Levittown Is For Lovers

Capítulo 15 – Holding Onto Yourself The Best You Can


Adam era a pessoa mais estranha que John conhecia. Haviam discutido no dia anterior, mas no momento em que pisou na escola no dia seguinte, foi recebido cheio de carinho. Não sabia mais como agir com o próprio namorado, mas estava evitando ao máximo o lembrar da existência de Jesse.

E isso era o difícil.

Jesse fazia questão de se fazer presente em grande parte do tempo, o chamando para sair – na frente de Adam – indo o entregar livros para o trabalho – na frente de Adam! – e o arrastava para passarem o intervalo adiantando o trabalho – longe de Adam. E ele não sabia como agir, não queria brigar com Jesse, afinal, foi ele quem esteve ao seu lado no que ele considerava o pior momento de sua vida, e eles estavam se dando tão bem...

Bem até demais.

E Adam, bem, ele não queria brigar com Adam por motivos óbvios.

E sua mente começava a dar um nó toda vez que pensava no assunto, porque ele já não sabia se queria se vingar de Jesse, mesmo que, toda vez que se lembrava do que aconteceu, ele tivesse uma vontade horrível de socar o outro até cansar.

Resmungou qualquer coisa, batendo a testa no livro de biologia.

- Está tudo bem, John? – Lindsay perguntou, enfiando a cabeça embaixo da mesa para o olhar.

- Seu namorado está acabando com a minha vida. – murmurou, e ela riu, sumindo do seu campo de visão.

- Ele gosta de você, John. Ele só quer te ter por perto, não te perder pro Adam. – disse, fazendo com que ele erguesse a cabeça rápido.

- Oi? Lindsay, ele me chutou! – exclamou. – Disse que não me conhecia e coisa do tipo.

Ela mordeu o lábio, virando a página.

- Ele estava bravo. – suspirou – E eu sei que agora quem está bravo é você, mas tente entender o lado dele, todo esse tempo esperando que você desse notícias.

John assentiu.

Havia sido um idiota em simplesmente sumir da vida de Jesse e depois querer voltar como se nada tivesse acontecido, como se quatro anos fossem quatro dias e tudo fosse ficar bem quando finalmente se vissem. Mas é, a vida infelizmente não era como sua mente gostaria que ela fosse, e ele arriscava dizer, que se as coisas fossem do seu jeito, elas seriam muito mais simples, muito melhores.

- Mas ele podia ter conversado comigo, ao invés de simplesmente me ignorar sem me dar pista alguma do que estava acontecendo, né? – disse a olhando de soslaio, vendo que ela ria fraco, sacudindo negativamente a cabeça.

- Vocês dois são complicados. Aposto que só um entende o outro de verdade. – completou, voltando a prestar atenção na professora explicando qualquer coisa que ela nunca usaria na vida.

John sabia que não tinha mais saída, e quando o sinal tocou e ele soltou aquele grunhido infeliz de desespero, e ouviu Jesse rir, desejou que alguém – qualquer pessoa – entrasse gritando na sala que o mundo acabaria em dez minutos, tempo o bastante para que ele corresse até sua casa, encontrasse seus entes queridos e morresse abraçado a eles.

Mas do jeito que a situação estava, era bem capaz que Adam pedisse a ele uma rapidinha de despedida.

- Sabe, você é a pessoa com menos sorte que eu conheço. – Jesse comentou, dando uma palmadinha simpática em seu ombro quando cruzaram a porta para o corredor.

- Você não tem idéia de como isso me anima. – respondeu, seguido de um longo suspiro. Era como se estivesse trilhando o caminho para a sala onde uma cadeira elétrica o esperava.

- John, se você não quer dormir com ele, diga isso a ele. É tão simples, e você faz parecer tão complicado. O Adam não é um bibelô de cristal, ele não vai se quebrar se você for honesto com ele, pelo contrário, ele vai preferir. – exclamou, parando de andar e se movendo para frente dele, que parou antes de tombar no mais baixo. John sabia que deveria conseguir se abrir com Adam, dizer a ele que não, não queria fazer aquilo, porque queria estar seguro do que estava fazendo, mas não conseguia. Não conseguiu sequer dizer ‘não’ quando Adam confundiu suas perguntas com um pedido de namoro. –Você precisa começar a se impor. – Jesse completou.

- Eu... – não sabia o que dizer.

