No final daquela noite, onde os acontecimentos pareciam não fazer sentido e despertavam temor e desconfianças, as palavras proferidas por Laura parecem adentrar a alma de Edgar como um bálsamo que alivia todas as dores... O rapaz olha para a esposa surpreso, num misto de euforia e incredulidade, como que inquirindo se realmente compreendera o que Laura lhe dissera..

Edgar: Laura... é realmente o que entendi? Vamos...

Laura: Vamos

Edgar (sorrindo radiante, tendo as mãos dadas às das esposa): Amor! Não sei nem o que dizer... (beijando as mãos de Laura)

Laura: Não precisa dizer nada... teus olhos já dizem...

Edgar: Não tens ideia do quanto estou feliz!..Amor... um filho!... A gente vai ter um filho!.. (acariciando a barriga da moça) .A vontade que sinto é de sair correndo... dividir minha alegria com todo mundo!... Comemorar!... (parando um momento e refletindo) Só agora me dou conta....a tontura na outra manhã... nem nos meus melhores sonhos me passou a ideia de que você estava grávida...

Laura: Bem..vou confessar que também fiquei surpresa com a descoberta...

Edgar: Uma descoberta linda!... Mas... falando em tontura.... está tudo bem com vocês?

Laura: Claro Edgar...

Edgar: Tem certeza?

Laura: Sim... Edgar... você está parecendo um pai de primeira viagem... parece que não tem filhos...

Edgar: De certa forma... pois para mim essa situação é nova...Eu não acompanhei a gravidez dos meus filhos... Soube da existência deles depois de nascidos....

Laura: Oh meu amor!... Desculpa... Sabe...vocês construiram uma relação tão forte... tão bonita... que às vezes parece que vocês se conhecem desde sempre...

Edgar: É verdade... Apesar de não ter acompanhado esse momento da vida dos meus pequenos, conseguimos construir o vínculo afetivo da mesma maneira... Sabe...talvez isso se deva ao fato de que não quero ser apenas pai deles... quero ser amigo de meus filhos...

Laura: Por isso mesmo... o vínculo que vocês estabeleceram consegue ser maior que de alguns pais e filhos que sempre estiveram juntos... A forma como você vê a paternidade faz com que a relação de vocês seja assim... tão sólida...

Edgar: O fato é que dessa vez vai ser diferente!... Não sei o que fazer.... como te ajudo... só sei que preciso cuidar de vocês dois...

Laura: E eu tenho certeza que vai se sair bem nessa tarefa... sei que vai cuidar do nosso bebê e de mim com todo desvelo...

Edgar: Espero que sim... Laura... Acho melhor chamar o teu pai... Quero uma avaliação médica do seu estado, Sra. Vieira... Vou telefonar para ele agora mesmo

Laura: Amor... eu estou bem!... Se você chamar o meu pai agora vai assustá-lo... E ainda é capaz de trazer minha mãe junto com ele... O que acha de recebermos a Baronesa da Boa Vista a esta hora?

Edgar: Pensando bem... acho melhor telefonar para ele amanhã... Como sempre tem razão... não quero assustar meus sogros... Mas, por certo, logo tanto tua mãe quanto meus pais terão de ser comunicados sobre o novo membro da família...

Laura: Sim... e só de pensar nisso... já sinto arrepios...

Edgar: Por que? Acho que todos vão gostar da notícia...

Laura: Sim.. eu sei... Mas sei também que a minha mãe vai querer se intrometer... Vai fazer mil planos... E provavelmente neles não esteja inclusa a hipotese de eu trabalhar...

Edgar: É natural que ela faça planos... E tenho certeza que a minha também fará!...Agora... quanto a trabalhar.. quem vai decidir isso somos nós dois...

Laura: Edgar... eu vou trabalhar... você querendo ou não!

Edgar: Amor... você sabe que nunca vou me opor a isso... Desde que você esteja se sentindo bem e que não haja nenhuma restrição... certo?

Laura: Certo Dr. Vieira....E agora... que tal continuarmos de onde paramos? (pousando as mãos nos ombros de Edgar e lhe aplicando um beijo no queixo) Temos um assunto pendente...(beijando o rapaz de inicio levemente e aos poucos aumentando a intensidade)

Edgar: Laura... não sei se a gente deve... Prefiro falar com o médico primeiro... saber se está tudo bem.... Tenho medo de machucar vocês...

