Capítulo IV – Esse é meu lugar! O orfanato da Ilha Shannon!

— - Sofie - -

— Luke! – a urgência em minha voz era quase palpável, afinal de contas, o que merda aconteceu pra ele desmaiar desse jeito? A formiga mal o acertou, ele não teria motivos pra estar assim... É impressão minha ou ele está muito pálido? – Luke! – sacudo-o com força, o corpo se mexe, sem forças e esboçando nenhuma resposta.

— Isso já aconteceu antes? – o jovem que esmagara a formiga estava ao meu lado, não sei quando ele chegou aqui, mas o fez de modo que mesmo eu, uma assassina experiente, não o pude sentir chegando, não sei quem é ele, mas não é alguém normal; ergo meus olhos, encarando-o, não sei o que ele viu em meus orbes, mas isso o fez mudar seu semblante. - Acho que isso é um não. – ele limpa o liquido gosmento em suas mãos na folhagem que tinha sobre si, logo em seguida a jogando de lado e deixando-me ver um pouco melhor sua aparência, seus cabelos negros estavam bagunçados e com algumas folhas presas á ele, sua massa muscular não condizia com a força que demonstrara até agora, visto que não era muito elevada apesar de ainda poder ser considerada algo acima da média, seus olhos castanho-escuros pareciam atentos á tudo que acontecia diante de si, usava uma calça jeans rasgada nos joelhos e na coxa esquerda, seu cinto parecia ter sido feito com pele de réptil, usava uma camiseta branca de mangas longas que chegavam até seus pulsos, e por cima um colete preto sem mangas, a pele tinha o mesmo tom dos seus olhos. – Vamos, eu moro aqui perto, podemos cuidar melhor dele lá. – não sei se posso confiar nesse cara, mas analisando a situação como um todo, ele com certeza é a melhor opção, assinto, aceitando sua ajuda, ele agacha-se á meu lado, pega Luke e o põe sobre seu ombro, ele o levantava com tanta facilidade que fazia parecer que Luke era um boneco de pano.

Não importava o quanto eu tentasse, nada fazia passar aquela sensação de preocupação em meu peito, uma preocupação que eu não sentia fazia muitos anos havia aflorado e agora não parecia disposta a ir embora, ando de um lado para o outro dentro da sala, o piso de madeira ressoava com as pisadas de minhas botas, sento-me em um sofá de madeira e logo me levanto, inquieta, vou até a janela e vejo algumas crianças correndo e brincando com uma bola em um campinho de terra batida, o lugar á qual aquele cara nos trouxe era um imenso casarão, cheio de algumas crianças e jovens, ao longe era possível ver a floresta.

Quem olha desatentamente pode pensar que é só uma floresta como todas as outras, mas acho que nem todos os livros do mundo poderiam explicar o quanto essa floresta era peculiar; enquanto era conduzida para cá, fiz questão de olhar melhor cada detalhe dela, a fauna e a flora que costumam ser muito pequenos tinham seu tamanho bastante aumentado enquanto que aqueles que normalmente eram mais favorecidos em questão de porte, ali se encontravam em tamanhos diminutos, o que com certeza agregava certa misticidade ao lugar.

Entre a floresta e o terreno que parecia pertencer a casa era possível ver um riacho que serpenteava desde o interior da floresta até o lado que deveria dar na cidade, provavelmente a ilha era separada apenas na superfície por aquele rio que na verdade deveria ser apenas água do mar correndo sobre a terra, provavelmente o isolamento geográfico a qual foram submetidos foi o principal motivo da mudança natural da fauna e flora da floresta, o que explicaria o porquê do resto da ilha não ser da mesma forma, o que explicaria ainda mais o porquê do mercado daqui ser tão conhecido, afinal estas espécies não deveriam ser encontradas em nenhum outro lugar do mundo, o que deve fazer os preços das mesmas dispararem, principalmente dos animais mais perigosos, como aquela formiga que nos atacou.

Ouço uma porta de madeira se abrir com um rangido característico, viro-me bruscamente e vejo que de dentro da sala saem duas pessoas, o jovem de mais cedo aparece primeiro, seu cabelo agora parecia um pouco menos bagunçado e finalmente livre de folhas, ele era acompanhado por uma garota, ela era baixa e franzina, usava um vestidinho branco simples que lhe vinha até pouco após os joelhos, ao redor do pescoço trazia um estetoscópio, será que ela é médica mesmo sendo tão jovem?