- Se eu te disser que quero sua parte do trabalho completa até o item trinta e sete pra amanhã, você vai sair daqui correndo pra fazer, sem contestar meu pedido. O mesmo com o Adam, o mesmo com as brincadeiras do Vinnie, Brian e Garrett. Você não sabe falar “não”. Eles abusam da sua boa vontade, você se irrita, se chateia, mas não reclama. Você ouve, vê, sente, mas não reage. É como se você fosse incapaz de sentir raiva de alguém, ou de exteriorizar isso. – Jesse disse tudo, exasperado, gesticulando o dando soquinhos esporádicos nos seus ombros.

- Jesse, eu não gosto de brigar. – respondeu. – Eu preciso ir, o Adam vai ficar bravo se eu demorar. – sorriu, desviando do outro e continuando o caminho. Não queria falar sobre aquilo com Jesse, porque Jesse tinha razão. Ele não conseguia dizer que não queria as coisas, não conseguia agir por vontade própria, porque tinha medo.

Insegurança.

- Você quem sabe. – Jesse disse, ao seu lado. –Mas isso não é saudável. – deu de ombros, caminhando ao seu lado. John estranhou quando a mão direita do mais novo se fechou em seu antebraço, e estranhou mais ainda o grupo de garotos caminhando apressados na sua direção, com Vinnie pedindo a Brian que se acalmasse, e que não estava fazendo efeito algum, na opinião de John.

- Você contou! – exclamou Brian, apontando um dedo para o rosto de Jesse, quase o atingindo no nariz. Jesse se manteve apático, apenas erguendo as sobrancelhas.

- Lógico que não contei. – respondeu, inclinando a cabeça para olhar os outros. –O que deu nele? – perguntou, o olhar caindo sobre Vinnie.

- O Lazzara... – Vinnie começou, mas Brian o interrompeu.

- Você contou pra ele! – exclamou, e agora John pôde ver o dedo do judeu tomar conta do seu campo de visão, bem entre seus olhos. Não estava entendendo nada, e havia pensando seriamente em fugir da cena se por acaso não tivesse sido jogado no meio da história toda. Não sabia o que Jesse poderia ter contado, porque bem, ele não tinha idéia do que Brian estava falando.

O que deixava tudo muito claro: Jesse não havia dito nada.

- Não me contou, não. – disse rápido, sentindo que o quanto antes fugisse, o quanto antes saberia do que aconteceu, perguntaria a Matt e pronto, tudo resolvido. E teria fugido naquele instante se a mão de Garrett não estivesse pousando sobre seu ombro.

- Relaxa, a gente sabe que ele não te contou. O Brian está nervoso, só isso. – piscou.

- Ele nunca soube, ele não fazia brincadeirinhas estúpidas com a gente, e de repente ele vem com o Wentz oferecer para entrarmos na droga do clube gay dele. Jesse, ninguém podia saber! Eu confiei em você. – Brian dizia, agora parecendo preocupado, desesperado. John não tinha idéia do que estava acontecendo, mas parecia ser grave, porque a expressão de Jesse não era mais a calma de antes.

- Ele não contou, Brian! – Vinnie gritou no meio do corredor. –Ele nunca contaria.

- Então como o Lazzara sabe? O Jesse é amigo do namorado do infeliz. – Brian respondeu, e o dedo voltou a ocupar o campo de visão de John. Estava tudo confuso demais pra que ele pensasse. Se pelo menos alguém o colocasse a par do que ele não poderia saber, e que aparentemente sabia e que contou para Adam – sem saber que sabia e que aquilo era algo que Adam não devia saber – talvez ele pudesse se explicar.

- Vamos pra alguma sala conversar, fazer isso no meio do corredor só vai piorar as coisas. Alguém mais pode acabar ouvindo. – foi Kevin quem teve o bom senso no momento.

Era a sala de Literatura II. Já estava vazia, e foi a única que encontraram aberta.

Brian estava andando de um lado para outro, Jesse estava sentado ao seu lado na mesa do professor, Vinnie encostado ao lado de Jesse, Garrett sentado em uma carteira na frente deles, junto com Kevin. Já havia gritado uns com os outros, Vinnie já havia dado todos os seus argumentos sobre como Jesse era inocente, Kevin já havia dado os seus sobre como achar o culpado não era a prioridade e Garrett...

... ele se manteve calado o tempo todo, preocupado.

Até onde John havia entendido, eles tinham um segredo que poderia acabar com a vida de Brian. E Brian era um judeu, com família judia, das que freqüentavam o templo todos os dias, que comemoravam as datas e que escolheriam a mulher com quem Brian se casaria, sem saber que o filho, na verdade, namorava o melhor amigo.

