Escutei a buzina atrás de mim.

– Vamos logo filha! Seu pai quer ir logo para não pegar trânsito na estrada! - minha mãe gritou de dentro do carro.

Eu ainda estava parada em frente de casa com a minha mochila nas costas. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Não queria ir, não mesmo, sem chance! Essa viagem destruiu a minha vida. Iriamos morar com minha avó materna. Meu irmão Jesse ia ficar em NY, afinal estava na faculdade, só que iria ter que se manter sozinho, ou seja, trabalhar e viver no alojamento da faculdade. Já eu tive que ir obrigada. Morar com a avó e os pais, que vida animada! E pra completar a minha felicidade meu pai ainda vendeu o meu carro pois estava 'muito necessitado do dinheiro para que nós pudessemos ter uma pequena melhoria no nosso estado catastrófico'.

Dei uma última olhada para trás e entrei no carro. Um último adeus a esse lugar que me dera tantas lembranças e bons momentos. Agora era só passado.. E era com o futuro que eu me preocupava.



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Quando chegamos na casa de minha avó meu primeiro pensamento foi o deu deitar na rua e esperar que um ônibus passasse por cima de mim. Será que iria funcionar? Tive que ajudar meu pai com as malas e lavá-las pra cima. Meu quarto era o antigo quarto (MOFADO) da minha mãe. Já imaginou um quarto dos anos 60 né? Assustador. Teria que dar um jeito nele. O quarto era do tamanho de meu antigo banheiro, eu estava entrando em crise. Joguei minhas malas e desci as escadas.

– Vó, por favor me diga que está de brincadeira comigo e que eu vou ter um quarto com um tamanho ideal pra mim e minhas roupas! - minha avó me olhou feio.

– Ou é isso ou a garagem. - fiquei chocada. Subi as escadas furiosamente e olhei para as minhas coisas jogadas e todas aquelas caixas. E agora? O que iria ser?

Ainda não acreditava no que estava acontecendo. Esse papo todo de "de volta para suas origens" e blá blá blá. Sentei então em um dos cantos do 'meu' quarto e começei a esvaziar umas das caixas. Ela estava cheia dos meus sapatos. Fui então achando um espaço no fundo do armário e fui colocando todos eles. Não era muito uma garota de saltos. Tinha uma caixa praticamente cheia de All Stars e de botas de cowboy - sim, a única coisa que me remetia a minha origem. Dei um jeito de arrumar todos os meu sapatos e parti para a próxima caixa. Nela estavam minha coisas de cabeceira. Na terceira que abri estavam algumas de minhas roupas e assim por diante. Devo ter passado umas boas horas ali arrumando tudo, pois quando olhei pela janela já era noite. Desci então as escadas para encontrar com minha família para a janta.

Ao chegar na cozinha estava tudo escuro. Notei então um bilhete na geladeira escrito 'Querida, fomos as compras porque a sua avó esqueceu de comprar a comida, como sempre. Se você tiver fome antes de nós voltarmos você pode pedir uma pizza, beijos mãe'. Tinha um telefone anexado no final. Bom, devia ser da pizza, certo? Peguei então o telefone e disquei o número. Encomendei uma pizza de Margherita mesmo. Eram 15 dólares. Achei duas notas de 10 no balcão da cozinha e peguei para pagar a pizza.

Enquanto esperava a pizza chegar sentei no sofá e fiquei assistindo um pouco de tv mas nada que prestasse passava lá. Odiava aquela cidade e tudo o que tinha nela, incluindo a tv! A campainha tocou quando minha barriga já estava roncado. Levantei então, quase correndo pode-se dizer, pra atender a porta. Ao abrir a porta dei de cara com um garoto que não parecia ser muito mais velho do que eu.

– Hmm, você deve ser o cara da pizza, certo? - Perguntei encarando-o de cima a baixo.

– Isso mesmo! - ele deu um sorrisinho.

– Bom, - disse enquanto pegava o dinheiro no casaco - aqui está o dinheiro. Obrigada e boa noite. - Quando fechei a porta senti algo impedindo. Era seu pé. Por que diabos ele tinha colocado o pé pra não me deixar fechar a porta?

– Espera.. - ele disse - ..não vou poder saber o nome dessa linda comedora de pizza? - bufei.

– Não! - ele riu.

– Não vai doer.. - respirei fundo.

– Rosie.. - olhei para ele - Feliz? - ele riu.

– Muito. Sou Richard. Muito prazer Rosie. Acho que ainda devemos nos encontrar por ai algum dia. - ele sorriu - Tenha uma boa noite.

– Igualmente. - disse fechando a porta. Mas que porra era aquela? Eu hein.. garoto estranho. Só o que me preocupava era o fato de eu saber que iria sim encontrá-lo novamente. Quer eu quisesse ou não. Sentei então para comer a minha pizza em paz pensando no que ainda estava por vir.