Levittown Is For Lovers

Capítulo 4 – I Wanna Hate You So Bad...


- Eu vou estourar a cara dele! – foi o que John exclamou quando se jogou no gramado ao lado de Adam e Matt no intervalo do dia seguinte. Não conseguiu parar de pensar na frieza e no cinismo de Jesse um minuto sequer, havia dormido pouco à noite, tentando entender o que poderia estar se passando no cérebro debaixo daqueles cachinhos, irritado. Entendia que talvez Jesse estivesse bravo por ele nunca ter mandado notícias, ou por estar amigo do ex dele, mas ele não podia evitar! Não era como se tivesse se aproximado de Adam de propósito, pra comerçar, ele sequer sabia que Jesse era adepto de relacionamentos homossexuais, e não teria nem imaginado se Matt não o contasse.

- Avisei que ele era um idiota, você foi falar com ele porque quis. – disse Adam. –Mas se quiser quebrar a cara dele, eu posso ajudar.

John bufou, olhando de soslaio para o grupinho de Jesse.

A garota, Lindsay, não estava com eles no momento, Jesse estava com a cabeça no colo do ruivo, ouvindo Vinnie tocar, cantando.

- Eu achei que ele fosse me tratar bem. – disse picando um pedaço do sanduíche, o enfiando na boca.

-Ele te tratou feito lixo. – acrescentou Matt, tomando seu suco. –Agora você entende, John?

Ele assentiu. Agora entendia que Jesse não valia a grama sobre a qual estava, que era um idiota, que ser amigo dele deveria ser complexo, e que ele realmente não se importava com John e os sentimentos das pessoas.

Então decidiu que Jesse merecia uma lição.

- Já tentou se vingar, Adam? – perguntou, voltando os olhos para o garoto ao seu lado. Adam riu fraco, fixando os olhos – inconscientemente – no grupo de Jesse.

- Tantas vezes. Nenhuma deu certo. – olhou para Matt – Pensamos em pagar alguém para bater nele.

Não achava que violência fosse resolver.

- E o que mais você fez? – Picou outro pedaço. Estava destruindo o sanduíche, sentindo uma raiva absurda do garoto de olhos azuis, vendo que ele estava se divertindo com os amigos, que estava bem, sem o menor traço de peso na consciência por ter sido um babaca no dia anterior.

- Bom, você sabe como ele gosta do boletim dele cheio de notas altas, né? Eu disse para o Diretor que ele colou em todas as provas, e ele foi chamado na secretaria, teve que fazer todas as provas de novo, e... foi bem em todas, de novo. – Adam fez uma cara frustrada. –Eu tentei derrubar ele da arquibancada no jogos dos Mets, mas quem acabou sendo empurrado foi o Matt... – fez uma expressão de culpa, olhando com remorso para o amigo.

- Quarenta dias com o braço engessado. – Matt acrescentou.

- Depois, no show de talentos da escola, ele era um dos que estava tocando guitarra na banda, e eu fui tentar acertar ele com o microfone... – começou Adam, fazendo uma expressão facial pior que a anterior.

- E o microfone, misteriosamente, veio parar na minha testa. – terminou Matt. –Conclusão, o Adam é um desastre nessa coisa de vingança contra o ex.

John estava se segurando um bocado para não rir dos dois, enquanto Adam abraçava Matt, pedindo uma série de desculpas que Matt dizia ter aceito já.

- Então, eu comecei bem como amigo do Adam... – comentou, comendo um dos pedacinhos destruídos do sanduíche. Não estava com fome, mas precisava olhar para outra coisa, para ver se conseguia corar menos do que estava corando.

- Se ser amigo do Adam significa apanhar dele, bem, começou muito bem, eu diria. – disse Matt, rindo da cara que Adam estava fazendo, puro remorso.

John riu.

Não era culpa dele ser tão desastrado, acabava sendo bonitinho.

- Eu acho que eu poderia bolar uma boa vingança. – John disse baixinho quando os risos cessaram.

- Você? – perguntou Matt. –John, você é a criatura mais... mais...- Matt gesticulou no ar, tentando encontrar a palavra certa. Adam sorriu, cruzando o olhar com o de John.

- Você é a criatura mais fofa dessa escola, a pessoa mais meiga, eu duvido que você consiga fazer algum mal ao Jesse. – Adam disse sorrindo, esticando a mão para correr os dedos pelos fios castanhos do cabelo de John enquanto falava.

