Os primeiros raios de sol atravessam a cortina de voile do quarto de Laura... Ela ainda dorme... envolta apenas pelo lençol de linho e pelos braços de seu amado que acabara de acordar.... Edgar olha para Laura a seu lado e sorri... está feliz como a muito tempo não se sentia... ela estava ali... deitada em seu peito... ele acaricia os cabelos dela que acaba por despertar...

Laura: Bom dia

Edgar: Bom dia

Laura: Que bom que não foi um sonho... você está aqui....

Edgar (sorrindo) Estou... é tão bom acordar e ver você.... sentir seu perfume... velar seu sono... (dão-se um beijo)

Laura: Estava acordado a muito tempo?

Edgar: O suficiente para admirar o quanto você é linda quando está dormindo... e quando desperta...

Laura (sorrindo): E é tão bom despertar e encontrar teu sorriso, meu amor.... é tudo tão bom quando a gente está junto...

Edgar: Tinha esquecido?

Laura: Não... nunca esqueci (beija Edgar) durante todo esse tempo eu sempre me lembrei de você...

Edgar: eu também... e a partir de agora vai voltar a ser tudo como antes...

Laura: Mas aconteceu tanta coisa...

Edgar: A gente aconteceu... antes.... agora... e é isso que importa... esquece o passado...

Laura: Amor... mas tem alguém que não tem como esquecer... que aconteceu e que tá presente ali no quarto do lado...

Edgar (sorrindo): Daniel... eu sei... agora a gente tem um filho... e você não sabe o quanto me fez feliz com isso...

Laura: Não... foi você que me fez feliz... me fez a mulher mais feliz do universo quando me tornou mãe de um filho seu... (beijam-se)... mas... não sei como explicar isso aqui para ele...

Edgar: Bem.... o que pretende dizer? que o amigo dele e você estão... não sei nem definir ainda...(rindo)

Laura: Namorando? Se conhecendo? Não... acho melhor não...é capaz de ter um ataque de ciúmes,....

Edgar: Olha... mais algo meu que ele herdou...

Laura: Sim... mas tem ciúmes por você... acredite...

Edgar: Como?

Laura: Ele diz sempre que eu sou do pai dele...e que ninguém pode chegar perto de mim... isso que ele nem tem ideia que o pai dele é você... no outro dia, no zoológico... o alecrim... foi uma mensagem dele para mim..

Edgar: Ele me disse que você falou para ele que te fazia lembrar de mim...

Laura: eu disse isso uma vez... e ele lembra... e por isso... me deu alecrim para que lembrasse do pai dele... e te falou para saber que eu ainda penso nele... se o Daniel perceber algum interesse de uma das partes... ele dá um jeito de fazer você estar presente.... aquele dia ele deixou claro para nós dois que o pai dele existe...

Edgar: Acho que devo agradecer meu filho...assim que ele souber que sou pai dele... ai Laura... tô com tanto medo que ele não aceite bem isso...

Laura: Edgar... o Daniel gostou de você já no dia que te conheceu... ele está se apegando contigo... ontem ele estava feliz da vida porque você ia vir aqui jantar...

Edgar: E acabei ficando para o desjejum... o que ele vai pensar disso?

Laura: Pois é... não sei o que vou dizer para ele quando a gente sair desse quarto...

Edgar: Bom... eu posso sair daqui antes que ele acorde.. ainda deve estar dormindo, não?

Laura: Sim.. e ainda vai dormir um bom tempo...Bem que a gente podia ficar aqui...(fazendo manha) mas não dá... tenho de ir trabalhar... e você... também deve ter coisas para fazer...

Edgar: Tenho... mas se não preciso fugir do meu pequeno... ainda temos tempo... vem aqui (beijando Laura ardentemente e a puxando novamente para si)

Edgar e Laura ficam ali naquele doce enlevo... amam-se uma vez mais...

Laura: Está tão bom aqui... mas agora tenho que ir... o Arquivo Nacional me espera...

Edgar: É... também preciso ir... tenho uma pilha de documentos no escritório e preciso passar no fórum... mas aqui está bem melhor... (beijando Laura) Vamos? (levantando e dando a mão para Laura levantar)

Laura: Não tenho outra escolha...

Eles fazem sua toilette e vestem-se... ainda é muito cedo e Daniel está dormindo... tomam café apressados, sob os olhares cúmplices de Matilde e saem para mais um dia de trabalho... Edgar deixa Laura no Arquivo Nacional e segue para sua casa...

Laura: Obrigada pela carona...

Edgar: De nada... Te vejo a noite?

