Levittown Is For Lovers

Capítulo 18 – So Take Me And Break Me And Make Me Strong Like You.


A brisa fria passou pelo seu rosto, o fazendo encolher mais ainda os ombros pequenos, e juntar mais ainda as mãos dentro das luvas ao copo de chocolate quente que segurava, se sentindo menos frio quando o vapor do líquido quente acariciou seu rosto. Estava sentado entre Vinnie e Jesse – que já haviam resolvido seus problemas – e atrás de Brian e Garrett, que tinham os dedos entrelaçados entre eles, se soltando toda vez que alguém se aproximava. Adam estava desaparecido até então, Matt o avisou que estaria ajudando o garoto e também evaporou, e Lindsay e Kevin estavam em algum lugar buscando...

- Cachorro quente. – anunciou Kevin, colocando em seu colo um grande e receheado cachorro quente. –Foi a única coisa com aparência de comida que encontramos pra vender.

- Sério, vocês precisavam ter visto o crepe deles, parecia mais um... – Lindsay começou mas Kevin a interrompeu com uma careta.

- Ew! Não! – exclamou se sentando ao lado de Garrett enquanto a garota terminava de distribuir os lanches.

- Mas eu não pedi um... – John começou, se perguntando da onde havia saído o lanche que estava o encarando de seu colo.

- Você acabaria sentindo fome. – Jesse riu, roçando o nariz gelado em sua bochecha.

Frio.

- Jesse, você está gelado! – exclamou com o susto do gelo repentinamente tocando a sua pele quentinha, se afastando devagar para o olhar torto, mas Jesse já estava ocupado, beijando Lindsay.

Era uma cena estranha.

E ele sentia aquela coisa esquisita toda vez que via Jesse beijando alguém. Não era ciúmes, era algo bem diferente, curiosidade, talvez. Porque Jesse também beijava Kevin, e ele ficava nesse estado de hipnose igual estava agora, sem conseguir tirar os olhos dos lábios finos dele se mexendo contra os dela, imaginando como seria o beijo do garoto.

Só curiosidade.

- Não é legal ficar olhando... – Vinnie resmungou ao seu lado, a boca cheia de cachorro quente. –E se não for comer isso, eu vou. – meneou a cabeça coberta por uma boina na direção do colo de John.

- Eu vou comer! – exclamou, pegando o lanche enquanto Vinnie dava de ombros.

De repente, ele sentiu saudades de Adam.

Brian e Garrett juntos, Jesse e Lindsay, e o que ele estava fazendo ali?

Primeiro que aquele não era o lugar dele, com as pessoas que ele aprendeu a abominar, e seu namorado estava arrumando as coisas para que tudo corresse bem no Homecoming, e ele...

Ele estava sentado com o ex do seu namorado, vendo a banda da escola tocar enquanto as líderes de torcida faziam acrobacias estúpidas no meio do campo. Ele só... ele só queria poder ficar perto de Adam.

E não queria.

Porque talvez, se ficasse perto de Adam, precisasse ficar falando.

Terminou o cachorro quente em silêncio, sem ouvir realmente o que os outros diziam sobre como a banda era ruim, e com um sorriso apologético ele se levantou, encontrando o caminho para fora das arquibancadas e direto para a saída do campo. Se encostou no canto mais vazio, deixando que aquela melancolia repentina tomasse conta dele, deixando que ele sentisse o estômago revirar – e não era culpa do lanche – e a consciência pesar.

Se ele simplesmente soubesse onde Adam estava naquele momento, talvez pudesse consertar um pouco as coisas. Não que algo estivesse errado, mas ele estava se afastando cada vez mais de Adam, e a cada segundo mais entendendo o lado de Jesse, percebendo aos poucos que ele realmente gostava da garota, mesmo que a traísse, porque às vezes, era assim que Jesse era... e por Deus! Jesse era só um adolescente cheio de hormônios, com tantas dúvidas e problemas banais quanto qualquer um deles, culpar e odiar o garoto por um lapso daqueles era um tanto cruel.

Todo mundo comete erros, grande coisa.

Só que isso tudo era triste, porque ele realmente aprendeu a apreciar a companhia de Jesse, Lindsay, Kevin, Brian, Vinnie e Garrett, assim como ele aprendeu a apreciar a companhia de Matt e Adam.

E ele não queria se sentir culpado por se identificar mais com Jesse, mas se sentia.

Suspirou, percebendo que sua vida social estava toda errada.

Há quanto tempo não falava com Will e Shaun na Inglaterra?

Há quanto tempo estava em Long Island? Um mês?

Por que com ele tudo tinha que ser tão complexo? Por que ele pensava tanto? Por que ele não era menos paranóico com a própria existência e simplesmente relaxa?

Por que ele sentia que ele não queria levar essa vingança adiante?

