Levittown Is For Lovers

Capítulo 5 – We’re Both Such Magnificent Liars


John queria arrancar todas as páginas do livro, chutar a cara do professor, sair gritando de ódio pela escola, explodir a cidade, e sabia que não podia. Mas podia se levantar dali e socar aquele rosto bonitinho de Jesse Lacey até não sentir mais os dedos, e isso já o faria de sentir imensamente melhor.

No entanto, se contentou em morder o lápis.

E mordia o cilindro de madeira com tanta força que sua mandíbula já estava ficando dolorida. Jogou os olhos na carteira do outro lado da sala, vendo Jesse olhar desinteressado pra lousa enquanto o professor explicava uns cálculos que ele já havia aprendido. Poderia saltar pelas três fileiras que os separavam e segurar aqueles cachinhos feios enquanto batia sua cabeça na carteira.

Adoraria ver seu rosto ensangüentado: azul e vermelho combinavam. Estava inconformado com o que havia passado há alguns minutos, quando finalmente encontraram a sala de aula de Física III.

- A sala é essa, Jesse. – disse, vendo o dos olhos azuis o fitar com desprezo, passando por ele, para olhar quem já estava lá dentro. John não sabia se ficava na porta, ou se entrava, afinal, o outro não se decidia.

- Percebi. – respondeu, frio. Saiu da sala e se encostou no corredor. John o encarou alguns segundos, sem entender realmente o que poderia estar acontecendo.

- A aula é ali dentro. – talvez ele não tivesse entendido.

- Sério? – arqueou as sobrancelhas, irônico.

John respirou fundo, começando a achar que deveria ter desistido no momento em que Adam o pediu para que o fizesse.

- Sério. – respondeu, perdendo um pouco da postura calma de antes. Jesse estava começando a atacar a sua renomada paciência, o fazendo ter pensamentos assassinos.

- Então entre, oras. – disse, olhando para o lado, vendo um grupo de alunos que John já havia notado se aproximando, deixando correr nos lábios um sorrisinho sacana. –Ficar aí parado com essa cara de bobo apaixonado por mim não vai me fazer largar a Lindsay para ficar com você. Eu não sou uma pessoa muito piedosa, perdão, Nolan.

Se John já estava com vontade de matar o infeliz que o arrastou pela escola inteira com o mapa de cabeça para baixo, os fazendo ir parar no armário de vassouras – duas vezes – ao tentar achar a sala, agora que percebeu que ele aumentou propositalmente o tom de voz para arrancar os risinhos que agora podiam ser ouvidos quando o grupo passou, agora queria poder picar todas as partes do seu corpo com um alicate de cortar unhas da sua irmã. O grupo passou por eles, lançando olhares furtivos a John, que se limitou a respirar fundo, contar até dez e corar até que entrassem todos na sala.

- Lacey, você está morto quando eu colocar as mãos em você! – exclamou, mas o outro apenas riu.

- Ooops! Admitir que está louco pra colocar as mãos em mim não melhora sua situação. – passou por ele, indo se sentar com o grupo de alunos que haviam acabado de chegar. John girou nos calcanhares, marchando para um lugar próximo à janela, ouvindo Jesse mencionar aos outros que “ele tem me perseguido, mas não faço idéia de quem seja”.

Grunhiu de raiva, e depois de alívio, ouvindo o sinal do fim da aula tocar. Juntou as coisas, já bastante envergonhado por simplesmente estar na presença de pessoas desconhecidas, se sentindo um tanto humilhado e exposto com o acontecimento do dia, saindo da sala sem sequer olhar para trás.

Se fosse obrigado a encarar Jesse mais uma vez, não responderia por seus atos.

Achou o hall dos armários, e parou em frente ao seu, fitando o pedaço de metal bege como se com os olhos pudesse derreter a droga da porta.

- Argh! – exclamou, apoiando a cabeça no armário, respirando fundo, tentando se acalmar enquanto o peso da mochila se tornava cada vez mais evidente em suas costas. –Fim-de-semana, cadê você? – murmurou.

- Se a causa desse seu estado for o Jesse, eu não quero saber, cara. –Adam disse ao seu lado. Gostava dele, mas não estava com humor para sermões do cunho “não diga que não te avisei” de sua parte. Sabia que ele conhecia Jesse bem melhor, que o havia namorado, e coisa e tal, mas sobre isso era John quem não queria saber.

- Adam, volta mais tarde, meu cérebro não está funcionando. – fez um gesto no ar, ao lado da cabeça. Ouviu o outro suspirar, e mãos pousando em seus ombros, retirando sua mochila, começando uma massagem em seguida.