Laura: Claro que sim... bom trabalho (dão -se um beijinho e Laura desce do carro)

Ao passar, Laura recebe alguns olhares e percebe que fazem algum comentário... não entende o que está ocorrendo... não dá importância e segue seu caminho para o emprego...

Enquanto isso, no outro lado da cidade, Fernando entra apressadamente na casa de Catarina

Fernando (gritando): Meu rouxinol! Saiu! A nota saiu!

Catarina (tirando o jornal das mãos de Fernando e lendo em voz alta): " Sociais: De volta à capital Federal, a bela Laura Vieira, filha de Alberto Assunção, ilustre senador desta República mostra toda a graça e elegância de uma mulher moderna e divorciada...vê-se que mesmo com o fim de seu casamento com o renomado jurista Edgar Lemos Vieira, mantem ainda o bom gosto e o estilo que lhe é peculiar ".... (rindo alto) Ficou ótimo... e o retrato também... está muito bom... daria qualquer coisa para ver as caras de todos eles... mas ele não devia ter citado o nome do Edgar...

Fernando: Por que não? Está na hora de saberem que meu querido irmãozinho não é o bom moço que pensam...

Catarina: Mas isso pode prejudicar a Melissa... e a mim...

Fernando: Meu amor.... isso pouco afetará as finanças e a reputação do Edgar...não se preocupe...

Catarina: Tem razão... já a da família Assunção...

Na casa dos Assunção, Dr. Alberto está tomando seu café da manhã enquanto lê o jornal... quase se engasga com um pedaço de bolo quando vê a foto de Laura estampada em uma das colunas do jornal "Diário Fluminense"

Alberto: Meu Deus... a Laura... que pasquim nojento... Luzia... onde está a D. Constância?

Luzia: Está no seu quarto, Dr.

Alberto: Vou falar com ela.. antes que leia isso... e desenterrar meu receituário... pois só os teus chás calmantes não vão resolver....

O pai de Laura sobe atônito para o segundo piso da casa. Entra em seu quarto. D. Constância está em frente à penteadeira, terminando de maquiar-se...

Constância: Meu amor... o que foi? Te vejo preocupado... o que aconteceu?

Alberto: Você vai saber mesmo... melhor que seja por mim... saiu uma nota sobre a Laura no jornal...

Constância: Um nota? Me dê isso... (tirando o jornal das mãos de Alberto e lendo estarrecida) Não pode ser! Depois de tanto esforço e dedicação para que ninguém soubesse de nada! Estamos perdidos... a Laura... ela não devia ter voltado... não devia ter se exposto.... é o nosso fim! A sua carreira política... o seu futuro Assunção! Tudo está indo para o ralo.... junto com essa nota infame...

Alberto: Constância... não acredito que esteja culpando a Laura... ela é vítima desse pasquim...

Constância: Não seria se não tivesse voltado e começado a circular pela cidade... melhor ainda... se não tivesse insistido nessa bobagem de divórcio...e claro que me preocupo com ela... sua reputação está jogada na lama

Alberto: E Daniel! Já pensou no que esse menino vai passar...Prefiro não pensar... e agir... vou a casa de Laura...

Constância: Pois eu não vou! Tenho pena de meu neto... mas sua mãe procurou por isso...

Assunção está saindo de casa quando encontra Celinha e Carlota... também já estão sabendo da notícia... Carlota veio para prestar "solidariedade" a irmã, e, assim sendo, sobe a seu quarto para fazer-lhe companhia... Celinha ao ouvir que Assunção vai procurar por Laura resolve ir com ele...

Em outros pontos da cidade, mais gente fica sabendo da nota publicada por aquele jornalista corrupto. Sandra fica sabendo e depois de ouvir um sermão de sua avó, com frases como "sua amiga é uma perdida" vai em direção ao Cosme Velho, onde Isabel também ao abrir o jornal pela manhã lê a nota, pensa no quanto sua amiga estará precisando do seu apoio e resolve ir à casa de Laura...

Na rua do Ouvidor, o comentário é geral... todos falam do divórcio da filha do senadorAssunção e do filho do industrial Bonifácio Vieira... percebendo o burburinho, Jonas, o tipógrafo do jornal Correio da República, compra o jornal concorrente e o leva para a redação...

Jonas: Guerra... dá uma olhada no que publicaram...

Guerra: Nesse jornaleco? Imagino que não deve ser nada bom... vamos ver (lendo o jornal)... Meu Deus! Será que o Edgar já sabe disso? Vou até a casa dele...

