Quinze minutos mais tarde, Bella estava junto à porta da sala, ten­tando controlar suas emoções. A pantalona de seda era confortável, e a camisa verde completava o conjunto clássico. A suave maquiagem disfarça­va as linhas de tensão em seu rosto. Por dentro, sentia uma certa insegurança. Ia entrar quando ouviu uma voz vinda da sala.

— Como Edie sabe que o bebé é dele? Isso é o que não entendo. Você conhece Edward e seus princípios morais. Ela é, decerto, apenas uma oportunista.

— Tania! — Veio a resposta sibilante. — Es­pero que nem sonhe em dizer algo assim na frente de Edward.

— Talvez alguém devesse.

— Ele é mais do que capaz de tomar conta da própria vida.

— Por acaso ouvi meu nome ser mencionado?

Bella escutou a porta da frente ser fechada. Percebeu que as pernas tremiam. \"Não poderei aguentar isso.\" Sentiu um gosto amargo na boca. Então, seu orgulho veio em seu socorro. Não per­mitiria, de maneira alguma, que aquela mulher a afastasse de Edward. Com os olhos faiscantes, jogou os cabelos para trás e entrou.

Tania e um homem, que deveria ser Emmeth , es­tavam sentados no sofá.Bella olhou para eles de relance e, então, concentrou a atenção em Edward, que alimentava o fogo da lareira. Todos a olharam, curiosos.

— Você ainda não conheceu Emmerth , não é, Bella?­ — Edward quebrou o silêncio.

Não havia traços do antagonismo de Tania na expressão afável de Emmeth, que se levantou com uma das mãos estendida.

— Muito prazer. Eu poderia dizer que Edward me falou muito sobre você, mas, conhe-cendo-o, deve saber que eu estaria mentindo. Ele é fechado como uma concha. — Olhou para o ami­go, sorrindo. — Parece ter resistido muito bem à viagem. Espero que não se ofenda se eu disser que dá um novo significado à palavra \"radiante\".

— Ela não se ofenderá, mas eu, sim— observou Edwad, com secura. — Sente-se, Bella. Lembre-se do que o médico disse: não fique em pé, se puder se sentar, e não fique sen­tada, se puder se deitar.

— Foi um conselho como esse que a levou ao estado em que se encontra agora, não é?- falou Tania com secura.O irmão lançou-lhe um olhar fulminante e sorriu, constrangido, na direção de Bella.

— Sente-se aqui, Bella. — Com gentileza,Edward conduziu-a a uma enorme poltrona. Era impossível dizer o que ele estava pensando. — Ela não chegou a este \"estado\" sozinha, Tania.

Seus olhos não se suavizaram ao perceber que a jovem estava sem graça. A mensagem que transmitira fora clara: assumira a criança.

Bella notou que conquistara uma inimiga. A sensação não era nem um pouco agradável.

Para sua surpresa, o resto da noite não foi tão horrível quanto imaginara. Tania não fez mais ne­nhum comentário ferino e disfarçou o desconforto que a presença de Bella lhe causava.

— Não sabia que você cozinhava — observou Bellaa, enquanto Edward tirava a mesa.

— Sei fazer o trivial, mas não me arrisco a tentar algo mais elaborado.

— Não imaginei que fosse possível usar aquele fogão antiquado que tem na cozinha.

O sorriso de Edward foi de tirar o fôlego.

— Cuidado para que Mathilde não ouça seu comentário. Ela se recusa a usar algo mais moderno.

Bella voltou a atenção a Emmeth.

— De que parte da América você é?

— Não sou americano. Nasci no Canadá.

— Desculpe-me, não consegui distinguir o sotaque.

— Nossa família também é de vinicultores e, apesar de o vinho canadense não ter feito muito sucesso até agora, temos experimentado um pe­ríodo de renascença.

