Lances da vida

Sol, lago e despedida


SOLUÇO

Desde que conheci Jack essa é primeira vez que o vejo ter uma ideia inteligente.

A perna de Astrid incomoda na terra, mas na água ela é tão normal quanto nós. Ela ferrou minha vida ao chamar Bocão. Preciso retomar o controle da situação e isso significa. Astrid precisa se molhar. Agora.

– Vem aqui. Digo tirando minha camisa.

Ela dá um passo para trás. - Me promete que não vai me jogar no lago? Há peixes lá.

– Eles não vão te fazer mal.

– Não posso nadar. Ela dá mais um passo para trás.

– Para, Soluço. Isso não é uma boa ideia. Felipe se mete e lhe dou um olhar de deixa de ser idiota.

– Eu sei o que estou fazendo, não deixe ela te enganar, ela é excelente nadadora.

Um borrifo de água chama a atenção para Jack e Elsa que já está toda molhada. Aproveito a distração e pego Astrid no colo.

Vou até a beira da água

– Estou de roupa. Ela diz se agarrando forte em meu pescoço. Entro na água.

– Chega de brincadeira, me bota no chão. Ela coloca sua cabeça no meu ombro.

– Não me jogue. Prometa.

Adentro mais e a água está no meu joelho. Passo por Jack e Elsa que espirram água um no outro.

Nós já estávamos quase ensopados.

– Eu não vou te jogar. Digo enquanto a levo para um canto onde ninguém podia nos ver.

– Prometo.

– Não vai?

– Não. Mas prenda a respiração.

Afundo nós dois deixando-nos completamente encharcados. Ela fica muito revoltada comigo.

Ela borrifa água em mim. – Não faça isso. Ela continua. Solto-a e ela fica em pé na minha frente e começa a borrifar água em mim. Mas guerra de borrifadas é coisa de crianças e nós não somos mais crianças. Ignoro suas tentativas e vou em sua direção. Quando estou perto o suficiente seguro seus pulsos a impedindo de continuar .

Seguro seus braços nas costas e a puxo para junto de meu corpo. Meus lábios roçam suas bochechas lentamente, seu corpo prensado ao meu. Quando minha boca toca o canto da sua eu solto seus braços e pego sua cintura enquanto tocamos nossos lábios bem lento e superficialmente. Não aprofundo o beijo, quero que esse movimento seja dela. Vou faze-la me querer mais do que eu a ela. Mas, droga, meu corpo está me traindo. Vou leva-la a loucura até que tudo que ela queira seja os meus lábios no dela e quando ela implorar por isso como se sua vida dependesse disso eu fico com ela como se não tivesse amanhã. Depois vou deixa-la sem olhar para trás.

Isso é cruel sim. Mas ela tem que entender que sou um ex presidiário. Ontem aquele reencontro com Mario me fez lembrar de onde vim. Eu vou sempre ser ex presidiário, independente de ter culpa. Está marcado em mim como uma tatuagem.

Ficamos nessa brincadeira, nossos lábios se tocam num movimento constante para frente e para trás, sei que logo ela cederá, tem que ceder porque isso é uma tortura. Astrid abre seus lábios e geme em minha boca me fazendo imaginar como seria tê-la por inteiro. Sei que é agora, tem que ser agora. Aquele gemido foi o sinal de que ela não está aguantando e quer avançar para o próximo nível, apesar de que meu corpo já quer avançar três níveis. Mas peraí. Inclino para trás. – O que você está fazendo?

– Como assim? Ela pergunta inocente

– Cadê sua língua?

– Na minha boca, ora. Onde mais estaria?

– Você está me sacaneando, né?

– Sei lá, talvez.

Eu não acredito que ela fez isso comigo.

– Você me provocou e me levou à loucura me ludibriando só para dar o troco por te jogar na água? Fala a verdade, você não é essa inocente que tenta parecer para as pessoas. Você é uma merda de uma provocadora.

– E você é o que? Você estava me seduzindo e me excitando. É você que é o provocador.

– Você não tem ideia.

Astrid começa a andar em direção a beira me deixando ali, sozinho. – Vai me deixar aqui assim mesmo?