— Como ele está? – precipito-me, sendo relativamente dura no questionamento.

— Bem... – a jovem encolhe os ombros e respira fundo, como se tomasse coragem para falar. – A menos que ele tenha algum tipo de doença nova e completamente desconhecida... – ela abaixa a cabeça timidamente, seus dedos encontravam-se nervosamente uns com os outros. – Ele está em um processo de exaustão absoluta. – ela faz uma pequena pausa. – O corpo dele foi mundo além do limite, e também detectei que ele estava com hipoglicemia, provavelmente não vinha se alimentando bem. – ela ergue a cabeça novamente, encerrando seu diagnóstico. – Nada que dois dias de descanso e boa alimentação não resolvam. – ela finalmente expira o ar em seus pulmões, aliviada, o jovem a seu lado sorri, dando um tapinha reconfortante nas costas dela.

— Ele vai ficar bem, não se preocupe, nós vamos cuidar bem dele aqui. - arqueio a sobrancelha, desconfiada.

— E quem seriam vocês? E onde exatamente é “aqui”? – apesar de toda a desconfiança que passei em minha voz, não creio que eles irão nos fazer mal, afinal de contas, já tiveram várias oportunidades de fazer isso e nada tentaram, mas é melhor eu não baixar a guarda.

— Eu me chamo Zodick. – o jovem é o primeiro a falar. – Essa aqui é Bruna. – ele sinaliza para a pequena garota ao seu lado, a mesma acena com a cabeça, parecia ser bastante tímida. – E “aqui” é o orfanato da Ilha Shannon.

— Isso explica as crianças correndo de um lado pro outro. – murmuro para mim mesma, mas provavelmente eles ouviram, já que Bruna responde.

— Zodick construiu esse lugar para que crianças sem os pais por todo o East Blue pudessem ter um lugar seguro pra viver. – ela novamente encolhe os ombros, abaixando a cabeça. – Ele salvou a todos nós... – assim que ela termina de falar, a porta que dava acesso ao lado exterior da casa se abre e por ela adentra um jovem por volta de seus quatorze anos, seus cabelos são alaranjados e seu rosto coberto por sardas, usava uma camisa azul desgarrada um pouco suja e uma calça jeans folgada.

— Lenny. – chama Zodick, saudando o garoto. – Como foi?

— “Iaê” - ele fala sorrindo. – Cheguei agora do mercado e dessa vez todos disseram que você se superou; aquela coisa era imensa! Quase não consegui carregá-la. – espera aí... Ele carregou aquela formiga imensa sozinho? Que tipo de força insana esses caras têm? – Consegui negociá-lo por um monte de coisas, vai dar pra alimentar todo mundo por um mês! – o rosto de Zodick se enche de alegria e ele bate punho com Bruna, comemorando a notícia, a garota parecia tão ou até mais alegre que os dois garotos. – Ah, tem um cara na saída da cidade que quer falar com você. – Lenny senta-se no sofá de madeira, esparramando-se sobre o mesmo.

— Quem é? – Zodick questiona-o, não parecia ter ideia de quem se tratava.

— Nunca vi mais gordo, ele disse que se chamava Eagle, ou algo assim. - a expressão de Zodick muda para apreensão por um momento, mas logo volta ao normal, provavelmente não queria que os dois percebessem, mas isso não funcionaria tão bem comigo.

— Entendo. – ele responde normalmente. – Lenny, Bruna, vocês são os mais velhos por aqui, deixo os cuidados dos menores e de Luke com vocês, tenho alguns assuntos pra resolver. – ambos assentem, não parecia a primeira vez que eles teriam que cuidar dos mais novos.

— Posso ir com você? – ele me fita, estranhando o pedido. – Bem... Eu e Luke vamos precisar de suprimentos para continuar a viagem, então pensei em ir ao mercado da cidade, mas não conheço nada por aqui, então talvez você possa me mostrar como chegar lá? – ele fica calado por alguns segundos, como se ponderasse todas as suas opções.

