Naquela tarde abafada de verão, Catarina sai do coche que alugara e, estando em frente a seu destino, caminha com sua altivez peculiar... Sobe os poucos degraus que separam o jardim da varanda da casa onde agora reside sua filha e impaciente bate à porta... Já tem tudo o que pretende dizer em sua mente, mas a supresa daquela mulher ante ela lhe faz por alguns momentos esquecer até mesmo o motivo que a fizera vir até ali...

Laura (suspirando): Eu já devia imaginar.... O que faz aqui?

Catarina (espantada): Laura? Você... aqui?

Laura: Por que o espanto Catarina? Vamos... diga logo o que quer...

Catarina emudece por alguns segundos... Após recobrar-se do choque de encontrar a esposa de Edgar naquela casa, continua com o que tinha em mente...

Catarina (entrando): Falar com o Edgar... ele se encontra?

Laura: Encontra-se... claro...

Catarina: Pode chama-lo?

Laura: Sim... só um momento...

Edgar (saindo do escritório, falando com Laura sem perceber a presença de Catarina) Amor... Eu vou até o Correio da República... te dou uma carona (dando-se conta que Laura não está sozinha) Catarina?... O que faz aqui? Já disse para não vir a minha... ou melhor (apoiando a mão no ombro de Laura) a nossa casa...

Catarina: Como vai Edgar... desculpe... mas preciso falar contigo...

Edgar: Pode falar... Não há nada do que diga que Laura não possa saber...

Catarina: Como queira.. Edgar... acredito que tenha recebido o convite para a celebração do noivado de seu irmão comigo... gostaria de te-lo entregue em mãos... mas devido aos preparativos infelizmente não foi possível.... Então, vim hoje pedir para que nos honre com sua presença... É importante para o Fernando e para mim...

Edgar (debochando): Ah... eu imagino!... (voltando a falar sério)Não se preocupe... estarei presente... Bem... se era isso o que tinha a me falar... nossa conversa já acabou...

Catarina: Na verdade não.... quero pedir-lhe um favor... Gostaria que levasse nossa filha... Quero que Melissa compartilhe deste momento tão feliz em minha vida...

Edgar: Catarina... por favor... Melissa não deve ser exposta...ninguém sabe que ela é sua filha comigo!... Exibi-la pode trazer problemas!... Não quero que sofra preconceito... Se dessa forma ela já sofre... não consigo nem ao menos encontrar uma escola que a aceite...imagine expondo a menina em uma festa de noivado da mãe... Devemos preserva-la para não piorar as coisas... Além disso... vai ser tarde... ela dorme cedo... e para voltar para casa acabará por resfriar-se... Você melhor que eu sabe o quanto a saúde dela é delicada

Catarina: Talvez tenha razão... por enquanto... Logo a situação de Melissa irá mudar!... Ela deixará de ser filha de mãe solteira...

Edgar: Mas ela não vai deixar de ser filha ilegítima de uma cantora lírica...

Catarina: É o meu trabalho! E quanto a ser ilegítima... todos sabemos ao que isto se deve!... Bem... espero vocês... Laura... já que está aqui.. aproveito para convida-la... Será um prazer recebe-la

Laura: Eu dispenso sua hipocrisia Catarina...

Catarina:Laura... estou convidando com a melhor das intenções... (ficando um tempo em silêncio) Bem... já falei o que precisava...E reitero que conto com a presença de ambos... Boa tarde (dirigindo-se a porta)

Laura (irritada): Sabe... É impressionante!... Você vem aqui e nem ao menos pede sobre Melissa.. Fico pensando que tipo de mãe é essa que não tem a menor curiosidade em saber nem ao menos como está a filha...

Catarina (voltando): Imagino que minha abelhinha esteja bem... afinal pelo que vejo está em "boas" mãos.... Ela está? Gostaria de vê-la...

Laura: Não... não está... foi brincar na pracinha com a Matilde...

Edgar: Assim que possível eu a levo até sua casa para visita-la....