- Relaxa. É só ficar longe dele, John. – disse.

- Eu tentei, não foi minha culpa. A Lindsay é louca. – resmungou, se contorcendo e saindo de baixo das mãos de Adam, estava tenso, e a massagem estava machucando. Abriu o armário, vendo o olhar de dúvida do outro, sacudiu negativamente a cabeça, em sinal de que não era importante.

- Falou com ela? – perguntou.

- Minha dupla em Biologia. – guardou alguns livros sem olhar Adam.

- Isso tem dedo do... – começou, mas John o interrompeu.

- Vamos esquecer ele, por favor! Ele ta fundindo a minha cabeça. – pediu, se virando de frente para ele, fechando o armário com um pouco de grosseria.

- Tudo bem. – sorriu. – Quer ir lá em casa depois da aula?

Sorriu involuntariamente.

Lógico que queria, a companhia de Adam era a única coisa boa de estar lá, e acabaria se divertindo, com certeza, e talvez pudesse esquecer um pouco a presença de Jesse em sua vida.

- Claro. – sorriu. – O Matt vai?

Adam fez sinal negativo com a cabeça.

- Ele precisa trabalhar com o pai hoje. –encolheu os ombros. – Me espere aqui quando bater o sinal, eu venho te pegar.

- Tudo bem. – acenou, vendo Adam sumir no meio das pessoas. Se virou, vendo Vinnie e o garoto ruivo vindo em sua direção, passando por ele e se virando para o olhar, rindo de algum comentário que Vinnie fez para o ruivo, o fazendo se sentir com antenas verdes. Respirou fundo e continuou seu caminho para a próxima aula, sabendo que reclamar não adiantaria nada, porque seus pais não o mandariam de volta para casa.

Riu sozinho, sacudindo a cabeça.

Queria saber quando foi que Levittown deixou de ser sua casa para que esta se tornasse Londres. Talvez estivesse reagindo mal a tudo isso, mas sentia falta de Will e Shaun, seus amigos, assim como sentiu falta de Jesse. Começava a achar que as mudanças em sua vida não eram por acaso, e que possivelmente ele precisava se acostumar, só isso.

É, era só uma questão de se acostumar.

A casa de Adam não ficava longe da escola, andaram uns dois blocos até chegar lá, e o garoto presidente do Clube AHG os acompanhou durante todo o trajeto, ele e Adam falando sem parar sobre os projetos para o Homecoming, entre outras coisas. Peter Wentz, o garoto tão obviamente gay que John viu no primeiro dia de aula, que usava lápis de olhos e pintava as unhas, e era menor que Adam, possivelmente menor que ele, era o presidente do Clube, e um Sophomore. Era divertido como Adam, arrogante como Jesse, e John não conseguia acompanhar sua linha de raciocínio que mudava a cada dois segundos.

Entendia agora porque ele e Adam estavam se dando tão bem: os dois não paravam de falar e raciocinar coisas absurdas.

Em dado momento, Pete dobrou uma esquina e Adam e ele seguiram em frente.

Adam jogou a mochila no canto do quarto, se sentando em um pufe branco, as paredes verdes cobertas de pôsteres de filmes e bandas se assemelhavam muito às do seu próprio quarto.

-Licença. – John pediu, entrando no quarto encolhido, tímido, colocando com cuidado a mochila ao lado da de Adam, que se levantou, fechando a porta. John ficou parado observando cada detalhe de cada pôster, simplesmente porque não sabia o que fazer, nem com as mãos, nem consigo mesmo. Acabou por enterrar as mãos de dedos longos dentro dos bolsos do moletom azul marinho, se limitando a observar Adam se sentar na sua frente, na beirada da cama.

-Gostou das idéias que o Pete e eu tivemos? – perguntou, dando um meio sorriso, ao que John assentiu. Não havia entendido absolutamente nada das idéias que eles tiveram. –Eu acho que vamos acabar conseguindo promover a interação dos héteros e dos homossexuais com isso, cada clube tendo que fazer um banner com o tema do outro clube, né?

-Sim, achei uma idéia interessante. – sorriu também, assentindo. Respirou fundo e se sentou ao lado de Adam, vendo Gene Kelly os observar do pôster da parede em frente a eles.

-Por que não entra pro Clube, John? – perguntou o olhando. –Você sabe que cedo ou tarde vai precisar um clube no qual se encaixar, e acho que seria perfeito você no nosso! – empurrou seu ombro com o próprio ombro, o fazendo rir fraco, tímido.

