Levittown Is For Lovers

Capítulo 16 – I Am The Cause To All Your Problems


Se tinha algo que o deixava satisfeito, era ver Adam falando e gesticulando sem parar, feliz em o ter por perto, mesmo que ele próprio não estivesse dizendo uma palavra sequer. Estava com os cotovelos apoiados sobre a mesa, o rosto sobre as mãos, observando enquanto Adam andava de um lado para outro da cozinha, falando sobre como aquele seria um dia divertido, porque finalmente John poderia ficar com ele a tarde toda. E ele gostava de ver Adam daquele jeito, o fazia bem.

Provavelmente porque sabia que era ele o motivo de tanta empolgação por parte do outro.

Ou talvez, estivesse apenas feliz em não estar fazendo trabalho de física.

E agora que havia parado para pensar nisso, talvez desse uma passadinha na casa de Jesse quando saísse de lá, só para ver se estava tudo bem, se o louco não matou o irmãozinho, ou se ele adiantou alguma coisa da maquete. Não estava sentindo falta de estar lá, definitivamente não estava, mas alguma coisa nele queria estar lá, no quarto confortável, ouvindo Jesse tocar, ou Cody reclamar...

...e sua mente estúpida vagou de volta para o momento em que os braços de Jesse estavam em volta do seu corpo, os lábios quase nos seus, e involuntariamente, ele soltou um grunhido, batendo a testa no tampo da mesa em sinal de frustração, se esquecendo completamente que o namorado estava bem à sua frente fazendo cobertura para os cupcakes que acabavam de sair do forno.

- John? – Adam chamou, o fazendo voltar à realidade. Forçou um sorrisinho, fitando os olhos castanhos do outro, cheios de interrogações sobre o repentino surto dele. John tinha que fingir que estava tudo bem, não podia simplesmente contar que...

- Desculpa. Lembrei de uma resposta... que... eu... uh... que eu.. errei na... na... na aula hoje. – inclinou a cabeça sorrindo, esperando que Adam aceitasse a desculpa esfarrapada.

- Você estuda demais, pensa nisso demais. Aposto que nem foi algo grave. – riu, continuando a cobrir os cupcakes. John riu fraco, voltando sua atenção para o saco de farinha em cima da mesa.

Talvez se preocupasse demais com coisas pequenas, e se esquecesse das grandes, como Brian e Garrett. Já havia tentado puxar o assunto, já havia tentado persuadir Adam a tocar no assunto, mas não havia conseguido arrancar nada do namorado, e não havia um jeito de tornar as coisas mais simples. E cedo ou tarde teriam que falar disso, teria que expor o lado de Brian e de como as coisas dariam errado se o relacionamento dele com Garrett se tornasse conhecido por aí. E uma vez que o fizesse, teria que convencer Adam a não abrir a boca para mais ninguém, e então entrava a parte em que os dois iriam para o quarto e ele daria a Adam o que ele queria.

- Adam? – chamou, esperando que o outro lhe desse algum sinal de que estava ouvindo, que veio como um resmungo baixo. –Você não pode contar pra ninguém sobre o Brian e o Garrett.

- Eu não vou contar. – respondeu no mesmo tom do resmungo, mas parou de repente, o olhando confuso. –Como você sabe que eu sei?

- Bom, eles acharam que o Jesse me contou e que eu te contei, e vieram brigar com o Jesse. – suspirou – E comigo, conseqüentemente. – fez uma pausa, em que os dois se olharam por longos segundos. –Como você descobriu?

Adam gargalhou, continuando a passar a cobertura colorida em cima dos cupcakes. Encolheu os ombros, distraído.

- Foi só um palpite. Na verdade, eu nem desconfiava, fui lá só pra encher o saco deles, deixar eles dois com fama de “viadinhos” na frente dos outros, e o Brian saiu correndo, largou o Garrett sozinho pra lidar com a situação, o que ele fez muito bem. – assentiu, ironizando a situação. – Rasgou os panfletos e tentou acertar um soco no Pete. Foi aí que tivemos certeza de que havíamos pego um casal de verdade. –riu. –Mas é claro que não vou contar nada a ninguém, afinal, eu conheço a família do Brian, eu sei o que pode vir a acontecer com ele se alguém souber.