Catarina:Faça isso Edgar, por favor!..Sei que não sou bem-vinda aqui...mas minha pequena sempre será muito bem-vinda em minha casa.... Sinto falta de minha florzinha... Vou indo então... Ah... Gostaria de dizer que folgo em saber que estão juntos... Laura... finalmente entendeste que Edgar e eu temos uma filha... que nos une para sempre é verdade... mas a nossa relação não passa disso... somos apenas pai e mãe ... Mais uma vez obrigada por me receber... Boa tarde...

Edgar acompanha Catarina até a porta... Ao voltar olha para o semblante de Laura... sua esposa está transtornada...

Laura: Edgar.... essa mulher tem o poder de me aborrecer profundamente! Estou a ponto de explodir... Sua dissimulação... seu sinismo!... Como ela pôde ter o displante de me convidar ao noivado?

Edgar: Meu amor... não se aborreça por conta dela....

Laura: Como não me aborrecer? Depois de tudo o que fez conosco ainda tem a empáfia de vir a esta casa...

Edgar: Laura... precisamos ter calma!.... A Filipa e a Manoela estão trabalhando com afinco nas investigações... Logo ela irá pagar por todo mal que fez ...Quanto a vir aqui eu já fui bastante claro para não aparecer nesta casa... mas vou ter uma nova conversa com ela... E agora com meu irmão também!... Não quero nem Fernando... e muito menos Catarina... perturbando a paz que temos aqui...

Laura: Eu sei que ela é mãe da Melissa...

Edgar: Sim... mas isso não quer dizer que ela precisa vir aqui para ver a menina... e ela sabe disso.. você mesma a ouviu... Me espanta que se você não tivesse falado nada... ela nem teria pedido pela Melissa!... Acho que nem vou comentar com minha filha que a mãe dela esteve aqui... não quero criar falsas ilusões...

Laura: Tem razão... fico triste pela Melissa... mas é o melhor a fazer... Seria cruel ela saber que a mãe não tem o menor interesse nela...

Edgar: Quanto ao noivado... não seria nada mau se você me acompanhasse...

Laura: Meu bem... eu não posso conceber a ideia de estar em uma comemoração que envolva essa mulher... e depois do que aconteceu... duvido muito que minha presença na Confeitaria seja bem-vinda...

Edgar: Bem... você estará lá como convidada dos noivos... ninguém pode barrar sua entrada... e quanto aos comentários... provavelmente serão do tipo... "depois de tanto escândalo resolveram reatar"... mas sei que isso não te importa... Aliás a opinião dos outros nunca te importou!... E... quanto ao convite... você mesma me disse para ser cínico e estar presente ao noivado... Pois te dou o mesmo conselho... e argumento da mesma maneira!... Pense bem... tenho certeza que ela não espera sua presença...

Laura: Prometo que vou pensar... Agora preciso ir... minhas sócias devem estar me esperando.. Até logo (dando um beijinho leve em Edgar)

Edgar: Amor.. eu disse que preciso falar com o Guerra...te deixo no Teatro e sigo para lá...

Enquanto o casal vai em direção ao Teatro Alheira onde Laura tem a intenção de encontrar suas sócias e dali seguir para o Morro da Providência, longe dali, no morro do Corcovado, Filipa e Manoela, acompanhadas por Joaquim e Albertinho, passeiam entre as outras pessoas que estão também a admirar a visão panorâmica da cidade... sobem até o Chapéu do Sol.. no mirante, os rapazes começam a descrever a paisagem que dali se pode observar, detendo toda a atenção das moças... admiradas com a beleza do lugar...

Albertinho: E ali nós vemos a Lagoa Rodrigo de Freitas... aquele morro adiante é o Pão de Açúcar...

Filipa: Nossa... essa cidade tem vários morros, não?

Joaquim: Tem... daqui dá para ver vários!... Muitos deles estão sendo ocupados por pessoas que não tem para onde ir depois que a prefeitura resolveu fazer o bota-abaixo

Manuela: Bota-abaixo? O que é isso?

Joaquim: É como chamam a demolição dos cortiços que haviam no centro da cidade.. Estão fazendo isso para alargarem as ruas e embelezarem a cidade... Pena que os governantes não pensam no que fazer com a pobre gente que vivia nesses locais...

Albertinho: Mas nem todos são assim.. Meu pai sempre teve preocupação com estas pessoas... Mas infelizmente um só senador em meio a tantos pouco pode fazer...