Laura: Não creio que você vai pedir sobre isso... para o meu pai (rindo)

Edgar: Vai ser algo desconcertante com certeza... mas...

Laura: Edgar... eu estou bem... e quero namorar você!... Depois... amor... eu só estou grávida... não virei uma boneca de porcelana... Agradeço a preocupação... Mas não precisa ter tanto cuidado... (diz manhosa enquanto afrouxa a gravata do marido)

Edgar: Meu amor... você está ficando muito atrevida... (beijando levemente seu lábio)

Laura: Culpa sua... você me deixa assim... senhor meu marido...(beijando Edgar intensamente)

Edgar (sorrindo enquanto desfaz o coque dos cabelos dela): É? Sabe... você tem esse mesmo poder... senhora Laura Vieira... vem... vamos lá para cima...(beijando seu pescoço)

De mãos dadas, lentamente ambos sobem as escadas indo em direção ao quarto. Ao entrarem no comodo, fecham a porta com cuidado... O desejo e os instintos acabam por falar mais alto que os receios do rapaz... Amam-se sem pressa... até cansados, e após conversarem mais um tempo sobre o futuro, dormirem abraçados....

Um novo dia amanhece... Nas ruas já se percebe a movimentação das pessoas se dirigindo ao trabalho... Na rua dos Ipês, Catarina está em frente à penteadeira... Enquanto empoa as maçãs do rosto, troca impressões a respeito da festa da noite anterior com Fernando, ainda recostado na cama displicentemente...

Fernando: Bem... meus amigos todos estavam presentes... Acho que tudo foi perfeito... (com escárnio) principalmente a presença de meu querido irmãozinho e minha não menos amada cunhada.. (sério) Notaste a cara do Edgar quando te presenteei com o anel de noivado? E Laura? O que dizer da mosca tonta perante teu discurso de "convivência familiar"?... Achei por um instante que ela ia deixar suas boas maneiras e comportar-se como uma lavadeira... mas infelizmente não o fez..

Fernando percebe que Catarina se mantém calada há algum tempo. A noiva olha perdida para o reflexo no espelho... Já não pensa nas amenidades da festa...

Fernando: Catarina? Algum problema?

Catarina: Sim... E preciso me livrar dele logo!... E vou precisar de sua ajuda...

Fernando: Conte comigo para o que precisar, meu rouxinol.... Mas, me diga... o que houve?

Catarina: Ontem, enquanto circulava pelo salão, acabei ouvindo uma conversa entre o casalsinho e a esposa de seu amigo... aquele que mora no interior do estado...

Fernando: O Teodoro!... A esposa dele e a Laura são primas...

Catarina: Bem.. isso não vem ao caso!... O fato é que Edgar comentava orgulhoso que Laura e não sei que amigas dela estão fundando uma escola! Fernando! Sabe o que isso significa? Que a Laura está feliz... está com o Edgar... com o filho... vai trabalhar... ser dona de uma escola... e ainda para terminar... está com minha filha!.. Eu preciso dar um jeito nisto de uma vez por todas!

Fernando: Mas o que pretende fazer?

Catarina: Ainda não sei ao certo... Primeiro preciso saber mais sobre essa escola... e depois preciso que me entre em contato com aquele sujeito que fez o serviço da tecelagem... Vou ter outro trabalhinho para ele...

Fernando: Está bem... Mas tudo no seu devido tempo... Agora venha cá minha querida...

Catarina: Fernando...não vê que estou me arrumando para sair? Preciso ir ao teatro...vou marcar mais um recital... Espero falar com o Mário... Não quero ter o desprazer de começar meu dia tratando de assuntos com a neta de escravos...

Enquanto Catarina termina sua toilette e pensa em uma maneira de prejudicar Laura, na casa dos Vieira, após um telefonema logo cedo, Edgar recebe seu sogro...

Dr. Assunção (entrando): Bom dia Edgar... Vim assim que pude... Algum problema contigo?

Edgar: Bom dia... Não Dr. Assunção... Estou muito bem obrigado...

Dr. Assunção: Então com uma das crianças? A Melissa? O Daniel está aqui contigo?

Laura (descendo as escadas e sendo recebida por Edgar): Estão papai... como eu... Bom dia!

Dr. Assunção (sorrindo satisfeito): Filha! Eu entendi isso mesmo? Vocês estão juntos novamente?

