Filipa, Manoela e Joaquim aproximam-se de seu destino. Entram pela porta principal do Federal Sport Club. Andam pelos corredores largos, passando pelas dependências da agremiação. Encontram um funcionário pelo caminho que informa que o Sr. Rufino está no almoxarifado, conferindo o novo material esportivo que chegara da Inglaterra há poucos dias...

Joaquim: Bom dia Sr. Rufino... Acredito que se lembra de mim...

Rufino: Sim.. O senhor jogou com os rapazes como convidado no sábado!... Se precisa devolver o uniforme o senhor pode deixa-lo na recepção...

Joaquim: Eu já o entreguei, obrigado... Na verdade, gostaria de trocar algumas palavras com o senhor...

Rufino: Comigo? Bem... em que posso lhe ser útil?

Joaquim: Sr. Rufino... minhas colegas e eu estamos fazendo uma investigação de um fato ocorrido em 1903...

Filipa: Temos provas de que o senhor pagou o hotel onde a Sra. Catarina Ribeiro estava hospedada quando de sua passagem pelo Rio de Janeiro... Precisamos de alguns esclarecimentos..

Rufino: Eu não tenho nada a falar a respeito!... E se esse era o único assunto que os senhores tinham para tratar comigo... passar bem!... Tenho muito o que fazer...

Manoela: Senhor... por favor... colabore voluntariamente... Prometemos não revelar sua identidade... Sabemos que está envolvido diretamente neste assunto.

Rufino: Eu já disse que não tenho nada a comentar... e vocês não podem me forçar a nada.

Joaquim: Sabemos disso... E se o senhor prefere assim... podemos entrar com um mandado no fórum solicitando seu depoimento...

Rufino: Pois então façam isso!..Só falarei algo se intimado... em juízo... e na presença do meu advogado!... E agora se me derem licença... estou em meu horário de trabalho...

Filipa: Pois bem... assim que o senhor for intimado pode ter certeza que estaremos presentes ao seu depoimento... Com licença (saindo juntamente com os outros)

Joaquim: E agora? O que vamos fazer? Não temos na verdade como entrar com um pedido de coleta de depoimento...

Filipa: Não... não temos... afinal... não existe processo... Nós apenas utilizamos desse subterfúgio para intimidar os que se negam a falar...

Manoela: Com a negativa... vamos ter de procurar informações sem a ajuda desse senhor... Vai ser mais trabalhoso... mas devemos conseguir o que precisamos...

Joaquim: Certo... Vou tentar levantar a ficha desse senhor... no clube mesmo.. num horário em que não estiver... Vou tentar descobrir informações a respeito...

Manoela: Precisamos também levantar a ficha policial e civil dele... ou seja... vamos na delegacia e no fórum... Precisamos saber se há alguma passagem dele nestes locais

Filipa: E na prefeitura, Joaquim? Já conseguiste a informação sobre a carruagem?

Joaquim: São as pessoas que citei mesmo as que tinham Clarences na época... mas interessantemente algumas das carruagens estão em nome dos filhos dessas pessoas... A do Dr. Assunção está em nome do Albertinho e do Sr. Ferraz em nome do Humberto...

Manoela: Do Albertinho? Será que...

Filipa: Manoela!... As informações que temos é que era um senhor... Na época o Albertinho era um rapazola... Devia ter o que? 22, 23 anos...

Joaquim: Sim.... descarte o Albertinho.... Já o Humberto... eu não sei... Apesar de ser jovem ainda... talvez Catarina tivesse mais de um amante aqui também...

Manoela: O que você sabe Joaquim?

Joaquim: Não tenho muito contato com ele... Mas pelo que me falaram... ele costuma envolver-se com mulheres mais velhas...

Filipa: Bem... isto não é um costume somente dele... O senhor mesmo acabou por envolver-se com aquela lambisgoia...

Joaquim: Eu sei... não precisa lembrar-me!...E estou me esforçando para tentar faze-la esquecer desse meu pecadilho...

