Levittown Is For Lovers

Capítulo 3 – Honestly, this is the last time that I see you


Adam havia decidido que o refeitório era um lugar barulhento demais, e que lá ele não conseguia ouvir John, porque John tinha vergonha de falar porque todos vinham perguntar se ele era o aluno de intercâmbio, e John não gostava de falar, e por isso John falava baixo. Mas Adam parecia gostar de ouvir John falando, e fazia perguntas sobre perguntas, que John respondia baixo e com poucas palavras.

John realmente não gostava de falar.

Preferia ouvir Adam falando.

Preferia gastar seu tempo observando a franja lhe cair sobre os olhos pequenos, enquanto ele gesticulava animado, contando sobre como agora contavam com quinze membros no Clube AHG, e como isso faria diferença na escola, porque finalmente poderiam ser respeitados. E falava sobre sua aula de Matemática I, e sobre Literatura I, e sobre as músicas que escutava e os jogos dos Yankees na temporada. Adam falava muito, porque Adam tinha assunto.

Matt o interrompia vez ou outra, mas Adam, no geral, falava bastante.

John se sentia a vontade para o ouvir, e ria com ele abertamente, como não fazia desde que chegou na Division Avenue High School, afinal, era como se estivesse se sentindo observado e sendo julgado o tempo todo.

- Por favor, fala alguma coisa, John, senão o Adam vai contar a vida dele todinha. – Matt pediu, se jogando no gramado, onde estavam comendo o lanche. Adam, por achar o refeitório barulhento e toda a história sobre como não conseguia ouvir John, os levou para o gramado da escola, para debaixo de uma árvore, onde John estava encostando as costas, com a bandeja no colo, picando os pedacinhos do sanduíche para comer.

- Eu vi o Jesse. – disse. –De perto. – colocou um pedacinho do sanduíche na boca, mastigando. –Eu acho que ele não se lembra de mim.

Adam girou os olhos, bufando.

- É óbvio que ele se lembra, mas ele gosta de agir como um idiota o tempo todo. Típico. – comentou.

- Você conhece ele? – John perguntou. Estava começando a ficar curioso com isso. Adam falava de Jesse como se fossem antigos conhecidos, e como se Jesse fosse um verdadeiro monstro, ele não tinha certeza do que sentia a respeito. Não queria ter que escolher um, porque tinha medo que acabaria escolhendo Adam.

Este, suspirou e se levantou ao ver um rapaz – o que John imaginou que fosse o único gay da escola, para se enganar redondamente pouco tempo depois – se aproximando e fazendo sinal para ele.

- Conheço. E tudo que eu posso dizer é que você está melhor sem ele. – olhou para o garoto e depois para John e Matt –Eu preciso ir. Estamos com um monte de planos para apresentar pro Diretor sobre o Homecoming, se não nos reunirmos agora no intervalo, não conseguimos mais. –sorriu fraco, indo atrás do garoto.

John acenou, e voltou a se concentrar em seu lanche, ouvindo Matt brincar com a caixinha de suco vazia.

- O que o Jesse fez? – perguntou, olhando Matt de soslaio. Não tinha coragem de o olhar direto e receber uma resposta grosseira, porque não, John não achava que Matt fosse terreno seguro ainda.

Mas o pequeno apenas suspirou, tristonho, se ajeitando para se sentar ao lado de John, o olhar fixo do outro lado do gramado, onde os amigos de Jesse estavam ao redor dele, enquanto seus dedos deslizavam lentos e habilidosos sobre as cordas de um violão.

- Sabe, você já entendeu sobre o Adam, né? – perguntou, sem esperar resposta. –Ele e o Jesse tiveram um acontecimento. Assim, foi no fim do ano passado, Depois do Halloween, o Adam e ele começaram a se entender, apesar de nunca terem se dado muito bem. Ele brigavam, mas não era mais aquela coisa agressiva, e o Adam entendeu que o Jesse tinha dado uma abertura pra ele, começou a tolerar que o Adam fosse...

- ...Homossexual. – terminou John, baixinho, mordendo o canudo de seu suco, já imaginando que isso não iria a nenhum lugar bom.

- Sim. Então, o Jesse, um dia, disse que sentia essa vontade estranha de ficar com meninos, e acabou que ele ficou com o Adam na festa do Brian, o judeu ali. – meneou a cabeça na direção do grupo, mesmo que John não conseguisse entender de qual ele estava falando. – E depois disso eles ficaram mais algumas vezes, e começaram a namorar. Então, um belo dia, sem mais nem menos, o Jesse resolveu acabar com a vida do Adam.

John o olhou, não querendo mais saber o fim da história. Até que Jesse e Adam tivessem sido namorados, tudo bem, ele poderia conviver com isso, mas que Jesse fizesse mal àquele garoto... não, John não entendia como alguém chegava a esse nível de crueldade.

- O que ele fez? – perguntou.

- Foi no dia da festa do Kevin, na casa da praia dele. Eu lembro que o Adam me perguntou se eu havia visto o Jesse, e eu disse que não, porque eu estava ocupado na cozinha comendo. E ele saiu. Foi quando o Jesse entrou na cozinha puxando a Lindsay pela mão. Eu lembro de ter achado estranho, mas... – sacudiu a cabeça um tanto indignado, olhando com ódio, puro ódio, para o grupinho do outro lado -...ele ficou com ela. O Adam viu, porque ele não fez questão de esconder.