Edgar: Estamos!... E dessa vez sua filha não me escapa!

Laura: E quem disse que quero escapar?

Dr. Assunção: Que bom ver vocês assim! Não sou muito religioso... mas até novena eu tinha mandado rezar!... (fazendo uma pausa observando os dois) Edgar... aqui não vejo ninguém que esteja precisando de meus préstimos como médico... Vocês montaram isso para me surpreender, foi isso?

Laura: Na verdade não... O Edgar insistiu que o senhor deve me examinar... Acredite... sua paciente sou eu!

Edgar: Ela tem tido algumas indisposições nos últimos dias....

Dr. Assunção: Você? Filha... eu vou te examinar...vamos ver a que diagnostico chegamos...

Laura: Pai.. eu sei o que tenho!... E já falei ao Edgar também!... Meu diagnóstico é o mesmo de quatro anos atrás..

Dr. Assunção: Há quatro anos? Mas que moléstia tinhas naquele período? (puxando pela memória e dando um sorriso largo) Mas já? Vocês dois não perderam tempo!...Laura... novamente vou ser avô! Isso é uma benção!

Laura: Eu falei para o Edgar que tudo o que estou sentindo é normal... Mas ele é teimoso...

Edgar: Meu sogro... estou por acaso errado em querer saber o estado de saúde de minha esposa e de meu filho?

Dr. Assunção (sorrindo): De forma alguma! Está certissimo! E quanto a senhora... Venha!... Vamos ver como estão você e o bebê...

Pai e filha sobem e entram no quarto do casal Vieira.. Enquanto Dr. Assunção examina Laura fazendo a anamnese de rotina nestes casos, Edgar anda pelo andar inferior um tanto apreensivo... Aqueles minutos que sua esposa e seu sogro passam no andar superior lhe parecem uma eternidade... Por fim, ouve vozes vindas do corredor... Saíram do comodo e dirigem-se ao seu encontro...

Edgar (quando Laura e o pai se encontram na sala): E então... Dr... Como eles estão?

Dr. Assunção: Edgar... meu genro... Laura e o bebê estão muito bem!... A gravidez está decorrendo da forma que é esperada... Os enjoos e o mal-estar são comuns neste período... mas dentro de pouco tempo devem desaparecer... Filha... se por acaso estas indisposições persistirem te deixo esta requisição (escrevendo e entregando a receita a Laura)...Sei que a botica da Ouvidor avia esse tipo de medicação...

Edgar: E de quanto tempo Laura está?

Dr. Assunção: Pelos relatos da Laura... aproximadamente dois meses... Bem... Edgar... Laura.... agora vou indo... Siga todas as recomendações... . boas noites de sono... caminhadas moderadas...boa alimentação... E com isto quero dizer qualidade... e não quantidade....

Laura: Eu sei meu pai!... Não é por estar grávida que preciso comer por dois...

Edgar: Mas também não pode ficar sem comer!... Pode deixar Dr. Assunção... vou cuidar para que ela se alimente direito.... (um tanto constrangido) E... há alguma restrição?

Dr. Assunção (rindo por entender onde o genro quer chegar): Edgar.. por enquanto nada está restrito.. Laura pode continuar com todas as atividades de rotina... incluvise a vida íntima de vocês... Não há nenhum impedimento por enquanto... E agora... relamente vou indo... Obrigado por terem me dado duas notícias maravilhosas logo no início do dia...

Edgar: Nós que agradeçemos...

Laura: Pai... não conte ainda a minha mãe...

Dr. Assunção: Mas Laura...

Laura: Pai... Edgar e eu queremos oferecer um almoço a vocês e aos pais dele para anunciarmos nossa reconciliação e também a gravidez...

Dr. Assunção: Bem... neste caso... mantenho sígilo... Quando pretendem realizar isto?

Edgar: Dentro de uns dias...

Dr. Assunção: Certo... estarei presente... Mas na próxima semana vou para fazenda... preciso acompanhar a safra... Por sinal... se neste período ocorrer algo... vou deixar uma colega e amiga de sobreaviso para que te atenda...Procurem pela Dra. Evie...Seu pai e eu fomos colegas de faculdade...Ele trabalha há anos em Salvador... Ela resolveu seguir a profissão do pai e acabou por se transferir para o Rio de Janeiro há alguns meses.. É uma médica muito competente... tenho plena confiança nela... E, agora com licença... que o Senado me espera... (saindo)

Laura: Muito bem... está satisfeito Dr. Vieira?

