Lances da vida

Cuida de mim


SOLUÇO

Naquela noite Brena e eu derrubamos uns bons litros de cerveja, cara essa garota é profissional. – Você é ótimo dançarino.

– Obrigado. Ela se apoia em mim para se firmar.

– Sabe o que dizem de bons dançarinos? Eu sei, mas quero ouvir de seus lindos lábios. Então pergunto. – o que dizem?

– Que bons dançarinos são bons de cama. Essas palavras me fazem sentir o tal e massageiam meu ego ferido. – Quer testar na prática? Estou realmente completamente bêbado.

Ela me olha como se me avaliasse. Gostaria de saber qual sua avaliação de mim. Se para ela eu sou um Fusca ou uma Ferrari.

Ela se aproxima e sussurra no meu ouvido. – Sabe, também sou ótima dançarina.

Ela se pendura em meu pescoço e cola seu corpo ao meu. Essa mulher é tudo que eu preciso agora para me fazer esquecer Astrid. - Vamos para seu quarto. Eu não posso leva-la para nossa suíte. Se Bocão ou Astrid me pegam dará merda e se Jack me vê aquele maluco é capaz de pedir para entrar na diversão.

Seguimos alguns quarteirões e chegamos ao mesmo lugar onde estamos hospedados. Ela me leva ao segundo andar, merda, ela mora exatamente do lado de onde estamos. A última coisa que preciso é Bocão me pegar bêbado e colado nessa garota. Agora estou oficialmente ferrado.

Ela me arrasta para dentro de seu quarto e avança em cima de mim. Posso dizer que ela não é o tipo de garota que fica fazendo doce. Ela retira seu top revelando um sutiã de renda preto. Amo sutiã de renda preto. Retiro minha camisa e vou para cima. – Gostei da tatuagem. É sexy. Fiz ela em Oslo, como símbolo da minha rebelião, agora estou aqui com essa garota também como rebelião.

Ainda não a beijei e nem sei se quero, não consigo raciocinar direito porque estou bêbado e essa garota está rebolando em cima das minhas pernas. Quero ir logo para a diversão, pois logo tenho que voltar para a suíte antes que o grupo chegue. – Anda, mostra do que é capaz. Ela começa a brincar com suas unhas sobre meu peito me arranhando e isso dói, mas deixo ela seguir. Logo as mãos dela descem abrindo minhas calças e descendo. Estou curtindo tudo isso e fazendo o jogo só não sei se há problemas que debaixo de minhas pálpebras o rosto que vejo sobre o meu seja de uma certa garota que me odeia.

Astrid

– O que disse? Ouço a voz da garota.

– Hã, o que foi?

– Você me chamou de Astrid.

– Desculpe. Ela definitivamente não é Astrid.

– Tudo bem. Ela se levanta e vai até uma gaveta e retira um saquinho. Pega uma pílula e toma. Depois estende uma para mim. – Pega, toma.

– O que é?

– Ecstasy, vai te deixar mais animado.

Parece ótimo, se eu tomar isso tudo desaparece e não pensarei em outra coisa a não ser me divertir. Merda, minha mãe. Ela é uma viciada em remédios controlados e eu estou seguindo esse mesmo caminho sem volta. Droga. Estar bêbado já é suficiente ruim agora me tornar um drogado seria outro nível.

Entrego a pílula para ela, me levanto e visto minhas calças de novo. – Onde fica o banheiro?

– No fim do corredor. Se estiver atrás de camisinha não se preocupe, eu tenho. Saio e digo. – Já volto

Me dirijo para fora de seu quarto e vou até o banheiro. Jogo água no meu rosto e me olho no espelho. Minha aparência está horrível. Sou um bêbado imprestável e um lixo humano. Estava animado com Brena, mas não era ela me excitava, era astrid. Isso é doentio, não posso continuar com alguém que é só uma substituta.

Volto ao quarto, essa hora ela deve estar subindo pelas paredes por causa do efeito da droga. Espero que não se chateie por eu pular fora de sua festinha antes da hora. Quando toco a maçaneta ouço a voz de Astrid atrás de mim. – Esse não é nosso quarto, Soluço.

Me viro para ver a garota que assombra meus pensamentos. A mesma que ferrou com minha noite com Brena mesmo sem saber. Duvido que ela agora esteja usando um sutiã de renda preto, mas como eu queria descobrir.

– Eu sei.

– Então por que está aqui sem camisa e com, bem, o zíper aberto? Nessa hora Brena abre a porta só de sutiã.

– Entendi. Astrid murmura

– Aí está você. Demorou hein? Ela fala sorrindo e olha para Astrid. – Quem é ela?

– Sou a namorada dele. Astrid responde.

– Você está brincando né? Pergunta Brena confusa.

ASTRID

A garota esperava uma resposta. Como acreditar que um cara como Soluço seria namorado de uma garota como eu? É claro que não somos namorados e nunca fomos de verdade. Mas aquela cena me deixou furiosa. Desisti do cinema porque minha perna doía e também não parava de pensar no telefonema de Luane. Seus instintos nuca falharam e estava realmente preocupada com Soluço.

– Não é brincadeira. Soluço volta para a nossa suíte.

– Sua camisa continua aqui. Ela pensa que ele vai me dar o fora e voltar para lá.

Surpreendentemente Soluço se joga para cima de mim, se apoiando em meu ombro. Ele cheira a cerveja e está completamente bêbado. - Preciso ir com ela.