– Sim. Não era isso que você queria? Vamos fazer dos eu jeito. Queria ir atrás dela, mas não posso. Preciso ficar na água por algum tempo, até baixar minha animação. Isso aí 1 x 0 para Astrid e eu fico com o ego ferido.

Meia hora depois pegamos as canoas e os materiais de pesca, como nenhuma das meninas sabiam pescar cada garoto ficou com uma delas.

– Eu fico com o Felipe. Astrid falou logo.

Eu acabei ficando com a Elsa que não queria ficar com o Jack porque estava com medo dele virar a canoa de propósito.

Olho para a Heather que parece que vai vomitar. Ela sempre está assim. Não sei não, mas ou ela está gripada ou está grávida.

– E ai? Você e Astrid estão juntos?

– Não

– Eu sei que rola algo muito quente entre vocês. Fala logo. Pra quê esconder?

– Que tal falarmos de você e Jack?

– Que eu e Jack?

Enquanto passo a vara de pescar para a Elsa olho para Astrid que parece estar muito bem com Felipe.

– Ela está assustada. Ela acha que você vai deixa-la de novo.

– Ela está certa.

– Então deixe ela em paz, não fique a confundindo. Ela merece alguém que vai ficar do seu lado.

– Como o Felipe?

– Não fique irritado. Só estou dizendo o que penso.

– E eu acho que você deveria guardar suas opiniões para si.

– E eu acho que você sabe que estou certa.

ASTRID

Durante o resto da viagem Soluço mantém distância, ele não confia mais em mim e nem em ninguém. Nas palestras ele fala sobre ter sido preso e que faria qualquer coisa para evitar a prisão no futuro. Mas não menciona o caso de ter ido para a cadeia no lugar de outra pessoa.

Hoje é nosso último dia, amanhã voltamos para casa e sei que ele irá embora. Meu objetivo era convencê-lo a voltar e falhei miseravelmente no meu proposito.

Estamos em uma cabine alugada. Ela tem nove quartos e dessa vez cada um ficou com seu próprio quarto.

Preciso confrontá-lo uma última vez. Essa situação me angustia e vou resolver isso hoje. Procuro ele em seu quarto e ele não está. Já estava surtando com a possibilidade dele ter ido mais cedo. O achei na beira do lago, jogando pedrinhas na água.

– Então, isso é um adeus?

– É, divirta-se no Canadá.

Ele me lembra da viagem, nesse período do Re- FORMAR fiz amizade com Elsa e Heather e agora a Elsa assumiu toda responsabilidade por Heather. Vamos continuar em contato e elas prometeram que vão me visitar antes de eu viajar.

– Pra onde você vai?

– Não sei.

– Volta para Berk

– Essa conversa acabou

– Volta para Berk. Digo novamente

– Não posso. Da última vez minha família achava que eu deveria fingir e não consegui. Ainda não posso. Então, por favor não peça mais isso. Já vivo com muitos arrependimentos e não quero acrescentar mais um.

– Dê uma chance para eles. Eles precisam de você.

– Não tenho razão nenhuma para voltar. A senhora Reymond está morta. A única pessoa por quem eu voltaria seria por você e nós não damos certo. Esquece essa última parte. Isso foi estúpido.

Eu não posso deixar de pensar em todas as vezes que estivemos juntos. Cada beijo, cada abraço. Nada poderia me fazer sentir tão incrível. Era poderoso e explosivo.

– Você vai mesmo? Minha voz sai como um sussurro

– Sim. Sem arrependimentos.

– O que significa sem arrependimento?

Ele pega em meu queixo me fazendo olha-lo.

– Significa que não posso partir sem fazer isso.

Ele inclina a cabeça e toca meus lábios de leve. Sorrimos por lembrarmos do momento no lago onde testamos um ao outro ao limite. Foi divertido e perigoso. Estamos novamente jogando esse jogo divertido e perigoso e a única coisa que penso agora é em me perder nesse jogo.

Tento aproveitar cada instante de seus beijos, não é ardente, intenso e faminto. É lento, sexy e sensual. Ele me pega pela cintura colando nossos corpos.