Joaquim: Olhem... aquela é a Pedra da Gávea... E tem as fortalezas que a gente também consegue ver daqui... perto da Baia da Guanabara... (apontando) e outra na Urca...

Albertinho: Aqui a gente consegue ver o centro da cidade...E lá adiante se vê a praia de Ipanema...Ali vemos o Derby Club ...É um local ótimo!... Vocês vão gostar...ainda mais se apreciam o hipismo... Agora... que tal darmos uma volta por aqui?

O grupo resolve descer as escadas observando a vegetação do local. Neste meio tempo, Laura, Isabel e Sandra chegam ao morro da Providência... Lá encontram com uma senhora com ar bondoso, que conhece Isabel desde menina, carinhosamente alcunhada por todos como Tia Jurema....

Isabel: A benção tia!

Jurema: Isabel minha menina! Que bom ver você...

Isabel: Tia... essas aqui são minhas amigas Laura e Sandra... ou melhor minhas sócias...

Sandra e Laura: Olá!

Jurema: É um prazer conhece-las... Como é esse negócio de sócias?

Isabel: Sim, tia!... Vamos fundar uma escola aqui no morro!

Jurema: Uma escola! Mas isso é maravilhoso!

Laura: D. Jurema... a Isabel me disse que a senhora podia nos ajudar... Precisamos encontrar uma habitação para as instalações...

Jurema: Menina!... Me chame como todos... Tia Jurema... Vou ajuda-las com gosto!... Por sinal... tem uma casa no pé do morro que acho que pode servir... A moradora resolveu ir para o Morro Santo Antônio... fica mais perto da família dela... A casa está abandonada... mas é grande... acho que pode ser...Venham!... Eu levo vocês até lá...

As moças acompanham Tia Jurema até o local... Encantam-se com a casa... Apesar de bastante danificada pelo tempo, é espaçosa, arejada, tem boa luminosidade... É perfeita para o fim que pretendem dar àquela edificação...

Laura: Essa casa é um sonho!... Vai ser uma linda escola...

Sandra: Sim... Só vai precisar de uma boa reforma...

Isabel: Quanto a isto, não se preocupem!... Amanhã mesmo vejo o que precisamos... e peço para o Zé falar com uns amigos dele aqui no morro para nos ajudarem...

Laura: Bem... a casa está vista...Nem acredito que logo vamos começar com nosso projeto!

Repentinamente, Laura tem uma vertigem... Sandra percebe que a amiga não está bem e a ampara, fazendo a moça sentar em um banco que encontra no interior da casa....

Sandra: Laura... você está pálida... está se sentindo bem?

Laura: Foi só uma indisposição... já vai passar... Nos últimos dias tem sido assim...

Isabel: Indisposição? A última vez que te vi assim... (atinando sobre o estado da amiga e sorrindo) Laura... o Edgar já sabe?

Sandra: Saber o que?

Isabel: Sandra... a Laura só pode estar grávida!... E aí amiga?... Já falou para o pai que vocês vão ter um bebê?

Laura: Ainda não!... Ai Isabel!.. Estou com receio em falar...Não quero que o Edgar pense que voltei para casa só por estar grávida...

Isabel:Laura... ele não vai pensar isso!... Amiga estou feliz por você! Vocês se entenderam e agora ainda vão ter um filho... isso é uma benção! Está de quanto tempo?

Laura: Pelos meus cálculos... uns dois meses...

Sandra: Amiga... conte logo!... Você não vai conseguir esconder por muito tempo... e tenho certeza que o Edgar vai ficar radiante quando souber...

Laura: Está certo... eu vou contar!... A Gertrudes também já me disse um par de vezes que não posso ficar adiando isso mais... Minhas amigas... eu vou indo... preciso ir para casa... me preparar para o evento dessa noite...

Sandra: Decidiu-se mesmo por ir?

Laura: Sim... vai ser constrangedor para o Edgar essa situação toda... Ele só vai por conta da D. Margarida... O mínimo que posso fazer é acompanha-lo... e enfrentar tudo isso com ele...

Isabel: Vai lá amiga... e mostra para aquela cascavel que vocês não são atingidos por gente tão baixa...

