La Fillette Mousquetaire

O retorno dos inseparáveis


Capítulo 1 – O retorno dos inseparáveis



Paris, 1629. Era bom estar de volta, depois de tanto tempo. Era bom se reapresentar ao capitão Tréville, depois de um descanso merecido após o cerco a La Rochelle. O quarteto chegou e, nisso, os outros mosqueteiros abriram caminho, como o Mar Vermelho se abriu diante do profeta Moisés.


O quarteto era formado por quatro rapazes, completamente diferentes uns dos outros. O sempre falante – muitas vezes tagarela – Porthos era loiro, além de alto e forte, comparado a um mitológico titã. Já Athos era alguém a quem se devia reverenciar. Exalava nobreza por onde passava, com sua postura imponente e sempre séria. Com cabelos escuros e olhos azuis, era um dos mosqueteiros mais respeitados da companhia. Aramis era um jovem com modos mais refinados e tinha uma aparência que era mais agradável que a dos demais. Tinha cabelos e olhos negros e era muito reservado, embora sagaz e prudente. E, por fim, o corajoso D’Artagnan, futuro tenente, embora fosse o mais jovem do grupo. Com cabelos e olhos castanhos, tinha seus atrativos e era o mais impetuoso.


Mas sua expressão ainda não era das melhores. Ainda estava um pouco abatido por conta dos últimos acontecimentos.


- D’Artagnan – disse Porthos. – Vamos, se anime! Você está perto de virar um tenente e ainda fica com essa cara? Aconteceu muita coisa durante aquele cerco, mas só o fato de eu poder me casar com a Senhora Coquenard... Só isso já me anima bastante!


- Ah, é claro, Porthos! – Aramis disse com um ar sarcástico. – Isso é porque te convém...


- O quê?! – o grandalhão se revoltou. – O que quer dizer com isso?!


- Parem com isso, vocês dois! – Athos interveio. – Isso não é coisa pra se comentar em público!


D’Artagnan continuava compenetrado. Não estava muito feliz, embora tivesse motivo para tanto. Tinha grandes amigos e fora promovido a tenente dos mosqueteiros, mas faltava-lhe algo. Faltava alguém... Faltava Constance...


Constance...


Seu coração ainda doía, pois ainda se lembrava do beijo que ela havia lhe dado, antes de morrer em seus braços. Essa ferida ainda não havia se fechado.


- Ei! Um mosqueteiro disse aos recém-chegados. – O capitão Tréville quer conversar com vocês quatro!


- Com a gente? – Athos perguntou. – Agora?


- É isso aí... Agora, já, neste momento!



O quarteto logo se adentrou na sala do capitão Tréville e deu de cara com ele, ainda dando uma baita bronca em outro mosqueteiro.


- Já é a terceira vez que você se mete em encrencas com os mosqueteiros do cardeal! Será que esqueceu que o rei baixou decreto, proibindo os duelos?


Olhou bem para o mosqueteiro à sua frente. Encarou-o com um olhar bem duro.


- Se eu souber que você se meteu em outra encrenca dessas, serei obrigado a expulsá-lo da companhia!


Tréville se virou para o quarteto, que assistia a tudo. Pediu para eles se aproximarem.


- Queria falar alguma coisa com a gente, capitão? – Athos perguntou.


- Sim, quero que conheçam Jacques de Villarmont. – disse. – E quero que andem com ele, para que não traga mais problemas à minha companhia!


O “encrenqueiro” fez cara de poucos amigos. Tinha cabelos loiros, mas mais claros que os de Porthos e tinha olhos azuis, da cor do céu. Suas feições eram bem delicadas, e seu porte físico era bem franzino.


- Que ótimo! – disse com sarcasmo. – Agora vou ter escolta particular!


A voz era meio feminina, e ecoou mais agressiva:


- Capitão, eu acho que já sou bem crescidinho pra ser acompanhado por quatro babás!