— Está bem. – ele finalmente responde. – Venha. – assinto, seguindo-o para fora da casa, era por volta de meio-dia e o sol estava em seu ápice, pouquíssimas sombras davam as caras por todo o caminho, por onde passássemos as crianças viam Zodick e acenavam extremamente felizes, todas pareciam gostar dele.

— Você parece bem querido por aqui... – fito-o enquanto andávamos. - De onde veio a ideia de construir o orfanato?

— Bem... – ele inicia a resposta. – Quando eu era mais jovem, me separei da minha família e fui adotado por um confeiteiro local, os bolos dele eram bem famosos por todos esses mares. As pessoas vinham de longe para comprar os bolos dele. Isso deu dinheiro para ele me criar, e me ensinar muitas coisas… - Ele faz uma breve pausa. - Ele morreu alguns anos atrás e deixou todo o dinheiro pra mim. Desde então eu vivi sozinho, até que conheci Bruna e Lenny, eles eram orfãos e estavam sem casa, trouxe-os para viverem comigo e em meu tempo livre caçava alguns dos animais da floresta para vender e arrecadar uma grana extra. – ele faz uma pequena pausa, como se apreciasse cada pequena recordação que vinha à sua mente. – Lenny começou á me ajudar na venda dos animais caçados e a Bruna começou a aprender medicina por ler os livros que haviam na biblioteca pública da cidade, depois disso ela começou a fazer atendimentos nas pessoas da vila, começamos a juntar dinheiro até conseguirmos comprar um terreno, lá construímos o orfanato e começamos a procurar outras crianças que pudéssemos ajudar. – abaixo a cabeça, prestando atenção no caminho.

— Entendo... – ele me fita estranhamente, talvez tenha notado algo de diferente na minha voz.

— O que foi? Você parece triste. – ele parecia preocupado.

— Talvez se existisse esse orfanato antes, as coisas poderiam ter sido diferentes pra mim... – murmuro para mim mesma, o peso em minha voz parece desencorajá-lo a descobrir mais.

O caminho de terra à qual vínhamos seguindo até aquele momento finalmente chegará à uma bifurcação, Zodick para à frente da mesma e aponta para a esquerda.

— Aquele é o caminho que leva ao mercado, siga por ele e você chegará diretamente a ele e encontrará os suprimentos que precisam. – fito com atenção o caminho ao qual ele apontara.

— Você não vem? – questiono-o e ouço os grãos de areia moverem-se abaixo de seus pés quando ele se vira para o outro lado.

— Não, o tal Eagle me espera na entrada da cidade, o caminho da direita. – ele acena com a mão, se despedindo e tomando seu caminho, pra ser sincera, quanto mais penso á respeito, mais acho estranho essa história toda, mas resolvo fazer o que qualquer pessoa normal faria em meu lugar... Esconder-me nas sombras e segui-lo de maneira indetectável para descobrir quem é esse cara e que segredos ele esconde… Todo mundo faria isso, né?

— - Luke - -

Lentamente começo a me sentir revigorado, ainda me sentia fraco, as extremidades de meu corpo estavam dormentes e meu estômago rugia de fome, porém minha mente lentamente começa a voltar às condições normais até que começo a escutar duas pessoas conversando.

— Fala a verdade, Lenny. – A primeira voz era delicada e parecia divertir-se, fala como se soubesse de algo além do que estava sendo dito. – Por que você voltou pela saída da cidade e não pela do mercado se você foi pra lá?

— Por nada. – a outra voz era mais grave e parecia desconcertada com o questionamento que era levantado a seu respeito. – Eu estava com vontade de andar um pouco mais, só isso. – a voz feminina solta uma risadinha abafada.

— Você é o cara mais preguiçoso que conheço, você nunca ia querer andar mais! – ela gargalhava ao constatar aquilo. – Fala a verdade, você tava escalando as árvores da cidade atrás de bananas né? – um silêncio desconfortável se instala no local, até ser finalmente quebrada pela voz do tal Lenny.

— Sim... Eu fui. – escuto o som de palmas batendo e um gritinho de animação.

— Aha! Eu sabia! Agora o Zodick me deve quinze berries! – a voz da garota parecia bastante feliz.

