Lances da vida

Perigo e surpresas


SOLUÇO

Você me ignora, eu te ignoro. Astrid como todas as garotas na minha vida está tentando me controlar. Não aguento mais ser feito de idiota.

Sei que ela estava me olhando, eu sentia os olhos dela em cima de mim. Acabo martelando o meu dedo por causa dela.

A fuzilo com meu olhar.

Ela está sentada no chão com um macacão rasgado e manchado

– Eu não estava te olhando.

– O inferno que não estava. Ladro para ela. – Você quer ficar olhando embasbacada para o ex detento, conseguiu. Me responde uma coisa, você gosta que as pessoas fiquem te olhando quando você sai mancando, como se fosse cair a qualquer momento?

Ela leva as mãos a boca e se dirigi para dentro da casa.

Droga. Meu dedo está latejando, minha cabeça doendo e insultei uma garota manca sendo culpado por aleija-la. Já posso ir para o inferno agora mesmo, meu contrato com o diabo já está assinado de qualquer forma.

Jogo o martelo no canto e vou atrás de Astrid a encontrando na cozinha cortando alguns legumes.

– Me desculpe. Não deveria ter dito aquilo.

– Sem problemas.

– Claro que tem problemas, você está chorando.

– Não estou chorando.

– Tem lágrimas escorrendo em seu rosto.

– É a cebola.

Queria sacudi-la para gritar comigo. Eu mereço que gritem comigo.

– Fala alguma coisa.

Ela não diz nada, apenas corta a cebola ao meio, imaginando que a cebola é a minha cabeça ou outras partes de meu corpo.

– Tudo bem, faça do seu jeito.

Volto a trabalhar e Astrid não sai mais da cozinha. Às sete comunico assenhora Reymond que terminei por hoje e vou pegar o ônibus para casa.

Astrid chega logo atrás.

Estou parado na esquina quando um carro para em minha frente.

– O que está fazendo em um bairro pobre deste lado da cidade menino rico?

Ferrou, era Dagur e alguns caras da equipe de luta livre da escola desse bairro.

– Nada que você deva saber.

– Seus amiguinhos da prisão te ensinaram a se prostituir, quanto cobra por essa bunda usada?

Eles saem do carro. Dagur olha para o lado. – Essa é sua nova namorada?

Me viro e vejo Astrid vindo para pegar o ônibus. – Asty, volta para a casa. Eu já vi muitas brigas para saber que Dagur estava a procura de uma.

Tento distraí-lo. – Isso é entre você e eu. Deixe –a de fora.

Dagur ri, e seu riso me dá agonia. – Deem uma conferida nela, rapazes. Soluço, tu está tão ruim assim? Você consegue sentir alguma coisa quando ela anda assim?

Largo minha mochila e parto para cima dele, mas um de seus homens me segura e imobiliza meus braços. Dagur começa a me golpear.

Quando percebo, Astrid estava tentando golpeá-los com a bolsa. Nesse momento consigo me soltar e empurro o babaca que segurava minhas mãos. Protejo Astrid com meu corpo. – Asty, corre. Ordeno enquanto enfrento os caras.

Faço o que posso, já que são três contra um. Tudo congela quando ouço o som da sirene. O policial sai do carro e nos coloca de joelhos com as mãos na cabeça. Minha preocupação é com Astrid.

– O que está acontecendo?

– Nada. Diz Dagur. Estamos brincando, né Strondus?

– É.

– Não é o que parece. Identificação, por favor.

Desde que minha carteira de motorista foi revogada, só tenho a carteira de identificação de serviço comunitário do DOC. Se a der ele liga para o Bocão e volto imediatamente para a cadeia.

– Não tenho.

– O que faz aqui?

– Visitando um amigo.

–Deixa eu dar um conselho, aqui não somos bonzinhos com estranhos que chegam causando arruaça. E Dagur, da próxima vez se encontre com seu amigo na área dele senão terei que comunicar aos seus pais.

Espero os dois carros irem, procuro minha mochila, acho que um dos caras roubou. Estou ferido.

Astrid aparece com a minha mochila.

Nossos olhos se prendem um ao outro.

O ônibus chega, deixo ela entrar primeiro e sigo para meu lugar habitual. Ela me segue e senta do meu lado. Tremendo.

Surpreendentemente nesse momento ela se sente segura ao meu lado. Não ouso toca-la porque significaria mais do que esse momento significa. Esse momento de amizade é apenas temporário. Isso está me assustando, porque minha mente bagunçada está transformando essa situação atípica e passageira em uma esperança de reconectar as coisas que estavam fora do lugar na minha vida.

