— Está tentando afastar aquele homem? — in­dagou Reneé, seguindo a filha até a cozinha.

— Mamãe, estou cansada. Então, se quiser bri­gar, pode esperar até mais tarde? — Bella olhou para a mãe, com ar resignado.

Reneé chegara logo após o nascimento de Ra­chel, seis semanas atrás, e a situação já estava ficando insustentável. Bella sabia que deveria sentir-se agradecida, e se sentia, mas sua mãe de­saprovava abertamente sua relação com Edward e não tinha medo de manifestar seu desgosto.

— Então, quer dizer que está feliz por ele estar circulando pelos campos em companhia daquela... mulher?

— Isso não me incomoda. Não tenho nenhum monopólio sobre o que Edward faz. Ele está sem­pre por perto para me ajudar com Rachel quan­do preciso.

— E isso é suficiente?

— Terá de ser, mamãe.

A expressão de Reneé se suavizou, mas ela in­sistiu no assunto com sua típica determinação:

— Não lhe ocorre que poderia ser um pouco mais... agradável com ele?

— O que sugere? — perguntou Bella, exas­perada. Será que Reneé acreditava que a filha pre­cisava de alguém para lhe lembrar das dificulda­des de seu relacionamento? — Quer que eu faça a dança dos sete véus na mesa da cozinha?

— Se funcionar...

— Mamãe!

— Bem, você poderia se preocupar um pouco mais com sua aparência.

— Obrigada pelo apoio moral...

— Não tenho paciência com essa sua atitude teimosa, Bella. Se quer o homem, qual o pro­blema em deixá-lo saber disso?

Bella estava ruborizada e pensativa, quando a mãe saiu da cozinha, dizendo:

— Você ama Edward, não é?

— Quanto mais mamãe ficará? — Bella per­guntou a Edward, mais tarde. — Ela está me dei­xando louca. Sei que pareço uma ingrata, mas...

Edward fitou-a, com ar zombeteiro.

— Tome um pouco disto — ofereceu ele, abrindo a garrafa de vinho e enchendo uma taça para ela.

— Acha que devo?

— Meio copo não prejudicará Rachel. Será mui­to pior para ela se a mãe estiver irritada às três da manhã. Tente relaxar, enquanto pode — ob­servou ele, com sabedoria.

Bella anuiu e bebericou o líquido cor de rubi.

— Nunca pensei que seria tão cansativo — ela admitiu.

— É só o começo. — Edward puxou uma cadeira e se sentou. — Você deveria dormir um pouco. Se Reneé acordar Rachel, de novo, eu a estran­gularei e enterrarei no jardim.

O comentário fez Bella rir.

—Sei que estou exagerando, mas nada do que faço está certo, de acordo com mamãe, Edward.

—A mãe de Reneé, com certeza, fez a mesma coisa com ela, Bella. Chame isso de continuidade.

Bella o fitou, surpresa, como sempre, ante a cal­ma que Edward aparentava. Nada o tirava do sério.

— Acho que eu não teria suportado a tensão, sem você, Edward. Tenho muita sorte.

— Não acredito que esteja dizendo isso — ob­servou ele, a expressão cautelosa.

— Mamãe me perguntou quais eram nossos planos.

— E o que disse a ela?

— Que não conseguia pensar no futuro. — Bella olhou para Edward, apreensiva, notando que a resposta não o agradara.

— Entendo...

— Mas temos de decidir o que faremos. Não poderemos ficar assim para sempre. Não seria jus­to para nenhum de nós.

— Eu pedi você em casamento.

— Sim, é verdade. — O coração de Bella dis­parou. — Foi num momento muito emocionado. Imaginei que, talvez, houvesse mudado de ideia.

— Isso não acontecerá.

— Seria muito fácil, para mim, dizer sim pelos motivos errados. Não entende?

— A única coisa que entendo é que você quer deixar opções em aberto.

— O que quer dizer com isso?

— Que, agora que tem Rachel, não há nada que a impeça de continuar de onde havia parado com James. — Ele a observava, com curiosidade.

