JASON TODD

Costumo estar blindado contra climas pesados em reuniões familiares. É fácil imaginar quando se coloca quatro moleques que mal se suportam juntos, uma figura paterna que daria um bom exemplo de “como não criar seus filhos” e todos os traumas pessoais que cada um de nós possui. Certamente nos mataríamos antes do prato principal ser servido se não fosse por Alfred.

A questão do momento é descobrir quem é o Alfred desses arqueiros. Isso ou eles se batem até não terem mais forças para continuar, descansam e voltam a se bater mais uma vez. Não consigo pensar em nenhuma terceira opção válida.

—Podemos conversar? – Nissa sussurra ao meu lado, eu estava entre Diggle e Roy vendo Bruce, Selina e Thea Queen sentados na escada que dava para os computadores do Bunker.

—Acha que devemos sair? -sussurro de volta indicando as pessoas ao nosso redor.

—Vai logo. -John diz revirando os olhos. -Não somos bárbaros.

—Isso os torna ainda mais estranhos do que pensava -provoco seguindo Nissa para os fundos.

Ela para no local onde eles usam para treinar. Parecia apreensiva, o que é estranho para uma Al Ghul. Chego a cogitar uma piada ruim para quebrar a tensão, mas acaba não sendo preciso.

—Selina não deve ir em campo sozinha. -diz como se quisesse tirar o peso de seus ombros.

—A Cat pode dar um coro no próprio Batman se quiser. -desdenho de sua preocupação boba, me pendurando em uma barra apenas para liberar um pouco de adrenalina.

—Haviam seis agentes da Argus armados no galpão, e ela já havia nocauteado Steve Trevor e Lyla Michaellson.

—Seis agentes não são um problema Nissa, sei que a conheceu quando estava se recuperando, mas lembre que essa é a mesma mulher que venceu um duelo contra a sua irmã. -giro meu corpo em volta da barra algumas vezes, antes de soltar e posar ao lado de Nissa, me surpreendendo com o semblante apreensivo no rosto geralmente sem expressão da filha do demônio.

—Sei disso, e sei que ela é uma guerreira competente. -Nissa anda de um lado para o outro, passando a mão nos cabelos nervosamente. -Esse é o problema, ela não queria escapar. Se Laurel e eu não chegássemos a tempo...

—Não. -interrompo antes que aquela bobagem continuasse. -Pode ter entendido a situação errada. Sabe se ela não queria mais alguma informação no galpão?

—Pode estar certo. -sussurra com cansaço na voz. -Vou voltar para o hotel, não tenho nada a fazer no meio desse drama familiar. Só fiquei para te falar sobre isso, pequeno detetive.

Nissa se vira e sai sem dizer mais nada. Permaneço estático tentando imaginar algo forte o bastante para conseguir finalmente quebrar a Cat. Talvez ser traída pela pessoa que ela julgava ser sua família e consequentemente perder o que deveria ser a família nova que estava prestes a formar, tenha sido o estopim. Não por Bruce, mas por tudo que aconteceu entre ela e Holly. Mas não consigo imaginar um mundo onde ela simplesmente desista por estar razoavelmente complicado. Isso não é coisa da Mulher Gato.

Talvez tenha dado para mim por hoje também. Me troco e saio deixando os “adultos” com seus próprios problemas quando Oliver chega ao bunker, onde ele não deveria mais frequentar, mas quem se importa com o FBI em sua cola, não é mesmo? Bando de idiotas esquisitos do caralho.

Meu celular começa a vibrar em meu bolso e resolvo entrar em um bar da mais baixa qualidade, onde meu dinheiro rendesse e todos fossem tão mal-encarados quanto eu, a ponto de não me destacar entre eles. Me sento no balcão fazendo sinal para uma atendente com uma tatuagem de coração sobre o seio volumoso. No centro do desenho havia uma faixa com o nome Paul, isso por algum motivo me diverte. Retiro o telefone vendo a foto do filho mais chato que Bruce já adotou.

—O que vai querer? -a mulher se aproxima, se inclinando sobre o balcão a minha frente, Paul quase chega a pular para fora.