— Não acredito que vocês apostaram isso! – a voz dele mostrava visível indignação, só então é que percebi o cheiro maravilhoso que se espalhava no local.

— Acho que a comida tá pronta. – constata a voz feminina, ao ouvir aquilo, imediatamente meu corpo se re-energiza, abro os olhos e subitamente me ponho sentado sobre a cama, os dois, que agora vejo que são adolescentes desconhecidos, parecem assustar-se com minha recuperação repentina.

— Comida? – minha voz soa mais rouca que o normal e tenho quase certeza que estou salivando, o jovem cujo nome era Lenny sorri abertamente, fitando a garota à seu lado.

— Parece que o acordamos, Bruna. – ele ergue o punho fechado acima da cabeça. – Vai lá pegar alguma coisa pra ele comer, deve ta faminto. – ela o fita, indignado, também erguendo sua mão.

— Tá me achando com cara de sua empregada? – eles iniciam uma disputa de Pedra-Papel-Tesoura que é vencida por ele logo na primeira tentativa.

— Sim, tô, agora vai logo. – ela bufa irritada, dando as costas e saindo do cômodo pisando duro. – Iaê. – ele acena com a mão, sentando-se em uma cadeira ao lado de minha cama. – Eu sou Lenny, qual seu nome?

— Eu sou Luke Hardy. – olho ao redor, percebendo que não faço a mínima ideia de onde estou. – Que lugar é esse? Cadê a floresta? E a Sofie? O que foi que aconteceu? – inúmeras perguntas enchiam minha mente então coloquei pra fora o máximo que consegui , Lenny faz um sinal de menos com as mãos.

— Calminha aí, vou te explicar. – ele tira de dentro de seu bolso uma banana, descascando-a e mordendo a ponta. – Você desmaiou na floresta, Zodick, o cara que derrotou aquela formigona, trouxe vocês pra cá e depois saiu com sua amiguinha, eles foram até a cidade. – olho para ele e pisco um par de vezes, meu cérebro parecia demorar para processar tudo.

— E que lugar é esse? – ele termina a banana, jogando a casca pela janela.

— Ah, aqui é o orfanato da Ilha Shannon. – giro a cabeça de lado, não compreendendo.

— O que é um orfanato? – ele me olha estranho, como se não acreditasse na minha pergunta.

— É um lugar criado para que as crianças que por algum motivo foram separadas de seus pais possam ter algum lugar para morar. – explica ele.

— Ah, entendi, é tipo uma colônia de férias, parece divertido. – ele arqueia a sobrancelha.

— Não é bem isso, mas deixa quieto. – a porta se abre e a garota, que tinha o nome Bruna, trazia uma bandeja em suas mãos, sobre ela um prato fundo com alguma comida tão quente que a fumaça voava acima da mesma. – Agora pare de gastar energia e coma um pouco. – meu estômago ronca uma última vez antes da refeição e sorrio alegre.

— Não precisa falar duas vezes.

— - Sofie - -

Seguir Zodick se tornou mais simples do que imaginei que seria, aos lados do caminho que ele tomou havia uma vegetação de mais ou menos um metro e meio que se estendia por todo o caminho e facilitava minha locomoção já que eu podia ir atrás dele sem que ele me notasse devido as grandes folhas.

Após alguns minutos andando, avisto um homem parado no meio da estrada, ele era careca e sua cabeça brilhava ao sol, suas roupas estavam cobertas por um manto preto, seus olhos eram afiados, como se seus orbes pudessem enxergar perfeitamente tudo á seu redor, em seu pescoço ele possuía uma marca que me faz sentir um arrepio na espinha no momento que a vejo.

Havia lá um rosto de uma águia negra marcada a fogo, um símbolo conhecido e temido por todo o East Blue. Existe uma família de assassinos que vinha ascendendo rapidamente em fama e poder, expandindo suas operações por todo o East Blue, eu diria até que atualmente eles são os únicos que podem se comparar à lendária Germa 66, e esta família é a Marui.