Filipa: Está bem Dr. Castro... Desculpe-me...Reconheço que tem se esforçado...

Manoela: Joaquim!... Você está tornando essa investigação ainda mais complicada...

Joaquim: Não quero complicar... mas temos de levantar todas as hipóteses...

Filipa: Ele tem razão Manoela.. Investigar e descartar o que não serve... E seguir adiante até chegarmos a verdade

Os dias passam sem grandes novidades. As advogadas continuam com suas investigações contando com a ajuda de Joaquim nos momentos em que não está envolvido com os assuntos do escritório no qual trabalha. Checam a ficha criminal e civil do funcionário do clube, sem no entanto encontrarem nada que o desabone. Informam a Edgar que a investigação segue sem grandes progressos, mas que vão mante-lo informado sobre possíveis descobertas.

Neste meio tempo, no morro da Providência, a escola começa a tomar forma. A comunidade inteira se envolve no trabalho de reformar a casa que servirá para as futuras instalações do grupo escolar. Aos poucos, quadros negros são instalados, livros, carteiras, cadeiras e todos os materiais vão sendo adquiridos... tudo sempre supervisionado por Sandra e especialmente por Laura, que praticamente todos os dias vai até o local... Nestes dias, acaba tornando-se bastante próxima de tia Jurema, o que a faz criar intimidade para revelar que está escrevendo uma matéria para o jornal e pedir ajuda sobre o assunto àquela senhora.

Assim como Laura, Edgar também tem uma rotina bastante corrida.. Entre processos e suas atividades laborais comuns, encontra tempo para investigar suas suspeitas sobre Fernando. Em mais uma ida à fabrica fora de expediente, encontra o contrato de confissão de dívida assinado pelo irmão, levando-o ao cartório e constatando que o mesmo é falso. Agora só resta confirmar sua hipótese sobre a origem do dinheiro com que Fernando comprou as ações da fábrica. Edgar ainda dedica-se a pesquisa da pauta que Guerra lhe sugeriu e entrevista mulheres para escrever para o Correio da República, aproveitando os períodos em que Laura está na escola para ir à redação do noticioso de seu amigo jornalista.

Na casa do casal, tudo segue de maneira plácida. As crianças com suas traquinagens infantis, tornando-se a cada dia mais apegadas uma à outra. A gravidez seguindo sem sobressaltos. E dessa forma, passa-se aproximadamente um mês.

Naquela manhã de início de outono, o casal desperta para suas atividades diárias. Laura está às voltas ainda de penhoar, tentando encontrar um vestido, enquanto Edgar sai do banho voltando ao aposento do casal..

Edgar (abraçando Laura por trás, enquanto a moça vasculha o roupeiro) Bom dia meu amor...

Laura (virando-se dando um beijo rápido e soltando-se em seguida): Bom dia

Edgar (franzindo o cenho): O que houve? Por que este mau-humor matinal?

Laura: Não encontro nada que possa vestir... Minhas roupas estão começando a ficar justas demais... Eu não devia ter me desfeito das batas que usei quando estava esperando o Daniel...

Edgar (começando a vestir-se): Bem... então está na hora da senhora ir à modista... Por que não aproveita esta manhã e vai à Ouvidor?

Laura (encontrando uma blusa um pouco mais larga): Estou precisando... mas por hoje essa deve servir!... Não posso ir às compras...Sandra e eu vamos programar algumas aulas e começar a organizar algumas coisas nas dependências da escola... E, depois, combinei com Daniel de leva-lo para conhecer o lugar... Pena a Melissa não nos acompanhar..

Edgar: Mas não vai faltar oportunidade. Catarina me pediu para levar a menina para visita-la... Aceitei e não tinha ideia de que pretendias levar as crianças para conhecer a escola...

Laura: Eu sei meu amor... não se preocupe!... Melissa logo vai conhecer o local onde vai estudar.. Nunca pensei que iria ficar tão contente ao saber que faria parte do grupo de alunos...

Edgar: Sim... ela está muito feliz! E eu mais... Sei que estará em ótimas mãos...

