Levittown Is For Lovers

Capítulo 10 – You’re Everything I Want, ‘Cause You’re Everything I’m Not


Adam se levantou da mesa do refeitório, indo entregar a Pete o documento com as propostas para o Homecoming. Estava mais frio que o normal do lado de fora, e mesmo com o barulho e o monte de pessoas felizes no refeitório, era muito mais confortável ficar lá dentro no intervalo, onde as janelas estavam fechadas e as portas impediam que o vento cortante os atacasse.

- Quando vai pedir pra ele, John? – Matt perguntou, travando uma guerra da colher contra sua gelatina, que não parava dentro do pedaço de plástico tempo o bastante para que Matt a levasse à boca.

- Oi? – John voltou sua atenção para o rapaz ao seu lado. Estava tão distraído remontando os pedaços de seu sanduíche que sequer ouviu o que o outro disse, tendo sua atenção captada quando ouviu seu nome. No momento tanta coisa se passava em sua cabeça que ele realmente não sabia o que fazer, no que pensar, o que solucionar primeiro.

- Quando vai pedir pro Adam ser seu namorado? – repetiu a pergunta, virando uma grande colherada de gelatina na boca.

Era complicado.

Como explicaria a Matt que não estava apaixonado como Adam achava que ele estava? Porque sim, Adam achava que ele estava apaixonado.

- Não... não sei se vou pedir, Matt. – disse, olhando involuntariamente para a mesa de onde risadas altas vinham, Brian e Vinnie contando alguma história para os outros. Jesse estava sentado, distraído com alguma coisa em um caderno, Lindsay de um lado, Kevin do outro.

Kevin...

Se lembrava da festa na praia, da fogueira, das cervejas, da smirnoff ice, do que viu.

- Por que não? – perguntou Matt, sua atenção totalmente voltada para ele, sentia os olhos claros do garoto se enterrando ao lado de sua cabeça.

Como explicaria isso?

A noite estava fria, com poucas estrelas no céu, e um chuvisco fino pinicando os rostos já gelados o bastante. A fogueira montada na areia da praia era grande o bastante para aquecer todos os presentes no local, mesmo que alguns preferissem se aquecer de outra forma, dentro dos carros estacionados na calçada.

Não era o caso de John, Matt e Adam.

Adam estava agasalhado até o último fio de cabelo, com touca, luvas e cachecol, se recusando a beber qualquer coisa que não estivesse em temperatura ambiente, alegando que a temperatura ambiente já era gelada o bastante para ele. Matt estava se divertido, pulando de um grupo de pessoas para outro, ignorando solenemente o grupo de Jesse, que fizeram questão de se isolar de todo o resto para tocar violão e cantar.

Vez ou outra, algumas pessoas se aproximavam, cantavam com eles, e depois voltavam para perto da figueira.

John realmente não entendia qual era o propósito de ir a uma festa para se isolar.

Não havia passado nem duas horas que eles haviam chegado quando Matt alegou estar com o braço trincado doendo, não podia tomar friagem, e estava lá pulando feito louco para ver se conseguia se aquecer, o que se provou uma tarefa bem complicada.

John viu quando Kevin e Jesse desapareceram da roda.

- John? – uma vos feminina soou ao seu lado assim que Adam saiu para acompanhar Matt na busca por um agasalho no carro. John ergueu os olhos de sua cerveja – ainda cheia! – para encontrar os olhos de Lindsay por trás dos óculos de aro vermelho. –Posso sentar com você? – ela riu.

- Claro! – ele sorriu de volta. Engraçado como ela sempre pedia antes de se sentar com ele, tanto na aula, quanto na festa. –Gostando?

- Não muito. Preferia estar em casa jogando vídeo game, mas o Jesse que me arrastou. – deu de ombros, tomando um gole de smirnoff ice. –Ele me chama de anti-social, mas ele mesmo já sumiu.

John não sabia se deveria dizer que o viu indo a direção ao estacionamento com Kevin, porque não sabia se o braço de Jesse envolvendo a cintura do ruivo era normal.

Provavelmente não.

- Pra onde ele foi? – perguntou, fingindo não estar interessado. Na verdade, acreditava que era só curiosidade de sua parte, visto que não tinha nada a ver com a vida de Jesse.

- Consolar o Kevin. – Lindsay deu de ombros. –A Nikki chutou ele há uns dois dias, e ele não conseguiu superar ainda. O Jesse tem sido um bom ombro pra ele, e sério, o Jesse não é muito paciente ou bondoso com os outros. No lugar do coração, de vez em quando eu acho que ele tem um buraco negro.

Até onde a garota estava falando sério, ou até onde a bebida a havia feito dizer aquilo, John não sabia, só sabia que não tinha como discordar.

