O Ford-T conduzido por Fernando estaciona em frente àquela casa, que tão poucas vezes frequentara... O rapaz, a contragosto, sobe os poucos degraus que separam o jardim da varanda... Não vê outra opção... Precisa conversar com seu irmão sobre o que vira e ouvira... Para um minuto pensando novamente no que irá dizer... Está prestes a bater na porta, quando subitamente ela é aberta...
Laura: Você? O que quer aqui?
Fernando: Como vai, Laura? Preciso falar com o Edgar... Ele está?
Laura: Não... Não está..
Fernando: Eu deveria ter imaginado... Deve estar pela cidade procurando pela Melissa...
Laura: O que sabe sobre a Melissa? Fala Fernando!
Fernando: Ela está com a Catarina.. eu as ouvi...
Laura: Eu já devia imaginar!
Fernando: Desculpe... mas... imaginar o que?
Laura: Fernando... não se faça de tonto!... Veio conferir se recebemos o bilhete pedindo resgate?
Fernando: Laura! Eu não tenho nada a ver com isso! Vi a Catarina por acaso perto do clube de foot-ball do Rio Comprido e a segui... Descobri que está hospedada em uma pensão... Resolvi me hospedar para tentar descobrir mais detalhes... Foi quando ouvi no corredor, passando por um dos quartos, que ela estava com Melissa... Imaginei que algo tinha ocorrido... E vim aqui avisar...
Laura: E o que te leva a crer que vou acreditar nessa sua história?
Filipa (que a tudo ouvia quieta e resolve aproximar-se): Fernando... depois de tudo... não acha que é difícil que se creia que você está aqui para ajudar?
Fernando: Eu sei! Eu fiz tudo errado!... Me envolvi com Catarina pensando em atingir o Edgar e acabei me apaixonando... Admito que sempre senti inveja dele... E depois... quando se está apaixonado a gente não enxerga as coisas com muita clareza... Agora... eu jamais concordaria com o que ela fez... Eu sabia dos planos do incêndio... mas nunca pensei que ela iria mandar atear fogo na escola com vocês dentro... Aquilo bastou para me fazer abrir os olhos... Que ela só estava comigo por interesse... pelo meu dinheiro... E para de alguma maneira também atingir o Edgar... Laura... te digo uma coisa... da forma mais louca possível... ela é completamente apaixonada por ele!... Ela diz que te vê como uma ameaça aos planos dela... De início pensava que ela falava quanto ao suporte financeiro do Edgar... Depois percebi que ela te considera uma rival... E ela perdeu para você... Edgar a rechaçou... Então ela tenta atingi-lo com o que mais dói...
Manoela: E o que quer que façamos?
Fernando: Laura... Eu preciso falar com o Edgar.... preciso contar isso... Não que eu me importe com o meu irmão... Mas não tenho nada contra a menina... A Catarina é louca... Não sei o que pode acontecer... Se você sabe onde ele está... Me leve até ele...
As moças olham desconfiadas para o rapaz... Ele parece sincero... Mas também tudo isso pode ser um golpe para que a professora saia do caminho... Fernando percebe o receio das moças... e acaba por explodir...
Fernando: Por favor! A Melissa está correndo perigo... Eu estou sendo sincero... Se não acreditam em mim... Vamos até a polícia... Eu conto tudo isso ao delegado...
Laura: Tudo bem Fernando... vou acreditar em você... Eu vou contigo até a casa do seu pai... O Edgar foi até lá...
Fernando: O que ele foi fazer na casa daquele senhor?
Laura: É uma longa história...
Manoela: Fernando... tens o endereço da tal pensão?
Fernando: Tenho sim... Mas espero que vocês duas não estejam pensando em ir até lá sozinhas...
Filipa: Não Fernando... Enquanto vocês falam com o Edgar... Nós vamos até a polícia... E que tu tenhas certeza... que se acontecer algo com a Laura... eles vão te caçar até o inferno... junto com a Catarina...
Fernando: Não tenho medo... Não estou devendo nada!