- J.No? Está tudo bem? – Jesse surgiu em seu campo de visão, um semblante preocupado tomando conta do rosto quase angelical.

- Sim. – respondeu fraco. Por que Jesse tinha que ser tão perfeito?

- Mentira. – exclamou. – O que aconteceu?

- O Adam... eu queria poder achar ele e ficar com ele hoje. – respondeu sem pensar. Por que Jesse tinha que saber o ler tão bem?

- Se quiser... bom, se quiser a gente pode tentar encontrar ele. – Jesse comentou, a cabeça pendendo para baixo.

- Você tem alguma idéia de onde ele possa estar? – Estava esperançoso, talvez se Jesse encontrasse Adam para ele, então ele se sentisse melhor.

- Eu esbarrei nele vindo pra cá e por acaso eu sei onde ele está. – sorriu o fitando, e sem que John pudesse responder, Jesse pegou sua mão, o puxando.

Não podia sentir o calor da pele do amigo, ambas as mãos estava cobertas por luvas, mas olhar suas mãos juntas o fez sentir algo diferente... era quase como se aquilo fosse o certo. Era quase como se eles pertencessem um ao outro, e não pôde deixar de notar os olhares para eles enquanto costuravam o caminho entre o público, as garotas olhando e soltando risinhos, os garotos como se isso fosse normal.

E era.

Ele e Jesse.

Por que ele achava que era assim que tinha que ser? Por que ele tinha que se sentir tão bem perto dele?

Chegaram a um pequeno galpão acoplado ao campo, onde algumas pessoas se aglomeravam na porta. Jesse pediu licença, o puxando para dentro, passando por vários grupos, até chegar à última mesa, onde alguns garotos e garotas conversavam e riam, montando um cartaz. No canto, sentado ao lado de Matt, escrevendo algo em um caderno, estava Adam.

- Laz! – Jesse chamou, fazendo o de cabelos castanhos erguer o rosto. – Trouxe o John.

Adam sorriu.

Aquele sorriso que o encantou desde a primeira vez, e meneou a cabeça para seu lado, dando tapinhas no banco, e mesmo retribuindo ao sorriso, sem tirar seus olhos dos castanhos de Adam, ele sentiu quando a mão de Jesse escorregou da sua, e quando Jesse girou nos calcanhares.

- Até mais, J.No. – ele murmurou ao passar por ele, indo para a porta, e naquele momento, era como se uma parte dele estivesse indo com Jesse.

John nunca soube explicar em que momento o sorriso sumiu de seu rosto, ou em que momento percebeu aquele aperto no peito, mas quando virou para a porta e viu Jesse saindo, ele percebeu que o que estava sentindo não tinha nada a ver com a ausência de Adam na sua vida.

Era a ausência de Jesse que o fazia ficar daquele jeito, bem como a presença de Jesse.

E quando se sentou ao lado de Adam e ficou o resto da noite rindo com ele e Matt, ele não sentiu nada. Não conseguiu prestar atenção em mais nada, em mais ninguém, era como se tudo estivesse distante, e ele... ele não estava ali.

Resumidamente, o Homecoming havia sido tão chato quanto ele já havia imaginado que seria: os populares festejando o Rei e a Rainha do baile, os jogadores comemorando a vitória no jogo, os músicos sorrindo como se fossem famosos, e eles lá, parados no frio, encolhidos, esperando que a multidão se dissipasse para poderem encontrar a saída. Era um monte de adolescentes passando uns por cima dos outros, provavelmente tentando chegar mais rápido ao restaurante escolhido.

- Eu quero minha casa. – comentou Matt, se encolhendo na parede, olhando desgostoso para as pessoas andando de um lado para o outro. –Minha cabeça dói.

- A febre baixou? – perguntou Adam, olhando o amigo com preocupação. John descobriu, assim que chegou ao galpão, que Matt não estava bem, havia começado a sentir os sintomas de alguma virose logo no começo da tarde, mas não disse nada a sua mãe, e simplesmente foi ao Homecoming. Na metade da apresentação, com a ajuda de uma das garotas do Clube de Fotografia, descobriram que o pequeno estava ardendo em febre e os sintomas pareciam ser de Mononucleose.

Minutos depois, Matt estava no banheiro, colocando para fora até a última gota de alimento que ele havia ingerido, mas se recusava a ir embora antes que Pete lesse o discurso sobre o Clube AHG, e agora estava ali, pálido, com olheiras, encostado à parede vendo as pessoas passando, esperando para chegar do lado de fora e entrar no primeiro táxi que passasse.

- Não. – Matt respondeu, se encolhendo mais contra a parede. – Eu quero deitar.

Adam lançou um olhar significativo para John, e ele entendia, sabia que eles não sairiam depois do Homecoming porque Matt estava doente, e Adam, como um bom amigo, iria cuidar do menor.