Laura: Vamos fazer o melhor possível por todas essas crianças... Já temos várias matriculadas... mas ainda tem alguns pais que estão relutando em colocar seus filhos para frequentar as aulas.... Acham que devem ajudar nas despesas da casa... que precisam trabalhar...

Edgar: Bem.. eu sei que muitas dessas famílias acaba dependendo também do dinheiro que as crianças trazem para casa... Mas o ensino proporcionaria um futuro melhor para essas crianças... Elas não precisariam deixar de trabalhar...ficariam na escola apenas um turno ... Se quiser posso tentar conversar com esses pais mais resistentes...

Laura: Seria ótimo meu amor!... Gosto da forma como pensa sobre isso... Talvez você consiga convencer essas pessoas...E agora deixa ver se as crianças estão prontas... (dando um beijo em Edgar)

O casal desce para a sala de refeições... As crianças já sentadas à mesa aguardam o desjejum. Após a refeição matinal, Laura toma a direção da casa de sua amiga professora, enquanto Edgar segue para a casa de Catarina. Neste ínterim, no Correio da República, Guerra está em sua sala... Acabara de receber sua correspondência diária... Olha para os vários envelopes que tem nas mãos e dentre tantos um lhe chama a atenção...

Guerra: Oras... até que enfim!... Demorou mas chegou!... Vamos ver o que o Sr. Paulo Lima escreveu...(rasgando o envelope e lendo o artigo) Jonas!

Jonas (entrando): Chamou Guerra?

Guerra: Sim... tipografa isso!... Quero na próxima edição...Esse tal de Paulo Lima a cada dia escreve melhor... Esse artigo está excelente!...

Jonas: Ele realmente escreve muito bem... Mas afinal quem é esse senhor?

Guerra: Eu não sei... Estou pensando em propor um encontro na próxima correspondência que lhe enviar... Quero muito conhece-lo...(vendo que o moço permanece em sua sala, distraído) E você? O que está fazendo ainda parado aqui? Vá fazer o que te pedi....

Jonas (voltando a si): Sim senhor...

Enquanto isso, na casa da Rua dos Ipês, Catarina esforça-se para parecer uma mãe carinhosa e preocupada com a filha, ante os olhos de Edgar... Abraça e enche a menina de mimos...

Catarina (abraçando Melissa) E então minha florzinha? Você está bem?

Melissa: Sim mamãe... estou muito bem!... O papai e a tia Laura cuidam muito bem de mim... A Tia Laura sempre brinca comigo e com o Daniel e já me ensinou várias coisas...

Catarina: Ah é? Mas logo você vai para a escola... aí vai aprender muito mais! Por falar nisso, Edgar, já conseguiu uma escola para nossa filha?

Edgar: Sim... já consegui...

Melissa: Eu vou estudar na escola da tia Laura, mamãe! Não é supimpa?

Catarina (tentando conter a raiva): Claro... é... maravilhoso...

Melissa: O Daniel foi conhecer a escola hoje... era para eu ter ido com eles... a Tia Laura tem passado o dia todo lá...Mas outro dia eu vou...

Catarina: Sim meu bem... hoje você veio ver sua mamãe!... E eu estava louca de saudade de você (abraçando a menina com mais força)

Edgar: Nós precisamos ir agora... Despeça-se da sua mãe, minha filha

Catarina: Mas é tão cedo!... Fica mais um pouquinho...

Edgar: Realmente não vai dar... precisamos ir para casa... Tenho muito trabalho me esperando...

Catarina: Está bem... Mas então venha me visitar logo!...Um beijo minha abelhinha... e cuide-se.

Melissa: Tchau Mamãe...

Melissa e o pai saem daquela casa. Ao perceber que o carro já está um pouco afastado, Catarina vai até a mesinha e rabisca algumas palavras... Chama a empregada e pede que encontre um garoto de recados... É preciso entregar aquele bilhete a Caniço

Catarina (vendo a empregada saindo): É a ocasião perfeita!...A songa-monga vai pagar caro por ter atravessado meu caminho...

