Laura continua observando o coche que leva Edgar... está com os olhos marejados... D. Gertrudes a vê tão triste que não resiste a uma pergunta

Gertrudes: Sinhazinha... quem é esse moço tão lindo e que te fez ficar assim?

Laura: Meu marido...

Gertrudes: Então aquele é o Dr. Vieira...

Laura: sim.... Gertrudes... aquele é o Edgar... meu amor...

Gertrudes: D. Laura... eu sei que não devo me meter... mesmo não querendo a gente trabalhando aqui acaba sabendo o que está acontecendo na casa.... e eu a conheço desde criança...

Laura: Sim.. Gertrudes... você me viu crescer... tem todo o direito de se meter, sim

Gertrudes: eu entendi por que o Dr. Assunção lhe trouxe para cá... a visita daquele outro doutor...

Laura: eu vou me separar...

Gertrudes: Menina... eu sei muito bem o que está sentindo...eu sai de minha casa com dois filhos pequenos quando descobri que meu marido tinha outra mulher ... se não fosse a bondade do seu pai, não sei o que seria de nós....

Laura: Eu sei Gertrudes... por que está me dizendo isso?

Gertrudes: Meu marido nunca nos procurou... mas o seu veio até aqui... debaixo de toda essa chuva... só pra tentar salvar o casamento de vocês... Menina Laura... esse rapaz te ama... nenhum homem faz o que e Dr. Vieira fez se não for por amor... ele saiu daqui arrasado... isso que, pelo que entendi, ele não sabe que vocês vão ter um filho... não me diga que não... eu percebi logo que você chegou aqui...

Laura: Ai Gertrudes... como te enganar?... e como te explicar isso?... ele me magoou muito... estou com raiva dele.... mas eu o amo demais... e antes de começar a odiá-lo por tudo o que está acontecendo... que por sinal foi ele que provocou.... prefiro me separar...

Gertrudes: Perdoa essa velha chata... mas... pensa no que está fazendo... depois pode não ter volta...

Nisto, Juvêncio, capataz da fazenda, chega a cavalo...

Laura: O que foi Juvêncio?

Juvêncio: O rio D. Laura... com a chuva ele transbordou.. cobriu a ponte... inundou parte da estrada.....não tem como passar....

Laura: Meu Deus.... o Edgar... ele vai ficar preso na estrada...Juvêncio...vai atrás daquele coche que saiu daqui... diz pra eles voltarem pra cá...

Enquanto isso, na estrada, Edgar está desolado... já não chora mais... que tem que se resignar, reflete... remoi seus pensamentos... repentinamente o coche para...

Edgar: O que foi? Por que paramos?

Cocheiro: A roda atolou... os cavalos não estão conseguindo puxar...

Edgar: Era só o que faltava... vamos apear e empurrar....

Ele desce... Edgar empurra o coche enquanto o cocheiro atiça os cavalos para puxarem... tudo em vão... o coche não sai do lugar...continuam tentando... mas... nada. O estado de Edgar é deplorável... está encharcado pela chuva e com as calças enlameadas até os joelhos... Juvêncio chega e oferece ajuda... ele apeia e juntando sua força a de Edgar conseguem tirar o coche do atoleiro

Juvêncio: Dr... venham... voltem para a fazenda...

Edgar: Obrigado pela ajuda... mas... não.. preciso voltar para o Rio

Juvêncio: Não há maneira... a ponte está embaixo da água... o rio transbordou... a sinhazinha me pediu para encontra-los....

Sem alternativa, o coche segue Juvêncio até a casa grande. Laura olha pela janela... seu coração está apertado... tem medo que aconteça alguma coisa. Ao ver a aproximação do coche sorri satisfeita... ele atendera seu pedido...

Edgar entra na sala. Laura olha para ele e não conseguindo evitar, ri do estado do marido

Laura (rindo): O que aconteceu contigo? Olha o seu estado...

Edgar (sorrindo... está encantado por ver Laura rindo depois de tantos dias): Bem, digamos que estou elegante como um lorde inglês... tivemos um contratempo... o coche atolou... se não fosse pelo Sr. Juvêncio ainda estaríamos lá... depois ele disse que estamos presos aqui (Edgar espirra) Obrigado por me receber....

Laura (parando de rir e falando sério): Gertrudes..

Gertrudes: Sim Senhora

Laura: providencie acomodação para o cocheiro e depois prepare uma canja... (olhando para Edgar) Você está ensopado... vem...vou procurar alguma coisa para você vestir...