Edgar: Muito... Agora que sei que tudo está dentro dos conformes...Estou mais sossegado sim!.. Mas não pense que vou te deixar com rédeas soltas mocinha!... Vais fazer tudo o que teu pai recomendou...

Laura: Eu nem pensaria em não fazer... sei que sofreria retaliações gravissímas (rindo)!... Bem... agora que tal cuidarmos dos nossos afazeres?... Vou dar uma olhada nas crianças... quando estão quietos demais é de se desconfiar...

Edgar: Verdade... alguma coisa devem estar aprotando... E eu vou ao fórum... Enquanto o Dr. Assunção te examinava, a D. Heloisa me informou que solicitaram minha presença... Aí aproveito para resolver outras coisas... Vou ver a quantas anda o processo do roubo de carga da fábrica... depois vou conversar com a Isabel sobre a ação movida contra a Catarina e se der tempo ainda preciso passar no correio da república...

Laura: Mas que homem mais atarefado!... Pretendo começar a planejamento metodológico de ensino da escola... E tenho de terminar de organizar as coisas do Daniel no quarto dele...

Edgar: Certo... não tenho a menor ideia de como se faz isso...mas se quiser usar o escritório.... fique à vontade... .. Até mais tarde... (dando um beijinho em Laura e saindo)

Enquanto Edgar se dirige ao fórum e Laura averigua como estão as crianças, na casa dos Assunção, Constância recebe algumas visitas... Na sala, enquanto tomam chá, suas irmãs Carlota e Celinha, juntamente com Alice, conversam animadamente...

Constância: E então, Alice? Acostumada com a vida no interior?

Alice: Ai tia... Estou ainda tentando me adaptar!...Sinto falta da vida aqui na cidade... Não há muito o que fazer em Macaé...

Carlota: Sim... mas como a esposa deve sempre estar junto ao marido... é preciso se adaptar... E agora... com o bebê... tens muito o que fazer...

Celinha: Sim... apesar do Miguel não dar trabalho...

Alice: Sim.. meu filho é um anjo!... Sabe...mesmo assim sinto falta do que fazer lá... nem linhas para bordado encontro às vezes por lá...

Celinha: Bem... logo vais ter outros afazeres, Alice... Não vou voltar contigo...

Constância: Celinha... pretende então nos dar a honra de sua presença todos os dias? Pelo que vejo quem realmente não se acostumou com os ares de Macaé foste você...

Carlota (fazendo chacota): Não é isso Constância... Ela está atrás de casamento...Sabe Celinha... o Carlos Guerra continua solteiro! (rindo)

Celinha: Carlota! Pare de caçoar de mim!.. Só por que não tive a sorte de casar-me como vocês... Só acho que Alice precisa aprender a cuidar da família dela sozinha... só isso...

Alice: Está bem tia... Eu entendo... E falando em Carlos Guerra... encontramos o Edgar e a Laura ontem no noivado do Fernando...

Constância: A Laura? No noivado daquela mulher?

Alice: Sim tia... foi acompanhar o Edgar... afinal a esposa deve estar junto ao marido...

Carlota: Mas... então... eles reataram? Quer dizer que o escândalo na Colonial acabou por uni-los? Isso sim seria uma boa notícia...

Alice: Sim... e estão muito felizes...

Constância: Mas isso é música para meus ouvidos! Vou dar uma linda festa para reapresenta-los a sociedade como casal...

Celinha: Pessima ideia Constância!... O que eles menos querem é aparecer... Querem apenas estar juntos...

Alice: A Laura está muito contente... Além de reatar, me disse que vai fundar uma escola junto com umas amigas...

Carlota: Uma escola? Ela vai continuar com essa loucura de trabalhar fora? E o Edgar ainda aprova!... Onde vamos parar...

Constância: Mas ela será a dona... as coisas assim mudam de figura!...Estou feliz que a vida de minha filha esteja entrando nos eixos... Agora só falta o Albertinho...

Carlota: Por falar nele... Quem eram as duas moças que estavam com seu filho na Colonial naquela tarde?

Constância: Eu não sei... Mas logo vou descobrir...