Laura e Sandra despedem-se de Isabel e Tia Jurema e conversando animadamente pelo caminho retornam ao centro da cidade...

No Correio da República, Edgar conversa com Guerra... conta ao amigo tudo o que aconteceu nas últimas horas e é felicitado pelo jornalista

Guerra: Edgar... até que enfim!... Vocês são dois turrões, sabia?... Finalmente deram-se conta que não conseguem viver longe um do outro...

Edgar (rindo): Meu amigo... eu já sei disso há tempos! ... Não sabe como estou feliz por Laura ter voltado para casa... Ela acabou sofrendo tantas coisas por conta do divórcio... coisas que mulheres na mesma situação que ela vão continuar a sofrer...Se houvesse uma maneira de ajuda-las...

Guerra: Você pode... ou melhor... o Antonio Ferreira pode!.. Por que não escreve um artigo sobre o tema?

Edgar: É uma ótima ideia... mas onde vou escrever? Se fizer isso em casa a Laura vai descobrir...

Guerra: Temos essa redação para isso mesmo... escrever!... Sinta-se a vontade para usa-la quando quiser...

Edgar: Certo! Vou usa-la sim... agora vou indo... Até mais meu amigo...

Edgar sai do jornal e ruma para casa...Já no Corcovado, os dois casais andam mais um pouco por aquele lugar tão aprazível... Afastam=se um pouco dos outros visitantes do local e num dado momento, diante da conversa animada com o par, acabam tomando direções opostas...

Filipa: Essa cidade é deveras bonita!...E a vista que se tem daqui é maravilhosa!...Que bom podermos vir a estes locais...

Joaquim: Tivemos sorte do dia estar ensolarado e sem nuvens... caso contrário a neblina não permitiria vermos muita coisa...Sabe, Filipa, esse passeio... neste dia agradável... sem trocas de farpas e demonstrações de ressentimentos... me fez lembrar dos nossos passeios em Coimbra... Nós nos divertiamos muito, não?

Filipa: Sim... preciso concordar contigo... nossos passeios eram sempre muito divertidos... Mas não pense que esqueci tudo o que me contou!...Estou apenas te dando uma trégua hoje...Você foi um cafajeste...

Joaquim: O que vou ter de fazer para voltar a ter tua confiança e mostrar que não sou o crápula que pensa? Estou ajudando nas investigações... por causa do Edgar, claro, pois ainda quero provar a meu amigo que sou digno da amizade dele... mas principalmente por você.... Filipa... eu tenho me esforçado tanto...

Filipa( tentando desviar o assunto e olhando em volta) Onde estão Manuela e Albertinho?

Joaquim: Não devem estar muito longe... Creio que queriam ficar sozinhos alguns momentos...

Filipa: Você acha que os dois estão?

Joaquim: Meu anjo... não reparou nos olhares daqueles dois? O Albertinho está claramente tentando flertar com tua amiga...

Filipa: A Manoela não me comentou nada... Vamos procura-los...

Joaquim (segurando delicadamente o braço da moça): Filipa... me dá uma oportunidade... só uma...Me deixa falar...

Filipa: Está bem... só...

Joaquim não deixa Filipa concluir suas palavras... sem dar chance da moça esquivar-se a beija com paixão.. a advogada a principio reluta tentando soltar-se dos braços do rapaz, mas aos poucos acaba por ceder e corresponde-lo com a mesma intensidade...

Filipa (soltando-se e tentando controlar a respiração): A gente não devia ter feito isso... eu ainda estou com raiva de você...

Joaquim: Meu amor...eu sei que é difícil... mas tenta me perdoar... Eu amo você... vamos tentar recomeçar... Melhor... vamos tentar partir do início...

Filipa (tentando entender): Do início?

Joaquim: É... Assim: Muito prazer... Joaquim Rezende de Castro... (beijando a mão dela)

Filipa (rindo): Encantada... Filipa Borges...

Joaquim: Encantado estou eu (beijando Filipa novamente com ardor)

Filipa (fingindo descontentamento): O nosso início não foi assim...

Joaquim: Achei que podiamos pular algumas etapas... não concorda?

Filipa: Certamente (beijando Joaquim)

Enquanto o casal se permite alguns momentos de carinho, em outro recanto do Corcovado, Albertinho e Manoela também estão animados com uma boa conversa...