A garota fecha aporta e torna a abri-la um segundo depois com sua camisa na mão e joga em cima dele. – Seu perdedor. E depois olha para mim. – pode ficar com ele.

Tiro seus braços de cima de mim e entro na suíte seguida por ele. – Preciso de ajuda. Ele murmura tornando a se agarrar em mim. – Você fede a bebida e se quer ajuda para fechar o zíper da calça pediu a garota errada.

Ele se joga no sofá. – Então você a garota errada para mim, mas é a certa para o Felipe?

– Cala sua boca. Somos só amigos.

– Não parece, acho que você seguiu em frente com ele.

– Se me envolvo ou não com alguém não é da sua conta. E não é só porque converso com alguém que significa que estou saindo com ele.

– Certo, ok. Ele olha para os lados. – Cadê o resto do nosso grupo disfuncional?

– Estão no cinema.

– E por que você não está com eles?

Sinto dor na minha perna, mas não vou dar a ele o gostinho de mostrar que estou com dor. – Tenho que descansar a perna. Ele me chama para sentar ao lado dele.

Seu cabelo está despenteado e ainda está com zíper aberto como lembrete do que estava fazendo com a vadia do lado. Recuso sentar do lado dele e ele insiste. – Por favor.

Ele se faz de vulnerável e inocente, mas sei que não é. – Você deveria ir para seu quarto e dormir antes que Bocão chegue e te veja nesse estado e saiba que você bebeu e se drogou e sabe-se lá o que mais aprontou.

– Se você ficar por um minuto aqui comigo, prometo que logo depois vou para o quarto e não te encho mais. Com muita dificuldade ele se ajeita e fecha o zíper da calça. – Só para você saber eu não me droguei. Tive a oportunidade, mas não quero chegar onde minha mãe chegou. Essa é a primeira vez desde o início da viagem que ele menciona a família. Reparo que há uma tristeza na sua voz ao falar da mãe, o que o deixa ainda mais vulnerável.

– Vai negar que estava bebendo também? Ele abre um sorriso

– Sim, estava bebendo. Foi bom não ter que pensar em...tudo.

– eu deveria te dedurar para o Bocão.

– Verdade, devia.

– Mas não vou.

– Por que? Vai dizer que lá no fundo você ainda gosta de mim? Ele me puxa para perto dele e sobe em cima de mim.

– Não responda essa pergunta. Ele diz

Não consigo mais pensar racionalmente. Ele olha para meus lábios e isso me lembra nosso primeiro beijo no parque quando eu chorei no peito dele.

Ele passa seus dedos em meu rosto e sinto sua respiração tão próxima de mim. – Astrid, você quer tanto quanto eu?

– Eu não posso responder essa pergunta.

Ele continua muito perto e posso sentir o cheiro de cerveja nele.

– Por que não? Coloco minha mão em seu peito nu para empurra-lo para longe. - Você tem mesmo que perguntar isso? Você estava coma aquela vagabunda a poucos minutos. Não posso me rebaixar a segunda opção.

– Eu não a beijei. Juro.

Eu o olho como se não acreditasse no que ele disse e ele fica sério. – Não vou mentir que nos divertimos um pouco, mas eu não pude continuar porque... deixa pra lá.

– Só vá para o seu quarto.

– Só depois que me beijar

Ele avança até bem perto de meus lábios. – Faça isso por mim. Ele diz rente aos meus lábios. Meus braços passam em seu pescoço e ele murmura – Asty. Eu preciso disso.

Meu senso já não existe mais, pois eu respondo. – Eu também.

Ele passa sua mão por minha cintura pressionando meu corpo contra o seu.

Fecho os meus olhos e me convenço que estamos no gazebo. Esse momento foi perfeito, tudo parecia o certo e nada daria errado.

Posso imaginar aquele momento no gazebo contanto que mantenha meus olhos fechados. Estamos no passado, quando ele me fez acreditar que me protegeria e sempre estaria do meu lado.

Meu celular toca me tirando de minha fantasia. – Não atenda, por favor.

Ele tenta continuar, mas o gazebo se foi, acabou todo o encanto. Pego o celular e vejo o visor. É meu pai, deixo a ligação cair na caixa postal. Meu pai, o cara que me liga uma vez por ano. Aquele que me deixou sem olhar para trás.

Soluço continua em cima de mim, olho para ele. Ele também me deixou sem olhar para trás, até ser forçado a vir nessa viagem. Ele me enganou como meu pai me enganou. Ele mentiu como meu pai mentiu.

– Estamos errados, não devíamos estar fazendo isso.

– Eu te quero, não poderia estar com a Brena porque é você que eu quero de verdade. Eu até falei seu nome. Ferrei com tudo sim, mas para quê esconder que nós nos queremos.

– Seu grande idiota.

– Eu não te entendo, admiti que não consegui ficar com outra porque gosto de você. Isso é errado?

– Sim

– Por que eu admitir que você me enlouquece é um insulto para você?

– Não quero que a gente se queira, eu quero um relacionamento de verdade. Eu quero amor. E você não sabe o que é amor. Amor é honestidade e respeito mutuo e isso nós não temos.

– Então você está dizendo que não tem nenhum respeito por mim?

– Sim

– Certo

– Certo

– Eu considerei as coisas entre nós equivocadamente então.