Levittown Is For Lovers

Capítulo 12 – Well, It’s Love…


John envolveu a cintura de Adam, gostando do quentinho do corpo do outro contra o seu, o queixo apoiado em sua cabeça, enquanto Adam falava sobre as reuniões do Clube AHG. Não que John estivesse interessado, mas gostava de ouvir Adam, as palavras saíam com empolgação, com espontaneidade. Adam era extrovertido, engraçado, e conseguia tudo que queria. Sabia dizer ‘não’, e sabia aceitar o que seria melhor para ele. Conseguia se esquivar dos problemas e não se preocupava tanto com as notas. Era impulsivo, sincero, autêntico.

Era tudo que John sempre quis, mas nunca seria.

Então por que aquela dúvida toda sobre estar certo em aceitar Adam como seu namorado? Não gostava dele?

Se achava confuso e não-digno ter que Adam o abraçando.

- Vai fazer o que no fim de semana? – perguntou, o nariz tocando o seu de levinho, sorrindo.

- Não sei. O que vamos fazer no fim de semana? – perguntou, selando os lábios do namorado.

Não era tão ruim pensar assim...

Namorado.

Adam aproveitou que os lábios de John estavam sobre os seus, e aprofundou o beijo. Uma das mãos de Adam subiu gelada pelas costas de John, por dentro do agasalho, o fazendo soltar uma exclamação se surpresa contra os lábios do outro.

Ele sabia – porque Jesse já havia avisado – que não era prudente que eles fizessem isso enquanto estivessem na escola, mas não adiantava falar para Adam. Ele dizia que se as garotas e os garotos podiam, eles também podiam. E teoricamente ele estava certo, mas os punhos dos caras grandes e héteros da escola não sabia nada sobre as teorias de Adam sobre direitos iguais.

- Adam... – suspirou, assim que se afastaram. -...melhor não fazer nada aqui.

Adam suspirou, girando os olhos.

- Então vamos pra sua casa quando sairmos. - disse. Não havia perguntado, não havia pedido, apenas... disse. John não sabia se queria ficar sozinho com Adam, porque previa que algo para o qual ele não estava preparado aconteceria, porque para Adam, barreiras eram só morrinhos de areia a serem chutados.

Ele não se preocupava muito com “limites”.

Na verdade, John imaginava que ele sequer soubesse o significado de “limites”.

- Eu tenho que ir pra casa do... – começou, mas Adam pousou o indicador sobre seus lábios, sorrindo.

- Não fale o nome dele. Eu não gosto quando você fala. – disse, voltando a o beijar. John não entendeu qual era o problema em falar “Jesse”, mas se Adam se incomodava, ele simplesmente não diria mais.

Foi só alguns segundos depois que percebeu que ainda estava de olhos abertos enquanto beijava Adam, a testa franzida e sua atenção voltada para o grupo de garotos parados próximos ao estacionamento, os olhando sérios.

Fechou os olhos, correspondendo ao beijo.

Para o alívio de John, o sinal de entrada tocou, e Adam o soltou, sorrindo.

- Te vejo no intervalo. – se afastou dele, indo para dentro da escola. John assentiu, erguendo os olhos para o grupo de garotos que começava a andar em direção à entrada da Division Avenue High School, exceto por um, que vinha na sua direção, para a sua surpresa.

Jesse não demorou a chegar perto dele, parando a alguns centímetros, os cachos claros saindo aos poucos de baixo da touca de lã preta, agasalho preto e calça jeans. Seus olhos brilhavam com uma certa maldade ao que seus lábios se estreitavam em um sorrisinho nada inocente.

- Achei que não estivessem mais ficando. – constatou.

- Também achei. Mas agora estamos namorando. – respondeu girando os olhos. Jesse arqueou as sobrancelhas, parecendo surpreso alguns segundos, mas voltou a sorrir.

- Aposto que ele te encurralou de forma que você não conseguiu dizer ‘não’! – exclamou. Estranho que Jesse entendesse disso, porque Adam não parecia o tipo de pessoa que precisava forçar os outros a um relacionamento.

- É. Tudo tem que dar errado, dá errado comigo.

- Já dizia Murphy: Nada é tão ruim que não possa piorar. – Jesse meneou a cabeça para que John o seguisse para a porta. – Sua vida está indo pro buraco, hora de tentar superar.

- Você realmente me animou agora! – ironizou John, seguindo o outro. – Acho que não vou poder ir pra sua casa hoje, o Adam quer ir pra minha.