Enquanto isso, após comprarem o que era necessário no centro da cidade e almoçar na casa de Tereza, Laura, Daniel e Sandra chegam às dependências da escola no Morro da Providência. Há uma grande movimentação de pessoas... Homens rebocando paredes, outros pintando algumas salas, As professoras e o menino detêm-se na diretoria... Daniel olha para tudo aquilo atordoado, enquanto a mãe e a madrinha começam a retirar livros de uma grande caixa e coloca-los ordenadamente em uma estante...

Laura: E então, Daniel? O que achou da escola?

Daniel: Gostei... Nossa mamãe... isso aqui tá uma bagunça!... E quanto barulho!... O que esses homens estão fazendo?

Sandra: Eles estão deixando a escola mais bonita... Preparando ela para receber os alunos.... Olha... aquele senhor ali está pintando!...E lá na frente estão arrumando uma parede...

Laura: Isso mesmo meu filho... E quando ela ficar pronta... você vai ver como vai ficar linda!

As professoras continuam com a tarefa a que se dispuseram a fazer, enquanto Daniel se coloca a desenhar para passar o tempo. Já na Rua do Ouvidor, Edgar caminha pelas ruas com Melissa... pai e filha saem da Confeitaria e dirigem-se a papelaria, quando alguém chama pelo advogado...

Isabel: Edgar!

Edgar: Isabel... boa tarde!

Isabel: Boa tarde... estava indo a sua casa!... O Quequé recebeu uma intimação do fórum... Precisa se apresentar hoje pela manhã para colherem o depoimento... Ele já está a caminho...

Edgar(aborrecido): Mas a audiência estava marcada para amanhã... O juiz por alguma razão resolveu antecipar... Eu deveria estar presente ao depoimento!... Mas preciso levar a Melissa para casa... não sei se consigo voltar a tempo...

Isabel: Se você me permitir a Melissa pode ir comigo... Estou indo para o Morro encontrar a Sandra e a Laura...

Edgar: O que acha, abelhinha?

Melissa: Eu vou papai... Vai ser batuta!... Vou fazer uma surpresa para o Daniel...

Edgar: Está certo... então eu vou para o fórum... Obrigado Isabel...

Edgar sai apressadamente em direção ao fórum da cidade... Lá encontra Quequé esperando que lhe chamem a sala de audiência... Enquanto esperam, Edgar resolve ver o andamento de outros processos e encaminha-se ao balcão de protocolos... Lá consegue uma informação definitiva...

Edgar: Boa tarde...

Humberto: Edgar... há quanto tempo não o vejo!...

Edgar: Realmente... acho que a última vez que nos encontramos foi na festa de noivado do Fernando..

Humberto: É verdade... Por sinal.. uma bela recepção..

Edgar: Humberto, desculpe a indiscrição, mas, tenho me preocupado com meu irmão... como ficaram acertadas as condições de pagamento do empréstimo que o Fernando fez contigo?

Humberto: Ah.. o empréstimo... o Fernando me paga quando puder...

Edgar: Você é um amigo e tanto!.. Afinal estamos falando de 9 mil contos de réis...

Humberto: E o que são 9 mil contos de réis perto da amizade que tenho com teu irmão?

Edgar: Interessante... Você me confirma que são 9 mil, quando Fernando me disse que foram 7mil contos de réis...

Humberto: Eu confundi!... Empresto dinheiro a tanta gente... Às vezes confundo os devedores...

Edgar: Bem... estão me chamando para a audiência... com licença Humberto...

Edgar sai daquela sala tentando conter-se... Fernando havia mentido... Não havia feito empréstimo algum!... O documento era falso e o suposto credor nem ao menos sabia o valor certo da dívida!...A ideia da venda das ações partira do irmão logo após o roubo dos tecidos, uma carga de um valor aproximado de sete contos de réis... o mesmo valor pelo qual ele adquiriu todo o lote vendido... O advogado continua com suas constatações e somente algo lhe vem em mente... Fernando comprou as ações com o dinheiro da venda dos tecidos roubados!... É preciso tomar uma atitude... Nisto o tabelião do fórum chama por Vasco Queiroz...O depoimento do contrarregra do teatro iria começar...

