Levittown Is For Lovers

Capítulo 14 – Would He Stay Up Late If You Can’t Sleep?


Os carros de polícia estavam cercando todo o terreno da Division Avenue High School, envoltos por um fio de proteção amarelo, amarrado a cones plásticos. Na frente dos carros, com um megafone, uma das senhoras da secretaria avisava repetidamente que as aulas do dia haviam sido canceladas devido a uma gravíssima denúncia sobre um membro do corpo docente. Os alunos se amontoavam e cochichavam qualquer coisa obre quem poderia ser e sobre o que poderia ser enquanto os dedos de Jesse envolviam os seus, o puxando por entre as pessoas, até um grupo de garotos sentados debaixo de uma árvore.

- O que está acontecendo aqui? – Kevin perguntou, fazendo uma cara de surpresa que poderia ser classificada como exagerada de sua parte, o que fez John se perguntar se ele se referia aos carros de polícia ou à sua presença.

- Eu estava pra te perguntar a mesma coisa. – Jesse respondeu, e John sentiu sua mão ser solta. –Onde está a Lindsay?

- Foi ligar pra casa dela. – Vinnie informou, sorrindo de canto ao ver John. –Olha só...

- Ele dormiu lá em casa porque ficamos fazendo trabalho. – Jesse se apressou em explicar, quando Brian e Garrett pareciam ter o notado também.

- Só isso? Por que ele está usando suas roupas? – Brian perguntou, rindo sugestivamente, ao que Jesse girou os olhos. John ia replicar, mas sentiu a mão do outro em seu ombro.

- J.No, por que não vai procurar seu namoradinho, huh? Eu acho que já te vi por tempo demais, e depois do almoço vamos continuar o projeto, então, me dá esse tempinho sem olhar pra sua cara, tudo bem? – Jesse pediu, voltando a adquirir aquele ar desdenhoso que tinha sempre que estava com os meninos.

Meninos esses que John escutou rir, quando ele girou nos calcanhares – depois de olhar muito feio para Jesse, claro – e começou a fazer o que Jesse sugeriu.

Precisava muito se explicar com Adam.

Não demorou em o encontrar, de braços cruzados, olhando com desprezo para a multidão. Estava encostado à mureta do estacionamento, ao lado de Matt e Pete, que em contrapartida, pareciam preocupados.

- Adam! – chamou, se aproximando cauteloso, não sabia que tipo de reação o namorado teria caso soubesse onde passou a noite, ou se iria o questionar sobre não ter dado notícias no dia anterior. Mas o olhar aliviado do outro o fez pensar que talvez ele aceitasse a mentira que ele e Jesse criaram sem mais perguntas. Sentiu quando os braços compridos e magros do garoto o envolveram, e os lábios frios depositaram um beijo demorado em seu rosto.

- Já soube da última? – John se afastou um pouco de Adam, que meneou a cabeça para o prédio da escola.

- Estão falando todo o tipo de coisa. –comentou Pete – Mas nós já sabemos o que houve.

- Porque o Peter é um fofoqueiro de mão cheia, e os contatos dele já ouviram tudo por aí. – terminou Matt, recebendo o olhar torto de Pete e Adam. –É verdade, oras...

John riu dos outros, achando engraçada a preocupação de Adam com o que poderia ter acontecido, se perguntando se ele sabia realmente o que era, se sabia que a denúncia havia sido feita por Jesse, se sequer imaginava que o próprio namorado havia sido a tal vítima.

- O que aconteceu, então? Porque, é, estão falando todo tipo de coisa. –John concordou. Adam suspirou, o abraçando mais forte.

- Um garoto foi estuprado e depois espancado. Dizem que o corpo dele estava todo deformado. – Adam murmurou.

- Ele era gay. Dizem que foi o Sabo. – Pete adicionou, assentindo.

- Que merda... – John resmungou, afagando os fios lisos do cabelo de Adam, sentindo o outro se mexer incomodado em seus braços. Se afastou novamente, o bastante para observar o outro, que o olhava estranho, agora o segurando pelos ombros, e correndo os olhos por seu corpo, até os pés.