— E você está aqui, deixando de participar des­sa boa fase, Emmeth?- O entusiasmo de Edwrard é contagioso.- Todos diziam que seria impossível fazer um bom vinho onde os invernos são rigorosos e os verões bem quen­tes, mas conseguimos. Esta região da França sempre produziu vinhos, mas não de primeira qualidade.

- Edward pretende mudar isso com a tecnologia do novo mundo. Como bom franco-canadense, não pude recusar a proposta de voltar para minhas raízes.

— Tenho certeza de que Bella não está in­teressada em vinicultura — interferiu Tania, com um sorriso superior.

— Para dizer a verdade, adoraria ouvir mais a respeito — contradisse Bella. — Edward suge­riu que eu me envolvesse com a estratégia de mar­keting, no ano que vem. Talvez eu consiga uma excursão, com guia, pela propriedade.

— Eu me encarregarei disso — ofereceu Edward, depressa.

— Estará ocupada demais com os afazeres do­mésticos e brincando de mãe para nos dar o apoio profissional de que necessitamos, Bella. Odiaria obrigá-la a negligenciar suas responsabilidades.

— Se decidir aceitar o projeto, cumprirei minhas obrigações, Tania.

— Se eu tivesse um filho, gostaria de devotar-me a ele antes de começar a me intrometer em outros assuntos.

— Eu nunca me intrometo.

— Desculpe-me, não queria ofendê-la. — Tania, mais uma vez, ficou sem graça.

\"Aposto que não...\", pensou Bella, sorrindo com doçura.

— Estou certo de que Tania está apenas preo­cupada com seu bem-estar, Bella.

— Foi você quem me ofereceu o cargo, Edward. Ou não estava falando sério?

— Acho que é uma ótima ideia — anunciou Emmeth. — Assim, os negócios ficarão todos em família.

— Conhecemos Edward há anos. Emmeth e eu o consideramos como parte da família. Quando você o conheceu?

— Nós nos encontramos... em um casamento.- Edward lançou um olhar provocante para Bella, que engoliu em seco, torcendo para que ele não resolvesse continuar com aquele assunto.

— Casamento de quem?

— De minha prima, Tania — respondeu Bella, de pronto.

Um barulho violento do lado de fora da casa assustou a todos.

— O que foi isso? — perguntou Bella, com os olhos arregalados.

— As ventanias aqui são muito intensas, às vezes.— Edward levantou-se, calmo.— Deve ter sido aque­le telhado precário no celeiro. Eu pretendia trocá-lo antes do inverno.

— E melhor investigarmos o estrago.
- Não, Tania, você fica aqui com Bella — acrescen­tou, ao notar que a jovem se levantara.

A expressão de Tania e a relutância com que se sentou revelaram que não gostara da ordem.

— Não é perigoso? — Bella estava preocu­pada, pois o vento parecia intenso.

— Estou comovido com sua preocupação — pro­vocou Edward.

— Não seria mais prudente esperar que parasse?— Bella sentiu um tremor ao imaginar Edward inconsciente, abatido pelo tronco de uma árvore caída.

— Não se preocupe. Cuidarei para que Edward não tome nenhuma atitude heróica. — Emmeth ajeitou o chapéu sobre a cabeça e sorriu.

— Imagino que ele saiba tomar conta de si próprio — comentou ela, percebendo que soara mais preocupada do que desejava.

Ficou paralisada quando Edward, de repente, aproximou-se e a beijou, com firmeza, nos lábios.

— Eu sei, mas é bom ter alguém que se importa comigo. — Virou-se e saiu, seguido de Emmeth.

— Ele não ama você, sabia? — As palavras ás­peras de Tania trouxeram Bella de volta à terra.

Tania andava pela sala, as faces coradas de raiva. O silêncio de Bella pareceu enfurecê-la mais ainda.

— Ele só se sente responsável por causa do bebé. Você arruinou a vida dele! Pensa que é muito esperta, mas antes que o agarrasse, eu e ele... — Tania parou de falar, tomada pela emoção.