- Ele tem uma fama ruim, mesmo. – comentou, vendo Adam se aproximar deles com ar preocupado, o que o deixou preocupado também, já que Matt não estava com ele e Lindsay estava ao seu lado, mas ao olhar a garota, a percebeu sorrindo meiga para Adam, que sorria de volta.

- Hey, Addie. – disse quando o rapaz se abaixou, dando um beijo em seu rosto, se jogando ao lado de John logo depois.

- Como está? Se divertindo? – perguntou.

- Não. – ela fez uma careta. –Vim conversar com o John porque não agüento mais os meninos cuidando de mim como se eu fosse um pertence do Jesse.

- Típico. – suspirou. –Até quando nos falávamos já era assim.

Lindsay riu.

John não entendia como os dois podiam se dar bem, já que Lindsay foi a causa do fim do namoro, mas até então, havia coisas demais naquele lugar que ele era incapaz de entender.

- Cadê o Matt? – perguntou.

- No carro, ele não está muito bem, acho que bebeu demais. – Adam deu de ombros.

- Eu vou dar uma olhada nele. –John se levantou. Precisava tomar um ar, andar um pouco.

- Se por acaso encontrar o Jesse e o Kevin, peça pra eles voltarem? – Lindsay pediu. John apenas assentiu, deixando os dois para trás.

Não queria encontrar Jesse e Kevin, mas parecia que sua sorte estava um tanto escassa naqueles tempos, sendo que a partir do momento que entrou no estacionamento percebeu dois corpos se movendo dentro de um dos carros. De cara não imaginou que pudesse conhecer as duas pessoas, mas quando se deu conta dos fios ruivos pendendo por dedos grossos do outro rapaz, não teve dúvidas. Fez o contorno do carro, podendo observar com perfeição quando Jesse pressionou o corpo de Kevin contra o banco, se posicionando em cima dele.

Estava um misto confuso entre bater no vidro e dizer que Lindsay estava o chamando, e deixar pra lá, para usar isso como chantagem depois, se bem que tinha a leve impressão que Jesse o faria parecer ridículo na frente de todo mundo se ele tentasse dizer algo. Se os deixasse lá, podia ser que Lindsay os encontrasse, e seria muito divertido se isso acontecesse.

Mas também, não poderia executar sua vingança, e com tanta coisa que estava atormentando a sua mente no momento, não teria tempo de pensar em uma vingança melhor.

Se aproximou do carro, dando dois soquinhos no vidro, quase rindo quando os dois fitaram o vidro assustados, e vagarosamente, com cara de tédio, Jesse abaixou o vidro.

- Posso te ajudar em alguma coisa? – perguntou girando os olhos.

- Sua namorada está te chamando na fogueira. – disse, tentando não o xingar por estar traindo Lindsay e nem parecer assustado por ter visto aquilo.

- Mais alguma coisa? – perguntou ainda monótono. Diante da falta de resposta de John, que sem querer teve sua atenção voltada para o abdômen de Jesse, aparente, sendo mordiscado por Kevin. Mas só prestou atenção nisso porque Jesse semicerrou os olhos azuis e soltou um longo e prazeroso suspiro. – Quer participar, Nolan?

- Não! – exclamou um tanto alto demais, recuando um passo, batendo contra outro carro estacionado. Os dois riram, e Jesse fechou o vidro, voltando a beijar Kevin, correndo os dedos por seu cabelo, deixando que ele retirasse sua camiseta com facilidade.

Ele queria parar de olhar.

Mas não conseguia.

Foi só quando Kevin desapareceu pela parte inferior do corpo de Jesse e este soltou um som um tanto alto que John conseguiu retomar o controle de suas pernas e correu dali.

- Não quero que ele se magoe comigo ou algo assim, Matt. – o encarou. –Eu não sou a melhor pessoa do mundo para ter relacionamentos, e por mais que goste do Adam, eu não estou apaixonado.

Matt continuou o olhando, mas assentiu, sorrindo.

- O problema, John, é que ele está. – e o sorriso de Matt de repente pareceu triste. –Não quero mais ver o Adam se machucando.

John riu da ironia que era Matt dizer isso.

- Eu não quero o magoar. – disse simplesmente. –O que eu faço?

Matt pensou um pouco, observando a mesa da turminha de Jesse.

- Continue com ele. – deu de ombros. –Ele não vai pedir, e se você não pedir, fica tudo bem. E pode ser que você se apaixone, dizem que amor vem com a convivência. – E então fez uma careta. –Que coisa piegas.

John apenas riu, vendo quando Adam saltou algumas mesas para se aproximar deles novamente, se jogando animado no banco em frente a eles.