Laura: Vamos combinar o seguinte... Vocês vão à delegacia enquanto Fernando e eu vamos encontrar Edgar... Digam para o polícia para estarem dentro de uma hora no local...
Fernando: Isto! Hoje aquela mulher não escapa e eu me livro de uma vez dessa acusação!
Enquanto as advogadas vão até o distrito policial e Laura e o cunhado vão até a casa de Bonifácio, longe dali, na Boa Vista, Dr. Assunção entra em sua residência... Não está para conversas... Segue sem dizer palavra rumo a escada quando é interrompido por Constância, que ao ver o marido levanta-se rapidamente do sofá onde encontrava-se há algum tempo...
Constância: Você demorou...
Assunção: Estava resolvendo uns assuntos...
Constância: E então... como ela está?
Assunção: Albertinho não falou?
Constância: Não o vi chegar... Luzia me disse que subiu e logo depois voltou a sair...
Assunção: Não diga!... E... onde a senhora estava que não viu seu filho?
Constância (titubeando): Fui... a casa de Carlota... precisava conversar...
Assunção: Tens ido demais a casa de sua irmã...
Constância: Há momentos em que preciso... Quando não encontro apoio dentro de minha própria casa recorro ao ombro de minha irmã.... Você não me respondeu... como está minha filha?
Assunção: Como se isso importasse para você!... Como imagina que ela esteja?
Constância: Eu fiz o que era melhor! O que era certo!
Assunção: Certo? Melhor? Para quem? Para minha filha é que não foi... Quer dizer que internar sua filha em um sanatório.. Deixa-la naquele lugar... Indefesa... Grávida... Isso é o seu melhor?
Constância: Melhor do que enfrentar mais um escândalo por essa menina! Ou o nobre senador acha que os respingos do ultraje que Laura sofrerá ao saberem que foi ela quem escreveu aquela matéria não atingirão sua carreira política? A reputação e o prestígio de nossa família? Por favor... abra os olhos!... Fiz o que deveria ser feito!
Assunção: Claro... e trata-la como uma louca acabaria com o problema!... Constância... sinceramente... quem deveria estar naquele lugar é você! Você se comportou como uma criminosa... Subornou o médico para realizar uma internação ilegalmente! Entendeu bem?... Você cometeu um crime!
Constância: Estava defendendo a nossa família... Como sempre!
Assunção: Sempre... sua desculpa é sempre a mesma...!(irônico) O que mais você será capaz de fazer... ou de esconder... pelo bem da família?... Por que não diz de uma vez que o que lhe preocupa é o seu próprio nome?
Constância: Não entendo por que usa esse tom comigo... Você devia me apoiar...
Assunção: Constância... cada vez me surpreendo mais contigo... Parece que tudo o que você faça, por pior que seja, é justificável... Até agora eu fui muito flexível com seus desmandos... Não vou fazer nada por enquanto para não prejudicar Alberto e Laura... Mas se eu descobrir mais alguma das suas... Tenha certeza que não vou deixar passar...(dando um suspiro) Quer saber ...Eu vou me deitar...No quarto de hospedes... A viagem foi cansativa...
O senador se dirige ao andar superior daquela residência, deixando sua esposa intrigada na sala... Enquanto isto, no escritório da casa de Bonifácio Vieira, o pai de Edgar, sentado de costas para a porta, olha distraidamente para a imensa estante coberta de cima a baixo de livros enquanto fuma um charuto, quando percebe que alguém abre as portas do local...
Edgar: Eu sabia que o encontraria aqui... como um rato... escondido em sua toca...
Bonifácio: Edgar... eu já esperava que viesse, meu filho
Edgar: Isso... seu filho... o idiota que o senhor usou para criar sua filha ilegítima... é seu filho...
Bonifácio: Edgar... não era para ter sido assim... Nada disso devia estar acontecendo...
Edgar: Realmente... se o senhor tivesse a ombridade de ter reconhecido a menina como sua... Nada disso teria acontecido... Onde ela está? Me diga! Onde está minha filha?
Bonifácio: Do que está falando?