Tornando a situação muito significativa.

ASTRID

Está correndo um boato na escola sobre os machucados do Soluço e nenhum deles é verdadeiro.

Pego o ônibus para o trabalho. Vou até onde o Soluço senta. Ele não me olha, sento do lado dele como ontem.

Não caminhamos mais separados, agora vamos lado a lado. Só eu (além de Dagur e os outros bandidos) sabe o real motivo das contusões de Soluço. Ele brigou por mim? Independente do motivo, estávamos juntos, jogavamos no mesmo time e não ganharíamos.

Por isso peguei o celular e liguei para a polícia. O Soluço nunca conseguiria contra três.

Mais um dia de trabalho na casa da senhora Reymond juntos, não na verdade.

Soluço ainda segue minhas regras. Fica no canto dele.

Durante o cochilo da senhora Reymond, vou até a cozinha pegar um copo de água e aproveito e pego um para o Soluço também e deixo silenciosamente ao lado dele.

Lembrei que deixei o prato de biscoitos no sótão semana passada e subo para pegar.

Escuto a porta se fechar e grito.

Soluço está na minha frente com o copo de água na mão.

– Não vou te machucar, Astrid. Só vim agradecer a água e ...bem, mesmo sendo difícil trabalharmos juntos eu gradeço por não me chutar para fora.

– Você não vai sair mesmo.

– Por que não?

– A porta trava.

– Tá brincando né?

Balanço a cabeça. Estou tentando não surtar com a ideia de estar trancada em um sótão com Soluço.

Ele tenta diversas formas de abrir a porta inutilmente.

– Merda, ele olha para mim. – Nós dois no mesmo espaço, não deveria acontecer.

– Eu sei.

– Sério mesmo que estamos presos aqui?

Aceno novamente

– Merda

– Você já disse isso.

Soluço começa a ficar nervoso. – Ficar preso está se tornando recorrente na minha vida. Murmura.

Ele se senta no chão apoiando as costas em um baú. – Melhor se sentar.

– Tenho medo de aranha.

– Ainda?

– Você se lembra?

– Claro, você e Luane me faziam de assassino pessoal de aranhas.

– Sente-se. Ele ordena. – Dou duas horas e arrombo essa porta.

Ficamos um tempo em silêncio.

– Foi assustador na cadeia?

– Algumas vezes.

– Como quando? O que fizeram com você?

– Você é a primeira pessoa que me pede detalhe.

– Confesso que ouvi rumores. Acho que a maioria é mentira.

– O que você ouviu?

Fico nervosa por ser a primeira em dizer. – Bem...que você tinha um namorado na prisão, que se juntou com uma gangue, tentou fugir e foi para a solitária, que machucou um cara que depois precisou ser hospitalizado. Continuo?

– Acredita nessas coisas?

– Não. É verdade?

– Estive em uma briga, por isso fui para a solitária. Passei trinta e seis horas na solitária. Cara, não acredito que de todas as pessoas estou falando disso com você.

– Te deram comida?

Ele riu. – Sim, você ainda recebe as refeições, só que dorme numa cama de concreto com um colchão de uma polegada de espessura e uma privada de inox é sua única companhia.

– Pelo menos você estava sozinho. Eu ficava em uma cama, dependendo que outros me limpassem. Era degradante.

– Os médicos disseram se você vai voltar a andar sem mancar?

– Eles não sabem. Faço fisioterapia duas vezes por semana até que eu viaje para o Canadá.

– Canadá?

Explico a ele os motivos de estar trabalhando e sobre os motivos da viajem.

– Eu não via a hora de voltar. Isso significava para mim que eu era livre de novo.

– Isso porque você é o Soluço, todos sempre vão te aceitar. Já eu, as únicas coisas que me faziam alguém era o tênis e Luane e como perdi ambos não tenho nada além de humilhação e olhares estranhos.

Ele se levanta e anda pelo sótão. – Voltar está sendo uma droga, mas sair de Berk seria fugir, se acovardar.

– Para mim é liberdade, sair de Berk significa deixar para trás toda a humilhação por ser uma perdedora.

Soluço se agacha na minha frente, olhos nos olhos. – Você não é uma perdedora, droga , Astrid. Você sempre soube o que queria e correu atrás.

Sou sincera. – Não mais, desde que você me atropelou, algo morreu dentro de mim.