P.O.V. Henry.

Eu pulei dentro da luz para um mundo completamente novo e absolutamente desconhecido.

—Merda Henry!

Minha cabeça ainda girava um pouco e minhas vistas ainda estavam embaçadas. Ela me ajudou a me levantar e em alguns minutos comecei a ver o ambiente no qual me encontrava.

Paredes, vidro, madeira. Mas, as paredes eram feitas dum material que eu não reconhecia e havia esta luz.

—Estou morto?

—Não. Bem vindo ao século vinte e um, garoto.

—Século vinte e um? Estou no futuro.

—Pois é. Vem, você precisa de um banho porque está fedendo.

Ela me arrastou mais para dentro da residência. E chegamos a outro aposento.

—Onde está a tina?

—Tina? Filho, aqui a gente toma banho é de chuveiro. Á propósito, tá vendo isso aqui?

Disse apontando para uma bacia.

—Estou.

—Isso é um vaso sanitário. Sempre que precisar... fazer suas necessidades use-o. E depois que acabar, aperte este botão. Agora vamos ao banho.

Era um mecanismo engenhoso.

—Que tipo de magia é essa?

—Magia? Isso é tecnologia. Shampoo, use pra lavar o cabelo. Faça bastante espuma e vê não deixa a espuma entrar no olho porque arde. Sabonete pra você esfregar o corpo e use a bucha. Q de quente, F de fria. Tire a roupa toda pra tomar banho, use a toalha para se secar e eu vou deixar uma muda de roupas limpas para você lá no quarto. Do lado de fora do banheiro. Boa sorte.

Mas, que invenção magnífica. A água sai quente de dentro do mecanismo. Me esfreguei e a água que saiu de mim, foi absolutamente negra.

Quando me senti limpo, briguei um pouco com a coisa antes de ser capaz de desligá-la. Sequei-me com aquele pano tão macio que ela chamava de toalha. E enrolei-me nele.

E ao chegar ao outro aposento encontrei a muda de roupas.

—Oi Henry.

—Por Deus! Estou...

—Pelado. Relaxa, eu não sou mais virgem a muito tempo. Ergue os braços.

Sem saber o motivo, simplesmente obedeci e senti algo ser espirrado em mim. Era frio e havia aquela fumaça e um odor... bom.

—Isso é desodorante. Passe embaixo dos braços depois de tomar banho e por favor, mais de uma vez ao dia. Os humanos suam.

Depois de me vestir ela voltou com mais um aparato.

—O que diabos é isso ai?

—É creme de barbear e uma gilete. Vou te ensinar a fazer a barba.

—Eu sei...

—Não sabe não. Você nunca fez a barba. Por isso desta vez eu trouxe a tesoura. É melhor você se sentar.

Ela me sentou numa cadeira deveras confortável e de forma que eu ficasse diante do espelho. Começou a pentear o meu cabelo.

—Meu Deus! Você já penteou este cabelo algum dia?!

P.O.V. Maddie.

Levei umas duas horas só para tirar os nós do cabelo dele. E devo passado uns vinte quilos de condicionador.

—Uau! Finalmente consegui desembaraçar.

Ai eu comecei a cortar.

P.O.V. Henry.

Ver o meu cabelo dourado cair no chão em chumaços foi chocante.

—Tem certeza do que está fazendo?

—Tenho.

Então ela colocou uma coisa num buraco. E a coisa começou a se mover e a fazer barulho.

—O que é isso ai?

—É uma máquina Henry. Vou usar para dar forma no seu cabelo.

E ficou... diferente. Porém bom. Então ela começou com a barba. Me instruindo enquanto fazia o processo, me ensinando.

—Não deixe chegar naquele ponto nunca mais.

Quando acabou, lavou meu rosto com água fria. E secou-o com um pano menor.

—E ai?

—O que?

—O que achou? Gostou?

Me vi refletido no espelho e... não podia crer no que o reflexo mostrava. Era como se me tivessem tirado vinte anos das costas.

Então ela me ensinou a escovar os dentes, passar fio dental.

—Eu sinto... um gosto estranho.

—Refrescante. Tem que escovar os dentes após todas as refeições, antes de dormir e ao acordar. Assim eles não vão apodrecer ou cair.

—Ainda não acredito que este seja eu.

—Você tem sorte. Você é homem, não precisa se depilar. Agora eu vou deixar você dormir, está com fome?

—Na verdade estou.

—Então vamos comer. Vamos.

Descemos as escadas e haviam vários pares de olhos dourados e dois pares de olhos vermelhos a me encarar.

—Uau! Você é mesmo uma artista, o bicho virou um homem.

—Tia Jane!

—Ele era um bicho. Ou ao menos parecia um.

—E fedia como um.

—Tias... por favor.

—Muito bem.

—Medusa!

—Fala mãe.

—Ele é seu hóspede e você é responsável por ele. Ele é um homem do século quatorze que foi sugado direto para o século vinte um. São trezentos e tantos anos de diferença. O que acontece quando ele sair na rua? Carros, sinaleiros, luz elétrica, casais homossexuais, liberdade religiosa. Vai ser um grande choque. E para tornar tudo pior, este menino agora sabe sobre vampiros, shadowhunters. Este mundano está ciente da existência do submundo.

—Eu sei mamãe.

—Sabe o que aconteceu com a última que descobriu não foi?

—Foi a minha escolha querida. Se quer estar com alguém para sempre, tem que viver para sempre.

Disse a mulher olhando diretamente para mim. Como se fosse aquela a forma que encontrou de me dizer, um dia você vai morrer e ela não.

A comida tinha um gosto maravilhoso.

—O que é isto?

—Ovos mexidos. Não ligue para a minha tia Jane, ela é só... meio super-protetora. O mesmo para a tia Rose. Tem suco de laranja, de manga, e refrigerante. Qual deles você quer?

—Eu não sei. Nunca vi nenhuma destas frutas.

—Já sei.

Ela colocou um pouco de cada, cada qual num copo diferente.

—Experimenta e ai... você decide.

Bebi um pouco de cada á começar pelo tal refrigerante. Era... ruim. Me afoguei.

—É o gás.

Disse dando tapinhas nas minhas costas.

—Respire fundo Henry.

Depois de me recuperar fiquei feliz.

—Por Deus! Como pode alguém beber aquilo?

—É o hábito. Experimente o suco.

Laranja. Era um tanto ácido, azedo, mas bom. Entretanto, foi o de manga que fez mesmo o meu gosto.

—Então vai de manga.

Disse enchendo o copo.

—Bem, quando acabar, se sobrar comida no prato jogue no lixo, bem ali e coloque o prato na pia e a caixa de suco você guarda de volta na geladeira.

—Onde você vai?

—Tomar banho. E ai dormir. Senti tanta saudades da minha cama. Boa noite Henry. O quarto de hóspedes já está pronto para você dormir. De nada.

Apesar de haver luz no ambiente, haviam velas espalhadas pela casa toda.

—Se me permitem a pergunta...

—Maddie usa para canalizar. Tirar poder das chamas. Alguns feitiços exigem poder extra. Se ela se esforça muito sozinha, o nariz sangra e ela desmaia.

Disse o homem de cabelos acobreados. Os cabelos dele tinham uma grande semelhança com os de Medusa.

—Sou avô dela.

—Avô?

—Eu tenho 117 anos.

—Na verdade, são 118 agora querido.

—Chega uma hora que a gente simplesmente para de contar, mãe.

Fui até o meu aposento e pensei que toda a minha casa poderia caber dentro desta aqui umas três vezes para dizer o mínimo. Deitei-me na cama que era macia como uma nuvem e rapidamente adormeci.