Guerra sai apressado da redação...em pouco tempo está na casa do Dr. Vieira... Edgar ouve batidas rápidas na porta e vai abrir...

Edgar: Guerra! Olá meu amigo!

Guerra: Oi Edgar...

Edgar: Que bom que veio! Tenho tanto para te contar... estou muito contente! (fazendo sinal para Guerra entrar e sentar)

Guerra: Pelo jeito não leu o Diário Fluminense hoje...

Edgar: Geralmente não leio... só tem notícias sensacionalistas... e não são nada imparciais...

Guerra: Mas dessa vez acho melhor você ler... olhe...

Edgar: Tá... vamos ver .... (Edgar abre o jornal... olha para foto... começa a ler a notícia... suas mãos tremem...) Mas o que é isso? Quem é responsável por isso? Eu vou processar esse jornal...

Guerra: Edgar... não adianta processar... com base em que? A nota não está mentindo... o que vai alegar?

Edgar: A verdade... que Laura é minha mulher...

Guerra: Ex-mulher...

Edgar: Não... Guerra... nós reatamos...

Guerra: Que bom! Mas isso não muda a situação civil de vocês... você sabe disso...

Edgar (acalmando-se um pouco) tem razão..eu sei mais do que ninguém que isso não muda o fato de termos assinado aquele maldito documento...ai Guerra... nunca me senti tão impotente diante de uma situação... estou de mãos atadas... não posso fazer nada.... todo o esforço que fiz esses anos todos para que a imagem da Laura não fosse ferida pelo divórcio foi em vão...

Guerra: Edgar...você fez tudo o que pode... não se culpe..

Edgar: Me culpo... se não fosse por ter feito tudo o que fiz no passado, a Laura não teria pedido o divórcio...agora só há uma coisa a fazer... preciso ver a Laura... preciso protege-la...apoia-la... a deixei no trabalho... vou para lá agora... se não estiver lá... vou até o Cosme Velho... e Daniel... tenho que proteger meu filho... ele pode ouvir coisas que não merece e que podem machuca-lo...

Guerra: Vou com você... quero me solidarizar com ela também...

Edgar: Está bem... vamos...

Enquanto isso, Laura trabalha no Arquivo... mas não deixa de perceber que a olham de forma diferente... os homens lhe lançam olharem maliciosos e as mulheres tentam evitar sua companhia... não entende o que está acontecendo... vai até a recepção... o horário de intervalo para o almoço está próximo... propositadamente, D. Joana, com pena da situação, deixa o jornal na bancada... Laura resolve dar uma olhada nas manchetes e subitamente empalidece... lê tentando deglutir cada palavra do que está escrito naquela folha... agora entende os olhares e os comentários dos quais está sendo alvo...

Em sua casa, seu pai e Celinha chegam... o médico bate a porta com firmeza

Assunção: Matilde? O que faz aqui?

Matilde: Dr. Assunção... entre.. o Dr. Vieira me pediu para ajudar a dona Laura enquanto a Gertrudes estiver ausente...

Assunção: E Laura?

Matilde: Trabalhando

Celinha: Meu Deus! Ela não deve saber...

Nisto batem a porta novamente, Matilde atende... são Sandra e Isabel

Matilde: Bom dia

Sandra e Isabel: Bom dia... a Laura está?

Matilde: Está no trabalho...

Assunção: Eu vou busca-la... não quero que passe por nenhuma humilhação na rua...

Isabel: Dr. ...a essa hora ela já deve ter saído .. o senhor provavelmente se desencontrará dela...

Sandra: É melhor esperarmos todos aqui... e Daniel, onde está?

Matilde (sem entender nada): Brincando em seu quarto...

Sandra: Vou vê lo... e que meu amorzinho não fique sabendo dessa infâmia...

Isabel: Vou com você... quero conhece-lo

Matilde: Que infâmia?

Celinha: ai Matilde... pelo jeito você também não está sabendo... eu vou te contar...

Em outra parte da cidade, Edgar e Guerra estão saindo, quando D. Margarida está chegando...

Margarida: Filho.... como está? Eu vi no jornal....

Edgar: Comigo está tudo bem...não se preocupe... isso pouco afeta minha reputação e minha carreira... a nossa família sofrerá muito menos impacto do que a dos Assunção... quem realmente me preocupa é a Laura e (para e pensa que não deve falar de Daniel ainda e decide não terminar o que ia dizer) estou indo vê-la

Margarida: Minha nora... não sabia que tinha contato com ela... vai... e diga que sinto muito por tudo isso...

