Levittown Is For Lovers

Capítulo 2 - The Boy Down The Road That Nobody Knows And Nobody Cares


Fechou o armário bege de metal sem o menor ânimo. Sua primeira aula era Matemática II, depois Química II, e não, ele não estava menos irritado por ter Educação Física na terceira aula. Na verdade, parecia que tudo na DAHS colaborava para que ele se arrependesse cada segundo mais de ter nascido.

Suspirou, vendo Adam se aproximar, aquele sorriso feliz estampado no rosto, por algum motivo, era a única coisa que não o irritava no momento.

-Te procurei ontem no intervalo pra sentar com a gente, mas você sumiu. – disse tomando o horário das mãos de John, correndo os olhos sobre ele. –Meu Deus, seu horário é do demo!

-Nem me fale. – resmungou coçando a nuca, esperando Matt olhar o horário também.

-Comeu aonde, ontem? –Adam perguntou, parecendo razoavelmente preocupado.

-Por aí. – deu de ombros, pegando o horário de volta quando Matt o entregou. –Pra que lado fica a sala de Matemática II?

Matt apontou para o lado esquerdo, enquanto Adam apontou o direito. Se entreolharam depois, confusos.

John se esquecia que eles eram tão novos lá quanto ele, que talvez estivessem acostumados com o prédio por terem feito o fundamental em um prédio igual, só que do outro lado do campus, mas que isso não tornava as coisas tão mais simples quanto aparentavam.

-Bom, eu me acho. Obrigado. – sorriu para Matt, se demorou um pouco com o olhar em Adam e se virou para achar sua sala. Adam era realmente interessante, John se perguntava se ele...

-Hey, John?! – chamou. John se virou, e Adam estava vestindo aquele sorriso novamente. –Senta com a gente, hoje.

John assentiu, sorrindo de volta.

-Pode deixar que hoje eu não sumo. – respondeu, continuando a busca pela sala.

Enfiou as mãos nos bolsos do agasalho azul marinho e abaixou a cabeça, tentando passar despercebido pelo grupo de garotos na porta da sala, o grupo do garoto de boina do refeitório, lendo na porta a matéria que seria dada ali. Mais uma vez se jogou na segunda carteira da fileira da janela, pousando o livro de Matemática II e o caderno sobre a mesa, esperando que essa aula passasse rápido.

Para sua surpresa, tudo que o professor passou, estava fácil, nada que ele já não tivesse aprendido em Londres.

Grunhiu involuntariamente, ouvindo o sinal bater, vendo os alunos se levantando para assinar a chamada na mesa do professor. Juntou suas coisas com calma, odiava multidão, vendo o grupo do garoto de boina esperando também. Se pudesse assinar antes deles e sair correndo, acharia ótimo, odiava que pessoas o observassem, e se sentia realmente desconfortável na frente de seres humanos, o que tornava a sua vida, digamos, cinqüenta vezes mais complicada.

Principalmente quando ele sabia que havia alguns pares de olhos em cima dele.

Como se fosse possível, encolheu ainda mais a própria forma dentro do agasalho, querendo muito ser invisível. Um grupo se dispersou e ele avançou, vendo um dos garotos do grupo do garoto de boina entrar na sua frente com a caneta em mãos.

Se posicionou logo atrás dele, e assim que ele saiu, passou para a frente, assinando a linha vaga, lendo, sem querer o nome na linha de cima.

Jesse T. Lacey

Moveu os lábios ao ler silenciosamente o nome.

Por um momento achou que seus olhos fossem saltar das órbitas, se virou para a porta, mas o garoto havia sumido. Provavelmente já estava longe dali, procurando sua próxima sala.

Era ele! Era Jesse quem estava na mesma sala que ele, e não sabia!

Pensou em perguntar sobre Jesse ao garoto de boina que o olhava com uma careta de quem o estava achando um doente mental, mas achou que talvez fosse parecer idiota de sua parte não conseguir encontrar o amigo de infância. Sorriu como que pedindo perdão, e se retirou da sala, sabendo que com o corredor cheio não encontraria ninguém.

Mas agora, pelo menos, sabia que estavam na mesma sala de Matemática II.

