Mathilde provou ser tão protetora quanto uma mãe dedicada. Acon­selhava sempre Bella, mas era óbvio que só queria o bem dela e do bebé.Bella sentia a cintura aumentar na mesma proporção que o can­saço, e era muito grata à ajuda da governanta.

Durante as semanas seguintes à chegada à Fran­ça, Edward preocupou-se com seu bem-estar, como sempre mas, desde aquela primeira noite, não tentara nenhuma aproximação mais íntima.

Com o passar do tempo, a distância entre eles ficava cada vez maior. O fato de ela saber que aquilo era para seu próprio bem não diminuía o vazio que sentia no peito.

— Preparei o quarto para a enfermeira — avi­sou Mathilde, entrando na cozinha que, Bella descobrira, era o coração do lar. — A casa ficará completa quando sua mãe chegar. Será que monsieur se mudará para seu quarto então?

— Veremos — disse Geórgia, em um fio de voz. Não podia imaginar que Edward desejasse dividir o quarto com ela e o bebe, assim como as noites em claro e toda a preocupação que traziam.

Bella sentia-se estranha, naquela manhã. Algo estava diferente, algo indefinível. Passara uma hora inteira no quarto do bebé, andando de um lado para o outro, inquieta. Edward tivera tanto trabalho para transformar o aposento austero em um lugar per­feito... Estava lindo, mas faltava alguma coisa ali. Na verdade, após muito meditar, ela descobriu que tudo era impecável. Faltava alguma coisa em seu coração: o amor de Edward.

— Creio que monsieur Edward levou mademoi-selle Tânia para jantar em Les Hirondelles, ontem à noite. — Pelo visto, Mathilde desaprovava a atitude do patrão.

— Era aniversário dela, Mathilde. — Bella esboçou um sorriso que indicava que não se im­portava nem um pouco. — Eu estava cansada de­mais para acompanhá-los.

Edward não insistira. Na verdade, parecera ali­viado quando ela se desculpara por não ir junto.

Monsieur voltou muito tarde.

— Ah, é? Não notei — mentiu Bella. Ficara acordada até de madrugada, tentando ouvir o ba­rulho do carro.

Naquela manhã, Edward ainda usava as roupas com as quais saíra na noite anterior e evitara encará-la. Bella não precisava de mais provas para chegar às óbvias conclusões.

— Se vocês dormissem no mesmo quarto, a se­ nhora notaria.

— Mathilde! — Bella protestou, enrubescida.
A governanta se afastou, ainda murmurando algo em francês, e ela suspirou, aliviada.

Edward ficava pouco em casa. Às vezes era como se não pudesse suportar a companhia dela.

Bella avistara Tânia na noite anterior, antes de saírem. Estava deslumbrante em um vestido pre­to, curto e justo. Uma olhada no espelho foi suficiente para que Bella compreendesse por que Edward preferia a companhia da outra mulher.

Madame?

Bella levantou-se da cadeira, com esforço. A governanta insistia naquele tratamento cortês, e já se cansara de corrigi-la.

— Qual é o problema, Mathilde?

— Gaston chegou para me levar às compras, e monsieur ainda não se encontra em casa.

Bella franziu a testa. Edward prometera que voltaria antes que o sobrinho de Mathilde chegasse para levá-la para fazer as compras da semana.

— Não se preocupe, Edward não irá demorar.

Monsieur ficará muito zangado se eu deixar a senhora sozinha. Além do mais, o telefone ainda não está funcionando.

\"Monsieur ficará muito zangado! Por que todo o mundo tem de obedecer e fazer exatamente o que ele quer?\"

— Alguns minutos sozinha não farão diferença, Mathilde.

— Tem certeza? Bien...

Bella teve uma pequena sensação de vitória ao ver Mathilde saindo. Tivera tão poucos minutos de privacidade nos últimos dias que sentiu-se ali­viada por, pela primeira vez, ficar só na casa.

Foi até o quarto do bebé e examinou as roupi­nhas delicadas arrumadas nas gavetas. O que faria quando a criança nascesse? Era incrível, mas não tinha ideia.

Não poderia ficar com alguém que precisava de outra mulher para satisfazer sua natureza sen­sual, sobretudo quando amava aquele homem. Não faria aquilo nem por seu filho. Será que Edward tentaria impedi-la de partir?

Bella suspirou. Seus pensamentos pare­ciam caminhar em círculos, sem encontrar uma solução viável.

Estava sentada no chão, apoiada na parede, quando percebeu que a importuna dor nas costas que sentira desde a véspera era mais do que um simples incómodo, havia se expandido para o baixo ventre e foi se tornando cada vez mais aguda.

\"Não pode ser\", pensou, balançando a cabeça para tentar afastar a ideia. \"Ainda faltam duas semanas para o grande dia.\"

Uma hora mais tarde, após voltar do banheiro, ela soube que era para valer. Falava em voz alta, para afastar o pânico que ameaçava se apo­derar dela. Estava ansiosa e assustada.

— Edward chegará em breve. Todos sabem que o primeiro filho demora bastante para nascer. Ai! — Apoiou-se na cómoda para não cair. O mais acon­selhável seria deitar-se. Tentou telefonar, mas a li­nha continuava muda. — Não vou me desesperar.

A voz desafiadora soou muito alta, no quarto va­zio, o que, de certa forma, serviu para acalmá-la.

Um ruído, baixo no começo e, então, um pouco mais alto, quebrou o silêncio da fria manhã. Quan­to teria de permanecer deitada ali? Não sabia.

—Bella!
Ela ouviu a porta sendo aberta e os passos apressados de Edward.

— Onde está Mathilde? ela abriu os olhos.

— Saiu com Gaston.