Encarou os quatro amigos com desprezo:


- Quem são eles? Os seus “protegidinhos”? Um só tem tamanho e fala demais! O outro cara acha que é um conde, barão ou sei lá o quê! Outro vai ser padre e, enquanto não ganha a batina, fica brincando de mosqueteiro! E esse outro não passa de um mero provinciano!


Depois desse discurso de Jacques, é claro que os quatro amigos ficaram indignados. Mas quem se sentiu mais ofendido foi D’Artagnan, que estava bem à sua frente. E sabe-se que o futuro tenente era um tanto pavio-curto...


- Você disse “mero provinciano”?


Tentava se segurar pra não voar pro pescoço do outro. D’Artagnan não tinha na paciência uma de suas maiores virtudes, mas não podia partir pra ignorância. Então, perguntou de novo:


- Você disse que sou um “mero provinciano”? O que você pensa que é pra me tratar assim? Vamos, me diga!


- Eu, com certeza, sou melhor que você! – Jacques disse com prepotência. – Não preciso ser tutelado pelo “futuro tenente” e seus “paus-mandados”! Sei me cuidar muito bem!


O sangue começava a subir ao rosto de D’Artagnan. Fechou os punhos com força. Aquele sujeitinho já estava lhe dando nos nervos com toda aquela esculhambação.


- Melhor do que eu?! – D’Artagnan berrou furioso. – Você se acha melhor do que eu? Então me mostra aqui!


Já ia desembainhando a espada, quando Tréville ordenou, erguendo a voz:


- BASTA, VILLARMONT! D’ARTAGNAN, CONTENHA-SE!


Tréville já estava perdendo a paciência com toda a confusão. Jacques de Villarmont era um mosqueteiro bem rebelde e adorava arranjar confusão com os mosqueteiros do cardeal Richelieu. Era difícil comandar alguém com um temperamento tão forte como aquele. D’Artagnan também não era nenhum poço de calma. Era imprevisível, teimoso e explosivo. Muitas vezes agia por impulso. Resumindo, era um cabeça-dura.


Mesmo com a ordem do capitão, D’Artagnan e Jacques se encaravam, com direito a faíscas saindo dos olhos de ambos. Era a clássica “antipatia à primeira vista”.


- Villarmont! Pode sair, já está dispensado!


Jacques virou as costas para D’Artagnan e saiu da sala. Este pensou: “Além de mal-educado, parece efeminado!”


- D’Artagnan, se acalme! – Aramis disse ao amigo.


Deu trabalho para ele esfriar a cabeça quente.


- Sujeitinho metido... – Porthos disse revoltado.


Athos aparentava calma durante todo o tempo. Olhou para Tréville, que tinha um ar preocupado. Perguntou:


- Capitão, por que não o pune por insubordinação? Poderia ter expulsado ele por reincidência!


- E por chatice, também! – D’Artagnan resmungou ainda aborrecido. – Vou ter muito prazer em ajudar o senhor a chutar o traseiro dele, capitão!


Tréville deu as costas para eles e aproximou-se da janela. Através dela, viu que Jacques estava no pátio, isolado dos demais.


- Eu ainda não o expulsei, porque ele é um espadachim com grande potencial. Ele me lembra um pouco o D’Artagnan, no início.


- Mas nunca agi como um metido a besta! – D’Artagnan protestou.


- Pode ser. – prosseguiu o capitão. – Mas ele tem potencial para ser um ótimo mosqueteiro do rei, apesar da rebeldia. E eu gostaria que vocês quatro o seguissem, para livrá-lo de futuras encrencas! E acredito – acrescentou – que vocês serão boa influência para ele.


O capitão dos mosqueteiros se virou de frente para o quarteto.


- Até agora, ninguém conseguiu gostar do Villarmont. Nem vocês. Mas acredito que vocês serão capazes de se esforçar para ganhar a confiança dele. Por isso, confio-lhes essa tarefa de se aproximarem dele...