Manoela: Então quer dizer que há pouco que retornaste ao Rio de Janeiro...

Albertinho: Sim... estava em Curitiba... Quando optei pela carreira militar fui enviado para lá... Agora que fui promovido pude pedir transferência... Mas me conte mais de você...como foi isso de fazer direito?

Manoela: Eu sempre quis estudar... e o direito é uma área que sempre me interessou muito...

Albertinho: Eu cheguei a cursar alguns semestres... mas não levei adiante... Não tenho esse senso de justiça e essa disposição para ler que os advogados precisam ter... Admiro você... e ainda mais por imaginar que deves ter sofrido preconceito no início... Dra. Manoela, és uma mulher corajosa, inteligente e linda...

Manoela: Muito galante, Capitão Alberto.. Sabe, preconceito, na faculdade até não sofri.... mas da sociedade e da propria família sim...Mas minha paixão pelo direito foi mais forte do que o preconceito...

Albertinho: Não mais forte do que o que estou sentindo... Manoela estou completamente apaixonado por você

Manoela surpreende-se diante da declaração do rapaz... Sem dar tempo para a moça, Albertinho aproxima seus lábios aos dela e rouba-lhe um beijo, que a advogada acaba retribuindo com certo recato... Mas... quando o rapaz tenta beija-la com mais ardor, num reflexo, Manoela consegue soltar-se e desfere-lhe um tapa... delicado mas não menos dolorido...

Manoela: Albertinho! O que pensa que está fazendo? Que tipo de mulher pensa que sou?

Albertinho (tentando acalmar a dor do tapa friccionando sua mão no local): Desculpa Manoela...você é uma mulher tão moderna!... Não pensei que ia te ofender...

Manoela: Moderna... mas mesmo assim sou uma moça de família... e exijo respeito!

Albertinho: Mas eu a respeito!... Nunca pensei o contrário disso... Perdoe se me excedi... mas tenho as mais sérias intenções contigo...

Manoela: Ah, sim? E espera que acredite... Nós mal nos conhecemos e o senhor já tentou aproveitar-se de mim!... Como lhe disse sou uma senhorita séria...

Albertinho: Juro que não foi este meu intuito... Perdoe os arroubos deste jovem apaixonado... E para provar que tenho boas intenções... a quem devo pedir para fazer-lhe a corte? A Filipa? Ou tenho de atravessar o oceano e falar com seu pai?

Manoela (rindo): Albertinho... você é um gozador!... Vem... vamos procurar pelos outros... Deve estar perto do horário do trem...

Albertinho: Certo!... Mas e quanto a nós... como ficamos?

Manoela: Vamos nos conhecer primeiro... e com o tempo veremos...

Aquele final de tarde passa de forma tranquila... Os dois casais voltam para o centro do Rio de Janeiro e despedem-se em frente ao hotel onde as moças estão hospedadas... Neste mesmo interím, Laura chega em casa...Junto a Edgar, brinca por algum tempo com as crianças enquanto conversam sobre os acontecimentos do dia... A noite chega...O casal prepara-se para o compromisso a que precisam comparecer... Edgar está na sala de estar, já um tanto nervoso, esperando por Laura... Sua ansiedade some ao avistar a esposa nos primeiros degraus da escada... Está linda... Laura usa um vestido azul e tem os cabelos presos em um coque...

Laura: Estou pronta... vamos?

Edgar: Meu amor!... Já disse o quanto você é linda?... Te vendo assim.. estou a ponto de desistir de sair de casa...

Laura (descendo as escadas e beijando Edgar) Bem que eu gostaria!... Mas precisamos encontrar sua mãe... ela já deve estar te esperando...

Edgar: Tem razão Sra. Vieira... Vamos!... Ainda não creio que estou indo participar desse descalabro!... Sinceramente... Fernando simplesmente enlouqueceu...

Laura: Amor... Fernando pode ter enlouquecido... mas Catarina está muito lúcida... e tirando todo o proveito da situação!...Logo ela será esposa do presidente da Tecelagem...