- E o Adam não fez nada? – estava começando a sentir uma pontada de raiva de Jesse. Talvez ele tivesse mudado, de fato, afinal, a última vez em que se viram, tinha apenas dez anos e noção nenhuma do mundo.

- Ah, fez! – Matt assentiu. –Ele fez sim. Esperou o Jesse fazer tudo que tinha que fazer com a garota, e gritou com ele no jardim da casa, na frente de todo mundo. E o Jesse o humilhou, os amigos dele riram, a Lindsay riu. A escola inteira estava lá, sabe? – olhou para John – Ele disse coisas horríveis pro Adam, negou pra todo mundo que eles tiveram um relacionamento, e...

- Entendi, não precisa continuar. – John o interrompeu.

- Foi tão desnecessário, tão do nada. Eles estavam tão bem, John! – suspirou. –Ele quebrou o Adam em mil caquinhos, e eu que sobrei pra recolher. Só eu.

- Ele tem razão em odiar o Jesse. – falou baixo, não conseguindo mais observar o grupo, que agora recebia uma garota de cabelos marrons até o meio das costas, que se sentou ao lado de Jesse, abraçando seu braço livre.

Devia ser a tal Lindsay.

- Eu não agüento humilhação, sabe? Ainda mais com alguém que não tinha nem como se defender. E ele ainda namora a garota. – se levantou.

John ergueu a cabeça, agora fixando o olhar em Jesse, em seus amigos, em como estavam se levantando juntos para voltar à sala, sorrindo, felizes. Ele não podia deixar isso em branco, precisava falar com ele, descobrir o que o levou a fazer aquilo, talvez jogar um pouco de bom senso em sua cara. Se levantou, começando a caminhar a passos largos na direção de Jesse, sem olhar para os lados, olhar fixo naquele que era o seu objetivo.

- John? John? – escutava Matt o chamando, mas não parou para o esperar. Conforme o grupo de pessoas ficava mais próximo dele, seus batimentos cardíacos se aceleravam, e ele sentia aquela coisa estranha no estômago o dizendo que devia parar por ali.

Mas não podia sempre ceder à sua falta de coragem.

- ...e vocês podem ir lá pra casa depois. – ainda o ouviu dizendo ao garoto de boina quando parou próximo a eles.

- Jesse Lacey! – chamou.

Viu o grupo todo parar para o encarar com um certo desprezo.

- Sim? – Jesse o fitou de cima a baixo novamente, se demorando em seus olhos, e no sorriso fraco em seus lábios.

- Lembra de mim? – perguntou baixo, querendo separar seus olhos das duas pedra de gelo azuis que eram os olhos de Jesse, mas se o fizesse seria covarde. Os outros se entreolhavam em silêncio.

Jesse coçou a cabeça, e sorriu, fazendo John sorrir de volta. Tinha certeza que ele se lembraria, e que o acolheria como melhores amigos se acolhiam.

- Claro! Você é o garoto que pegou minha toalha quando ela caiu no chão, no vestiário. – assentiu. –Mas achei que já tivesse agradecido.

John relutou para o sorriso não sumir de seus lábios.

- Isso também. Mas eu sou o John. Lembra? Seu melhor amigo que foi pra Londres... – disse vendo Jesse assentir, sem expressão.

- Por isso o sotaque. Uh, não, eu... – olhou para o garoto de boina, que ria discretamente. -...meu melhor amigo sempre foi o Vinnie. Eu não sei do que você está falando, e você é o primeiro John que eu conheço.

Não era possível que Jesse não se lembrasse. John tinha certeza que havia um certo brilho de reconhecimento nos olhos dele, e torcia para que ele parasse a brincadeira logo e o abraçasse e dissesse que estava com saudades, e “o que aconteceu, você nunca escreveu!”, ou algo do tipo.

- Jesse, John Nolan, você tem que lembrar! – exclamou, começando a soar desesperado com as risadas dos outros, e da garota, e do garoto de boina, que se chamava Vinnie.

- Olha, Jesse é um nome muito comum, e Lacey também. Você está me confundindo, tenho certeza. –suspirou. –Mas olha, boa sorte na busca pelo seu amiguinho. –deu um sorriso de lábios, e seguiu com seus amigos, ignorando John.

- Gostei do sotaque dele! - ainda ouviu um dos garotos dizer, antes que todos caíssem na risada.

Não era possível que Jesse estivesse fazendo isso com ele.

Não era justo.

Não acreditava que Jesse havia se tornado alguém tão desprezível, porque no fundo, queria uma explicação para tomar o seu lado da história, ou para pelo menos ajudar Adam a entender o que aconteceu, mas diante desse comportamento, John só podia dizer que Jesse Lacey era a pior pessoa que ele já conheceu na vida.

Ele sabia que Jesse havia se lembrado, ele sentiu a ironia em cada um das suas palavras, ele conseguiu entender que Jesse não o queria por perto e não fazia questão de esconder.

Sentiu uma mão em seu ombro, e se virou, encontrando Matt.

- Vem, John. Vamos pra aula, e esquece o Jesse, ele não vale a pena.

John não conseguiu fazer muito mais do que assentir.