era, de fato, bonito. Cheguei mais perto dele, que estava distraído, e passei a mão por seus cabelos loiros. Ele puxou meus braços, fazendo com que a tela caísse na grama, mas não importava. Segurou meus braços com uma mão, os prensando no pilar de madeira que havia na horta e mordendo minha orelha. Soltei um gritinho e ele riu.
– Achei que estivesse distraído!- Disse fazendo biquinho. Ele me deu um selinho, arregalei meus olhos, corando. Podia ter gente vendo!
– Ficou tão fofa!- Disse rindo. Seu sorriso era mais do que perfeito.- Nenhum garoto passa as mãos pelos cabelos do outro, então deduzi que havia sido você. Então, esta tudo bem?
– Na verdade não... Ja te contei de que quando estava no Labirinto tropecei em uma caixa, não?- Ele assentiu soltando meus braços.- Então, encontrei uma coisa lá dentro...
Procurei com os olhos o negócio e vi que estava jogado no chão ainda. Me agachei e o peguei. Abri e entrei na parte dos Verdugos. Newt rapidamente o leu e olhou para mim com cara de quem entendeu tudo.
– Lembra do dia em que o Verdugo apareceu?- Me perguntou passando a mão por meu rosto. Assenti.- Consegui o desligar. E isso explica bastante coisa, ruiva. Seu cabelo ficou legal. Mas eu gostava mais das grandes madeixas.
– Para com isso. Cortei porque precisava!- Ele passou as mãos por meus cabelos. Passou os dedos por minha nuca, coisa que me fez arrepiar.- Precisamos mostrar para Alby.
– Esqueça Alby agora.
Deixou o dispositivo na grama e me puxou para dentro da floresta. Passou a mão por minha cintura e me beijou. Coloquei as mãos em sua nuca e puxei seus cabelos, recebendo em troca uma mordida no lábio inferior. Me senti prensada em uma árvore. O loiro me beijava intensamente, e eu correspondia do mesmo modo. Pegou em minha perna e puxou para si. Minhas pernas acabaram em volta de sua cintura e ele me segurando pelas mesmas. Sorri, parei o beijo e lhe dei um selinho, afinal, não podíamos esquecer das coisas ao nosso redor.
– Não podemos nos esquecer de onde estamos, meu loiro.- Disse colocando minhas pernas no chão novamente.
– De boa, ruivinha.- Disse rindo e me dando mais um selinho.
Me desvencilhei de suas mãos e saí da floresta, pegando o dispositivo e procurando por Alby. Quando o encontrei, o moreno estava na Sede arrumando algumas coisas. Logo mostrei a ele as informações, e o mesmo ficou bastante confuso sobre onde havíamos achado. Mas consegui explicar.
– Bem, já temos essa informação agora, mas de que adianta?- Olhei indignada para ele. Como assim de que adianta?
– Adianta muito! Temos algo que nos ajude a derrota-los, não é bom?- Alby olhou para mim inexpressivo. Suspirei e sai da Sede, levando comigo o dispositivo.
Os garotos já haviam almoçado. Eu ainda não havia entendido o porquê de Minho e os outros precisarem de mim para encontrar. Tudo bem que eles demorariam para encontra-la sem minha ajuda e... É, eu havia entendido. Andei até o refeitório e vi que alguns garotos ainda olhavam para mim assustados. Encolhi meus ombros e peguei um pouco de comida. Me sentei sozinha em uma mesa e senti alguém apertar minhas bochechas. Automaticamente um lembrança atravessou minha mente.
" Thomas apertava minhas bochechas de uma fora carinhosa, mas eu achava ridículo. Ele estava com nove anos, e eu com sete. Eu tentava tirar as mãos dele de minhas bochechas, inutilmente. Estávamos em um quarto com várias camas.
– Para com isso, Tommy!- Eu pedia emburrada.
– Com essa carranca no lugar de rosto não dá.- Ele disse e começou a fazer cócegas em mim.
Eu ria como uma idiota. Tentava tirar o garoto de perto de mim. Quando ele parou, sorriu ao ver que eu também sorria.
– Por que ela nos deixou?- Perguntei a ele, tristemente.
– Não sei.- Suspirou e me abraçou.- Mas lembre-se de que sempre, sempre mesmo, estarei com você.
E deu um beijo em minha testa."
– Tommy!- Disse rindo e tirando suas mãos de minhas bochechas. O garoto se sentou ao meu lado.- É sério.
– Cara, tudo que eu faço, é pra tirar essa carranca da sua cara.- Ele riu.
Dei risada e comi a comida. Logo depois fui ao banheiro mais próximo enxaguar os dentes. Escutei um barulho estranho vindo do lado de fora. Saí para ver o que era. Um aglomerado de garotos olhava para cima no centro da Clareira. Olhei também e vi que havia um helicóptero. Senti alguém me imobilizar e soltei um grito.
– Quietinha...- Percebi que era uma voz adulta. Não era um Clareano.
Soltava gritos abafados por causa da mordaça que ele havia colocado na minha boca. Vi que ele tinha uma arma grande e esquisita com ele. Os garotos ja estavam correndo em minha direção quando o cara atirou em uma árvore e ela literalmente sumiu. Desmaterializou.
– Olhem aqui, seus estúpidos! Cheguem perto e pulverizo a amiguinha de vocês.- Ele segurava meus braços atrás do meu corpo com força.
Os garotos foram se afastando. Newt chegou correndo raivoso, mas Minho o parou e explicou o que estava havendo. Ele olhou para mim com medo. O helicóptero estava se aproximando de nós. Uma plataforma descia para a terra e o homem se aproximava. Comecei a me debater loucamente tentando me soltar. Ele amarrou minhas mãos em uma algema e puxou meus cabelos com força, fazendo lagrimas caírem involuntariamente. Tirou a mordaça e me deixou gritar.
– Me solte!- Eu gritava raivosamente.- Mas que bosta!
A plataforma chegou e ele me enxotou para cima. Quando chegamos ao helicóptero fui jogada no chão frio e cinzento. Saí para a borda e comecei a gritar o nome dos garotos. Eles estavam em pânico, mas nada que eles possuíam iria me ajudar. A ultima coisa que eu vi, foram os olhos amedrontados de Newt. A plataforma se fechou e eu cai no chão, chorando.
– Olá, Katt!- Ava Paige, que estava sentada em uma poltrona, me olhava sorrindo.- Que bom que conseguimos, achei que iria ser mais difícil.
– Sua desgraçada!- Gritei o mais alto possível. Parti para cima da mulher, mas os guardas nos separaram.- O que quer de mim?!
– Nada que você não possa me dar... Daqui em diante nossas pesquisas vão ficar interessantes...