Edgar: Nem me lembre isso!.. Não concordo com muitas das coisas que meu pai fez e faz... Mas nisto tem razão... a situação é absurda!... Agora vamos... D. Margarida está a nossa espera.. Enquanto você saiu eu a avisei que iria conosco...

Edgar e Laura embarcam no automóvel dirigem-se a casa dos pais do advogado. Lá D. Margarida junta-se a eles e todos seguem para a o local do noivado...

Na Confeitaria, finamente decorada, toca uma música suave.... Fernando reservou o local, fechando o mesmo para exclusivamente atender à celebração... Os convidados aos poucos vão chegando... Catarina e o noivo recebem os convivas com sorrisos de satisfação... A noiva usa um vestido de renda francesa, bastante vistoso , demonstrando mais uma de suas ostentações... Junto a outras pessoas, chegam Edgar, Laura e D. Margarida...

Margarida: Boa Noite

Catarina: D. Margarida... seja bem-vinda!... Eu reservei um lugar de honra para a senhora...

Margarida: Obrigada... mas prefiro ficar junto aos outros convidados...

Catarina: Como queira... Fique a vontade...

Fernando (com um sorriso amarelo): Edgar... Laura... que bom estarem presentes!... Entrem!... Fiquem a vontade!.. Folgo em saber que estão novamente juntos...

Catarina: Com certeza... Laura... vejo que pensou melhor e aceitou nosso convite... Agora que vamos pertencer realmente a mesma família... o melhor que temos a fazer é conviver de uma forma civilizada...

Laura: Catarina... seu fingimento me comove!... Se estou aqui é apenas para apoiar meu marido diante desse absurdo...

Catarina (fazendo ouvidos moucos e segurando seu ódio): Fernando... Acompanhe-os até uma mesa...

Edgar: Fernando... uma festa fechada... na Colonial? A tecelagem deve estar dando muitos dividendos para você pagar isto sem nem preocupar-se com o empréstimo que fez...

Fernando: Tem razão Edgar... a fábrica tem lucrado muito depois que passei a presidi-la... E quanto ao empréstimo... eu depois me acerto com o Humberto... Não se preocupe!... Aproveite a festa...

Margarida (puxando Fernando para um local mais reservado): Filho... não estou me sentindo bem... Essa festa é muita exposição muito grande

Fernando: Mãe... é uma festa fechada!... Aqui só há alguns amigos...A imprensa nem passará por perto...

Margarida: Eles talvez saibam da relação de sua noiva com seu irmão...

Fernando: E que minha enteada é minha sobrinha? Esse segredo é uma bobagem!... A pobre menina sofre preconceito... não conseguem nem ao menos um lugar para ela estudar... Mas eu não tenho culpa... Teria culpa se negasse minha própria vida para proteger o Edgar

Margarida: Isso não me deixa menos angustiada... muito pelo contrário... Filho... ainda acho que estás fazendo uma grande besteira tornando-se noivo dessa moça... Mas não vou interferir em sua vida... Com licença..

No outro canto do salão Edgar e Laura encontram com amigos que há muito tempo não veêm... Teodoro e Alice... Catarina circula dentre os convidados e não deixa de ouvir o que aquele grupo de convivas conversa...

Teodoro: Edgar meu amigo! Quanto tempo!

Edgar: Teodoro!... Que grata surpresa ve-los!... Como vai Alice?

Alice: Muito bem... obrigada... Prima!... Que bom te ver! Pelo que percebo... vocês reataram..

Laura: Sim Alice... e estamos muito felizes... E vocês... resolveram passear no Rio de Janeiro?

Teodoro: Na verdade viemos exclusivamente para a festa de noivado do Fernando... ele me mataria se não estivesse aqui...

Laura: E onde estão hospedados?

Alice: Onde mais? Na casa da mamãe... E para variar ela e tia Celinha estão às turras...

Laura: Tia Celinha veio com vocês? Que bom... estou com tanta saudade dela...

Alice: Sim... Ela tem me ajudado muito com o bebê... Agora me conte... O que Laura Vieira tem feito?

Laura: Trabalhado...

Edgar: E eu estou muito orgulhoso... Laura agora é sócia de uma escola... Ela e algumas amigas estão se emprenhando muito com esse projeto...

Teodoro: Ficamos felizes em saber...