Estava saindo da fila do lanche quando Adam surgiu de algum lugar o puxando para sua mesa, o fazendo se sentar com ele e Matt. John pousou sua bandeja, sentado bem à frente de Adam, que não parava de falar um segundo sequer, contando sobre seu dia, sobre como eram as coisas na DAHS – segundo o que ele ouviu dos mais velhos – sobre o Homecoming, e mais centenas que coisas que John tentava digerir junto com seu lanche, rindo e se sentindo quase à vontade.

-Como era em Londres? – foi Matt quem perguntou, enfiando discretamente a maçã na boca de Adam, esperando que isso fizesse o colega ficar quieto, talvez. John riu fraquinho, cruzando o olhar com o mais alto, e depois voltando a fitar Matt.

-Era legal. Gostava dos jogos do United, fui em alguns. A escola era divertida, e as aulas de música eram a melhor parte do dia. – tomou um gole de seu suco, corando ao ver Matt rir abertamente.

-Acho divertido que você tenha adquirido o sotaque. Muita gente tenta imitar e não consegue, mas eu diria que você é praticamente um inglês. – comentou, mordendo a própria maçã, ao que John somente sorriu, arrancando pedacinhos pequenos do pão, comendo devagar.

-Morou quanto tempo lá? – perguntou Adam, apoiando o cotovelo na mesa, e o rosto sobre a mão, o olhando, mastigando a maçã que Matt o fez comer.

-Quatro anos e meio. – murmurou com a mão fechada sobre a boca, terminando de mastigar o pão. Os dois se olharam, e depois para ele de novo:

-E não deixou amigos aqui? – Matt perguntou.

John assentiu, sorrindo.

Talvez eles o conhecessem.

-Deixei! – exclamou, o sotaque se fazendo ainda mais aparente. –Ele era meu melhor amigo, na quinta série. –assentiu, como se precisasse confirmar a si mesmo. – Mas perdemos contato. Eu ia procurar por ele na lista telefônica, mas hoje descobri que ele estuda aqui, está na minha sala de Matemática II.

-Wow! – riu Adam. –Isso é ótimo! Podemos ir falar com ele depois. A maioria dos freshman já estudavam aqui antes, no Juhior High, então provavelmente o conhecemos.

Seria ótimo se alguém como Adam o ajudasse, e tinha certeza que Jesse acabaria gostando de Adam e Matt. Principalmente de Adam com o cabelo bem arrumado, e aquele sorriso contagiante no rosto a maior parte do tempo. Era uma pessoa adorável, espontâneo e divertido, além de tudo, o havia acolhido sem nem mesmo o conhecer, e isso o fez ganhar um ponto positivo com John.

Talvez sua vida social não estivesse tão perdida assim.

-Eu adoraria! – disse tomando um gole do suco.

-E então, qual é o nome do garoto? – Matt perguntou, disposto a ajudar.

-Jesse. – John tomou mais um gole. – Lacey. Jesse Lacey.

O silêncio que se seguiu e a palidez no rosto de Adam o indicavam que aquilo não era bom.

-O Lacey? – Adam arqueou as sobrancelhas. Matt fez uma careta, mordendo o resto de sua maçã. –Não, espera, nós não estamos falando da mesma pessoa. –Adam massageou a têmpora. –Estamos falando da mesma pessoa, não existe outro ser tão abominável nessa escola.

-Oi? – John soltou, sem entender.

-Você não quer ir atrás dele, John. Acredite, é mais seguro dançar e cantar “Girls Just Wanna Have Fun” pros jogadores no dia de um jogo importante do que falar com o Lacey. – disse suspirando.

-Ele é muito legal... – murmurou, se sentindo um pouco retraído com a reação dos dois.

-Ele pode até ter sido legal um dia, mas eu acho que ele mudou um pouco, então. – disse Matt, olhando furtivamente para a mesa do garoto de boina. –Ou muito.

-O que ele tem de tão ruim? – perguntou. Estava um tanto assustado com a reação dos outros, e de longe Jesse parecia bem... normal. Estava com os amigos, rindo, se divertindo. Um deles tinha até um violão, o ruivinho.

-Nasceu. – Matt e Adam soltaram em uníssono.

-Olha, John, você parece um cara legal, fica longe dele, e perto de nós. – disse Adam.

John ia responder algo, mas se calou ao ouvir o alto falante com a voz do diretor dando bom dia, para em seguida convocar o vice-presidente do Clube AHG na diretoria. Matt riu, vendo algumas pessoas olharem ao redor, sem a menor idéia do que estava acontecendo.

-Clube AHG? – John perguntou.