Uh-Oh.

- Você está com o perfume do Jesse, com as roupas do Jesse, e com o tênis do Jesse. Você não usa Azzaro, você usa KaiaK. – e o olhou novamente – Ele estava usando essa roupa quando terminou comigo, John. – e o lançou aquele olhar horrível de quem está ali esperando uma explicação plausível.

Talvez a mentirinha criada não fosse uma explicação plausível, e alterar os fatos um pouco, talvez fosse necessário, e Adam e Jesse não se falavam, mesmo, então talvez isso não fosse um grande problema.

E John estava começando a entrar em desespero com a corrente de pensamentos desordenados que surgiam em sua mente no momento.

- Ahn? – resmungou, de soslaio vendo Matt e Pete se afastando dos dois.

- Você não pareceu ontem, fiquei esperando a tarde toda, e com certeza foi se enfiar na casa do Jesse. Hoje você chega fedendo a Azzaro e usando as roupas dele, justo essas roupas. O que é? Vai terminar comigo no meio da escola também? Aproveita e pede o megafone da diretora emprestado, vai ser mais criativo do que ele. – Adam falava e gesticulava, enquanto John tentava se esconder, e se observar quando Adam mostrava suas roupas, ainda aumentando o tom de voz, atraindo alguns olhares para os dois.

Jesse só podia ter feito de propósito.

Ele sabia que Adam se lembraria desses detalhes.

Ele sabia que Adam se lembraria do jeans surrado, da camiseta azul dos Smiths – que estava coberta pelo moletom branco – do converse preto e que teria certeza que John estava tentando terminar com ele simplesmente porque o término do namoro deles foi um tanto traumático.

- Posso explicar? – pediu quando Adam começou a o lançar olhares de mágoa e ficou em silêncio. – Eu tomei chuva ontem, e fui pr casa do Jesse, porque me lembrei que ele estava com um dos meus livros, que esqueci lá da outra vez, e eu precisaria do livro hoje. Entrei, e ele ficou penalizado com o meu estado, e me deu uma muda de roupas, enquanto secava as minhas na secadora. Então, fomos adiantando uma parte do trabalho, e quando vimos já estava tarde. – fez um pausa, ao que Adam não parecia muito satisfeito com a explicação. –Então a tia Sandy chegou, e me fez ficar pro jantar, disse que lavaria minhas roupas, e ligou pra minha casa, pedindo pra que eu ficasse por lá mesmo.

- Que simpática... – Adam soltou, irônico. John suspirou.

- Sim, muito. Acabei ficando, e hoje cedo encontramos minhas roupas sendo lavadas, então o Jesse me emprestou roupas pra vir pra aula. Foi só isso.

Adam o olhou de cima a baixo mais uma vez, e depois para seus olhos.

- Você está com o perfume dele.

- Está impregnado nas roupas, Adam. – disse entre dentes, já perdendo a paciência com a desconfiança do namorado. Não havia feito nada com Jesse, nem gostava de pensar nisso, e Adam não precisava fazer aquele escândalo todo só porque estava com roupas do seu ex-melhor amigo e ex-namorado d...

É, okay.

Talvez o escândalo tivesse fundamentos.

-Johnny, eu não vou me sentir bem em te olhar assim o dia todo. Você não pode passar em casa se trocar? – pediu, colocando o lábio inferior para frente, unindo as sobrancelhas feitas em sua melhor expressão facial de quem queria algo. Em outras ocasiões, John não teria o negado nada, mas o problema era que...

- Eu tenho que voltar pra casa do Jesse depois do almoço. – se afastou um pouco. Tinha a impressão que Adam explodiria, ou gritaria com ele em seguida. Também não gostava de gastar todo seu tempo livre ao lado do outro, mas o projeto foi a desculpa que conseguiram para que John não precisasse se envolver em nenhum tipo de atividade sexual com Adam nos próximos dias. Ainda estava traumatizado, e a simples menção a sexo na sua frente o dava calafrios, mesmo que a o olhar de Adam estivesse lhe partindo o coração. Não estava nem perto de pronto para contar a ele o que aconteceu, por isso precisava ficar longe.