—Cerveja. -digo antes de atender o telefone. -O que você quer?

“A ARGUS montou uma base clandestina em Gotham, estou dentro e pensei que pudesse ser do seu interesse. Sempre lidamos com o CADIMUS por aqui, a ARGUS prefere arcos e flechas.” Grayson narra do outro lado da linha. “Robin, fique por perto!” acrescenta em tom de aviso.

“Não sou criança, fui treinado pelo...”

—Próprio Ra’s Al Ghul e poderia te matar com um único golpe. -Dick e eu fazemos coro a voz irritante de Damian. -Pior do que o manto de morcego, é o parceiro que você ganha de brinde. -desdenho e alguns sons de batalha podem ser ouvidos do outro lado da linha. Aproveito a pausa para beber minha cerveja quase em paz.

“Nos arquivos consta o nome de um psiquiatra que estava em Central City na época que começaram a pipocar meta humanos para todos os lados.”

“O Batman não diz coisas como ‘pipocar’, seu idiota.” Escuto a voz de Damian recriminando Dick.

—Qual o nome? -a atendente volta, me dando um sorriso de lado. Era até gostosa, talvez deva tirar essa noite de folga...

“Rudy Jones, aqui diz que foi demitido da Star Labs dias antes da explosão do Colisor. Que desgraça...” xinga como se algo o tivesse pego de surpresa. “Lembra quando nós resgatamos a Mulher Gato de Arkham e eles tentavam tirar algo dela?”

—Vai direto ao ponto, Grayson. -viro toda a cerveja de uma só vez, merda de vida.

“Parece que não queriam tirar, mas testar uma espécie de reprogramação mental. Ela está marcada como falha nos arquivos da ARGUS.”

—Eles estão por trás disso? -mexo em meus bolsos em busca da minha carteira. -Sei que nada que tem ou teve o dedo da Waller pode prestar, mas não é exatamente o estilo deles.

—Eu pago. -uma voz familiar deixa uma nota de dez Dolores sobre o balcão. -Deve ter esquecido a carteira.

—Mãe, eu ligo depois. -murmuro antes de desligar o telefone e encarar a garota morena a minha frente. -O que faz em um lugar como esse? -ergo a sobrancelha, em seguida encaro um a um os idiotas que a secavam ao nosso redor.

—Joenne, pode me dar o de sempre. -diz a mulher com a tatuagem do Paul nos seios.

—Boby, como vai o trabalho? -questiona deixando um copo cheio até a tampa por uma bebida âmbar. Boby vira todo o liquido de uma só vez, antes de fazer careta para a outra e pedir outra dose.

—Dia dificil? -volto a me sentar, devolvendo a nota para ela mostrando minha carteira em mãos.

—Pensei que só tivesse um pai adotivo. -revida me encarando com puro descredito. -O tal bilionário que Roy falou.

—Confesso, estava falando com minha amante. -sorrio com sarcasmo, mostrando todos os meus dentes. Ela revira os olhos antes de voltar sua atenção para o copo outra vez. -Não sou do tipo que fica cagando regras para ninguém, mas não acha melhor ir com um pouco de calma?

—Acho que você é exatamente do tipo que caga regras. -rebate mal humorada. -Mas não é exatamente sua culpa, toda essa sociedade patriarcal pensa que pode mandar e desmandar em garotas como eu. -tagarela como se não houvesse amanhã, me fazendo lamentar não ter passado por aquela porta quando tive a chance. -Bando de filhos da puta, retrógrados e obscurantistas!

—Isso que eu chamo de boca suja. -digo com admiração.

—Você já matou alguém, Jason? -essa pergunta vem do nada, solto o ar aliviado quando ninguém no bar parece se importar conosco. -É bonitão, mas tem alguma coisa errada que atiça todos os meus instintos.

—Garotas como você nunca, jamais e por nenhum motivo devem se envolver com caras como eu, Bobs -ela me dá um sorriso doce e concorda. Afasto um cacho de seus cabelos que estava prestes a mergulhar em seu copo o que a faz segurar minha mão, sem parecer estar disposta a soltar.