— Devia ter esperado até que eu voltasse! Quer alguma coisa?

— Um médico seria uma boa ideia. Acho que é tarde demais para uma ambulância. — Como que para ilustrar o que dissera, Bella agarrou-se à cabeceira de bronze enquanto outra contração a acometia.

— Está dizendo... Impossível! Ainda não está na hora! — Ele suava frio. — Pegarei o carro.

A voz já se firmara. Edward parecia ter se re­cuperado um pouco da surpresa. Bella abriu os olhos.

— É tarde demais para isso, Edward. Vai nascer agora! — Outra contração, dessa vez, mais forte, a fez gemer de dor. O som, selvagem e primitivo, induziu Edward a agir depressa.

— Está bem, querida. Está tudo bem. Estou aqui agora.

Sem fôlego, Bella jogou-se sobre os traves­seiros, aproveitando o intervalo temporário entre as dores para tentar relaxar.

— Você demorou muito. Deus, nunca me senti tão só! Os olhos castanhos brilhavam, decididos.

— Não se preocupe. Já fiz isso várias vezes.

Bella o encarou, a expressão contorcida pela dor.

— Fez?

— Sim, com gado, as ovelhas... As mulheres não devem ser muito diferentes.

O riso de Bella foi interrompido por outra contração, ainda mais forte, e ela concentrou todos os esforços para preparar-se para o que viria pela frente.

Edward conseguiu examinar Bella sem que as mãos tremessem. Havia lido muito sobre partos no último mês, mas sabia que teoria e prática estavam longe de ser a mesma coisa. Percebeu que rezava com muito fervor, fazendo promessas para que tudo corresse bem. As vidas de duas pessoas estavam em suas mãos, não podia falhar.

Bella estivera o tempo todo sozinha enquanto ele se afastara. Sentia-se furioso consigo mesmo. Se algo acontecesse a ela... ao bebê... Edward nun­ca se perdoaria.

Bella gritou seu nome, e ele tentou acalmá-la.

— Querida, a cabeça está saindo. Vamos lá, Bella! Só mais um pouco de força. Você está indo muito bem.

Na verdade, Edward só acreditou naquelas pa­lavras quando tudo terminou, e ele pôde pegar a criança recém-nascida nos braços trémulos.

— Temos uma filha e ela é perfeita! — Edward estava tomado pela emoção. Sentiu os olhos se encherem de lágrimas quando o choro da menina ecoou pelo quarto, como um jorro de vida.

Quando pegou a criança no colo, Bella mal cabia em si de orgulho e emoção.

— Nós conseguimos! Conseguimos! — Comovi­da, tocava os minúsculos dedos do nené, maravi­lhada com o milagre em seus braços.

Você conseguiu — corrigiu Edward, o olhar solene. Cortou o cordão umbilical e, afastando-se, o corpo inteiro tremendo, ficou observando enquan­to a garotinha se aninhava nos braços da mãe.

Uma hora mais tarde, Mathilde retornou. Abriu a porta e engasgou, os olhos quase saltando das órbitas.

-— Gaston! — gritou, desesperada. —Le docteurl

— É um pouco tarde para isso, Mathilde — observou Bella, com complacência, olhando para a filha com o rosto repleto de amor.

— Chame-o, Mathilde! — ordenou Edward, levantando-se.

— Não precisarei ir para o hospital, não é?

— Deixemos que o doutor decida.

Incapaz de tirar os olhos das feições delicadas da criança adormecida, Bellaa anuciou.

— Ela é linda, não é?

— Maravilhosa! Posso... segurá-la?

Bella o fitou. Edward parecia inseguro, re­ceoso de que ela não permitisse.

— Claro que sim, Callum. E sua filha. Não sei o que faria se você não tivesse chegado.

Edward segurou com firmeza o bebê enrolado na manta.

— Aposto que teria conseguido, mesmo sem mi­nha ajuda.

A expressão de Edward ao observar o rosto da criança fez o coração de Bella palpitar de emo­ção. Ele estava tão orgulhoso, tão envaidecido por aquela vida que ele próprio ajudara a trazer ao mundo... Naquele momento, Bella teve certeza de que nunca poderia privá-lo da presença da filha.

— Você sabia que seria uma menina. Pensou em um nome, Edward?

— Está pedindo minha opinião? — Edward sabia que aquela concessão era parte de uma decisão muito maior que Bella acabara de tomar. — Gosto de Rachel.

— Rachel Swan... Hum... Adorei!

— Rachel Cullen!

Bella encarou-o, apreensiva.

— Não precisa dizer nada agora, mas pense no assunto. Deve estar cansada.

— Quer fazer isso pelo bebê... por Rachel?

— Ela precisa de nós dois.

Bella fixou o olhar no rosto tenso de Edward, a mente confusa. Tudo o que tinha era chantagem emocional e objetividade, quando o que queria era amor e paixão. Por enquanto, tudo parecia tão perfeito, duas pessoas compartilhando do fruto do amor, mas Bella só vira o que desejara ver. Rachel não mudaria o que Edward sentia por ela, ou melhor, o que não sentia. Tudo o que ele lhe pedia era que fizesse as mesmas concessões que, de certo modo, ele estaria fazendo. Como po­deria recusar aquele pedido, apesar de toda a dor que lhe causaria?

O som estridente do choro da criança tirou os pais de seus devaneios. Devolvendo Rachel a Bella, Edward observou, com ar fascinado, enquanto a garotinha se deliciava com o leite materno.

Edward sentou-se na cadeira, ao lado da cama, pensativo. Se Bella houvesse olhado para ele, naquele momento, teria notado a expressão inquieta nos olhos verdes. Ela não percebeu quando ele se levantou e saiu do quarto.