A luz da manhã invadiu o cômodo, e despertou Edgar. Laura, aninhada em seu peito, ainda dormia. Passando a mão por seus cabelos, ele despertou-a.

Edgar ainda acariciando-a: Oi.

Laura sorriu: Oi.

Edgar: Você é tão linda. Eu queria tirar um retrato pra eternizar esse momento.

Laura riu beijando suavemente o marido: Não precisamos de um retrato para eternizar esse momento, Edgar. Ele pode se repetir todos os dias pelo resto das nossas vidas.

Edgar : Hmm, gosto dessa ideia. Pelo que vejo você continua com sua aversão à retratos... Lembra quando queria ir ao estúdio de Marc Ferrez?

Laura recordou-se da situação do início do casamento: Sim! – Riram um tempo, mas ficando séria repentinamente, a moça complementou seu pensamento ao lembrar-se de outro fato – Pena que depois não tive boas experiências com retratos... – Disse ela referindo-se à matéria plantada no pasquim O Bonde que revelara seu divórcio para a sociedade.

Edgar afastou-se de Laura de forma que pudesse apreciar seu rosto por completo: Ah, meu amor, mas durante esses anos senti tanto medo de esquecer algum detalhe do teu rosto. Todos os dias, deitava e acordava esboçando tua face em meus pensamentos. Mas um retrato teu teria amansado minhas saudades.

Laura passou a mão no rosto de Edgar, sorrindo de leve e beijando-lhe o rosto. Lembrou-se novamente do início de seu casamento: A saudade mora na memória, não num pedaço de papel.

Ambos riram.

Laura: Eu também pensei em você todas as noites e manhãs durante esses 6 anos... – Fez uma pausa e eu tom brincalhão continuou – Aliás, esses anos te caíram muito bem, Dr. Vieira.

Os dois riram e Edgar deitou-se sobre Laura amando-a novamente. Foi bom poder lembrar e falar do passado sem mágoas os assombrando.

Os compromissos da manhã os transportaram ao mundo real; Melissa logo acordaria e eles deveriam estar compostos.

Edgar logo que se vestiu, deixou a esposa no quarto e desceu ao escritório com a desculpa de que precisava fazer algo importante. Laura estranhou, pois Edgar costumava gostar de ajuda-la a se vestir, fazendo brincadeiras e trocando carícias.

Laura terminou de aprontar-se e desceu à procura de Edgar que estava demorando demais. Ao se aproximar dos últimos degraus da escada, ouviu batidas que pareciam ser marteladas. Melissa, que estava dormindo, espantou-se foi em busca da madrasta para ver o que estava acontecendo.

As duas atravessaram de mãos dadas a sala de refeições que estava preparada para o café da manhã da família; chegando ao escritório, se surpreenderam ao ver Edgar pendurando uma moldura. Não conseguindo ver qual a imagem retratada ali, foram logo disparando mil perguntas.

Melissa ainda sonolenta disparou: Papai, você tinha que fazer isso tão cedo? Eu acordei com esse barulhão todo! Por que isso?

Laura confusa perguntou: Edgar, não to entendendo? O que tá acontecendo? Que quadro é esse?

Edgar pegou Melissa no colo e tentou desculpar-se dizendo que queria fazer uma surpresa. Com a outra mão puxou Laura para que ela pudesse ter um ponto de vista privilegiado da obra. Qual não foi a surpresa! Edgar tinha fixado o lugar de maior destaque a caricatura de sua esposa feita há 6 anos!

Laura começou a chorar muito emocionada, pois não esperava que seu amado tivesse guardado o desenho por tanto tempo. Para ela isso confirmava mais uma vez: ele nunca a esquecera.

Edgar sorridente observou a reação de Laura que, sem palavras, virou-se para ele dando um carinhoso beijo. Ele soube de imediato que a conversa continuaria, mas Melissa estava ali e precisavam se comportar.

Melissa: Tia Laura, é você!

Laura riu: Sim, Melissa, sou eu! Há muito tempo seu pai mandou fazer essa caricatura minha.

Melissa: O que é caricadura (sic)?

Edgar rindo, colocou a menina no chão: É ca-ri-ca-tu-ra, florzinha, e é um tipo de desenho que exagera as características das pessoas, entendeu?

Melissa: Hmmm. Acho que entendi. Mas a tia Laura continua linda na ca-ri-ca-tu-ra.

Laura dando um beijo em Melissa respondeu: Obrigada pelo elogio, minha princesa! Eu nem sabia que seu pai tinha guardado isso durante todos esses anos!

Edgar: Foi a única forma de retrato sua que eu tive durante esses anos. Por mais injusta que seja.

Laura: Injusta?

Edgar: Esse desenho não chega aos pés da sua beleza.

O casal ficou se olhando por alguns segundos que mais pareceram horas, mas o desejo que faiscava por suas pupilas teve que ser, mais uma vez, controlado.

Melissa: Papai, Tia Laura, eu to com fome! Vamos tomar café da manhã? Eu preciso ir pra escola!

Laura e Edgar lembraram que tinham muitos afazeres no dia; eles podiam e teriam que esperar até à noite.

Em uníssono o casal respondeu: Claro, meu amor! Vamos tomar café.