Edgar: Seu teatro acabou... não finja! Agora vai dizer que não sabe de Melissa... assim como não foi o senhor que dopou a Laura e a conduziu ao sanatório...
Bonifácio: Não nego... Eu realmente fiz isso com Laura... Edgar... Sou um político influente... Se tudo der certo... serei o futuro presidente desta República!... Laura escreveu uma matéria me difamando...
Edgar: Difamando? Ela não escreveu nada mais do que a verdade naquele jornal! O senhor é um político corrupto... E se antes eu não tinha certeza... agora tenho de que é um criminoso! E sei muito bem que esse é apenas um dos motivos que o levou a interna-la... O principal era impor-lhe silêncio sobre Melissa... E pelo mesmo motivo mandou matar a administradora da tecelagem!
Bonifácio: Não! Tudo o que queria era dar um susto naquelas moças... nelas e em Laura...
Edgar: Um susto? O senhor tem noção do que fez? Se acontecer qualquer coisa com Laura ou com meus filhos... eu não pensarei duas vezes em mata-lo!
Margarida (entrando na sala, sem a companhia de Joaquim que mesmo insistindo em acompanha-la ao interior da casa, acabou apenas deixando a senhora no jardim e retirando-se): Comprando o silêncio com o medo... Quanto asco tenho de ti!.. Pensar que sou casada com alguém como você... Tudo o que faz... Tudo o que fez... Nunca me respeitou... Nem a mim... nem a seus filhos... Enganou Edgar... e rejeita Melissa da mesma forma que fez com Fernando
Bonifácio: Vocês me obrigaram a conviver com eles... Você, Margarida, fez com que Fernando morasse nesta casa... Assumiu a criação dele como se mãe fosse... E você Edgar... se eu soubesse que sua viagem a Portugal era para buscar aquela mulher... jamais teria permitido sua partida...
Edgar: E como o senhor pretendia me impedir? Ia por acaso dizer que Melissa era sua filha e não minha? Iria o senhor busca-la?
Bonifácio: Claro que não! Edgar... essa menina podia ser filha de qualquer um... Na época, eu recebi uma carta falando do nascimento... Mas, em se tratando da mãe que tem... simplesmente ignorei... Quando você retornou de Portugal, logo aquela mulherzinha me procurou.... Fez-me várias ameaças... Eu sou um homem público... tinha uma imagem a manter... O que queria que fizesse? Fui chantageado... Ela me exigia dinheiro... cada vez mais... Principalmente depois que Laura voltou e que o palerma do Fernando se envolveu com ela... Estava de mãos atadas diante disso tudo... Me mantive calado, mesmo vendo teu casamento desabando... Vendo o único filho que me importa sofrendo... Vendo Fernando entregar para aquela víbora o patrimônio que com tanto esforço construí... Quando via aquela menina nos teus braços pensava que ela devia estar do outro lado do oceano, de onde nunca devia ter saído...
Edgar: Mas ela saiu... Diferente do senhor, que compra o silêncio das pessoas com dinheiro ou medo para se ver livre dos seus "problemas"... eu encaro os meus "problemas", os meus "erros" de frente!....Catarina... foi um grande erro... o maior que cometi na vida... A Melissa não foi... Foi uma benção, mesmo o senhor a considerando um "erro", um "escândalo para opinião pública" como me dizia logo que a trouxe para cá.... O que diria a opinião pública ao saber dessa sujeira toda?
Bonifácio: Filho... Você não vai...
Edgar: Em primeiro lugar... nunca mais me chame de filho... O senhor não sabe o que é paternidade! ...E não... não vou falar... mas não pelo senhor... não falo por respeito a minha mãe... mas principalmente para não expor a Melissa! Ser pai é isso... é cuidar!... Eu a crio... a educo... a amo!... Como se fosse minha filha... Como se fosse, não... ela é!... E agora, seja lá o que o senhor pretendia... Quero minha menina de volta... Exijo que me diga o que fez com ela!