—Eu me encontrei com alguém que deve estar sacrificando a própria família por essa cidade hoje -murmura com seus grandes olhos verdes cheios de tristeza. -Como meu pai e Roy fizeram -funga. -Pensei que quando me tornasse uma policial poderia salvar a família desses caras, mas estava errada.

—Sinto muito por isso -digo a ela em voz baixa e a garota simula um sorriso em seu rosto triste. -Joenne, pode dar outra dose a minha amiga? -chamo a atendente gostosa, que assente antes de encher o copo de Boby. -Fica tranquila gata, pode afogar as suas mágoas que banco seu vigilante particular.

—Sou sua amiga? -com certeza já estava bêbada. Sorrio confirmando, o que parece a agradar. -Legal, queria ter te conhecido na escola, isso me livraria de muito bullying.

—Acha que eu sou que tipo de pessoa, Boby? -finjo indignação a fazendo dar risada.

—Bateria nos caras que colocavam sua amiga em latas de lixo, não bateria? -desafia já sabendo minha resposta.

—Seria as pestes mais jovens a usar dentadura, pode apostar que o nome deles constaria no livro dos recordes! -rimos da minha resposta idiota, como idiotas que somos.

FELICITY SMOAK

Quando entro no Bunker vejo Oliver sentado no chão, com o rosto vermelho e massageando os próprios pulsos. John estava ao seu lado, a certa distancia com o supercílio cortado e encarando as próprias mãos. Bruce, Selina e Roy os observavam como se fossem dignos de pena e por fim Thea surge com bolsas de gelo, lançando uma para cada um dos dois.

—Vocês brigaram? -murmuro olhando em volta, mas todos desviam seus olhos para não me encarar. –É só o que me faltava, deixei William com a Raissa em casa para isso?

—Estamos bem, Felicity. -John diz, ganhando de imediato minha atenção. Oliver nem mesmo ousava me olhar, sabia bem o que isso acarretaria. -Nós dois estávamos adiando isso a muito tempo.

—Então resolvemos as coisas entre nós dessa forma, agora? -grito furiosa. -Por que se esse for o caso perdi a chance de socar sua cara quando estava usando drogas escondido para continuar como Arqueiro Verde!

—Aquilo foi parcialmente minha culpa, eu não deveria ter o pressionado... -Oliver começa a dizer e o ar quase me falta de tanto ódio.

—Não sou uma criança, Oliver, minhas decisões são só minhas...

—Acha que já não quis te espancar também? -me viro para meu marido idiota que me olha surpreso, nem sei como esse asno pode se surpreender com uma coisa dessas. -Desde que nos conhecemos Oliver, não passou um mês em que não tivesse vontade de esganá-lo e olha que já passamos meses sem nos ver, ainda assim eu queria socar sua cara ao menos uma vez em cada semana. Sempre tentando colocar o mundo nas costas, tomando decisões sozinho ou escolhendo se sacrificar antes de escutar o que nós poderíamos propor...

—Ela está certa...

—Fica fora disso, John. -interrompo irada. -Você também não é muito diferente, por isso tem mantido essa relação passiva agressiva com Oliver. -passo a mão no cabelo, me escorando na bancada de frente para os dois. -Lyla deve ter um plano, ela sabe do risco que estamos correndo e isso pode ser uma forma de ajudar. -as palavras que saem dos meus lábios podem servir para mim mesma, tenho repetido isso como um mantra desde que soube do envolvimento da ARGUS no caso.

—Isso, ou é simplesmente o que parece ser. -Dig deixa seus ombros tombarem, transparecendo toda a exaustão que sentia. -As vezes penso que não a conheço mais, se tornar diretora da ARGUS a mudou.

—Talvez ela esteja sendo pressionada. -Oliver pondera.

—Eu fiquei furioso quando a sequestrou naquele plano idiota... -e lá vem essa história novamente. -Só pensava em meu filho sozinho em casa, mas ela sabe do risco que o seu garoto está correndo com toda essa exposição... Acho que indiretamente acabei fazendo a mesma coisa.