Além de tudo, a presença de Jesse – mesmo que incômoda em alguns momentos – o acalmava.

- Ótimo. Ele está conseguindo o que ele quer. – a voz de Adam se fez ouvir, mesmo sob os gritos dos alunos atrás deles, direcionando xingamentos a Kyle Sabo, que estava sendo retirado da escola algemado. –Ele está te ganhando, e eu estou te perdendo.

- Ele não está ganhando nada, e você não está perdendo nada, Adam. Entenda, é só pra terminarmos esse trabalho logo, e assim que terminarmos eu vou passar os dias inteiros com você. – disse, tentando tocar o rosto de Adam, que se afastou.

- Você faz promessas iguais a ele. – sacudiu a cabeça, fez meia volta e saiu na direção de Matt e Pete.

Suspirou, começando a andar na direção de sua casa, só queria entender por que Deus o odiava tanto. Não era uma questão de não confiar em Adam, poderia ter corrido até a casa de Adam, mas duvidava que o garoto fosse fazer por ele tudo que Jesse fez. Ele provavelmente ficaria assustado e levaria a questão ao Clube AHG, e o caso seria discutido por dezenas de pessoas que ele nunca viu na vida.

E Adam ficaria acordado com ele a noite toda porque ele não conseguia dormir?

Ele não saberia dizer.

Se sentia péssimo por não dar uma chance a Adam, por não dar essa abertura para que ele fizesse o papel de namorado, mas ele não conseguia. Não conseguia se abrir com alguém que ele conhecia – literalmente – há dias, mesmo que o alguém em questão fosse seu namorado. E se pegou pensando que talvez devesse pedir a opinião de Jesse para resolver seu caso, já que eram ex-namorados e Jesse parecia saber bem o que Adam gostaria e o que ele não gostaria de ver ou vir a saber.

Quando tocou a campainha da casa dos Lacey, já estava vestindo suas próprias roupas, carregando as de Jesse dentro de uma sacola, a mochila nas costas, carregada de livros e material para terminarem a maquete. Jesse abriu a porta com um muffin enfiado na boca, cara de sono e pijama.

- Estava dormindo, entre. – disse se afastando da porta, as pantufas roxas de dinossauro fazendo barulho quando ele arrastava os pés pelo carpete. –Quer muffin? – a voz sonolenta chamou sua atenção, fazendo com que ele desviasse os olhos das coisas roxas e peludas se mexendo na sua frente.

- Não, obrigado. – sacudiu a cabeça, esperando quando o outro ressurgiu na sala e passou por ele, pegando a sacola em mãos, pulando os degraus da escada na direção de seu quarto. –Você fez de propósito. –acusou, o seguindo.

- O que? – Jesse perguntou, sem o olhar.

- As roupas que você emprestou, ele lembrou! – exclamou quando cruzaram a porta branca para dentro do quarto, onde a cama desarrumada denunciava que Jesse voltou a dormir assim que voltou pra casa.

Okay, o pijama já denunciava isso, mas John preferiu não prestar atenção a esse detalhe, preferia usar sua concentração para xingar Jesse.

- Que roupas? – Jesse se jogou na própria cama, esfregando os olhos azuis com as mãos. –Você não dormiu desde ontem?

- As suas! – começava a achar que ele tinha perda recente de memória. –E dormi um pouco em casa, mas não muito.

- Está com olheiras. –se esticou nas cobertas, enfiando o rosto no travesseiro. –Hum... quer mesmo fazer trabalho? A gente pode ficar tocando, e vendo filmes a tarde toda.

Respirou fundo, tentando não perder a paciência.

- Se não vamos fazer trabalho, eu vou procurar meu namorado e tentar me desculpar com ele.

- O Adam é chato. – Jesse resmungou com o rosto enfiado no travesseiro. –Muito chato, muito pentelho, muito burro, muito sexualmente insaciável... – e ergueu o rosto, olhando de soslaio para ele com um meio sorriso.