Nisto Fernando, que há algum tempo mantinha-se parado perto a entrada daquela sala sem que tivesse sido notado, entra no local chamando a atenção de todos
Fernando (batendo palmas): Bravo! Continuem! Acabo de ver mais um ato da ópera bufa protagonizada por este senhor que tenho o desprazer de ter por pai... Quem diria... de avô de uma bastarda... revela-se que é o pai da menina! Veja Edgar... esse é o seu pai...o meu... e agora... o de Melissa!... Estão vendo? Este homem não tem limites! Me diga uma coisa Sr. Vieira... quem será o próximo a criar um de seus filhos ilegítimos? Sua esposa criou um... Edgar está criando outro... Pretende que eu crie o próximo?
Edgar: Fernando! (deparando-se com Laura que vinha logo atrás ao irmão) Laura? O que está fazendo aqui?
Laura: Eu vim...
Fernando: Ela veio comigo Edgar... Não se preocupe... Não vou fazer nada com sua esposa... Não costumo internar mulheres indefesas em sanatórios para calarem a boca...
Bonifácio: Seu biltre! Como ousa entrar em minha casa?
Fernando: Sua casa? Que eu saiba essa casa é de minha mãe!
Margarida:Sim... a casa é minha e meus filhos podem entrar e sair dela quando quiserem... Agora, Fernando... não seja irônico! Ele é seu pai!
Fernando: Minha mãe... ele fez isso como filho preferido... Envolveu-se com a namorada do Edgar...Não se preocupou com o que o filhinho adorado estava passando por estar criando uma menina que não era dele e sim sua... Imaginem o que será capaz de fazer comigo! E como a senhora pode o defender? Olha o que ele fez contigo... e mais de uma vez!
Bonifácio: Você não é ninguém para me julgar... também envolveu-se com aquela cantorinha... Mas diferente de mim, que não sabia desse romance do Edgar... Você sabia muito bem quem era Catarina...
Fernando: Sabia... E não tem ideia de como me arrependo de ter feito isso... Por sinal... Ao senhor, que é um exemplo de pai... Nunca lhe passou pela cabeça tentar me impedir de pelo menos namorar com Catarina... Muito ao contrário... Eu noivei com a mãe de sua filha e o senhor simplesmente nada fez!
Bonifácio: E o que queria que eu fizesse? Você nunca me deu ouvidos..
Fernando: Como queria que ouvisse se do senhor sempre recebi apenas ordens e maus tratos?
Laura (fazendo-se perceber entre os gritos enfurecidos de pai e filho): Parem com isso! O que precisamos agora é resgatar a Melissa!
Edgar: É o que vim fazer! Diga Sr. Vieira... onde ela está? (chacolhando o pai)
Bonifácio: Eu já disse que não sei!
Laura: Edgar... ele está falando a verdade... Não foi ele... (vendo o marido soltar o pai) Logo depois que você saiu recebi isso.. (alcançando o bilhete)
Edgar (terminando de ler): Catarina! Só pode ter sido ela! Está usando minha filha para extorquir dinheiro...
Fernando: Foi ela Edgar! Eu a vi... Sei que está com a menina... Sei onde estão...
Bonifácio: Edgar... Você não vai acreditar que Fernando vai lhe ajudar, não? Esse desgraçado deve estar mancomunado com aquela infeliz!
Margarida: Cale esta boca (dando um tapa na face do marido)! Eu vivi enganada... Mas não mais! Nunca mais você insulta os meus filhos! Eu sempre soube das suas traições e sofri em silêncio... humilhada a vida inteira... da maneira como me ensinaram! Mas agora chega!
Bonifácio: Você vai se arrepender!
Margarida: Arrepender? Eu já me arrependi demais! Eu vou contar a todos os seus segredos mais sujos a todos os seus adversários políticos... E não estou me referindo aos de alcova, pois estes me causam náusea! O que foi escrito no jornal e apenas uma gota de tudo o que sei que já fez!
Fernando: E aí, papaizinho querido... O senhor vai cair como um saco de batatas vazio!
Bonifácio: Eu levanto!
Margarida: Guarde suas energias para tratar do divórcio... Meu advogado irá procura-lo... E por agora... Saia desta casa... Não quero mais sua presença aqui! Nunca mais!