Enquanto isto, no Morro da Providência, Sandra, Laura e Daniel estão na casa de Tia Jurema, que ao passar pela escola convidara a todos para tomar um lanche. Enquanto saboreiam os quitutes preparados por aquela senhora, conversam e planejam mais ações para aumentar o número de matriculas de crianças da vizinhança. Distraem-se tanto, que não percebem que alguém observa todos os seus passos... Vendo a falta de atenção das moças, Caniço começa a por em prática o plano de Catarina... Disfarçadamente combina com um rapaz para que perto do anoitecer, quando todos os trabalhadores tiverem deixado a escola, esteja no alto do morro e de lá solte um balão que fora confeccionado para a ocasião. Assim como pede a uma criança para neste mesmo período chamar a professora a escola, alegando que ela esquecera alguma coisa lá dentro... Caniço percebe a aproximação de alguém... Entra depressa em seu barraco com a intenção de não ser visto... Nota que Isabel e Melissa estão subindo o morro... indo também a casa de tia Jurema...

Isabel (entrando): Boa Tarde! Vejo que cheguei numa hora boa...

Sandra: Em uma ótima hora... Esse bolo de aipim está divino!...

Isabel: Olhem só quem eu trouxe...

Laura: Melissa! Como é que você está com a Isabel?

Isabel: Eu encontrei o Edgar na rua, Laura. Como ele precisava ir com urgência no fórum por causa do processo que movi contra a Catarina, e não ia dar tempo dele levar a Melissa para casa, me ofereci para traze-la junto comigo para cá...

Laura: Que ótimo! Depois do lanche a gente vai te mostrar a escola, princesinha...

Melissa: Eu vou adorar...

Daniel: Isso... e eu vou te mostrar o desenho que eu fiz... Desenhei a nossa casa... o papai... a mamãe, a Tude, a Tide, e nós dois...

Melissa: Eu também quero desenhar!

Sandra: Vocês vão poder desenhar mais... A Laura, a Isabel e eu temos coisas a organizar ainda...

Passado mais algum tempo na casa da tia de Isabel, as moças e as crianças voltam para a escola. Melissa fica encantada com tudo o que vê. Enquanto as sócias definem mais alguns pontos a respeito do projeto, no centro da cidade, Edgar acaba de sair do fórum, após acompanhar o depoimento de Quequé... O contrarregra confirmara que ouviu que Catarina subornou Osvaldo para publicar um artigo no jornal difamando e caluniando a dançarina. O que Humberto lhe dissera não sai da sua mente... Caminha apressado tão ensimesmado que acaba levando um susto quando Guerra o chama...

Guerra: Oh meu amigo... Edgar?

Edgar: Ah... Guerra... desculpe!... Estou com a cabeça em outro lugar...

Guerra: Eu percebi! Problemas?

Edgar: Alguns... Para onde está indo?

Guerra: Estava indo ao Bar Guimarães... tomar um café... Me acompanha?

Edgar: Já está tarde... Laura deve estar preocupada... vou para casa.. Mas me acompanhe você... jante conosco!... Aí conversamos um pouco...

Guerra: A Laura não vai ficar zangada? Visita assim... de última hora...

Edgar: A Laura gosta das suas visitas meu amigo!... Nos dê esse gosto...

Enquanto Edgar e Guerra dirigem-se a residência do advogado, no Morro da Providência, Sandra, alegando ter de ajudar a mãe com algumas tarefas domésticas saíra da escola havia aproximadamente meia hora... Está anoitecendo... Com tanto por fazer, as amigas nem perceberam que as horas passaram...Há muitas nuvens no céu, prenunciando que logo uma tempestade irá desabar... Os moradores que estavam ajudando na reforma retornam para suas casas após um longo dia de trabalho... bem como Laura e Isabel, que juntam seus pertences e com as crianças saem do local...