-Clube da Aliança Hétero-Gay. – explicou o pequeno, rindo.

-Oh... – soltou simplesmente, vendo Adam recolher suas coisas, o encarando confuso.

-E o vice-presidente, no caso, sou eu. – se levantou com a mochila nas costas dando um tapinha no ombro de Matt. –Cuida dele.

-Pode deixar. – riu. John olhava fixamente o lugar onde antes esteve Adam. –Algum problema?

John sorriu, sem tirar os olhos do banco vazio, sacudiu negativamente a cabeça.

-Não. Na verdade, não. – respondeu, colocando na boca mais um pedaço pequeno do pão, lançando um olhar para a mesa de Jesse e o garoto de boina, que agora estava falando enquanto os outros riam.

A aula de Educação Física estava sendo um transtorno antes mesmo de começar. Para sua irritação, o uniforme era um shorts azul, curto demais, e uma camiseta branca, feia, e grande demais. A maioria dos alunos, no entanto, não parecia se importar que estivessem no outono e que aquela brisa gelada estivesse forte o bastante para fazer todos se sentarem na quadra pra chorar, não. Pelo contrário, pareciam um bando de primatas felizes por estarem prestes a esticar os músculos e...

...tremeu de frio.

Abraçou o próprio corpo, enquanto o treinador falava sobre as vagas nos times de futebol, baseball e lacrosse, contando que haveria uma série de testes para as vagas logo pela tarde, e em como entrar em um time seria bom para suas vidas acadêmicas.

Fizeram um aquecimento simples, um alongamento, e o treinador pediu que se dividissem em times.

Ótimos.

Simplesmente, ótimo.

Mesmo em Londres, ele sempre foi o último a ser escolhido, em Levittown então, ele seria esquecido no banco. Se bem que ele duvidava que nesse caso, se esquecido, fosse ruim.

-Lacey, largue os tacos de baseball! – exclamou o treinador, fazendo John voltar os olhos para Jesse e o garoto ruivo, rindo próximos aos tacos. Sorriu pra si mesmo, vendo Jesse esticar a mão para os tacos novamente, assim que o treinador virou de costas, sendo impedido pelo ruivo, que morria de rir das ações do outro.

Não via porque Adam o achava uma pessoa tão terrível.

Jesse era um ótimo amigo, e ele tinha certeza que ele ficaria feliz quando o visse, e que hora melhor para falar com ele do que na aula de educação física? Poderiam até montar um time juntos.

-Você! – exclamou um dos rapazes que havia sido colocado como capitão de um dos times da aula, o olhando. John olhou para trás para se certificar de que era com ele mesmo, mas o garoto assentiu, e ele foi.

Jesse ficou no terceiro time de basquete dos quatro que foram montados, não chegaram a jogar juntos, mas não havia desistido de tentar falar com o dito cujo.

Estava se vestindo quando alguém parou no armário ao seu lado, cantarolando qualquer coisa dos Smiths, pegando a própria roupa. John não se atreveu a olhar para cima, odiava se trocar em vestiários, ficava constrangido, mesmo que fossem só garotos.

Talvez por serem só garotos.

Se sentou no banco terminando de amarrar o cadarço do tênis, respirando aliviado, secando o cabelo com a toalha branca. Se levantou, abriu o próprio armário, jogou a toalha lá dentro pegando a mochila de volta, e fechou a portinha, vendo a toalha do outro escapar e cair no chão. Mais por educação do que por vontade, se abaixou, a pegando – com um pouco de nojo do tecido molhado – esticou o braço para a frente, seus olhos viajando dos tênis surrados para o jeans um pouco largo, para a camiseta, o peito e o rosto, os lábios finos, o nariz bem desenhado, até cair nos olhos azuis e frios.

Jesse.

Lacey.

-Valeu. – o outro tomou a toalha de suas mãos, a jogou dentro do armário, já com a mochila nas costas, correndo os dedos da mão sobre os cachos molhados no alto da cabeça, e saiu do campo de visão de John.

Era Jesse, e ele não falou nada.

Suspirou, saindo para o corredor, onde obviamente, Jesse não se encontrava mais.

Sua timidez ainda acabaria o matando.

Por que não podia ser como Adam? Aliás, precisava ver Adam, conversar e rir um pouco. Começava a achar que somente ele conseguiria fazer o martírio de sobreviver na escola, algo bom.

É, definitivamente, Adam era a parte boa do seu dia.