John corou com o contato, mas não desviou os olhos dos dele, sorriu.

- Eu posso ser bem ruim quando a intenção é defender as pessoas que eu gosto. – disse. –Além disso, o Jesse me irritou. – voltou sua atenção para o grupo cantando qualquer coisa enquanto Jesse – que já havia se levantado do colo do ruivo – tocava violão e Vinnie cantava com ele.

Quando Jesse o tratou daquela forma, ele pensou mesmo em se vingar, mas depois passou, pensou no assunto e viu que isso não era da sua conta. O problema de Adam, era de Adam, e só dele. Porém, agora, cada vez que olhava para Jesse sorrindo, a vontade de que ele estivesse chorando e pedindo perdão aumentava, e por menos que gostasse de toda essa coisa de vingança, era algo que estava crescendo dentro dele, e ele realmente precisava dar um jeito nisso.

- Acha que consegue fazer ele se sentir o lixo que é? – Adam perguntou, pousando o queixo em seu ombro direito. John o olhou de soslaio, e sorriu.

- Qual é o nome da garota mesmo? Lindsay?

Ele só queria acordar.

Acordar e ver que o pesadelo de que estava fazendo parte era só... um pesadelo. Agora, além de ter aula, ele tinha que ter uma dupla na aula de Biologia, e para variar, todos já tinham alguém com quem sentar, menos ele. Então ele ficava lá, naquela mesa grande, com os braços esticados, a cara esparramada na madeira, esperando a boa vontade de qualquer ser vivo de vir se colocar ao seu lado.

Enquanto isso, deixava os olhos se fixarem nos vidros em cima da prateleira, com cobras, aranhas, sapos e outros animais no formol, se perguntando se o feto no formol era de fato um feto, ou só uma réplica.

Ele não gostava de fetos.

Havia uma aranha estranha, também. Não era totalmente preta, tinha umas manchas amareladas, e era menos feia que as aranhas da prateleira de baixo. Um grupo de alunos passou, se dividindo em duplas nas carteiras vagas.

Nenhum sentou com ele.

Ótimo.

Muito, muito bom.

Nem queria companhia mesmo! Adorava ficar sozinho contando vidros de aranhas mortas no formol na prateleira da sala de biologia, porque era um perdedor mesmo, e não, aparentemente ninguém se importava, então...

- Posso sentar aqui? – foi uma garota quem perguntou.

Uma garota!

John ergueu os olhos cansados de cima da mesa, fitando os óculos de aro vermelho que ela usava, o cabelo marrom – não, não castanho, marrom – preso em um rabo de cavalo com a franja sobre os olhos. Tinha os ombros miúdos, os braços finos abraçando os cadernos e livros, e uma expressão facial de medo, vergonha.

- Tudo bem se não quiser, eu... – ela começou a se afastar, mas seria idiota de sua parte a deixar ir.

- Pode sentar! – disse, se ajeitando na carteira. Ela sorriu fraco, se sentou, pousando a pilha de cadernos e livros na sua frente, começando a arrumar as coisas.

- Obrigada. Eu sei que talvez você não ache muito agradável me ter por perto, e eu realmente te peço desculpas pelo comportamento do Jesse ontem, mas eu tenho certeza que ele não se lembra de você. – disse rápido o olhando, fazendo uma careta em seguida.

John imaginava que estivesse com a maior cara de nada enquanto ela falava.

- Ah, certo. – respondeu somente. Ela esticou a mão, sorrindo simpática.

- Lindsay Armstrong. –John apertou a mão da garota, sorrindo.

- John...

- ...Nolan. – completou ela, recolhendo a mão. –Eu lembro. Na verdade, eu tenho uma memória complicadíssima, eu lembro muitas coisas simples, e esqueço as complicadas.

Ele riu fraco.

- Você é a namorada do Jesse, né? – perguntou, abrindo o próprio livro, vendo a professora escrever a página na lousa.

- Sim. Da onde você tirou que conhece ele? – ela perguntou. John não estava se sentindo confortável perto dela, parecia que ela o analisava, os olhos sempre subindo e descendo por ele, sorrindo.

Ela o lembrava Adam, em alguns aspectos.

Não o de o deixar à vontade, no entanto.