A irracionalidade daquela acusação deixou-a furiosa.

—É muita ousadia sua, ainda mais após passar a noite com Tânia, antes do nascimento de Rachel!— Bella tentou não se lembrar daquela fase ausente de Edward, mas a lembrança dolorosa es­tava sempre presente.

Ele pareceu confuso por alguns momentos e, então, um leve rubor coloriu-lhe as faces.

— Isso foi há muito tempo — observou, com secura.

Nem se preocupou em se defender, ela pensou, mordendo o lábio. \"Não chore, Bella\", pensou, engolindo um soluço. \"Não o deixe perceber que está magoada.\"

— Se eu lhe assegurasse que serei fiel quando nos casarmos...

— Eu riria. — Bella ergueu o queixo. Edward se retesou diante do comentário sarcástico.

— Por que não me disse que foi até a Cullen’s, aquele dia, para encontrar Mary, e não James May?

O inesperado da pergunta a fez empalidecer.

— Como soube, Edward?

— Tive uma conversa muito interessante com Mary quando ela ligou, logo após o nascimento de Rachel. Estava aliviada por tudo haver corrido bem. Coitada! Sentia-se responsável por haver se atrasado naquela noite.

Então, ele sempre soubera! Bella o fitou, ten­tando decifrar a expressão no rosto impassível.

— Por que não me disse nada, Edward?

— A pergunta certa seria: por que você não me disse nada? Eu teria matado aquele canalha. — Com os punhos fechados, Edward parecia tomado por uma fúria violenta. — Quando penso no que ele poderia ter feito...

— James me assediou — confessou Bella, ten­tando parecer casual. — Não consegui evitá-lo. Nunca imaginei que...

— Sua experiência sexual, antes de mim, con­sistia apenas de algumas tentativas com Mike, não é, Bella?

Ela esboçou um frágil sorriso.

— Algumas, não. Duas.

Edward fechou os olhos, meneando a cabeça.

— Por que não me contou?

— Para dizer a verdade, não poderia. Você não queria ouvir e, eu não tinha motivos para imagi­nar que estivesse interessado.

— Eu disse coisas horríveis a você — falou, por entre os dentes.

— Acho que Rachel está chorando. Tenho de ir.

As necessidades imediatas da filha eram prioritá­rias. Edward não tentou impedi-la de se retirar. Ficou ali, parado, com uma expressão agoniada no rosto.

Assim que Bella terminou de amamentar a filha e a colocou, de volta no berço, Edward entrou no quarto. Bella endireitou-se e pousou o indi­cador sobre os lábios, pedindo silêncio.

— Vamos para outro aposento, Bella. Preci­samos conversar.

Ela o seguiu.

— Você está certa. Não podemos continuar assim.

Ela sempre soubera que aquele momento che­garia, que ele não aguentaria sua presença. Mas ouvi-lo dizer aquilo era a coisa mais difícil do mundo.

— Tenho certeza de que podemos chegar a um acordo civilizado, Edward.

— Civilizado! Quem quer ser civilizado?!

— Bem, você quer, não é? Já me explicou sua ideia de casamento perfeito, e isso não me satisfará.

— Essa deveria ser a melhor época de nossas vidas, Bella. Diga-me o que a satisfaria.

Uma lágrima solitária escorreu pela face dela. Bella chorava por tudo o que deixaria de des­frutar ao lado dele.

— Diga-me o que quer!

— Quero você e Rachel! — Bella rangeu os dentes e cobriu a boca com a mãos, arrependida do que dissera. — Não, não! Finja que eu não disse nada disso.

Virou-se de costas para ele, mas Edward a se­gurou pelos ombros e forçou-a a encará-lo.

— Repita o que falou.

Ela fez um débil esforço para se libertar.

— Não torne isso pior do que já é, Edward. .

— Pior para você? Tem alguma ideia do inferno no qual tenho vivido? Todas as noites sem poder tocá-la... — Parou de falar, a voz entrecortada pela dor. — Droga, Bella! Não me provoque com frases como essa, para depois afastar-se de mim.