Não haveria sentido em tentar argumentar na­quele momento, decidiu Bella. Quase sentia pena da jovem, que não conseguia disfarçar seus sentimentos. Além disso, o que Tania dissera era, em parte, verdade. Não tentara prender Edward, mas, no fim, o resultado era o mesmo.

— Não provoquei esta situação, Tania.

— Você podia ter tirado a criança!
Bella levantou-se, trémula e ultrajada.

— Quero meu bebé. E, goste você ou não, Edward também o quer.

— Edie não quer você.

Bella empalideceu, ciente de que não poderia negar aquilo.

— Suponho que a situação tenha um certo ar de novidade, agora. — Tania riu, com desprezo. — Se ele quisesse brincar de família feliz com você, a teria pedido em casamento. Mas ele é prático demais para se amarrar a uma aproveitadora!

Bella apoiou as mãos sobre a mesa para não cair, pois as pernas não mais conseguiam susten­tar o peso do corpo. Se não estivesse apaixonada por Edward, ou se ele a amasse, aquelas palavras soariam apenas como um desabafo de ciúme. Mas, na situação em que se encontrava, cada flecha envenenada acertava o alvo com destreza. Emmeth e Edward voltaram para a sala.

— Pegue seu casaco, Tania — disse Emmeth, ofegante. — Quero voltar para casa antes que uma árvore caída bloqueie a estrada. O vento está cada vez mais forte.

— Não podemos ficar aqui?

Bella mal ouviu o debate entre os irmãos. Não conseguia desviar o olhar, fixo em Edward e no corte em sua face, que sangrava. Seria sério?

Ainda que não fosse por Tania, algum dia ele se apaixonaria por uma mulher e, então, o que seria dela? Sua vida estava ligada à dele para sempre.

— Está machucado — disse Tania, livrando-se da mão autoritária do irmão e correndo para perto de Edward, com um gesto dramático.

— Não é nada, Tania. — ele parecia irritado.

— Tem de cuidar disso. Ela tem razão — ar­gumentou Bella. Não ia se oferecer para ajudá-lo. Sabia que não conseguiria manter as mãos firmes ao tocá-lo, e aquilo trairia seus sentimentos.

— Eu o ajudarei — ofereceu-se Tania, o tom de voz dando a entender que qualquer mulher apai­xonada deveria estar ansiosa por ajudar seu ho­mem. Era óbvio que ela estava ansiosa.

Edwardsegurou-lhe os pulsos e, com firmeza, virou-a na direção de Emmeth.

— Faça o que seu irmão pediu, Tania. Uma árvore caiu sobre o celeiro, e outras poderão cair. Seria estúpido deixar para partirem mais tarde.

Edward era o tipo de homem que conseguia o que queria, e Bella não ficou surpresa quando os convidados obedeceram de pronto.

Assim que se foram, ela comentou:

— Tania está apaixonada por você.

— Ela pensa que está — corrigiu Edward, com calma, passando os dedos sobre o corte no rosto.

— E tem motivo para isso?

— O que há, Isabella? Está me interrogando? — Estreitou os olhos. — Você se importaria se Tania e eu fôssemos amantes?

Bella permaneceu imóvel como uma estátua.

— Não me interessa quem seja sua amante — mentiu. — Sobretudo se isso significa que não serei pressionada.

— Quando, em nome de Deus, eu a pressionei para que se deitasse comigo? Espero que não es­teja insinuando que estou me impondo a você.

— Uma sequência peculiar de eventos nos fez amantes, Edward. Nada mais. — Bella sabia mui­to bem que ele nunca teria de usar a força para possuí-la. — Quer que o ajude a arrumar a cozinha?

— Vá para a cama. Não infligirei mi­nha presença a você nem mais um minuto, se é isso o que a incomoda.

Apesar de estar exausta, Bella não dormiu. Ficou deitada, os ouvidos atentos a qualquer ruído na casa.

Edward cumpriu sua palavra, e ela nem sequer ouviu quando ele subiu para deitar-se.