Kyon No País Das Maravilhas?!

Capítulo 3 - A Hora do Chá!




Depois de muito andar, e possivelmente me perder várias vezes, eu cheguei a uma casa com um belo e enome jardim, quase sem planta nenhuma e praticamente todo ocupado por uma comprida mesa retangular. Tinha muitos lugares vazios, e apenas os três últimos estavam ocupados: Na cadeira mais longe estava uma garota com longuíssimos cabelos negros, vestindo um paletó vermelho, gravata-borboleta branca, uma minissaia também branca e botas vermelhas de cano longo. Também usava uma cartola branca com um trevo de quatro folhas enfeitando a mesma; De frente para ela estava outra garota, também com cabelos compridos, embora não tanto quanto os da primeira, e totalmente ruivos. Vestia uma meia-calça preta, uma espécie de colant todo vermelho com um rabinho de coelho atrás, sapato alto e tinha um par de orelhas de coelho no topo da cabeça; E ao lado dela estava uma garotinha de uns 10 ou 11 anos, de cabelos curtos e castanhos, trajando um um vestido todo cinza, com rendas e fitas rosa na cintura e nas mangas fofas. Calçava um par de meias brancas que desapareciam por baixo da saia e sapatos rosa, e tinha uma cauda e orelhas de rato. A menina estava com a cabeça apoiada nos braços, dormindo profundamente em cima da mesa apesar do barulho que as outras duas garotas faziam.


Ao me aproximar mais alguns passos e vê-las mais de perto, pude reconhecer as três garotas e meu coração quase saltou pela boca com o choque: A garota de cartola era minha senpai Tsuruya-san; a garota com roupa de coelhinha era minha adorada Asahina-san; e a menina que misturava roupa de lolita com fantasia de rato era minha irmã mais nova. A Tsuruya-san ainda vai, mas como não reconheci minha querida Asahina-san logo de cara?! Já tive a felicidade de vê-la vestida de coelha várias vezes antes, como pude demorar tanto para reconhecê-la?! Na verdade acho que eu deveria estar me perguntando é como não reconheci minha própria irmã logo que a vi, mas estou mais preocupado é com o fato de ela também estar aqui, e não com não ter reconhecido ela logo de cara.


Me aproximei mais um pouco e quando estava a três cadeiras de distância das três, Tsuruya-san falou:


– Ei, você não pode sentar! Não está vendo que não tem mais lugares?!


Na verdade haviam muitos lugares vazios, a maioria deles, pra ser exato.


– Mas eu só ia...
– Se ela disse que os lugares estão ocupados, é porque estão! Gomen nee - falou a Asahina-san sorrindo. Ahh mesmo nesse mundo de maluquices, o sorriso dela ainda era como o sol que ilumina meu mundo escuro e frio!
– Que seja, vou embora então - eu falei meio emburrado, pensando se haveria alguma outra pessoa nesse lugar que poderia me ajudar
– Espere, espere, era brincadeira! - exclamou Tsuruya-san se levantando
– Pois é! Tem muitos lugares vazios, está vendo? Sente-se e fique à vontade! - completou Asahina-san, alargando seu sorriso. Era impressão minha ou até aqui ela agia como uma maid?


Ergui uma sombrancelha, ainda desconfiado, mas me sentei.


– Aceita um pouco de chá? - ofereceu a Asahina-san
– Ah... claro, obrigado - eu agradeci, segurando a xícara que ela me estendia. Beber o delicioso chá da Asahina-san nesse mundo de loucuras certamente me acalmaria - Então... por que vocês duas estão aqui também, hein? E por que até a minha irmãzinha está aqui??
– Ela é nossa amiga - Asahina-san respondeu com simplicidade. Tá, era até verdade que as duas tinham ficado amigas, mas isso não explicava porque minha irmã também estava aqui. Bom, mas se ela está junto da Asahina-san, eu não me preocupo tanto
– Aqui é sempre três da tarde, sabia? - falou minha senpai - Por isso aqui é sempre hora do chá. Falando nisso, aceita mais chá?
– Como posso tomar mais chá se ainda não tomei nenhum?! - eu perguntei erguendo uma sombrancelha
– Isso quer dizer que não pode tomar menos! Hahahaha! - Tsuruya-san riu da própria piada - Pergunta: Qual a diferença entre um corvo e uma escrivaninha?
– Uma charada, é? Deixe-me pensar - eu murmurei. Podia não ser a melhor hora, mas talvez uma charada e um pouco de descontração distraísse minha mente cansada e melhorasse meu humor - Vamos ver... qual a difrença entre um corvo... e uma escrivaninha...?
– Qual a diferença entre o que?! – exclamou Tsuruya-san, cuspindo o chá que tinha acabado de beber
– Qual a diferença entre um corvo e uma escrivaninha? - eu perguntei a resposta da charada
– Diferença entre um corvo e uma escrivaninha?! - Tsuruya-san gritou ainda mais alto. Eu fiquei surpreso da minha irmã não ter acordado com o berro dela - Meu Deus, ele é louco! Doido de pedra!
– Chamem o hospício, depressa! Ele tem mais parafusos soltos do que nosso relógio quebrado! - complementou Asahina-san, agarrando o braço da amiga de tanto medo
– Mas... mas foi... foi você quem disse isso!! Você começou!! - eu exclamei irritado, sacudindo um dedo acusador na cara da Tsuruya-san
– P-Por favor, não se exalte! - A Tsuruya-san recuou alguns passos
– A-A-Aceita um pouco de chá? - gaguejou a Asahina-san com uma xícara tremendo em suas mãos
– Não, eu não quero mais chá! - pela primeira vez na vida recusei o chá da Asahina-san - Olha só, eu lamento interromper o chá de aniversário de vocês, mas eu só quero saber como sair daqu...
– Chá de aniversário? - a Tsuruya-san me interrompeu - Mas isso aqui não é um chá de aniversário, meu caro. É um chá de desaniversário
– "Desaniversário"... e o que raios é isso??
– Permita-me explicar! - Asahina-san se levantou sorridente - Bom, trinta dias tem setembro, então... bem... quando não lhe dão parabéns, é... quer dizer... hihihi ele não sabe o que é um desaniversário! - ela riu por fim
– E nem você, pelo visto - eu não resisti em falar
– Ora, claro que sei! - ela falou, fingindo indignação - Mas só que isso... é... informação confidencial!
– Permita-me elucidar as idéias, meu jovem! - dessa vez foi a Tsuruya-san quem se levantou. E sem mais aviso, começou a cantar:


As estatísticas mostram que há
Apenas um aniversário por ano, apenas um!
– Mas existem 364 desaniversários,
Então temos muito que comemorar!
Portanto...

Um bolo de desaniversário pra mim
Pra quem?
Pra mim.
Pra ti.

Um bolo de desaniversário pra ti.
Pra mim?
Sim sim.
Ó sim!

Vamos comprimentarmos com uma xícara de chá
Um desaniversário pra tiiiii!


Com toda essa cantoria, minha irmã acabou despertando e , ainda sonolenta, cantarolou:


Brilha, brilha, morceguinho
Brilha bem devagarinho
Desce, desce, vem pousar
Cá no bule do meu chá.


http://www.youtube.com/watch?v=csC2gxCX03s&feature=related


Ela abaixou a cabeça em seguida e voltou a dormir. Incrível, não sabia que ela tinha um sono tão pesado... e nem que conhecia esse tipo de cantiga.


– Então, meu jovem, agora que explicamos, diga-nos... de onde viestes, e para onde vais? - perguntou a Tsuruya-san, servindo-se de mais chá
– Bom, tudo começou quando eu estava sentado à beira de um lago com o Shamisen...
– Interessante, muito interessante! - interrompeu Asahina-san - E quem é Shamisen??
– Ah, pensei que você se lembrasse dele... mas pensando bem, a "você" desse mundo não deve saber - eu falei mais para mim mesmo do que para ela - Shamisen é o meu gato...
– GATO??? – minha irmã berrou assustada, me deixando igualmente assustado. Sério, quase dei um pulo da cadeitra com o choque, mas ela sim literalmente saltou da cadeira e começou a correr pela mesa aos gritos. Na verdade, depois que me recuperei do susto, estranhei a reação dela, geralmente minha irmãzinha adorava brincar com o Shamisen
– Tem gato aqui?! Não, não, gato não!! Socorro ele vai me pegar!! Gato aqui não!!!
– Essa não, olha o que você fez! - exclamou a Tsuruya-san exaltada
– A manteiga, depressa! Passe a manteiga! - pediu Asahina-san desesperada.


Eu lhe entreguei o pote de manteiga e, enquanto Asahina-san segurava minha irmã, Tsuruya-san rapidamente passou uma colher de manteiga no nariz dela, e ela voltou a dormir tranquilamente. Sinceramente não sei como isso pôde acalma-la, mas que bom que ela parou de gritar.


– Ufa essa foi por pouco! - suspirou minha senpai - Então... o que você estava dizendo?
– Ahh quer saber, isso não importa - eu falei exausto - Só quero saber como encontrar o caminho de volta pra minha casa!
– "Sua" casa? - repetiu Asahina-san - Mas isso é impossível! Tudo aqui pertence... à Rainha!
– Rainha, é...? Acho que tinha algo assim na história - eu me lembrei vagamente - Então quer dizer que, se eu encontrar essa Rainha, poderei voltar pra casa!
– Provavelmente - respondeu Tsuruya-san, bebendo mais chá
– Ok então... e onde eu encontro essa Rainha?
– Você precisa falar com o Cheshire, só ele conhece a entrada para o Castelo! - respondeu Asahina-san sorridente
– E onde eu...?
– Atravesse o jardim e siga a estrada pela floresta - Tsuruya-san respondeu minha pergunta antes que eu a fizesse - O Cheshire mora lá, você certamente irá encontrá-lo!


Olhei para a floresta que começava do outro lado do jardim delas. Parecia ser bem escura e sombria, mas se esse era o único jeito de sair daqui, eu não tinha muita escolha. Me virei para agradecer à elas, mas as duas já haviam recomeçado sua cantoria do chá de desaniversário. Me perguntei se devia levar minha irmã comigo, mas ela não fazia outra coisa além de dormir... além do mais, aquela não devia ser a minha irmã do mundo real, então resolvi deixá-la ali mesmo.


Eu me levantei e saí discretamente da mesa, rumo à floresta onde morava Cheshire.



*** Próximo Capítulo: O Encontro com o Gato de Cheshire ***