E quando ele e Garrett decidiram ficar juntos, decidiram também pedir para que os amigos os ajudassem a encobrir o namoro, o que estava dando certo até aquele dia, quando Adam foi pedir que se juntassem ao Clube AHG, porque – segundo ele – sabia que os dois estavam juntos. Mas a questão era: Jesse não o havia contado.

E John não tinha idéia que os dois tinham um caso.

Na verdade, nem sabia que eles eram capazes de ter coisas como sentimentos, já que só sabiam estragar seu dia.

Mas agora que ele sabia, se parasse para pensar, tudo fazia muito sentido: o modo como completavam as frases um do outro, a troca de olhares que conseguia fazer com que eles definissem o próximo passo, o jeito como pareciam se conhecer desde sempre. Era tão claro que os dois eram mais que amigos que ele acabava se sentindo estúpido por não ter percebido antes.

- Eu juro que não contei, Brian. – Jesse disse pelo que parecia ser a vigésima vez naquele minuto. – Eu nunca contaria. Eu não quero ver vocês separados.

E Brian assentiu.

- Eu sei, é que... é só que eu não vejo outro jeito, entende? Ele não tem como saber, e de repente você começou a andar com o Nolan, e o Nolan é namorado do Lazzara... – riu. –E isso soa patético agora.

John viu Jesse sorrir, olhando o amigo.

- Não é mesmo, minha gente? Eu nunca, nunca contaria ao John. Mesmo porque nós nunca falamos de vocês, é só sobre física e música. – deu de ombros. John assentiu.

Era verdade.

- E mesmo que ele tivesse me contado, se dissesse que o Adam não podia saber, eu não contaria. – John sentiu a necessidade de acrescentar, atraindo os olhares para ele.

- Cara, ele é seu namorado, vocês não tem diálogo? – Vinnie perguntou, ajeitando a boina na cabeça. John suspirou, sabendo que não era a melhor hora pra falar daquilo, ou para pensar naquilo.

- Você conhece o Adam, Vin. – Jesse respondeu por ele, girando os olhos.

- É, tive o desprazer. Mas as situações são diferentes, eu contaria pra minha namorada esse tipo de coisa. – respondeu, olhando para os outros, a espera de apoio, talvez.

Mas houve um silêncio estranho, enquanto todos o olhavam torto.

E mais uma vez John não estava entendendo nada.

- É, eu disse namorada. – Vinnie acrescentou.

- Accardi, você não é hétero, aceite. – Kevin disse, recebendo um olhar indignado de Vinnie. – Mas a sua orientação sexual não é a prioridade no momento, estamos com o destino do Brian em jogo.

- Eu tenho uma idéia. – Garrett soltou. – O Nolan poderia persuadir o Lazzara a não falar nada.

John sabia que quando ele tinha aquela sensação de que deveria sair correndo, ele simplesmente devia sair correndo. Todos os olhares estavam voltados para ele, como se ele fosse o salvador vindo do céu, exceto que talvez se ele o fosse, não estaria protegendo os homossexuais.

- Eu... eu acho que eu consigo. – disse baixo, procurando os olhos de Jesse, tão azuis, fixos nos seus com um traço de esperança.

- Consegue, John. Claro que consegue! – riu – O Adam está louco pra te levar pra cama, é tudo muito simples: você impõe uma condição, de que dorme com ele, mas que ele não pode falar nada sobre os dois. Eu não estaria te pedindo isso se não fosse de extrema importância que os pais do Brian nunca soubessem, entende? Se eles souberem, vão mandar o Brian pra algum lugar bizarro e distante, longe do Garry, longe da gente, fora o tanto que ele vai apanhar, e o quanto vão adiantar o casamento dele com alguma vaca judia por aí. – soltou, pousando a mão no ombro de John. –Me diz que vai tentar.

-Vou, eu já disse que vou. – assentiu. Não queria deixar que a ambição de Adam em ter gente nova no clube acabasse com a vida de alguém, mesmo que tal alguém fosse o detestável amigo de Jesse. –Mas com uma condição.

E urros de desespero soaram pela sala, exceto por Jesse, que abaixou a cabeça rindo.

- Qual? – perguntou Brian.

John não desviou o olhar dos olhos de Jesse em momento algum.

- Eu não quero mais que vocês venham me fazer nada. Não quero mais ser o alvo de brincadeiras de vocês. – e só então seus olhos cruzaram com os de Brian, que riu alto, assentindo.

- Fechado, Nolan, fechado. Ninguém mais encosta em você, e se o fizer, é comigo que vão prestar contas. – exclamou, se sentando ao lado de Garrett, deixando que o outro descansasse a cabeça em seu ombro.

Eram um casal bonitinho, na opinião de John.