A conversa entre as senhoras segue... Enquanto isso, Edgar sai do fórum... Fora chamado para o informe de que o depoimento de Vasco Queiroz, alcunhado por todos no teatro como Quequé, está com data marcada... Diante deste dado, encaminha-se ao Teatro para informar ao rapaz e conversar com Isabel... Enquanto isto, pensa no processo do roubo de carga... arquivado por falta de provas... Vai ter de procurar pelo motorista... Precisa ouvir a versão daquele homem.. Tem certeza que há algo que não se encaixa nisto tudo... Chega ao Teatro e acaba tendo um encontro dos mais desagradáveis... Ao entrar ouve o final da discussão de Catarina com Isabel...

Isabel: Catarina... seja razoável!..Nesta data não há possibilidade!... O teatro já está reservado!

Catarina: Para que? Para aquele ritual africano que você chama de dança? Ou para o teatrinho mambembe escrito pelo Mário? Por favor Isabel! Como quer que este teatro atinja uma boa bilheteria apresentando coisas tão simplórias?

Isabel: Ah... claro! E o seu grasnado vai atrair multidões...

Catarina: Como ousa? Nunca fui tão humilhada! Meu canto nunca foi desrespeitado desta maneira!... Retire o que disse!... Ou vou imediatamente procurar outro teatro...

Isabel: Não retiro o que disse!... A data que temos disponível é a que lhe informei... E se quiser procurar outro teatro... procure... Podemos rescindir o contrato agora mesmo... Só duvido que alguém se interesse em apresentar esse guincho de morcego que você chama de canto...

Catarina: Você vai se arrepender do seu atrevimento!.. Ou não me chamo Catarina Ribeiro (saindo batendo os saltos com força no chão e estaqueando ao ver Edgar próximo a porta do escritório de Isabel)

Isabel: Vai... me dê o gosto de vê-la partir (rindo)

Edgar (encontrando Catarina): Boa tarde...

Catarina(tentando disfarçar a raiva e derramar algumas lágrimas): Olá Edgar... Acabo de ser humilhada por sua amiga!...Sempre sou colocada em segundo plano por aqui!... Sou uma artista sensível... e muito injustiçada!... O que me aconselha? Devo romper o contrato das apresentações?

Edgar: Isso não me compete Catarina... a única coisa que tenho a ver com isto tudo foi aquele bendito empréstimo

Catarina: E que eu pretendo logo pagar. Ainda mais agora que estou noiva!... Seu irmão, me disse que ele mesmo vai se encarregar de quitar essa dívida que tenho contigo..

Edgar: Claro... eu não esperaria outra coisa do meu irmão... Fernando e seu orgulho... ele jamais aceitaria que a noiva estivesse devendo algo a alguém... ainda mais se este alguém for eu...

Catarina (puxando um lenço e fingindo limpar os olhos): Você e Laura sairam cedo da festa... A uma dada altura não os vi mais... entendiaram-se?

Edgar: Não.... apenas não pudemos ficar mais... e agora com licença... (batendo na porta do escritório do teatro) Isabel...

Isabel: Edgar... entre...

Edgar: Vejo que cheguei em um mau momento.. Se preferir volto outra hora...

Isabel: Não... por favor... Sente-se... Laura me disse que precisava conversar comigo

Edgar: Sim Isabel... tenho novidades vindas do fórum... O processo foi protocolado...agora preciso conversar com o Vasco...

Isabel: Ah... ele está de folga hoje...

Edgar: Bem... temos tempo ainda... O depoimento está marcado para aqui um mês...

Isabel: Bem... eu o aviso...

Edgar: Isabel... antes de ir... Gostaria de dizer que estou muito feliz por vocês... Laura está exultante com a fundação da escola...

Isabel: Estamos todas!... Realizamos nosso sonho juntas... Há tempos eu queria ajudar aquele povo...Depois vou até o morro... pedi ao Zé para dar uma olhada na casa... e ver o que precisamos para reforma-la.... Vou investir tudo que puder... só não posso comprometer o orçamento do teatro...

Edgar: E se você tivesse um sócio investidor? Como eu... por exemplo?

Isabel: Vai ser ótimo...

Edgar: Só que a Laura não deve saber... pelo menos não por enquanto.. Tenho medo que ela não aceite...que ache que estou me intrometendo na vida dela...

Isabel: Edgar... não concordo com isso...