- Eu o conheço! – exclamou. –Nós éramos amigos, dos nove aos dez anos, quando eu me mudei pra Londres. Acabei não escrevendo pra ele, sei lá se perdi o endereço, mas ele também nunca me procurou, sabe? – disse baixinho, se sentindo um pouco melhor por ela o estar olhando com atenção, de fato parecendo acreditar no que ele dizia. –Então, eu voltei. E resolvi procurar por ele, porque ele era a minha única ligação com esse lugar.

- E foi falar com ele ontem. – ela assentiu. –Entendi.

- Aí ele agiu daquela forma, e eu realmente não entendi nada. – encolheu os ombros, percebendo a professora entregando a cada um vidro, um algodão fedido, e um sapo dentro do vidro.

Um sapo vivo.

- Eu acho que ele não se lembra. – comentou ela quando a professora passou, cutucando o sapo dentro do vidro, suspirando. –Eu vou falar com ele, de qualquer forma.

John sorriu, tentando prestar atenção ao que a professora falava na frente da sala, qualquer coisa sobre como o líquido que tinha no algodão faria o sapo dormir por um tempo determinado, e sobre como aquilo...

Perdeu a explicação.

Um murmurinho ao seu lado o fez perder totalmente a concentração na aula, Lindsay brincava com o sapo no vidro, sorrindo e cantando...

- ...sing me to sleep, sing me to sleep...

- The Smiths. – murmurou ele sorrindo também.

- É uma banda boa. – murmurou ela em resposta. –Mas prefiro Joy Division.

John sorriu.

Jesse havia escolhido uma garota ótima para namorar, o que não justificava o que ele fez com Adam, de forma alguma, porque Adam também era ótimo. E ele gostava de pensar em Adam, de estar com ele, e não achava que fosse aceitar o que Jesse fez com tanta facilidade.

A idéia de se vingar só aumentava.

E Lindsay era a isca perfeita pra idéia que tinha.

Saíram da sala juntos, comentando sobre como não deveriam usar animais para as aulas de biologia, quando um braço surgiu sobre os ombros de Lindsay, a puxando.

- Eu odeio Inglês. – Jesse resmungou. –Eu não consegui dormir à noite, acabei dormindo na aula, levei bronca, minha vida é um inferno.

Ele definitivamente não ficaria ali presenciando aquela cena. Se virou para sair de perto, quando uma mão pequena segurou sua camiseta, o puxando de volta.

- Lembra do John? – perguntou ela, o arrastando para a frente de Jesse, a última pessoa que ele queria olhar nos olhos naquele momento. Ainda se lembrava a diferença do olhar carinhoso de quando eram crianças, e o olhar frio do dia anterior.

E o olhar confuso agora.

- Ah, sim... –Jesse soltou sem graça.

- Ele também tem Física III agora, e está super perdido na escola, coitadinho. – Lindsay mordeu o lábio inferior, ajeitando os óculos de aro vermelho sobre os olhos castanhos. –Leva ele, Jess? Você vai pra lá mesmo...

Jesse olhava de Lindsay para ele, e John estava tentando fazer sua melhor cara de “não foi idéia minha!” enquanto ele parecia ponderar entre atender à namorada e humilhar o ex-melhor amigo. Seria engraçado se John não estivesse com tanta vontade de sumir.

- Tá, eu... – e pousou aqueles olhos azuis em cima dele, o fazendo ter vontade de sair correndo dali, ou de socar Lindsay. -...levo. – completou sem emoção alguma. Deu um beijo no rosto da namorada e se virou, segurando firme o pulso de John, o puxando dali.

- Hey, isso não foi idéia minha, você pode me soltar se quiser! – exclamou enquanto Jesse o puxava pelo corredor, escapando habilmente de todos os empurrões que estavam por vir quando os alunos maiores passavam por eles, deixando que tudo se chocasse contra ele.

- Querer eu quero. – parou, o encarando. Era engraçado porque Jesse era levemente mais baixo que ele, e ficava o olhando como se quisesse que ele se sentisse amedrontado, o que funcionava parcialmente. –Mas eu não faço idéia de onde fica essa sala, e é uma classe de estudos avançados, você sabe, nenhum dos meninos está nessa aula e... – o olhou sem jeito. -...eu preciso descobrir onde fica essa sala.

Suspirou.

Então, para isso ele servia?

- Não é como se eu soubesse... – disse.

- Então vamos descobrir juntos, Nolan. – disse, voltando a o puxar pela escola, passando com ele por Adam e Matt.

Se sua vida tinha como piorar, ele não queria nem ver.