John sorriu.

Quando não estava sendo um idiota, ou quando John não estava prestando atenção ou levando em consideração os comentários maldosos, Jesse era adorável.

- Deixe o Adam em paz. – pediu, colocando a sacola e a mochila em um canto do quarto, ao mesmo tempo em que Jesse se levantou, e começou a arrumar a cama.

- O Cody está dormindo, vou me trocar e já venho para fazermos algo legal. – pegou a sacola do chão, se dirigindo ao banheiro.

John se sentou sobre o colchão macio no qual dormiu, esperando enquanto Jesse não voltava, os olhos castanhos detrás das lentes se fixando no violão no canto do quarto, pousado como que em um altar. Se perguntava se era difícil aprender, porque quando Jesse estava sentado no chão, na tarde anterior, correndo os dedos pelas cordas e murmurando qualquer música que fosse, parecia tudo tão simples e bonito que ele começava a achar que poderia fazer também.

- Toca? – Jesse perguntou, se encolhendo no agasalho branco que John esteve vestindo há algumas horas.

- Não. É difícil? – perguntou, sem tirar os olhos do chão, se sentindo um pouco envergonhado de pedir para que Jesse o ensinasse. Jesse se levantou, tomando o instrumento com cuidado nas mãos, o colocando no colo de John, posicionando seus dedos sobre as cordas, sorrindo durante todo o processo.

- Esse é o Lá. Na cifras o definem como “A”. – disse, descendo os dedos pelas cordas, fazendo um som desafinado sair. John torceu o nariz, vendo Jesse rir. –Você tem que apertar as cordas, John. Assim... – e subiu na cama, se sentando atrás dele.

Ele sentiu os músculos ficarem tensos quando o braço direito coberto pelo agasalho branco passou por debaixo do seu braço, segurando sua mão direita na dele, e o esquerdo por cima de seu ombro, ajustando e apertando seus dedos contra as cordas no braço do violão. E se já estava incomodado com isso, não era nada perto da respiração em seu pescoço.

- Jesse... você está machucando meus dedos. – disse, olhando a própria mão.

- No começo machuca. – ele riu – Mas passa quando cria calo.

Estava realmente machucando.

- Calo? – perguntou. Não sabia que pessoas que tocavam violão ficavam com os dedos calejados, nunca havia reparado, mas a mão de Jesse em seu rosto comprovava que era verdade.

- Assim. – disse, removendo a mão, voltando a posicionar seus dedos nas cordas. –Esse é Ré, ou “D”. – disse mudando a posição, e fazendo a mão direita de John correr pelas cordas, agora emitindo um som gostoso.

- É complicado... –reclamou, mas Jesse sorriu, se ajeitando atrás dele, esticando o rosto para frente, relaxando o queixo em cima de seu ombro, o olhando. John virou a àbeça de leve, encontrando os olhos azuis de Jesse, sentindo que seu rosto estava quente demais, e que ele provavelmente estava perto da tonalidade roxa.

- É fácil. Eu posso te ensinar, se quiser. – o dos olhos azuis disse baixo, sério.

John não sabia se teria forças pra dizer qualquer coisa quando tinha aquele garoto o olhando e sussurrando tão próximo que fazia suas pernas amolecerem.

Não queria pensar em nada que envolvesse suas mãos em cima de Jesse, mas ficava meio difícil quando era a mão de Jesse que estava envolvendo sua cintura no momento, ou quando era a respiração de Jesse que estava batendo contra a sua, tão próximo, tão próximo...

- Jessie... – a voz fininha e chorosa veio da porta. - ...tô com fominha.

Ele sentiu Jesse sumir de trás dele e correr para a porta, pegando sua miniatura no colo.

- Você só come, Cody! – riu, fazendo cócegas na barriga do pequeno, que gargalhava. – Vou fazer a comida dele, John. Já volto. – sorriu para ele e sumiu pela porta, o deixando sozinho para finalmente começar a relaxar os músculos.

O que havia sido aquilo?