Abriu a boca, pronto para contar alguma coisa, quando sua imagem foi substituída pelo rosto preocupado de Jesse, e tudo que puderam ouvir foi o barulho de Adam sendo jogado ao chão.

- John, achei umas informações importantes pro trabalho. – começou, empurrando para a frente dele um livro velho da biblioteca. John, sinceramente, não sabia se dava sua atenção a Adam – agora de pé – que olhava Jesse indignado, ou se de fato lia o que estava no livro.

- Lacey, seu... – Adam começou, mas Jesse ergueu a mão para o rosto do outro, apoiando o cotovelo do outro braço na mesa, e o rosto sobre a mão, sem sequer olhar Adam.

- Fala com a minha mão, que meus ouvidos não querem te escutar. – disse com um suspiro, os olhos fixos nos de John, o impedindo de olhar para qualquer outro lado. Abaixou a cabeça, correndo os olhos pelas letras miúdas do livro de física que Jesse o entregou, não conseguiria o encarar por muito tempo, porque sabia que Jesse sabia que ele havia visto o que não deveria ter visto, porque ficou tempo demais onde não deveria ficar, e isso era constrangedor.

Não haviam falado do assunto, e ele tinha a impressão de que nem falariam, mas toda vez que olhava para Jesse, se lembrava da sua expressão ao...

É.

- Eu acho que dá pra usar todo esse capítulo na parte escrita, sim. – comentou, sem tirar os olhos das páginas. Sentiu quando o livro foi levemente puxado e Jesse começou a folhear, de cabeça para baixo.

- Sabe, eu não acho muito agradável dividir um banco com você. – Foi Adam quem disse, se sentando ao lado de Jesse, emburrado. John se sentiu na obrigação de dar um sorriso de desculpas para Adam, que retribuiu, assentindo de leve, o assegurando de que estava tudo b-...

- Então você pode ir dar uma volta enquanto eu estou aqui, porque ao contrário do que você pensa, eu não estou aqui cortejando o John. – a voz monótona de Jesse escapou de seus lábios. Tinha a língua afiada, o desgraçado.

E fazia John corar, o imbecil.

- Lacey, você não é bem vindo nessa mesa. – Matt revidou.

- Você não é bem vindo nesse mundo. – Jesse golpeou.

- Você vem aqui provocar, não é? Podia muito bem falar com o John depois da aula, mas não. Sua fome de atenção é tão grande que você precisa sair da sua mesa onde os seus seguidores ficam te bajulando para vir aqui... – Matt soltou, irritado. E John já não sabia muito o que fazer, visto que durante todo o processo em que Matt pensava grosserias para jogar contra Jesse, o outro simplesmente enfiou a mão no bolso, tirou um pirulito, o abriu, enfiou na boca e deixou o papel em cima de Adam.

Sim, na cabeça de Adam.

- Então, eles tem aqui uma maquete de um reator... – continuou, mostrando para John uma figura na página do livro.

- Lacey... – Matt resmungou, olhando para Adam que picava miudinho o papel do pirulito que havia sido depositado sobre seu cabelo impecável.

- Rubano, eu não ia te responder, mas bem, já que insiste... Por que eu viria até aqui em busca de atenção se você mesmo disse que eu tenho um bando de seguidores me bajulando na outra mesa? – sorriu cínico.

Ser amigo de Jesse devia ser divertidíssimo, o assistir acabando com as pessoas que você não gosta, e coisas do tipo, mas ser inimigo do infeliz era um tanto irritante.

- Eu acho que podemos montar o reator. – John tentou chamar a atenção de Jesse antes que ele e Matt começassem a brigar de verdade.

-Então ótimo! – Jesse sorriu, fechando o livro e por pouco não prendendo os dedos de John dentro dele. – Você pode ir lá em casa hoje e vamos à loja verificar os preços das peças.

Matt e Adam o estava fitando, esperando que ele dissesse qualquer coisa que pudesse desfazer o sorriso desdenhoso no rosto de Jesse.

Mas ele não conseguiria fazer isso, não quando os olhos de Jesse diziam que se ele não concordasse, teria sangue naquela mesa. E na verdade, terminar logo com aquilo para Jesse sumir logo seria uma boa opção, e também, precisavam mesmo fazer logo o trabalho, não queria nem ver na semana de provas...

- Tá. – respondeu.

- Ótimo. – Jesse sorriu se levantando. –Te pego na saída.

Adam e Matt o olhavam, ele não queria erguer os olhos do alface de seu sanduíche, sabia exatamente qual era a cara dos dois.

- Gente, eu não tenho escolha. – argumentou quando o silêncio pesado o irritou.

- John, ele está te chamando de John, não é mais Nolan. – Adam apontou.

É, alguma coisa havia mudado.

- Foi só pra te deixar intrigado, ele é um Idiota. – Com letra maiúscula.