— Não estou provocando você, Edward — pro­testou, chocada com a injustiça da acusação. — Desculpe-me, mas me apaixonei por você. Entende agora por que não poderíamos nos casar?

Ele permaneceu imóvel, como que paralisado.

— Posso ser um pouco estúpido, mas não, não entendo! Talvez, pudesse me explicar.

— Não posso ser pragmática e sensata! Eu sen­tiria ciúme e... não seria o tipo de esposa que você deseja.

— Quer dizer que a ideia de outra mulher em minha vida a deixaria louca, Isabella? Faria com que agisse com irracionalidade? Como fiz quando pensei que estava com James May ou, pensando bem, como faria se soubesse que estava com qual­quer outra pessoa, além de mim?

Bella piscou, perplexa por ouvir aquilo com que sempre sonhara, mas que nunca imaginara ser verdade.

— Este é o momento certo para dizer que te amo? — Bella, esperançosa, umedeceu os lábios ressequidos.

— É perfeito — sussurrou Edward, uma chama de triunfo brilhando nos olhos verdes.

O beijo foi longo e doce, como se nunca houves­sem se beijado antes.

— Não acredito nisso — murmurou Bella, quando ele afastou os lábios dos dela. — Você me odeia.

— Isso não é verdade. Tenho um preconceito quanto ao amor à primeira vista. Você conhece minha história. Mas me apaixonei por você no momen­to em que a vi usando aquele chapéu esquisito. — Riu, erguendo os ombros. — Sempre fui deter­minado a nunca me tornar uma vítima de meus desejos. Então, naquela noite, naquele hotel, me apaixonei perdidamente. Nem sequer consegui lu­tar contra a força daquele sentimento.

Bella permaneceu em silêncio, feliz demais para encontrar as palavras certas para se expressar.

— Meu primeiro pensamento, quando acordei naquela manhã, foi como conseguiria fazê-la acei­tar o fato de que eu a levara para a cama com falsas pretensões. Não saberia explicar-lhe que era o temido sobrinho de Aro. Mas você tirou esse fardo de meus ombros, pois, quando acordei, não estava na cama, nem no quarto, nem no hotel.

— Pensei que fosse se sentir aliviado com minha partida. Sabia que não poderia agir como se aquilo não houvesse significado nada para mim, então, me pareceu melhor...

— Fugir.

— Senti tanto medo quando soube que estava grávida! Queria contar para você, mas pensei que fosse suspeitar que era apenas mais uma de mi­nhas tramas maquiavélicas. — Bella enterrou o rosto no ombro protetor.

— Não posso culpá-la por pensar assim, querida. Quis matar James quando pensei que o filho fosse dele. E quando soube que era meu, eu... Odiei-me por havê-la deixado passar por tudo sozinha.

— Pensei que quisesse apenas Rachel, e não a mim também. Precisava tanto que você me amasse!

— É irónico. Ambos estávamos imersos em nossos mundos de solidão. Se houvéssemos dito, um ao ou­tro, como nos sentíamos, teríamos evitado meses de amargura. — Edward abraçou-a com força. — Mal posso esperar para exibi-la a todos em Wollundra. Mamãe ficará encantada em conhecer a nora ma­ravilhosa e a linda netinha. Espero que você não se importe se nos casarmos com nossa filha no colo.

— Não está sendo um pouco precipitado? — provocou, feliz. Aquele era o melhor momento de sua existência.

— Já fui paciente demais, querida, e paciência tem limite! — Edward beijou-lhe nos lábios.

— Para dizer a verdade, também estou um pou­co impaciente. — Ela o encarou com os olhos re­pletos de desejo.

— Pais devem aproveitar todas as oportunidades para relaxar e descansar. Li isso em algum lugar.

— Parece-me uma ótima ideia. Não desejo apressá-lo, mas bebés não dormem muito, muito menos Rachel.

— Então, não percamos tempo — disse ele, em voz rouca, pegando-a nos braços e deitando-a sobre a cama.

— Mal posso esperar. — Bella mergulhou nos braços do homem com quem passaria o resto de seus dias, desfrutando a verdadeira felicidade.

FIM