- Achei que os odiasse... – John comentou, esticando a mão para pegar um cupcake.

- Não o bastante para isso. Seria o tipo de coisa que eu faria com o Jesse, não com o Brian, o Garrett, ou o Kevin. – disse, tomando o cupcake das mãos de John, lançando a ele um olhar de censura. – Não está pronto!

- E o Vinnie. – John acrescentou, olhando o cupcake penalizado.

- Não gosto do Vinnie, é o braço direito do Jesse, sabe? Eles são bem parecidos. – disse, entregando a John um cupcake já coberto com o creme.

- O Vinnie protegeu o Jesse durante toda a briga. – comentou, mordendo o bolinho.

- Mesmo que o Jesse esteja completamente errado, se tem uma pessoa que nunca vai sair do lado dele, é o Vinnie. – disse. – Costumava ser legal, mas agora é irritante. Ele nunca vai admitir que o Jesse é um babaca, nem que ele é louco pelo Jesse.

John riu.

- Ele disse que é hétero.

- Sempre diz. – Adam se sentou ao lado dele, pegando um bolinho também. –Mas ele não é.

- Por que ele não fica com o Jesse, então? – perguntou, mais para ter assunto do que por vontade de saber. Não tinha vontade de saber, na realidade, porque por algum motivo, a imagem de Jesse e Vinnie juntos o dava náuseas.

- Porque é teimoso. – Adam deu de ombros. –O cupcake está bom?

- Ótimo! Vou te levar pra cozinhar lá em casa. – John brincou, selando os lábios do namorado.

John estava parado na frente da residência dos Lacey, as luzes da frente estavam apagadas, com um pequeno foco ao fundo da casa, iluminando pouca coisa, só o bastante para que ele soubesse que havia alguém lá. Uma brisa fria soprou, o fazendo se encolher um pouco, puxando o agasalho para mais perto do corpo enquanto andava, chutando uma pedrinha sem querer. Queria chamar Jesse. Contar que todo o desespero de Adam para que passassem a tarde juntos não dizia respeito a sexo, e sim a filmes de luta, chocolate quente, cupcakes e os dois abraçados no sofá debaixo de um cobertor quentinho. Queria contar que Adam era o namorado perfeito que ele havia jogado fora, queria fazer Jesse se sentir mal por ter dispensado o garoto de forma tão rude. E antes que pudesse se dar conta do quão estúpido aquilo era, já estava com a pedrinha que chutou em mãos, a atirando contra a janela do quarto de Jesse, pegando outras pelo chão e repetindo o processo. Esperou alguns segundos, mas não houve resposta do lado de dentro.

Talvez Jesse já estivesse dormindo.

Talvez nem estivesse em casa.

E lá estava ele, congelando no frio, esperando que o garoto surgisse para ele se gabar de ter Adam. Não sabia por que precisava daquilo, mas precisava, precisava contar a alguém que...

Suspirou.

Não estava apaixonado, mas ter alguém apaixonado por ele o estava fazendo bem. Não conseguia acreditar que era perdedor a esse ponto.

Se jogou sobre a grama, observando a janela escura do quarto de Jesse, fechando a mão sobre as pequenas pedrinhas que havia recolhido para jogar, sentindo as pontas entrarem por sua pele, quase a perfurando. Precisava contar que Adam era gentil o bastante para não sair contando sobre Brian e Garrett, e que estava tudo bem, porque ele ficou bem o dia todo, e que sabia sobre Vinnie gostar dele, e que ele precisava prestar mais atenção ao que fazia para não magoar o garoto, ou se afastar totalmente dele. Na verdade, esperava que contando a Jesse que Vinnie estava apaixonado por ele, Jesse decidisse por si só que ficaria longe de Vinnie.

Jogou mais uma pedrinha pro alto, que acertou a janela e caiu de volta na grama, e novamente não houve resposta.

Talvez devesse tocar a campainha, mas seria muito chato se Jesse já estivesse dormindo.

Se levantou, girou nos calcanhares, alcançando a rua outra vez, enterrando as duas mãos nos bolsos, frustrado.