Eu quero me perder em seus braços e ficar ali para sempre. Tenho vontade de gritar eu te amo Soluço, como você pode não sentir o mesmo que eu?

Ele lentamente se afasta retirando meus braços de seu pescoço.

– Tchau, Soluço. Vou...sentir...sua falta...

– Também vou sentir a sua.

Tento segurar minha emoção. Empurro ele para o lado e passo rápido antes que ele me veja chorar. Entro no quarto e me jogo na cama chorando. Por que faço isso? Por que sempre o deixo ir sem lutar? Sou uma covarde, fraca.

Ouço a porta do quarto dele se abrir e logo se fechar. Ele deve ter entrado para dormir. Penso em Vanessa que está presa e não pode lutar pelo que quer. Eu posso.

Agora entendo a razão daquele beijo que ele me deu. Aquele beijo doce foi uma tentativa de encerramento.

Para mim foi pouco, quero muito mais do que isso. Vou me encher de coragem para mostrar para ele que tipo de encerramento eu quero.

Vou ao quarto de Soluço.

Sua porta está aberta, Jack está dormindo no quarto do outro lado do corredor. Seu ronco ecoa por todo corredor, mas o quarto de Soluço está quieto.

O quarto não tem janelas e está completamente escuro. – Soluço. Sussurro. – Está acordado?

– Sim. Aconteceu alguma coisa?

– Meio que sim.

Fecho a porta e tateio até sua cama torcendo para não tropeçar em nada. Deparo com seu peito, ele está sem camisa, pois sinto sua pele. – Oi

– ei. Ouço sua voz, não acredito que vou perde-la. – Acho que você não se perdeu do caminho.

– Não. Só pensei em...

– Fala Astrid.

É agora. – Eu pensei em passarmos nossa última noite juntos. Eu sei que depois de amanhã não nos veremos mais. Mas não posso evitar querer, nem que seja uma última vez. Tudo bem para você?

Ele pega em minha mão me colocando em sua cama. – Mais do que bem. Espero ele se juntar a mim na cama, mas ele não o faz.

– Onde você vai?

– Trancar a porta. Ou você vai querer que o Jack se meta entre nós dois?

– Não

Faz frio aqui, puxo a coberta. Soluço se deita ao meu lado, sinto sua pele na minha me fazendo arrepiar. – Você está tremendo.

– Estou com frio e nervosa.

– Não precisa ficar nervosa, Astrid. Sou só eu.

Esse sim é o verdadeiro Soluço. Sem aquela faixada de durão. Passo meus dedos trêmulos em seu rosto. – Eu sei.

Ele me puxa para mais perto e eu me acomodo em seu corpo.

– Astrid.

– Sim.

– Obrigado.

– Pelo que?

– Por me fazer sentir vivo de novo.

Passo meu braço em seu peito, sei que provavelmente nunca mais teremos essa oportunidade de novo de ficar assim tão juntos. Isso me faz querer mais do que dormir com ele. Passo minha perna por cima de seu corpo, já insinuando que quero mais do que dormir.

Ele geme em resposta. – Astrid, você está pisando em um campo perigoso. Estou tentando ser um homem bom e honrado aqui.

– Eu não te pedi para ser bom e honrado.

– Tem certeza que sabe onde está se metendo.

– Não tenho ideia. Começo a beijar e acariciar seu peito.

– Astrid, você está me matando.

Ele me puxa para cima fazendo ficarmos cara a cara. – Nós não podemos. Não me leve a mal. Estou preparado e disposto para isso. Mas amanhã nossas vidas vão seguir rumos diferentes e se transarmos vai complicar tudo.

– E se ao invés disso dermos uns amassos? Tá bom pra você isso?

– Por mim está ótimo.

Mais tarde, quando estamos descendo de uma temperatura que nunca tinha atingido antes, apoio minha cabeça em seu peito. – Foi uma ótima sessão de amassos.

– Humhum. Ele concorda sonolento. – Foi a melhor.

Sinto o corpo de Soluço relaxar e percebo que dormiu. Adormeço também.