Chove torrencialmente aquela noite. Edgar chama um coche de aluguel. Pede primeiro para ir até a casa de seus pais, pois precisa dar instruções para Margarida no caso de ocorrer algo com a saúde de Melissa durante sua ausência.

Margarida: Mas filho... viajar a estas horas... e com este tempo...

Edgar: Mamãe... não posso esperar mais... preciso agir antes que seja tarde..

Margarida: Sei que não vai me ouvir... só posso pedir para tomar cuidado.... espero que tudo corra bem e que você e Laura se entendam...

Edgar:É o que espero também

Margarida: filho... é tão difícil te ver sofrendo assim... mas você devia saber que a Laura não iria aceitar isso... eu a admiro... Laura não é submissa às vontades do marido... enfim... ela é o que eu jamais tive coragem de ser...

Edgar: Do que está falando?

Margarida: Do passado... mas isso já não importa... Agora vá, pois está ficando tarde e até a fazenda dos Assunção tem muito caminho pela frente... Viaje tranquilo... não vai acontecer nada com a menina... mas se acontecer já sei o que fazer... Boa Viagem meu filho

Edgar sai da casa dos Vieira. Vai em direção a São Gonçalo. Não sabe ao certo o caminho. Ao menos o cocheiro que contratou tem ideia de como chegar até o destino. O tempo vai passando... Edgar pensa no que dizer a sua esposa... precisa convence-la a voltar... a cada minuto que passa fica mais nervoso.. suas mãos estão suadas.. reflete a melhor maneira de expor seus sentimentos... está tão concentrado em seus pensamentos que nem percebe que já estão dentro da Fazenda Hortência... em frente a casa onde Laura está

Cocheiro: Chegamos

Edgar (olhando para fora e vendo que estão em frente a uma casa ): O senhor me espera aqui. Só não sei quanto vou demorar...

Enquanto isso, Laura já havia se recolhido.. tenta ler alguma coisa, pois perdeu o sono...a chuva lá fora está cada vez mais forte... D. Gertrudes que ainda estava de pé, terminando os afazeres da casa, bate a sua porta

D. Gertrudes: D. Laura?

Laura: Sim... o que foi Gertrudes?

D. Gertrudes: Um rapaz a aguarda na sala...

Laura: Um rapaz? Quem é?

D. Gertrudes: Ele não disse seu nome... disse que é amigo de seu pai e que precisa falar com a senhora...

Laura: Está bem... deve ser importante... para vir aqui a estas horas e com esta tempestade....

Laura se recompõe. Coloca um vestido simples porém bonito...e vai para a sala... seu coração se descompassa ao ver que quem está ali, esperando por ela, é Edgar... suas pernas bambeiam... mas tenta seguir altiva ao seu encontro

Edgar: Boa noite

Laura: Boa noite... o que faz aqui? Acho que deixei bem claro na mensagem que escrevi que você não devia me procurar...

Edgar: Você sabe muito bem que eu não iria obedecer... e que eu iria até o fim do mundo se fosse para encontrar você...

Laura: Quem disse a você que eu estava aqui?

Edgar: Isso não importa... o que interessa é que temos coisas a esclarecer...

Laura: Não temos nada a esclarecer... agora se me dá licença... pretendo ve-lo somente no dia da audiência do divórcio...

Edgar: Divórcio? Laura... eu não vou me separar de você... por sinal... recebi o seu advogado hoje... alegação de incompatibilidade de gênios? Desde quando somos incompatíveis? A gente sempre se entendeu...

Laura: Mas agora não se entende mais.... Edgar... facilite as coisas... concorde com essa alegação... caso contrário vou ter de alegar abandono de lar e formação de outra família..

Edgar: O que? Eu tenho apenas uma filha ilegítima....

Laura: Sim... e dome na casa dela... ou melhor na casa da mãe dela... eu vi vocês e tenho testemunhas... não há como negar

Edgar: Não sei do que está falando... amor me explica...

Laura: Não me chame de amor... nem me peça explicações...

Edgar: Laura... por favor... reconsidera... .eu vou conseguir conciliar isso tudo...prometo... eu não consigo viver sem você... esses últimos dias tem sido um tomento... não faz isso comigo

Laura: Edgar você não está conseguindo e nem vai conseguir conciliar... a Catarina não vai deixar isso acontecer.. e você não está me pedindo para reconsiderar... está me pedindo para aceitar... e eu não vou fazer isso...

Edgar: É tão difícil assim aceitar minha filha?

Laura: Não estou falando da menina.. estou falando da mãe dela...

Edgar: E por causa de uma mulher por que não tenho o menor interesse você vai jogar fora o nosso casamento... os nossos planos... Laura... a gente queria tanto formar uma família... ter filhos... envelhecer juntos vendo eles crescerem...

Laura sente um arrepio ao ouvir Edgar falar sobre isso. Pensa por um momento em seu bebê... será que está agindo certo? Será que ele não tem direito de conhecer o pai e que Edgar não tem o direito de saber que ela espera um filho dele? Mas..

Laura: Edgar...você jogou fora tudo isso no momento em que deciciu trazer essa mulher para as nossas vidas... é melhor cada um seguir seu caminho...

Edgar: Você tem noção do que vai acontecer contigo com o divórcio? Você vai ficar sozinha... sem amigos...até sem seus parentes... não vai conseguir emprego... as portas vão se fechar... você vai ser considerada um mau exemplo para a sociedade...

Laura: Eu sei de tudo isso... mas minha decisão está tomada...

Edgar (uma lágrima corre em seu rosto): Está bem... se é isso mesmo que quer... não posso fazer nada... não vou te obrigar a ficar casada comigo... mas não esqueça que eu amo e sempre amarei você...

Laura: Eu também te amo... e como eu amo, Edgar.... mas não podemos seguir... vai ser melhor assim...

Edgar: Com licença... vou voltar ainda hoje para o Rio de Janeiro

Laura: Também não precisa ir assim... está tarde... chove muito... fica aqui... essa casa é grande... tem vários quartos...

Edgar: Não... é melhor eu ir...

Edgar sai daquela casa... sente-se completamente derrotado... Laura está na porta... observando o coche lentamente se afastando até se perder na escuridão...