Falaria com Jesse assim que chegasse na escola na segunda-feira.

- Bonjour, mon amour! – a voz escandalosa de sua mãe veio da porta, o acordando de modo desagradável. Enterrou a cabeça embaixo do travesseiro, segurando as pontas do mesmo sobre a cabeça, esperando que se a ignorasse, talvez ela fosse embora. –Mamãe está indo pra aula de francês, e não adianta fingir que está dormindo, mon petit enfant. O almoço está pronto, é só esquentar. Faça a Michelle comer direito, e não se esqueça que o Jesse te ligou. Au revoir, je t’aime! – bateu a porta saindo do quarto. John ainda esperou alguns segundos na mesma posição, tentando perceber ouvir quando o carro saísse da garagem, indicando que era seguro se mexer de novo sem ouvir sua mãe berrando coisas em francês torto. O barulho da SUV soou, o deixando seguro o bastante para respirar novamente. Se virou na cama, encarando o teto embaçado pela falta dos óculos, esfregou os olhos com as mãos, tentando decifrar os números no relógio.

Jesse havia ligado?

Não teria sido Adam?

Esticou o braço magrelo, tremendo pelo vento frio que tocou a pele quente por conta das cobertas, pegou os óculos e se encolheu no quentinho de novo, tentando achar os ponteiros no relógio. Já era quase meio dia – cedo demais ainda, se é que sua opinião contava – mas tarde o bastante para fazer ligações.

Mais uma vez deixou seu braço sair das cobertas, e agarrou o telefone, discando o número de Jesse, ouvindo o som do telefone chamando do outro lado.

- Alô? – a voz feminina soou, não devia ser alguém muito mais velha que sua irmã, provavelmente Carly.

- O Jesse está? – perguntou, segurando o bocejo que insistia em sair.

- Quem quer falar? – indagou, provavelmente para informar ao irmão, não por curiosidade.

- É o John. – respondeu, se enrolando mais ainda nas cobertas, não sairia dali tão cedo.

- Só um segundo. – ela disse, e ele pôde ouvir a garota gritando por Jesse pela casa.

- J.No? – a voz de Jesse soou do outro lado.

- Oi. Você ligou? – perguntou, sonolento, tentando soar casual. Não que não fosse casual, mas era pra ser mais casual do que estava soando.

- Liguei! Então, queria saber sobre ontem, como foi, mas não dá pra conversar agora porque existem cinco Laceys me rodeando. Vai fazer alguma coisa hoje à tarde? – disse tudo muito rápido, provavelmente cuidando para que ninguém estivesse ouvindo.

- Eu estava dormindo ainda, até minha mãe me acordar falando qualquer coisa em francês. Eu tenho que alimentar o pequeno ogro, e depois estou livre. – disse, começando a se sentar na cama, afinal, se iria sair com Jesse, era bom que se arrumasse.

- Pequeno ogro? –Jesse riu do outro lado.

- Michelle, minha irmã. – riu de volta.

- Certo. Então, eu passo aí à uma da tarde, pode ser? E vamos à Starbucks, não tem nada melhor que café quente nesse frio, acompanhado de muffin de chocolate. – concluiu.

- Estarei esperando. Mas se puder dizer ao Brian e ao Garrett que fiquem sossegados, é bom. O Adam não vai contar nada a ninguém. – disse. Queria prolongar a conversa, falar com Jesse ao telefone – e ao vivo – era ótimo. Não precisava medir as palavras, porque Jesse o entendia, e não fazia questão de bons modos.

- Pode deixar. Até mais, J.No! – exclamou.

- Até mais... J.La. – riu, desligando. Seria legal sair com Jesse para conversar sobre o dia anterior.

- John, me ajuda a esquentar a comida? – a garotinha gritou do lado de fora do quarto, o fazendo perceber que ainda estava fitando o telefone com um sorriso no rosto.

Jesse se aproximou sorrindo, trazendo na mão a bandeja com seu segundo copo de café, e mais dois muffins de chocolate.

- Eu ainda não consigo acreditar que vocês ficaram a tarde toda comendo e vendo televisão. O Adam é sexualmente insaciável, sabe? – comentou, tomando um gole do café.

