Kyon No País Das Maravilhas?!

Capítulo 2 - Meu Conselheiro é uma Lagarta?!


Ao passar pela garota-porta, segui por uma estreita e comprida estrada, com todo tipo de plantas crescendo em volta, plantas que eu nunca tinha visto antes por sinal. Continuei andando sem rumo por um bom tempo, ainda me perguntando que raio de lugar era aquele, quando alguém me parou.


– Você está perdido?
– Está perdido?


Eu me virei e meu queixo caiu quando vi o Presidente da Sociedade de Computadores bem atrás de mim. Assim como eu, ele não usava o uniforme escolar, nem roupas comuns. Trajava uma calça preta, camisa branca com um colete roxo por cima, uma gravata-borboleta preta, e usava um tipo de cartola roxa.


– É você, Presidente??
– Infelizmente não ganhei a última eleição, então não sou - ele respondeu. Isso foi um tipo de piada?? Como ele queria que eu chamasse afinal? Eu nem sei o nome do cara, então só posso chamá-lo de Presidente
– Err.. você também caiu naquele buraco da árvore oca? - eu perguntei
– Ah, então você veio pela toca do Coelho?
– Pela toca do Coelho?
– Bom, acho que estava mais pra Coelha mesmo - eu respondi ainda confuso. Estava prestes a perguntar se a garota-porta Kimidori-san era mesmo namorada dele, quando percebi que um tipo de eco repetia tudo que ele falava - Escuta, tem alguma coisa fazendo eco por aqui? Tenho a impressão de que todas as suas frases são repetidas...
– Claro que são repetidas
– Claro que são repetidas
– Ah que ótimo - eu falei irônico - E posso saber quem as repete??
– Sou eu, é claro.


Eu ouvi a voz, mas a boca do Presidente não se mexeu pra falar. Então eu me virei lentamente e, atrás de mim, havia outro Presidente idêntico ao primeiro me observando.


– Waaaahh!!! P-P-Po-Por que tem dois de vocês aqui???
– Incrível, não é? Esse é o meu programa para criar hologramas - respondeu o primeiro Presidente, e só então eu percebi que ele carregava um laptop com ele - Não é perfeito? Parece até que somos gêmeos!


Eu concordei com um aceno de cabeça, pois estava assustado demais pra falar alguma coisa. Foi então que eu me toquei. "Gêmeos"? Eu caí por uma toca de coelho, encontrei uma porta falante, e agora gêmeos... claro que isso me é familiar... isso se parece com...


– Ei, Presidente... qual é o seu nome afinal?
– Não me chame de Presidente, já disse que não ganhei a Eleição! Eu me chamo Tweedledum. E esse é o meu clone, por assim dizer, Tweedledee. Mas pode-se dizer que somos irmãos gêmeos mesmo hahahaha!! - ele riu convencido, confirmando minhas piores suspeitas.


Eu conhecia aqueles nomes. Estavam no livro que li pra minha irmãzinha semana passada. E também no livro que eu estava lendo para fazer um resumo para a aula de amanhã, e que ainda preciso terminar de ler, por sinal. A toca do coelho, a porta-falante, os gêmeos com nome estranho... eu estava preso na história de Alice no País das Maravilhas. E parece que eu era a Alice. Ohh céus, é pior do que eu pensava... além de estar preso em uma história esquisita pra crianças, por que eu também tinha que fazer o papel de uma garota?! Que escolha mais errônea de personagens, essa, viu?!


– Então, Presi... digo, Tweedledum... como faço pra sair daqui e voltar pra casa? - eu perguntei, ainda mal acreditando no quanto eu era azarado
– Ora, e como vou saber? Nem sei onde é a sua casa! - ele respondeu dando de ombros
– Mas se está tão desesperado atrás de conselhos, por que não procura a Lagarta? - sugeriu seu clone-holograma Tweedledee
– A Lagarta...?
– Sim, sim, a Lagarta! Ela é muito inteligente, sabe de tudo sobre este lugar! - apoiou o Presidente Tweedledum
– Se tem alguém que sabe como sair daqui, com certeza é ela! - insistiu Tweedledee
– Certo, então... e onde eu encontro essa Lagarta?
– É só você seguir a estrada até o final! Você encontrará um enorme jardim, a Lagarta vive lá. Não tem erro! - falaram Tweedledum e Tweedledee ao mesmo tempo
– Tá certo então... vou procurar essa tal Lagarta, fazer o que - eu disse ainda inconformado - Obrigado pela aju.. - eu me virei novamente para agradecer, mas eles já tinham sumido. Sem outra opção, eu continuei andando, na direção da tal Lagarta.


Depois de caminhar pelo que me pareceu horas enquanto resmungava sobre a minha falta de sorte, a estrada terminou em um gigantesco e lindo jardim, com todo o tipo de plantas e flores que você possa imaginar, e que não possa também. Várias daquelas flores eu nunca tinha visto na vida e provavelmente não existiam no mundo real, tenho certeza.