Jesse o olhou com o que ele jurava ser o seu maior tom de desprezo, sacudiu negativamente a cabeça e parou de andar, se posicionando na sua frente, bem no meio da passagem dos alunos.

- O que é mais importante pra você? Sua nota ou um orgasmo? – ele perguntou abertamente, em voz alta. Pelo menos metade do corredor se virou para os olhar, alguns rindo, outros parecendo em choque, e John só conseguia sentir suas bochechas corando. – Porque você pode dormir com seu namorado no fim de semana, mas eu não vou fazer trabalho nenhum no fim de semana. Eu também namoro, eu também quero sair...

John olhou em volta, todos os presentes praticamente formando uma roda em volta deles. Ia retrucar, mas acabou se sentindo envergonhado com tanta gente o notando.

Não gostava de pessoas, não gostava!

Girou nos calcanhares e saiu marchando na direção do seu armário. Acabaria se atrasando para a aula se ficasse ali ouvindo Jesse, que apesar de tudo, tinha razão sobre o trabalho. E usar isso para não ficar sozinho com Adam era ótimo.

Achava que ia morrer virgem.

Não conseguia deixar que se aproximassem dele o bastante para que acontecesse algo, mas não por receio, porque não se sentia à vontade, só isso. Mãos em cima dele, em lugares que não deveriam estar, sussurros, beijos... não. Definitivamente não era para ele. Por isso não gostava de garotas. Se sentia constrangido na frente delas.

Mulheres eram criaturas sagradas para ele.

Tão sagradas que se imaginar tocando uma, o dava ânsias de vômito.

Fechou o armário com força ao terminar de pegar seu material, percebendo as presenças perto dele. Se virou devagar para encarar o trio que o cercava: Brian, Garrett e Vinnie.

- Você tem idéia da merda que você está fazendo? – Vinnie perguntou, sério como Garrett, mas Brian sorria.

John achava que fazer Brian parar de rir era impossível, nunca o viu sério.

- Depende. O que eu fiz agora? – perguntou desinteressado. Na verdade, estava muito interessado, mas não queria demonstrar, já havia deixado que pegassem muito seus pontos fracos.

- Lazzara?! – Vinnie exclamou, ajeitando a boina na cabeça. –Olha, você está cavando a própria cova. Não adianta querer se aproximar do Jess sendo o namoradinho daquele lá...

- O nome dele é <i>Adam</i>. – John respondeu, olhando ao redor. –Eu preciso ir pra aula.

- O Garry e o Brian vão te levar. – Vinnie se virou para andar, mas parou, o encarando com um meio sorriso, e depois correndo os olhos para seu baixo ventre. Riu e saiu andando, sem conseguir ver John puxando o moletom para baixo, na tentativa inútil de se cobrir.

- Relaxa... – começou Brian, rindo.

- Ele não morde. – completou Garrett, os dois o seguindo enquanto ele tentava chegar à sala.

- Eu não preciso de escolta. – exclamou por cima do ombro para os dois.

- Na verdade, precisa sim. – disse Garrett.

- Estando acompanhado de nós, ninguém te bate. – concluiu Brian.

Loucos.

- Me bateriam por causa do Adam, é isso? – perguntou. Estava cansado do papo de que todo mundo os socaria e coisas assim. Não aconteceu, não iria acontecer.

- Claro que bateriam! – exclamou Garret no seu ouvido direito.

- Não só bateriam, mas deformariam. – disse Brian no seu ouvido esquerdo.

- E nós vamos te proteger. – informou Garrett no direito.

- Porque nós só queremos o seu bem, Nolan! – Brian no esquerdo, pousando a mão em seu ombro.

- Exato! Porque somos garotos bonzinhos. – Garrett imitou o movimento de Brian.

Foi então que John percebeu que não estava no seu corredor, e que as mãos deles em seus ombros não podia ser bom sinal. E viu.

Viu a faxineira limpando o corredor, Vinnie na outra ponta, sorrindo, e antes que pudesse correr dali, já havia sido empurrado e já estava deslizando para cima da pobre senhora e com balde cheio de água cinzenta.

Merecia.

Merecia tudo aquilo e mais um pouco.

Já havia trocado de roupas, mas ainda sentia o cheiro dos produtos de limpeza nele. Devia ter previsto que encontrar aqueles três acarretaria algum desastre, mas estava tão distraído, tão perdido, tão interessado em simplesmente chegar na sala de aula que não se deu ao trabalho de evitar...

-John Thomas Nolan? – a professora chamou, o fazendo erguer os olhos para ela na frente da sala.

- Sim? – respondeu. Havia um homem ao seu lado, que não devia ter mais de trinta anos, cabelo curto, castanho, olhos castanhos e dentes muito brancos.