Laura: Perdemos a hora... ...

Isabel: Verdade... Já anoiteceu...nem vimos a tarde passar!...

Laura: É melhor nos apressarmos... o Edgar deve estar preocupado

Isabel: Laura... eu vou subir... Vou ver o meu pai... Posso pedir para o Zé te acompanhar até até lá embaixo...

Laura: Não precisa!... Acho que não é tão perigoso assim.. Nem estamos tão alto... Boa noite... Sócia!

Isabel: Boa noite!

Laura, Daniel e Melissa começam a descer aquele pequeno trecho... Enquanto isto, Caniço começa a jogar querosene nas paredes da habitação... Após alguns metros, um menino vem ao encontro da professora

Menino: Moça... moça...

Laura: Hã.. é comigo?

Menino: Sim.. Vocês esqueceram uma janela aberta na escola... e vi que tem uma bolsa lá dentro...

Laura: Está certo... obrigada!... Eu vou voltar lá... Vamos crianças?

Enquanto Laura volta em seu percurso, em sua residência, Edgar tenta manter uma conversa com Guerra... mas o olhar no relógio a todo momento e o sobressalto a cada ruído que pareça passos de alguém se aproximando da entrada da casa, demonstram toda a ansiedade que está sentindo..

Guerra: E aí amanhã publicaremos o artigo do Paulo Lima... Edgar... está me ouvindo?

Edgar: Ah... sim claro...

Guerra: O que houve?

Edgar: Ai Guerra...estou ficando preocupado... As crianças e a Laura estão demorando demais..... Será que aconteceu alguma coisa?

Guerra: Acalme-se... logo devem estar aqui!... A Laura deve ter se ocupado com alguma coisa e perdeu a noção do tempo...

Edgar: Guerra... ela não é disso... Eu acho que vou até o morro... Depois... o tempo está tão feio... Logo deve chover...

Guerra: Se você for... Podem se desencontrar...

Edgar: Eu sei... mas vou correr o risco..Não sei porque... mas tenho impressão que algo ruim aconteceu...

Guerra: Nesse caso... vou com você...

Edgar: Vamos então...

O advogado e o amigo entram no automóvel, que vai em direção ao Morro da Providência o mais rápido que sua velocidade permite... Enquanto isto, naquele local, Laura e as crianças entram na escola. No alto do morro, o comparsa de Caniço solta o balão ao receber o sinal combinado com o mesmo... Ao perceber a entrada da moça, outro dos capangas joga um balão exatamente igual sobre o telhado da construção, juntamente com alguma quantidade de querosene, lançando fogo em seguida... Caniço, também ateia fogo a um pano embebido no solvente envolto em um pedaço de madeira, atirando o mesmo contra as instalações do colégio e retorna a sua casa, sentando-se em frente ao barraco, com a intenção de que seja visto pelos moradores para não levantar suspeitas... Laura acende uma vela e verifica as janelas da habitação, sem no entanto encontrar nada aberto... O fogo principia...As chamas começam a se erguer, queimando rapidamente os andaimes e estruturas montadas para a reforma ser realizada...

Laura: Que estranho... não tem nenhuma janela aberta aqui... e também nada foi esquecido... Esse moleque nos pregou uma peça...

Melissa: Tia Laura... que cheiro é esse? (começando a tossir, enquanto a fumaça começa a invadir o ambiente)

Daniel: Tá quente aqui mamãe... Vamos sair...

Laura percebe que há fogo por todos os lados da construção... tenta manter a calma e passar tranquilidade para as crianças

Laura: Crianças...tenham calma... e não saiam de perto de mim

Laura corre com o filho no colo e segurando Melissa pela mão...Tenta chegar a porta... Soltando a mão da menina, tenta inutilmente forçar a abertura... Está trancada... e com o calor da fechadura acaba por queimar-se... Nisto, o fogo que já consome as vigas do teto da escola, atinge uma lamparina também a querosene, que gera uma pequena explosão... As crianças se assustam... Laura aperta os pequenos contra si...