- Leva ele em casa, Adam. – disse, sorrindo fraco. Era isso que Adam queria ouvir, certo?

- Você não se importa? Eu realmente acho melhor eu tentar tirar ele daqui agora. – Adam disse, mordendo fraco o lábio inferior. – E podemos sair amanhã.

- Claro. – John assentiu, mantendo o sorriso nos lábios quando Adam deu tchau, passando os braços em volta do corpo pequeno de Matt, o levando para fora do ginásio, atravessando o mar de pessoas.

John suspirou, girou nos calcanhares, percebendo que provavelmente não encontraria Jesse e os outros mais. Cruzou o campo até um banco vazio e se sentou, sem saber ao certo o que ou por que estava fazendo aquilo, mas não estava bem.

E o mais estúpido era que não havia nada de errado.

Adam estava feliz, Jesse estava feliz, por que ele não podia ficar feliz? Por que ele tinha que ficar cheio de “por quês” toda vez que ficava sozinho? Ele sabia que ficar pensando e remoendo tudo que estava acontecendo não o faria ficar melhor, mas ele também sabia que tentar deixar aquilo pra lá era um grande erro, e era melhor resolver antes que tudo se tornasse uma grande bola de neve que o levasse à ruína total.

Não saberia dizer quanto tempo se passou, mas quando voltou a si o campo estava vazio, um senhor varria as arquibancadas e o silêncio tomava conta do campo todo, exceto por alguns passos atrás dele. Ele teria se virado para ver quem era a fonte do barulho baixo, se achasse que seria relevante, mas não.

E também não se assustou quando alguém se sentou ao seu lado e enfiou a mão por debaixo de seu braço esquerdo, capturando sua mão que pendia do braço apoiado no joelho, entrelaçando seus dedos nos dele, ainda com luvas.

- Todo mundo já foi. – a voz macia de Jesse soou ao seu lado, baixinho para que ninguém – não que houvesse alguém – escutasse, mas alto o bastante para que ele sorrisse.

- Por que ainda está aqui? – perguntou no mesmo tom, firmando os dedos em volta dos de Jesse.

- Porque eu não queria te deixar sozinho. – respondeu, e John pôde sentir o par de olhos azuis fitando seu rosto. Virou a cabeça, deixando seus olhos se fixarem nos de Jesse.

- Há quanto tempo está me observando? – perguntou franzindo a testa. Não havia percebido a presença de Jesse até aquele minuto.

- Desde que o Adam levou o Matt. – sorriu, assentindo. –Por que ficou até agora?

Porque queria pensar.

- Não sei. – encolheu os ombros, sorrindo.

Jesse voltou a encarar o outro lado do campo, à frente deles.

- Eu estava pensando em ir até o Nick’s comer uma pizza, não é longe daqui, e podemos ir à pé, depois pedimos ao Rory para nos levar em casa. – Jesse sugeriu, ainda baixo, com um fraco sorriso brincando nos lábios.

- Quer dormir lá em casa hoje? – perguntou.

- Depois do Nick’s? – Jesse riu, fazendo John rir com ele.

- É, depois do Nick’s. – concluiu, sentindo Jesse o puxar quando se levantou, o fazendo imitar seu movimento. O mais baixo soltou sua mão momentaneamente, arrumando o próprio casaco, depois o seu, puxando para frente até que estivessem próximos demais para que John conseguisse respirar normalmente.

- Eu senti tanta saudades. – Jesse sorriu, o soltando e pegando sua mão de novo, recomeçando a caminhar, o puxando. – Mas passou. Fico feliz que tenha voltado, bla bla bla, assunto do verão passado. – virou o rosto para John, sorrindo.

E ele não queria que sua mente se desse conta de que ele estava encantado com o sorriso do outro, nem que ele sentisse aquele calor por dentro, como se o seu estômago estivesse atulhado de borboletinhas.

Não conversaram muito naquela noite, mas comeram a melhor pizza de Long Island, e decidiram voltar para casa correndo, um empurrando o outro pela rua, rindo alto, e gritando para as pessoas das casas de luzes apagadas que elas deveriam acordar, porque era hora de começar a curtir a noite, porque naquela noite, eles eram reis.

Passaram em uma loja de conveniências já próximos de casa, compararam todo o álcool que conseguiriam esconder dos pais de John – quatro garrafas de Keep Cooler – e acabaram com tudo na metade do caminho, chegaram em casa exaustos demais para tomar banho, ou para se preocupar com o barulho.

John se jogou em sua cama, Jesse no bi-cama, e menos de dois minutos depois já estavam dormindo, despreocupados com qualquer coisa que pudesse acontecer naquelas horas sagradas para dois corpos tomados pelo cansaço.