Ela leva o marido para um dos tantos quartos de hospedes, lhe entrega uma toalha e vai ao quarto de seu pai... separa um pijama do Dr. Assunção...

Laura: Vai ficar grande... mas é o que tem no momento... depois você me dá essa calça... vou pedir para lavarem... espero que seque até amanhã...

Edgar já havia tirado o casaco e o colete... está apenas de camisa... mas esta está completamente encharcada também...

Laura: Você não quer tomar um banho? Vai fazer bem...

Edgar consente sem dizer nada...continua espirrando... Laura se dirige até o quarto de banho e prepara a banheira para o rapaz.

Laura: Seu banho está pronto...

Edgar entra no quarto de banho e sem nenhum pudor começa a despir-se em frente a ela...

Laura: Espera eu sair...

Edgar: Por que? Não há nada aqui que você já não tenha visto...

Laura cora e sai sem dizer palavra. Enquanto Edgar toma banho ela vai até a cozinha e busca a canja. Entra no quarto de hospedes e deixa a bandeja com a refeição sobre uma mesinha. Não percebe que Edgar está parado na porta.. olhando para ela.. A moça dá-se conta que não está mais sozinha ali

Laura: Trouxe uma canja... vai fazer você se sentir melhor...

Edgar: Obrigado pela preocupação... mas não tenho fome...

Laura: Você tomou muita chuva... pode adoecer... eu quero me separar... não ficar viúva...

Edgar (rindo amargurado): Talvez fosse melhor...

Laura: Meu amor... não fala isso...

Edgar: Repete

Laura: O que?

Edgar: Você me chamou de meu amor...

Laura: Desculpa... estava acostumada a te chamar assim...

Edgar: E eu adorava esse seu costume... como adoro tudo em você... tudo o que você faz... Eu realmente estou doente... pela sua ausência.... e não é uma canja que vai curar....

Edgar chega mais perto dela... ela tenta fugir mas algo lhe faz permanecer ali.... Edgar a beija... ela tenta resistir, mas acaba se entregando... o beija... um beijo intenso... demorado... cheio de carinho e saudade... Ele a aperta contra si... a deseja... ela também o quer... mas... abruptamente ela para e solta-se dos braços dele...

Laura: Não Edgar... isso não tá certo... nós vamos nos separar...

Edgar: Por que não é certo? Nós ainda somos casados.... e acima de qualquer coisa... nós nos amamos... meu amor... não faz assim...

Ele caminha até ela... ela não consegue fugir... sabe que está sendo fraca, mas não consegue resistir e acaba se entregando ao homem que ama...

Na madrugada, Laura acorda assustada... pensa no que fez... precisava daquilo... os braços de Edgar a fazem sentir-se segura, protegida... sente-se amada... mas... lembra-se de tudo novamente... Catarina... só de pensar naquela mulher sente um misto de repugnância e raiva.... aflige-se... ama Edgar mas tem certeza que o casamento não pode continuar... Vê Edgar dormindo... acaricia o rosto de seu amado e sai daquela cama indo para seu quarto.

Edgar acorda e percebe que Laura não está ao seu lado. Vê suas roupas secas sobre a cadeira. Veste-se. A chuva cessou há algumas horas, a noite passou e o dia trouxe o sol consigo. Edgar vai até a sala. Laura está sentada no sofá e levanta-se ao vê-lo chegar.

Edgar: Bom dia

Laura: Bom dia. Acho que o rio já voltou ao seu curso. Você já pode ir.

Edgar: Você não vem comigo?

Laura: Não

Edgar: Eu pensei que ontem....

Laura: O que aconteceu ontem foi ótimo... como sempre... mas não devia ter acontecido. E não muda em nada nossa situação. A gente se encontra no fórum... no dia da audiência...

Edgar: Tem certeza?

Laura (tentando disfarçar a vontade de chorar): É o melhor para nós dois...

Edgar não diz nada e sai. O cocheiro já está o esperando. Ele embarca mais triste do que antes... não entende como seu casamento com Laura chegou a este ponto... Sente raiva...de Laura, de Catarina, mas principalmente de si mesmo...

Os dias passam. Edgar e Laura assinam o documento que Dr. Castro redigiu. Os papeis definitivos são entregues ao Juiz, que marca a data da audiência para aqui vinte dias. Laura recebe visitas frequentes de seu advogado com o pretexto de definir o que será dito em juízo. Edgar tenta voltar a levar uma vida normal: visita Melissa, atende seus clientes, mas quando conversa com seu grande amigo Guerra ou está sozinho acaba mostrando toda sua aflição... a data em que se divorciará de Laura está próxima...