Edgar e Guerra saem apressadamente... vão direto para a casa do Cosme Velho...

Laura está na rua... vai em direção a sua casa... apesar da boataria a seu redor, dos olhares maldosos e dos impropérios que alguns mais exaltados lhe dirigem, segue seu caminho de cabeça erguida... está na porta de casa... está prestes a desabar... sua alma está estraçalhada depois de tudo isso... mas tem de fazer um último esforço... não quer que seu filho lhe veja chorar.... todos que a aguardavam param o que estavam fazendo e vem a maçaneta da porta girar... entra em casa...

Laura: Vocês! Aqui!

Todos: Laura!

Assunção (dando um abraço na filha): Meu anjo... como está? Fizeram alguma coisa contigo?

Laura: Ai pai... nunca pensei que pudesse ser assim...

Celinha a abraça também...

Daniel ao ouvir que sua mãe chegou, vem em disparada para a sala, acompanhado de Sandra e Isabel...

Daniel: Oi mamãe! Olha quantas visitas nós temos... o vovô.. a tia Celinha..a dindinha... e a tia Isabel... (olhando para a mãe) O que foi mamãe? Está triste?

Laura (abraçando o filho): Não, amor... estou feliz por ter tanta gente que gosta de nós aqui conosco... vai brincar... vai...

Sandra: Vem pequenino... vamos continuar a jogar o bilboquê... aposto que vou fazer mais pontos dessa vez... (conduzindo novamente o menino a seu quarto)

Celinha: Laura... foi um choque para todos nós...

Laura: Eu sabia que um dia iam descobrir... pensei que estivesse preparada para isso...

Assunção: E no seu emprego?

Laura: Piadinhas... comentários ao pé do ouvido... olhares maliciosos e desconfiados... sorte o seu Homero não estar na instituição hoje... acho que teria me mandado embora...

Assunção: Você tem de estar preparada para isso... se quiser posso falar com ele para não te demitir...

Laura: Não, pai... a partir do momento que casei deixei de ser responsabilidade sua... e não quero que meu emprego dependa de influências políticas... eu caminho com minhas próprias pernas... por favor..

Nisto batem a porta...

Guerra: Viemos assim que pudemos...Laura... eu sinto muito... jornalismo como esse não deveria existir...

Laura: Obrigada Guerra...

Edgar: Laura...

Laura: Edgar... (abraçando com toda a força... eles não dizem nada... naquele abraço ela encontra o consolo que precisava)

Daniel ao ouvir que mais pessoas chegaram em sua casa, sai do quarto correndo para ver quem é... Edgar e Laura soltam-se ao ouvirem Sandra...o menino se aproxima

Daniel (pulando no colo do pai): Edgar! Você também veio!!!

Edgar: Sim... vim ver vocês...

Daniel: E você conhece todo mundo aqui?

Edgar: Conheço...

Daniel (olhando para Guerra): Quem é ele?

Guerra: Olá Daniel... meu nome é Carlos Guerra... eu sou amigo da sua mãe e do seu..... amigo Edgar... como vai?

Daniel: Bem... e se é amigo do Edgar e da mamãe é amigo meu também...

Matilde vem e leva Daniel para a cozinha

Matilde: Vem querido... eu fiz um bolo de coco que está delicioso...

Assunção: Edgar... eu sinto muito também por você... sei de tudo o que fez para evitar que isso acontecesse...

Edgar: Obrigado...mas parece que de nada adiantou...

Isabel: Mas quem terá feito isso? Algum inimigo politico do senador?

Guerra: Não creio... o seu maior inimigo é Bonifácio Vieira... e ele não iria expor o próprio filho dessa maneira...

Edgar: Também acho isso... por mais que meu pai e eu estejamos estremecidos... ele não faria isso.. afinal de alguma forma isso pode afetar seus negócios e sua carreira politica...

Assunção: Também descarto... deve ter sido um outro tipo de inimigo... mas acho que agora devemos ir... Laura precisa descansar...

Todos se despedem de Laura e saem. Edgar se detém um pouco...

Edgar: Não sei nem o que dizer... só que conta comigo para o que precisar... sempre vou estar do teu lado...

Laura: Obrigada, meu amor..

Edgar caminha em direção a porta...

Laura: Onde vai? Pensei que ia ficar aqui comigo...

Edgar (fechando a porta) E vou... eu vou cuidar de você... e nunca mais vou te deixar sozinha... (abraçando Laura, que a esta altura já não se contém mais e chora compulsivamente)... Tudo vai ficar bem... vai passar... a gente vai enfrentar isso juntos...