- Você já comentou, e sim, eu também me surpreendi. – John deu de ombros, cutucando seu próprio muffin ainda.

- Talvez ele goste mesmo de você. – Jesse comentou, a cabeça baixa, brincando com a borda do papel do muffin que havia acabado de trazer. –Porque isso não é nada típico dele.

John já queria perguntar há algum tempo sobre Jesse e Adam, mas tinha medo do que iria ouvir, só que ao mesmo tempo, precisava de uma explicação. Jesse não parecia o tipo de pessoa que teria dado escândalo no meio de uma festa para humilhar Adam sem motivo algum.

- Quando vocês estavam juntos não era assim? – perguntou sem o olhar. Jesse ergueu o rosto e riu.

- Não. Na verdade, ficamos juntos por duas semanas, só, e em dias esporádicos. De verdade mesmo, deve ter sido umas três vezes. – pensou um pouco – É, foram exatamente três vezes. Estávamos começando a nos entender quando tudo deu errado, sabe? Eu acabei me apaixonando pela Lindsay e ele não aceitava que talvez eu não fosse homossexual, sabe? – Jesse corou um pouco, para divertimento de John. Estava achando bem divertido ver o outro sem graça, tentando achar saída. –Aí teve essa festa, em que eu disse que provavelmente não ficaríamos, porque estávamos só ficando, não namorando, só que ele me chamava de namorado, e eu tinha que lembrar ele o tempo todo de que eu não o pedi em namoro, nem aceitei nenhum pedido de namoro. Bom, aí teve essa festa, e a Lindsay estava maravilhosa, e acabei ficando com ela, e o Adam viu. – tomou um longo gole do café. –E ele ficou louco, gritou com todo mundo, gritou que eu o estava traindo, e eu tive que ressaltar que eu não era nada dele, que eu nem gostava dele tanto assim, e fui embora com a Lindsay. Desde então ele criou uma guerra contra meus amigos e eu.

John assentiu.

- Mas você não precisava ter o humilhado na frente de todo mundo, talvez se conversasse com ele e explicasse que estava apaixonado pela Lindsay... – John começou, mas Jesse riu.

- Eu me diverti fazendo isso... e além do mais, acha que eu não tentei? Tentei mil vezes, mas ele não aceitava. – sacudiu a cabeça. – E quando ele começou a sair com você eu fiquei realmente preocupado, sabe? Eu achei que talvez ele fosse te magoar e te jogar contra mim, mais ainda. – fez uma careta, provavelmente estava se lembrando de tudo que ele próprio fez para John. Não que John estivesse se importando com isso atualmente, já o havia perdoado, porque ele sabia que uma parte dele nunca conseguiria viver sem Jesse.

- Mas está tudo bem entre o Adam e eu. Ele é carente, só isso. – disse. E era verdade. Se a pessoa soubesse dar atenção a Adam por cinco minutos, então veria que ele era uma pessoa extraordinária, mas era preciso paciência. E John conhecia Jesse há tempo o bastante para dizer que paciência não era sua maior virtude.

- Eu sei. – Jesse pareceu sorrir forçado, engolindo seu segundo muffin. –Mas isso não me alivia. Não gosto de ver vocês dois juntos.

- Bom, eu não vou terminar com ele por isso. – John arqueou as sobrancelhas dizendo, tomando um ar agressivo. Não queria acreditar que talvez Jesse o estivesse pedindo que largasse Adam.

Mas Jesse sorriu, pegando seu café e se levantando, levando os olhos azuis para os ponteiros do relógio na parede.

- Nem eu vou terminar com a Lindsay por isso. – encolheu os ombros. –Eu preciso ir. Faz assim, me liga à noite para fazermos alguma coisa, ok?

- Okay. – John assentiu devagar, confuso, observando enquanto Jesse saía pela porta da cafeteria, o deixando lá com seu café e um muffin de chocolate inteiro.

Aquele muffin que antes estava na bandeja de Jesse, e agora se encontrava na sua.

Como, ou quando, ele transferiu o muffin de um lugar para outro, John nunca soube dizer.

Mas muffins eram a ultima coisa que se passava em sua mente no momento.