Sorria para ele.

- Este é o conselheiro estudantil de nossa escola, o Senhor Kyle Sabo. – disse a mulher, olhando com adoração para o homem ao seu lado. –Sendo novo na escola, ele te espera para conversarem um pouco depois da aula, sobre sua adaptação e coisas assim, tudo bem? – John desviou os olhos da mulher para o tal Sr.Sabo, não se sentindo exatamente seguro com o olhar do outro. Parecia ameaçador, mas sorria, e algo nele não o agradava.

- Tudo bem. – respondeu, inseguro.

- Espero te ver em algumas horas então, John! – ele disse calmo, tomando o papel das mãos da professora, se dirigindo para fora da sala enquanto a mulher continuava a explicar a matéria. John não conseguia tirar os olhos da porta por onde ele saiu.

Não estava com um bom pressentimento.

Jogou o corpo no banco da mesa do refeitório, sentindo os olhares de Adam e Matt sobre ele. Não queria falar, não tinha o que falar. Não era como se a parte mais interessante do seu dia tivesse sido algo bom, porque bem, nunca era algo bom, nunca havia nada de bom no seu dia.

Desembrulhou o canudo do suco, digerindo o silêncio pesado na mesa, pronto para simplesmente comer e voltar para a sala quando alguém se sentou ao seu lado, e ele não precisou olhar para o alto para saber quem era, o suspiro pesado e irado de Adam já denunciavam que havia um par de olhos azuis o encarando.

Furou a caixinha, começando a tomar o suco.

Também não estava a fim de conversar com Jesse.

Tinha certeza que foi ele quem mandou os três o atormentarem pela manhã.

- John, está tudo bem? – foi Matt quem perguntou, e pela primeira vez ele ousou erguer os olhos, encontrando Adam e Jesse no que parecia uma batalha para quem parava de encarar o outro antes. Ignorando a mentalidade de crianças de sete anos dos dois, se virou para Matt com um sorriso falso.

- Não. O Lane, o Tierney e o Accardi decidiram me jogar no balde de limpeza hoje cedo, e o Conselheiro quer me ver depois da aula. – e se virou para Adam – E isso destrói os seus planos de ir pra minha casa, e os seus planos de me fazer estudar a tarde toda, Lacey.

- Oh. – Jesse riu, provavelmente porque Adam fez a sua maior expressão facial de derrota. –Na verdade, eu vim te avisar que se quiser me ajudar em algumas partes agora, eu te dou folga por hoje.

- Mesmo? – perguntou incrédulo. Poderia marcar com Adam um pouco mais tarde, então.

Adam não parecia muito feliz com a idéia, olhando de Jesse para John, e para Matt, emburrado, pronto para soltar o que queria. Ele tinha certeza que se ficasse ali muito tempo, os dois acabariam brigando, mas se saísse dali com Jesse, Adam o questionaria incansavelmente assim que voltasse.

Por que ele se metia nessas coisas?

- Sim. – Jesse assentiu, recolhendo as coisas. –Pegue seu lanche e vamos pra arquibancada estudar. – começou a se levantar, quando Adam se colocou de pé também.

- Lacey, escute aqui: esse trabalho é pro fim do ano letivo, vocês não precisam correr com ele agora, então por que não deixa o John em paz por hoje e vai cuidar da Lindsay, huh? – perguntou, mais calmo do que John imaginou que ele pudesse estar.

- Lazzara, não é porque você não se importa pra onde vão as suas notas que ninguém mais se importa. Lamento se você não está, nem nunca estará, em uma classe avançada e nunca saberá como a matéria é puxada, mas nós estamos, e estamos fazendo o possível pra tirar uma nota boa. Agora, recolha-se na sua insignificância purpurinada que você não vai conseguir fazer nada com o John no intervalo. – soltou, grosseiro. John queria conseguir revidar por Adam, xingar Jesse e o humilhar igual, e na verdade, até tinha armas para tal coisa, mas...

Estava tão bem quietinho na sua...

- Eu estava tentando ser agradável, mas você não pode retribuir as coisas na boa, tem sempre que ser grosso, estúpido! – Adam suspirou – Entenda, você mesmo não o quis quando ele chegou, não adianta tentar ser legal com ele agora, ele já sabe quem você é, e sabe que...

- Lazzara, ele sabe quem eu sou desde os nove anos de idade, agora, se nos dá licença, vamos fazer algo muito mais produtivo do que ouvir sua voz irritante ecoando pelo refeitório. – e prendendo os dedos da mão que não estava carregando livros e cadernos na gola do agasalho de John, Jesse saiu o arrastando, dando tempo para que ele apenas olhasse para Adam como se pedisse desculpas.