—Não vamos julgar a Lyla sem ouvir o que ela tem a dizer. -decreto me voltando para meus computadores. -Se brigarem novamente, vou querer minha parte na diversão também! -ameaço.

Os outros pareciam o retrato do desconforto, mesmo Bruce Wayne com todo aquele tamanho estava atrás de Selina, como se secretamente desejasse se tornar invisível no Bunker. Uma luz vermelha brilhante surge em minha tela principal, era um convite para vídeo chamada, por algo chamado Oraculo.

—O que seria um oráculo? -murmuro intrigada. -Claro que sei do conceito todo de pessoas com a benção de Apollo que possuíam a visão do futuro...

—Não é o que, mas quem. -Bruce estava ao meu lado, e interrompe meu devaneio puxando uma cadeira para se sentar. -Pode aceitar, ela é alguém do meu time.

Faço o que ele pede e do outro lado da tela surge o rosto bonito de uma garota ruiva, usando óculos e digitando rapidamente. Atrás dela haviam dois garotos, um não passava de um adolescente, mas sua fisionomia me lembra bastante o Bruce. Os mesmos olhos azuis, queixo quadrado e falta de animo em suas expressões. O outro parecia um supermodelo, depois de conviver com Oliver poucas belezas conseguiam me surpreender de fato, mas aquele cara de cabelos escuros e olhos quase cinzas era realmente impressionante. Não que Jason já não fosse bonito, mas todo o ar psicopata a sua volta acaba amenizando a visão, o que não era o caso desse outro, não mesmo.

—Sem máscaras? -recrimina Bruce ao ver seu time.

—Ela pode invadir nossas câmeras quando quiser, e você acha que devemos usar uma máscara. -o bonitão argumenta, se sentando ao lado da ruiva. -Olá Felicity, sou Dick Grayson. -sorri simpático.

—O parceiro que tem ajudado Bruce a não parecer ausente em Gotham! -devolvo no mesmo tom. -Obrigada por isso. A todos vocês. -a garota abre um grande sorriso, assim como Grayson, mas o menino apenas continua nos encarando sem mudar nada em sua face.

—Claro. -diz o moleque. -Pai, encontramos uma base dar ARGUS aqui. -encerra os rodeios, por algum motivo sinto vontade de manda-lo para seu quarto. -O Grayson ligou para o Todd, mas acho que ele não podia mais falar. Então vamos mandar para vocês o que conseguimos.

—Ele chama os irmãos pelo sobrenome? -murmuro confusa e Bruce dá de ombros.

—Jay claramente foi interrompido por alguém que não deve saber do que fazemos para viver. -Dick pondera e a garota ao seu lado assente. -Babs pegou tudo remotamente.

—Como está sua perna? -Bruce se volta para a tal de Babs.

—Foi apenas uma torção, em alguns dias eu volto a campo. -responde fuzilando o parceiro a seu lado com os olhos.

—Quanto tempo o médico recomendou de repouso?

—Ela só deve voltar ao “balé” em um mês, no mínimo. -o adolescente sorri de lado ao receber o mesmo olhar assassino da garota.

—Ah, que bom que estão todos aqui. -Jason entra correndo com os cabelos meio bagunçados e os olhos pequenos, como se pudesse dormir a qualquer instante. -Grayson descobriu uma base da ARGUS...

—O idiota sempre chega atrasado. -murmura o menino, recebendo olhares de recriminação de Bruce, Babs e Dick.

—Merda, nem bebi o suficiente para escutar a voz de Damian. -Jason parece falar sozinho quando se aproxima tirando a jaqueta grossa que usava.

—Estava bebendo? -agora Bruce o encarava e preciso fingir uma tosse para conseguir a atenção deles.

—Desculpe, mas tive muito drama familiar por um dia. -sussurro. -Jason, você não está alucinando. -indico a tela do computador e o rapaz faz careta ao ver os irmãos.

—Ótimo, então vocês já sabem. -se vira descendo do centro do Covex. -Roy é melhor ir para casa, acabei de deixar sua prima lá.

Ninguém disfarça o choque com a declaração do Todd, mas Roy e Thea saem como se só esperasse um motivo para deixar o Bunker.