Daniel: Mamãe...

Laura: Socorro! Alguém... Ajude!

Melissa: Eu estou com medo...

Laura: Eu também estou... mas alguém vai ver a fumaça... o fogo... e vão encontrar a gente...

Melissa começa a tossir convulsivamente... Laura percebe que uma moringa com água fora esquecida ali... Sem perder tempo, usa de alguma força e rasga parte de sua saia, fazendo alguns pedaços...

Laura (embebendo o tecido com a água e juntando-se mais as crianças,, que suam e tossem muito): Coloquem o tecido em frente ao nariz e a boca...

O vidro de uma janela estilhaça-se no chão...Logo parte do telhado despenca, fazendo com que Laura e as crianças fiquem presas junto a uma parede... O fogo lança chamas altas... Caniço, que a tudo observava, levanta-se e encaminha-se para a descida do morro... seu serviço estava feito...

Na casa de tia Jurema, Zé conversa com Seu Afonso, Chico e Isabel... Vai até a porta da casa da senhora e avista a fumaça vinda da parte mais baixa do morro...

Zé Maria: Gente... tem alguma coisa pegando fogo lá embaixo...

Isabel: Está vindo dos lados da escola...

Chico: Sim... e para a fumaça ser vista daqui....

Os três se apavoram diante do que constatam... Todos ali saem correndo até o local avisando a todas as pessoas que encontram pelo caminho para trazerem água... Forma-se um alvoroço... Outros tantos moradores atraidos pelo cheiro de algo queimado também acabam se deslocando para o lugar... Ao chegarem o cenário é desolador... Isabel vê o sonho de ajudar as pessoas daquela comunidade ardendo em chamas... Pessoas fazem um mutirão trazendo e jogando baldes de água para tentar extinguir o fogo... Laura,percebendo que há movimentação fora da escola, num último esforço, devido ao ar já rarefeito dentro da habitação, grita por socorro...

Laura: Socorro! Alguém nos ajude!

Isabel: Meu Deus! A Laura... Ela está lá dentro! Com as crianças!

Zé (enrolando-se em um cobertor grosso): Deixa comigo...

Chico: (enrolando-se em outro): Vou com você...

Isabel: Tomem cuidado...

Enquanto isto, Edgar e Guerra estão desembarcando do carro... Até o local da escola é preciso fazer parte do percurso a pé... Põe-se a caminhar e de onde estão avistam a fumaça...

Edgar: Guerra... eu disse que tinha algo errado...(correndo)

Guerra: Sim... vamos....

Nas dependências da escola, Melissa desmaia... já não aguenta o calor e a fumaça... Daniel chora e tosse continuamente... Laura tenta de alguma forma reanimar a enteada... Nisto, Zé Maria consegue arrombar a porta.. Chama pela professora, que responde com um fio de voz.. Ele e Chico vão até ela, cada um pegando uma das crianças no colo e cobrindo-as com um cobertor... Alcançam um cobertor a Laura e partem para fora da edificação em chamas.. Mas... Laura sente-se mal... A falta de ar e a aspiração de tanta fumaça a fazem perder os sentidos.. com a queda bate violentamente a cabeça no chão... Sem que os rapazes percebam, ela acaba ficando para trás...

Os primeiros pingos de chuva começam a cair...Edgar e Guerra acabam chegando ao local no momento em que os filhos do advogado são resgatados do incêndio... O rapaz se desespera... Vê a filha desmaiada nos braços de Zé Maria e o menino com dificuldades respiratórias sendo trazido por Chico...

Edgar (enquanto toma Melissa nos braços): Meus filhos...

Isabel (pegando Daniel no colo): Zé... cadê a Laura?

Chico: Ela estava vindo... Aconteceu alguma coisa...

Edgar passa a filha para o colo de tia Jurema... Sem pensar em mais nada, toma um cobertor... Precisa tirar sua esposa daquele lugar...