Prólogo

Quatro anos e meio, ele pensou.

Quatro anos e meio que ele não pisava naquele lugar, que ele não via os barcos aportados, nem a linha do trem cruzando a cidade pequena com todo o tipo de gente.

Quatro anos e meio que ele não colocava os pés em Levittown.

Não que tivesse sido escolha sua, mas se precisasse escolher, não teria voltado tão cedo. Gostava dali, mas querer comparar Levittown a Londres era muito insano. Não havia o que comparar, nem como.

Londres era o paraíso.

Levittown era o inferno.

Ajeitou a forma pequena no banco traseiro do carro, vendo a paisagem passar corrida pelo vidro enquanto seus pais conversavam animados sobre como a volta para a vizinhança seria divertida. Todos ficariam surpresos, porque não avisaram a ninguém que estavam de volta ao país, só aos parentes, o que na opinião de John, não era nem um pouco vantajoso. Tinha muitas lembranças dos parentes de Long Island, muitas lembranças das pessoas, mas gostava de se lembrar de uma pessoa em especial.

Jesse Lacey.

Jesse e ele haviam estudado juntos quando crianças, se conheceram aos nove anos, um ano antes de John se mudar para a Inglaterra. Faziam de tudo juntos, dormiam um na casa do outro, e passavam as férias inteiras grudados. Haviam se declarado “BFFs”, e praticamente a cidade inteira sabia disso, afinal, não era difícil ver John e Jesse estar logo atrás ou por perto, e vice-versa.

Se lembrava que pouco antes de ir embora haviam prometido se escrever e se falar direto, porque os amigos que eram inseparáveis estavam sendo cruelmente separados pelo serviço do pai de John. Trocaram endereços para cartas que nunca foram enviadas, e números de telefone para fazer telefonemas que nunca foram completados.

Aliás, John sequer se lembrou de mandar mais que um cartão de Natal depois que chegou em Londres.

Havia tanto a ser visto naquela cidade, tanto a ser comprado, tanto a ser aprendido que ele simplesmente abstraiu Jesse. Mas não era como se o outro estivesse correndo atrás dele loucamente para manterem contato.

No entanto, esperava encontrar o amigo.

Jesse ficaria surpreso ao vê-lo de volta, e quem sabe poderiam ser melhores amigos outra vez?

Suspirou, ouvindo sua irmã se mexer ao seu lado quando o carro parou em frente à casa nova. Não era nada comparado à casa antiga em que moravam, mas era mais perto do mar, e tinha um jardim adorável. E John tinha dois dias – o sábado e o domingo – para arrumar todas as caixas de coisas em seu quarto antes de começar as aulas. Ao mesmo tempo em que estava ansioso, e decidido a procurar por Jesse, estava apavorado. Odiava mudanças, odiava primeiros dias de aula, e tinha a impressão que estar começando o primeiro ano do High School em uma escola nova o tornaria o perfeito personagem de filme que sofre nas mãos dos jogadores e caras populares. Além disso, era uma pena terem voltado logo no final de agosto, afinal, o verão em Long Island era adorável, mas o outono...

E as folhas vermelhas e amarelas jogadas no jardim de entrada indicavam que a estação que ele menos gostava havia chegado mais cedo aquele ano.

Saiu do carro, traçando os olhos pela vizinhança ao seu redor, se dando conta que depois de tanto tempo fora, ele não conseguia mais se sentir parte daquilo.

Não queria nem ver como seria na escola segunda-feira.