—Como está a Selina? -para minha surpresa o caçula do Wayne é quem pergunta, mas todos os três parecem se interessar por notícias.

—Ela está aqui. -Bruce diz e Selina se aproxima, sendo bombardeada por perguntas sobre sua saúde e condição física.

—Alfred disse que é melhor se cuidar. -Damian diz em um tom que soa exatamente como uma ameaça.

—Alfred... -Dick murmura apontando para o garoto que fica claramente envergonhando, mas Selina e até mesmo Bruce sorriem ao ver sua reação.

Converso mais um pouco com Barbara, a Oraculo. Ela me passa todos os arquivos que conseguiram, as vezes era cortada por uma briga entre os garotos de seu time, ou o mordomo que a lembrou de tomar seus remédios. Tudo o que pensava ser estranho em minha família se tornou um pouco mais “normal” ao ver a de Bruce. Afinal se conseguem não matar uns aos outros com aquela dinâmica estranha, John e Oliver certamente conseguiram também.

No fim Oliver voltou para casa a fim de liberar Raissa, John foi ter sua DR com Lyla e os morcegos saíram sem que me desse conta. Ao menos era o que pensava, até ver parte da perna de Jason esticada nos degraus da escada que estavam no alcance dos meus olhos. Me levanto assustada e o garoto estava em meio a um sono pesado, todo torto nos degraus. Cogitei acordá-lo, mas o pensamento insano me fez rir sozinha. Com certeza acabaria morta por reflexo.

—No fim são apenas garotos. -dou de ombros indo em direção ao cômodo em que Oliver costumava dormir no Bunker, pego uma manta e um travesseiro pequeno.

Coloco a manta sobre seu corpo da melhor forma que consigo e deixo o travesseiro a seu lado. Não sou tão insana a ponto de tentar erguer um cara que foi revivido pelos poços de Lázaro, enquanto ele dorme. Trabalho feito, salvo tudo e começo a descodificação da parte em que Barbara não pode decifrar. Acho que é melhor voltar para casa e deixar o computador trabalhando sozinho. Me levanto e vejo Jason agora sentado na escada com a manta embolada em seus braços, meio desperto. Nada ameaçador, constato pela primeira vez.

—Obrigado por isso -fala quando me sento a seu lado na ponta oposta.

—Quanto foi que bebeu? -sorrio para ele que estava com uma expressão confusa que o deixava parecendo um garotinho.

—Não bebi o suficiente, acabei bancando a baba. Nem mesmo uma noite de ronda em Gotham suga tanto minha energia -pragueja sacudindo a cabeça, como se desejasse esquecer o que havia acontecido. -Posso fazer uma pergunta?

—Sou um livro aberto, ou melhor, praticamente o Google! -declaro rindo, mas paro ao ver que ele não entendeu a minha piada genial.

—Se perdesse seu filho, não que isso vá acontecer, não vai mesmo -acrescenta rapidamente ao ver o susto em meu rosto. -Só que não tive uma mãe disposta a se sacrificar por mim, a verdade é que morri exatamente por ela ter me entregado. -só de escutar algo assim, meu coração se aperta. William tornou todos esses medos reais em minha vida.

—Sinto muito.

—Não precisa -dá de ombros. -Só quero entender se perder um filho pode ser algo que tire sua vontade de viver, de continuar lutando -seu rosto que costuma ser sempre ameaçador, agora era como o retrato do desamparo.

—Não saberia responder isso antes, mas tenho mudado um pouco mais a cada dia -confesso. -William é tão parecido comigo que é fácil me iludir e acreditar ter dado à luz a ele -sorrio me lembrando do garotinho que costuma me esperar acordado todas as noites. -Não imagino minha vida sem ele, é doloroso até mesmo cogitar a possibilidade de falharmos e o colocar em perigo.

—Entendo -diz se levantando. -Vou te acompanhar até sua casa, está tarde.

—Selina disse que você é o preferido dela, digo, de todos os enteados recém adquiridos -falo o seguindo, por algum motivo ele parecia necessitar de algo assim.

—Mas ainda assim, posso não ser o bastante -declara com tristeza.