Adentrei o jardim e caminhei sem rumo enquanto observava a flora peculiar daquele local, quando ouvi uma cantoria ao longe. Segui o som da voz, e encontrei o que devia ser a tal Lagarta: Uma garota de baixa estatura, com cabelos curtos e acizentados, trajando um vestido longo com mangas compridas e largas, todo verde. Ela estava sentada sob as pétalas de um enorme girassol, lendo alguma coisa em um idioma que eu não conhecia. Ao contornar o girassol, confirmei minhas suspeitas e vi que a garota-lagarta era na verdade Nagato Yuki. Ao invés de me surpreender com o fato da Nagato também estava nesse mundo de bizarrices, eu fiquei surpreso foi com o fato de ela estar cantando antes de eu chegar.


Eu a obervei por alguns segundos, pensando no que deveria dizer, quando ela, sem tirar os olhos do livro, falou:


– Quem és tu?
– Eu sou eu, ora essa... geralmente as pessoas me chamam de Kyon, mas... acho que nesse caso deveria ser Alice... e agora, qual é o certo??
– Se nem tu sabes quem és, não sou eu que vou saber - ela respodneu sem erguer os olhos, e virou uma página do livro
– Quem disse que não sei?! - rebati irritado - Eu sou... droga, me chame de Kyon mesmo que é melhor. Se começarem a me chamar por um nome feminino aí sim que eu vou parar no fundo do poço - eu falei mais para mim mesmo do que para ela - Ei, Nagato...
– Pensei que tinhas dito que se chamavas Kyon - ela me interrompeu
– Kyon na verdade é um apelido, mas isso não vem ao caso... e eu falei com você, Nagato!
– Eu sou a Lagarta. Por favor não invente apelidos estranhos para alguém que acabou de conhecer - ela falou com aquela voz monótona de sempre, acabando com as minhas poucas esperanças de ela saber como sair daquele mundo de loucos
– Bem, então... "Lagarta"... por acaso você sabe como sair desse mundo de loucos? - eu perguntei assim mesmo, embora já imaginasse a resposta. Mesmo ela não sendo a Nagato que eu conhecia, eu odiaria não receber as instruções da pessoa em quem eu mais confiava só porque não perguntei


Ela me olhou de cima à baixo e disse:


– Quem és tu?


Eu retiro a última frase que disse.


– Olha, não importa quem eu sou ou deixo de ser, só quero saber como sair daqui! E se possível, como voltar ao meu tamanho normal também, já que ainda estou do tamanho de um ratinho... você sabe ou não??
– Um lado te fará crescer - ela disse
– Um lado de quê?
– E o outro lado te fará encolher
– O outro lado de quê?? - indaguei impaciente
– Do cogumelo, é claro! - ela exclamou, me dando uma livrada na cabeça em seguida. Eu fiquei meio atordoado por causa da pancada, mas acho que pela primeira vez na vida eu vi Nagato Yuki zangada.


Olhei em volta e reparei que, embaixo do girassol no qual ela estava sentada, estavam crescendo montanhas de cogumelos gordos e mal-cheirosos.


– Você quer dizer esse monte de fungos embaixo do seu girassol?? Quer que eu coma isso?! – eu exclamei meio indignado. Como ela não respondeu, eu tornei a olhar para a Nagato e vi que a roupa verde que ela usava tinha ficado maior, a ponto de cobrir também seus pés e sua cabeça, de modo que eu não podia mais vê-la - Ei, Nagato! Está me ouvindo?! Você está bem?? Ei!!


Uma explosão de fumaça verde. Eu tossi um pouco, espirrei, e quando a fumaça se dissipou, a Nagato estava sobrevoando o girassol onde antes estivera sentada. Usava o mesmo vestido verde de antes, só que agora ele tinha mangas curtas e ia até os joelhos, e havia um par de lindas asas de borboleta em suas costas.


– Procure pelo Chapeleiro! Ele lhe dirá como sair daqui - ela falou lá do alto e em seguida saiu voando, me deixando mais boquiaberto do que nunca.


Eu pisquei algumas vezes enquanto me recuperava do choque de ver a Nagato voando, e resolvi sair daquele jardim e procurar pelo tal Chapeleiro. Mas não sem antes recuperar o meu tamanho original. Eu me abaixei e examinei os cogumelos cuidadosamente. Arranquei dois que não cheiravam tão mal e que não tinham aspecto de podre, um da direita e outro da esquerda. Mordisquei o da direita. Para minha surpresa, o gosto era muito bom. Lembrava panqueca de carne misturada com ovos de Páscoa, mas mesmo assim era ótimo. Tive uma surpresa maior ainda quando percebi que havia crescido mais de dez metros de altura e agora estava mais alto que todas as árvores daquele lugar. Depois de me recuperar do choque, eu lambi o cogumelo da esquerda e fechei os olhos, temendo o resultado. Para minha imensa felicidade, quando abri os olhos de novo, vi que tinha voltado ao meu tamanho normal. Finalmente alguma coisa estava dando certo! Agora só falta encontrar o tal Chapeleiro e dar o fora daqui!


Com esse pensamento positivo em mente (embora eu não acreditasse muito nele) eu segui em frente, à procura do Chapeleiro.



*** Próximo Capítulo: A Hora do Chá! ***