Bonifácio: Você está me expulsando?
Margarida: Saia!
Bonifácio (vendo o olhar ameaçador dos filhos e da esposa): Eu vou... Mas isto terá volta! (saindo porta a fora)
Edgar: Fernando... se estiver mentindo...
Fernando: Edgar... Creia... Não estou fazendo isso por você e sim pela menina... Sei que Catarina é louca e pode fazer algo ruim com ela... Não tenho por que mentir... Se não acredita, peça a Laura... Enquanto estamos aqui... Suas amigas foram até a delegacia... A polícia deve estar se dirigindo ao local...
Laura: É verdade... E enquanto ficamos aqui em meio a essa discussão, Melissa está nas mãos de Catarina... Precisamos nos apressar...
Edgar: Sim... Fernando... me leve até esse lugar...
Laura: Eu vou com vocês...
Edgar: Meu amor... é perigoso!
Laura: Não tente me impedir... Ela é minha filha também... Não quero que Melissa veja a mãe ser presa...
Edgar: Mas você ainda precisa se recuperar...
Laura: Eu estou bem... e o que importa agora é a Melissa! Vamos... já perdemos tempo demais!
O casal sai dali com Fernando e ruma para a pensão onde a cantora mantém a filha. O tempo passa... No Rio Comprido, Filipa, Manoela, o Delegado e dois guardas esperam a presença do advogado. Assim que o trio chega, após uma rápida conversa, chegam a uma conclusão de como proceder e logo começam a por em prática o plano para o resgate da menina... Enquanto isto, no quarto daquele lugar de má fama, tendo apenas a luz amarelada de um lampião a dar alguma claridade, Catarina remoê seus pensamentos, enquanto corta uma pequena porção de queijo que havia comprado junto a alguns pães de milho, enquanto Melissa, sem querer descontentar a mãe, permanece sem dizer palavra... A cantora, percebendo o amuo da criança, a interpela com sua rispidez costumeira...
Catarina: O que foi Melissa?
Melissa: Nada mamãe...
Catarina: Não vai comer? Você me disse que estava com fome...
Melissa: É que... esse pão... está muito duro... e o queijo... é muito amargo...
Catarina: Eu vou reclamar com seu pai... Você está muito mal acostumada!... É o que tem para comer...
Melissa: Por que não posso ir para casa? Por que o papai deixou você me buscar? Estou com saudade dele... do Daniel... da tia Laura... da Tude...das minhas bonecas... da comida da Tide... Ela faz cada coisa gostosa...
Catarina: Sua ingrata! Você devia me agradecer!.. Por sua causa eu larguei minha carreira... Vim parar nessa terra de índios onde ninguém reconhece meu talento! Seu pai nos deu apenas migalhas e por todos esses anos fui eu quem cuidei, alimentei e criei você... Para agora quando eu mais preciso que esteja comigo me dizer que quer estar com seu pai e com toda aquela gente?... Acha que o que te dou não serve...
Melissa: Mas...
Catarina: Chega! (erguendo a faca) Cale a boca ou lhe corto a língua! Não quero ouvir um pio!... Nem um resmungo!... Nem um choro! E agora trate de comer... ou então durma com fome!
A menina assustada diante da atitude e das palavras da mãe tenta a custo conter o choro já iminente e engolir com alguns goles de água o pão seco que tem à sua frente... A cantora, sem dar maior importância, volta a comer e perder-se em seus pensamentos... Ainda naquela noite terá o dinheiro que necessita para deixar seus problemas para trás... Já tem tudo planejado... Assim que receber o resgate aluga um coche que deixará Melissa na casa do pai... Assim livra-se deste estorvo!... Muda de pensão e faz os documentos falsos para poder de uma vez ir embora do país... Logo tudo isto será esquecido, e, com o tempo, voltará a ser uma cantora famosa por toda a Europa... Ainda é jovem... bonita... Certamente não lhe faltarão patrocinadores para sua volta aos palcos! Sorri satisfeita.... Subitamente é retirada de seus pensamentos... A porta do quarto acaba de ser arrombada...