-Eu não sei, pode ser que entre. – virou o rosto devagar, encontrando os olhos de Adam, que não tinha aquele sorrisão nos lábios, estava apenas o olhando, distraído.

-Você fica muito mais bonitinho quando sorri, John. – disse.

John já havia percebido que estava flertando descaradamente com Adam, mas que o outro estava correspondendo, havia sido a primeira vez que percebia. E estavam sozinhos na casa de Adam, no quarto de Adam, e se havia algo que o fazia entrar em pânico, era isso. Não teve muitas experiências em Londres, só uma garota e um beijo em um garoto, mas só para que o outro decidisse se gostava de meninos ou meninas, o que resultou no próprio John um tanto quanto confuso a respeito de sua própria sexualidade.

Então decidiu que era bissexual.

Muito mais simples do que se perguntar todos os dias o que era, ou se condenar por ter observado o volume na calça de um garoto logo depois de ter observado com extrema atenção o decote da blusa de uma garota. Assim, poderia flertar com quem achasse interessante, não se preocupando com o que havia ou não entre as pernas do ser humano.

-Isso é um pouco estranho de se dizer, já que eu estou rindo o tempo todo que você está por perto. – disse, sentindo as bochechas corando.

É, se sentiu patético assim que as palavras saíram de sua boca, mas agora não tinha como as engolir de volta. Adam abaixou a cabeça, rindo, a franja caindo sobre os olhos.

John sabia o que tinha que fazer.

Tirou uma das mãos do bolso, sem sequer sentir o ar frio sobre sua pele de tanto que tremia, achando que provavelmente não conseguiria manter a estabilidade da mão quando tocou os fios macios do cabelo de Adam, tirando a franja de cima de seus olhos, podendo observar as duas pequenas esferas castanhas o encarando. Uma das mãos do outro pousaram em seu rosto, e ele sorriu, aproximando o rosto do de John, para em seguida roçar seus lábios entreabertos nos dele.

Tudo bem, então, já que a iniciativa quem tomou foi Adam, ele não tinha mais o que temer. Escorregou a mão para a nuca do outro, correndo os dedos pelos fios lisos no processo, puxando sua cabeça para frente, aprofundando o beijo. Adam deslizou uma mão sobre sua perna, mordendo não muito fraco o seu lábio inferior, voltando a o beijar. Sentiu a mão em sua cintura, com as pontinhas dos dedos debaixo de sua blusa, puxou Adam para mais perto de seu corpo, o deitando na cama, e se deitando por cima dele...

Não disseram nada por todo o tempo, parando os beijos pouco tempo, quando John já estava corpo de Adam sobre o seu, a cabeça descansando sobre seu peito, a mão brincando com a gola de sua camiseta.

Estava se sentindo péssimo, conhecia Adam há alguns dias e já estava deitado em seu quarto depois de passar algum tempo o beijando. Não estava, definitivamente, em seus planos ficar com alguém assim que chegasse na cidade, e Adam havia sido uma total surpresa. Observou quando ele se virou de frente para ele, se esticando para pousar os lábios sobre os seus novamente, em um selinho demorado. Não segurou o sorriso imitando o de Adam quando seus olhares cruzaram, talvez estivesse a um passo bem curto de se apaixonar.

-Quer que eu faça um lanche? – Adam perguntou, e instintivamente John olhou pela janela, vendo o céu começar a escurecer, a brisa fria de outono entrando fraca, fazendo os fiozinhos da franja de Adam ficarem jogados para o lado, cobrindo parte de seu rosto. Novamente esticou os dedos, afastando o cabelo do rosto delicado do outro.

-Não, eu preciso ir, nem avisei que não ia pra casa depois da aula. – disse, começando a se levantar junto com Adam.

-Tudo bem. – respondeu, um pouco decepcionado, John notou.

Ele calçou o tênis, se sentindo observado por Adam, mas não do modo que o deixaria desconfortável, apenas estava sendo observado. Se adiantou ao canto do quarto e pegou a mochila, jogando as alças pelos ombros magros e desengonçados, indo para a porta.

-John...? – Adam chamou. Se virou para o olhar sentado na beirada da cama, como quando chegaram. –Está tudo bem entre nós, certo? Somos amigos ainda, né?

Assentiu.

-Claro. Isso não muda nada. – Adam pareceu aliviado ao receber a resposta, e assentiu. Fechou a porta e desceu as escadas dois degraus por vez.

Tinha certeza que durante todo o trajeto para casa manteve um sorrisinho abobado no rosto, seus pensamentos não chegando nem perto de Jesse Lacey.

E isso, era o que mais o incomodaria mais tarde quando se lembrasse da existência do ex-melhor amigo.