Edgar: Isabel... deixa eu participar disso... assim eu ajudo a realizar o sonho dela... por favor...

Isabel: E tem como recusar um pedido desses? Sócio?

Edgar: Sócia! (dando um aperto de mãos) Bem Isabel... agora vou indo...

Isabel: Me mantenha informada a respeito... Edgar... e Laura... como está?

Edgar: Vou deixar que ela mesma te conte... só posso dizer que estamos muito felizes...

Isabel: Não sabe o quanto é bom ouvir isso!...Vocês merecem toda a felicidade do mundo!...

Edgar:Obrigado Isabel... Até logo...

Edgar sai apressado do teatro... Vai em direção ao Correio da República... Nem percebe que, escondida na coxia do teatro, Catarina ouvira toda a conversa... E agora, com mais informações, reflete sobre como agir..

Catarina: Então a dançarina zulu é a sócia da escola... e vai ser fundada naquele lugarzinho chinfrim!... Bem a cara da mosca morta!... E esse estúpido vai ajudar... Preciso terminar com isso... de uma vez! Preciso ter calma... mas já sei o que fazer.... Vão me pagar caro... muito caro por um dia terem atravessado meu caminho... E o tal processo? O que será? E esse tal de Vasco quem é? Trabalha aqui... quem poderá ser?

Edgar logo chega ao Correio da República... Está disposto a começar suas investigações sobre Preconceito sofrido pelas Mulheres...

Edgar: Olá Guerra... como vai?

Guerra: Meu amigo!... Não me diga que já vais me dar a honra de usar a redação para escrever um dos brilhantes artigos de Antonio Ferreira

Edgar (rindo): Não é para tanto meu amigo!... (voltando a seu tom habitual) Vou começar a pesquisar... Pensei em escrever sobre a violência... moral e física... que essas mulheres sofrem

Guerra: Estava brincando... Isso vai te dar trabalho!... Geralmente as mulheres que sofrem esse tipo de agressão tem medo de se expor... acham que ninguém vai acreditar..... Mas é para isso que precisamos denunciar... para dar voz a essas mulheres...

Edgar: E eu estou disposto a isso... É preciso expor! ...Deseje-me sorte... para conseguir o depoimento de algumas dessas mulheres.... e conseguir escrever essa denúncia da melhor forma...

Guerra: Claro que sim... toda sorte do mundo!... Quero publicar isso o mais breve possível!...

Edgar: Certo... vou indo então...

Guerra: Edgar... mudando um pouco de assunto... e desculpe a curiosidade...todas as tias de Laura são como a mãe?

Edgar: Em que sentido?

Guerra: Em qual mais pode ser... em caráter com certeza... pois hás de convir que tua sogra e D. Carlota não tem um temperamento dos mais fáceis... mas não sei como é D. Celia... encontrei com esta senhora na rua há uns dias... não me pareceu ser assim...

Edgar: Realmente... D. Celia é bem mais tranquila que as outras irmãs... Laura tem um grande apreço por ela... Agora... se quer saber..digamos que entrar para essa família é para os fortes....e Celinha seria uma esposa perfeita... Acho que daria um jeito em você, meu amigo!...(rindo)

Guerra: Edgar! Pare com chacotas... e vá trabalhar! Só apareça aqui quando tiver a matéria pronta!

Edgar: Claro... titio Guerra (rindo e fugindo de uma bola de papel que o jornalista atira contra a porta)

Neste ínterim, na casa da professora, Laura há pouco saira da sala de refeições onde acabara de fazer a lista de materiais que precisarão adquirir para o funcionamento da escola... Vai ao andar superior... Detem-se um momento em frente ao quarto de Melissa, observando a menina fazendo um chá de bonecas e tentando em vão fazer o irmão participar da brincadeira... O menino olha encantado para os carrinhos de madeira que caprichosamente colocou sobre uma das listras que compõem a colcha sobre a cama da menina, que em sua fantasia infantil é uma bela estrada.... Laura sorri diante da cena e pensa que aqui alguns anos serão três crianças brincando juntas... Segue para o quarto de Daniel e recomeça o trabalho de desfazer malas e organizar os pertences do menino naquele local... Ao abrir uma das gavetas da cômoda laqueada, encontra uma caixa... retira com cuidado e não resistindo à curiosidade abre...deparando-se com algo que jamais imaginara...

Laura (espantada): Mas o que é isso?