Se sentaram no alto das arquibancadas, John comia, enquanto Jesse revia as anotações que John fez na ultima seção de estudos, circulando algumas coisas com o lápis, demorando o olhar sobre outras, rindo com algumas observações pessoais que John colocou entre parênteses.

John gostava das coisas entre parênteses, e gostava de ver Jesse rindo dessas coisas, porque era nessas horas que parecia que nada havia mudado, que parecia que eles ainda eram próximos e ainda eram grandes amigos. Mas assim que Jesse voltava a ficar sério, franzindo a testa e estreitando os olhos para as palavras escritas mais rápidas – tornando a caligrafia mais confusa – que ele notava que as coisas haviam mudado para sempre.

- Essa parte ficou muito boa. – disse Jesse, sorrindo para ele. –Por que foi chamado na sala do Sabo? – perguntou, fechando o caderno.

John apenas deu de ombros.

- Ele disse que quer conversar porque eu sou novo na cidade...

Jesse suspirou, pegou sua maçã de sobremesa e mordeu, olhando os garotos no campo, treinando para o jogo do Homecoming.

- Uma pena eles serem todos uns homofóbicos. – moveu a cabeça na direção do campo, fazendo John rir alto. Não imaginava que Jesse pudesse ter o mínimo interesse que fosse pelos meninos do time de futebol da escola. – É sério! – Jesse exclamou, rindo junto.

- Eles são... burros. – John comentou, apontando os garotos, ainda rindo um pouco.

- E você está namorando um poço de neurônios, né? – Jesse alfinetou, mordendo a maçã novamente. John não sabia o que responder, porque bem, Adam era ótimo e entendia de vários assuntos pelos quais ele nunca se interessaria, por outro lado, não sabia nada sobre Física, Química, Matemática... ele não considerava isso burrice, só achava que eram inteligências diferentes. Havia os gênios, como Jesse, os que entendiam de exatas, como John, e quem voltava todo o lado bom para as artes, e esse era o caso de Adam. Mas não se daria ao trabalho de explicar isso a Jesse, porque ele não concordaria, porque Jesse era teimoso, e nunca, nunca se deixaria levar pela opinião de alguém que ele não gostava.

E ele não gostava de John.

- Deixa ele em paz. Eu não entendo por que você o odeia tanto! – exclamou. Entendia porque Adam odiava Jesse, mas não entendia o contrário. Não se lembrava de terem lhe contado que Adam fez alguma coisa a Jesse, mas sobre o que Jesse fez com Adam sim. Foi quando Jesse ficou sério, os olhos fixos em algum ponto distante deles, pensativo.

- Uma longa história. Você não vai querer ouvir isso agora. – sorriu fraco, ouvindo o sinal tocar.

Ele não queria entrar naquela sala. Não queria encarar aquele homem estranho novamente, e ouvir sobre Omo deveria ter uma vida social mais ativa, porque bem, ele nunca teria uma vida social ativa. Deu dois toques curtos com os nós dos dedos na porta de carvalho do escritório do Sr.Sabo, respirando fundo ao se lembrar que Adam o estaria esperando ligar quando saísse do colégio para irem para sua casa.

- Entre! – a voz soou do lado de dentro, e John girou a maçaneta, abrindo a porta e se deparando com o homem sentado atrás da mesa coberta de papéis, formando um largo sorriso quando John entrou e encostou a porta atrás de si.

- Nolan! – ele disse animado. – Sente-se, rapaz. Vamos conversar um pouquinho, okay?

- Certo. – murmurou, se sentando na cadeira de couro posicionada em frente à mesa do Sr.Sabo, que se levantou, indo na direção da porta devagar.

- Então você morou em Londres, Nolan? – perguntou com ar de quem já sabia a resposta.

- Sim, por quatro anos e meio. – tentou soar simpático, sem sucesso.

- E está namorando um garoto, fiquei sabendo... – ele se encostou na porta, tirando um molho de chaves de dentro do bolso, colocando uma no buraco da fechadura.

- É... – John franziu a testa, vendo ele trancar a porta, e se virar para ele com um sorriso sádico no rosto.

- Você deveria falar mais, Nolan, eu adoro o sotaque britânico.

E antes que John pudesse gritar ou pegar algo com que se defender, uma mão já estava firme sobre sua boca, e o hálito quente em seu ouvido dizia que se ele gritasse ou tentasse qualquer coisa, seria muito pior...