Catarina que ouvira tudo morde-se de raiva... além de estar junto a Edgar, Laura ainda trabalhará no que gosta e, pior, será proprietária da instituição... Precisa planejar algo para estragar os planos de seu desafeto... A festa segue... Chega o momento de oficializar o noivado...

Fernando: Senhores!... Senhoras!... Peço a atenção de todos por um instante!... Todos aqui sabem o motivo desta reunião... Hoje estamos juntos aqui para celebrar!... É uma noite de festa!... Catarina e eu queremos aqui, diante de vocês, nossos amigos queridos, firmar nosso compromisso de noivado... Gostaria neste momento de poder dizer palavras mais belas... mas como não tenho o dom da oratória e tomado pela emoção como me encontro , prefiro atos a frases... Dessa forma... minha querida Catarina... (puxando uma caixa com as alianças) aceite esta aliança como prova de meu amor... e de minha fidelidade... e como uma promessa de matrimônio para sempre sermos felizes... (trocando alianças e beijando-se)

Humberto: Um brinde! Que sejam muito felizes! Viva aos noivos! (todos brindam ao casal)

Edgar (falando baixo para Laura): Amor... já vi o suficiente... Vamos para casa?...Isto está me nauseando...

Laura: Vamos... Vamos sair pela porta lateral...

O casal sai da Confeitaria sem ser percebido... Embarcam no carro e em pouco tempo estão em sua casa...

Laura: Ai... Como é bom estar em casa!... Edgar... e sua mãe? Quem vai leva-la para casa?

Edgar: Ela estava conversando com tio Alfredo...Provavelmente ele vai leva-la... Espero que me perdoe... mas não ia conseguir permanecer mais um segundo naquele lugar...

Laura: Não pensei que o noivado fosse te afetar tanto assim...

Edgar: Não é só pelo noivado... Laura... estou com uma desconfiaça...

Laura: Confio em sua intuição.... o que foi?

Edgar: O Fernando fez um empréstimo enorme com juros exorbitantes para comprar as ações da fábrica... Como alguém nestas condições pode se dar ao luxo de mandar fechar a Colonial para dar uma festa?

Laura: Amor... seu irmão nunca foi conhecido por ter juizo.. vide o que acabou de fazer...

Edgar: O Fernando comprou a fábrica por vingança... Quem age com esse tipo de motivação não está preocupado com a legalidade de seus atos...

Laura: É... e se há algo que seu irmão deve ter aprendido com seu pai... me desculpe... mas deve ter sido a coisa errada a fazer...

Edgar: Não tenho dúvida disso... Vou ter de rever o processo sobre o roubo da fábrica... algo me diz que tem o dedo do Fernando nisto... espero estar enganado...

Laura: Também espero... (dando a mão a Edgar) Vamos dormir?

Edgar: Tem certeza que quer dormir? (dando um beijinho em Laura)

Laura: Digamos que quero ir para o nosso quarto....

Edgar: Boa ideia..Mas vamos devagar... sem fazer barulho.... Não quero correr o risco de acordar as crianças...

Laura: Não sei a Melissa... mas já disse que o Daniel não acorda nem que esteja chovendo pedras!... E. diante da algazarra que ambos fazem o dia todo... devem estar exaustos...

Edgar: Não sabe como é bom ouvir a algazarra deles!... Essa casa antes era tão triste.. As crianças dão alegria... vida... Eu sempre quis ter uma casa cheia de filhos.. Sabe, meu amor... logo que casamos pensava que com o tempo os filhos viriam... Achava que teríamos pelo menos três... E que se fosse assim, logo teríamos que mudar para uma casa maior... Com a separação me desiludi... pensei que esta casa continuaria vazia... E, agora estão aqui comigo... meus filhos... minha esposa... tudo que sempre quis!

Laura: Edgar... também tenho tudo o que sempre quis!... Estou junto das pessoas que mais amo no mundo!....Agora...não acho essa casa pequena... mas... se você pensa assim... logo vamos ter de comprar uma maior... (pondo a mão na barriga) Tem alguém aqui dentro que logo vai precisar de um cantinho nesta casa!... Ele ou ela já tem todo o meu amor.... Mas vai precisar muito também do amor do papai...