Dentro da Marui existem algumas regras especiais, como o fato de seus integrantes só poderem lutar através das artes marciais ensinadas dentro da própria família, onde cada segmento se divide em aprender um dos estilos, cada um deles baseado em um animal diferente; quando se chega ao nível mais alto de aprendizagem de um estilo, uma marca é feita à fogo com o símbolo do estilo e lhe é dado o título de mestre. Aquele símbolo em seu pescoço significava que Zodick estava diante de um mestre do estilo da Águia da família Marui.

— Finalmente apareceu. – a voz de Eagle ressoa, grave e rouca como era de se esperar, enquanto ele se aproxima. – Achei que não iria dar as caras.

— Quem é você? – Zodick inquire seriamente.

— Se você viu minha marca, tenho certeza que sabe. – Zodick estreita os olhos e prossegue.

— Um mestre da Águia da Marui... O que faz aqui? – Eagle abre um sorrisinho sinistro.

— O Pai me enviou. – os músculos das costas de Zodick parecem se enrijecer, tensos, seus punhos estavam fechados e posso ver que a ponta de seus dedos estavam brancas de tanto apertar.

— Diga a ele que não pretendo voltar a vê-lo. – Eagle dá alguns passos à frente.

— Creio que não entendeu. – ele segura o pulso de Zodick. – Ele não está pedindo. – a seriedade no tom de voz de Eagle era assustadora. – As ordens do Pai foram claras: Trazer de volta o único mestre do Leão da família Marui. – Mestre do Leão da Marui? O que isso quer dizer? Zodick já fez parte da Marui? E que história é essa? Nunca ouvi falar de nenhum estilo de luta do Leão na Marui.

— Eu não sou mais o mestre do Leão. – o tom de Zodick era severo, mas o olhar de Eagle não parecia disposto a recuar.

— Não é? – ele ergue o pulso de Zodick, afastando a manga de sua blusa, em seu antebraço, em meio à inúmeras cicatrizes, havia um rosto de um leão marcado a ferro, o símbolo do Leão da Marui. – Essa marca não me diz a mesma coisa. – Zodick bruscamente solta seu braço. – Sabe por que o símbolo é marcado a fogo em nossa pele? Para que sempre faça parte de nós. – os olhos dele brilhavam malignamente. – Essa é a verdade, não importa o quanto queira você nunca deixará de ser parte da Marui.

— Eu nunca mais usei e nem voltarei a usar esse estilo e esse nome novamente. – Zodick dá as costas, mas antes que ele pudesse se afastar, três homens vestidos de preto o cercam.

— Estes são meus discípulos, eles não te deixarão passar, mas não se preocupe, não iremos levá-lo de volta ao Pai contra sua vontade, vamos só... Convencê-lo. – o tom dele demonstrava uma intenção assassina fortíssima, e os quatro fecham o cerco ao redor de Zodick, limitando o espaço que ele teria para se movimentar.

— Eu não irei com vocês. – a voz de Zodick era resoluta.

— Todos dizem isso... No início. – Eagle segura o ombro de Zodick, que se solta bruscamente, tentando acertar-lhe um soco no meio da face, Eagle para seu punho com a lateral de sua mão sem o mínimo esforço, como se a força monstruosa de Zodick tivesse sido completamente anulada. – Que ousadia a sua Zodick. – ele mantinha seu rosto inexpressivo. – Pensei que lembrasse que um guerreiro sem estilo de luta fosse completamente obsoleto diante da força dos estilos da Marui. – ele dirige um olhar aos seus alunos. – Vamos lembrá-lo disso. Destruam-no. – as palavras dele não pareciam estar brincando e isso dispara uma onda de apreensão no meu corpo.

O que será que vai acontecer com Zodick?

— - Zodick - -

Após minutos, meu corpo finalmente se rende, caio sobre os joelhos, meu rosto devia estar completamente ensanguentado, meus músculos pareciam exaustos e minha pele ardia como brasas, gotas de sangue manchavam o chão e minha mente me dizia o que já estava óbvio, não posso ganhar desses quatro sem usar o estilo do Leão.

Se for desta maneira, prefiro a morte.

— Que olhos convictos temos aqui. – Eagle segura meu queixo com sua mão, forçando-me a encará-lo. – E então, o que me diz? Virá conosco ao Pai? – encho meu peito de ar e uso-a para dar força à cuspida que realizo, a saliva voa e para sobre o rosto de Eagle.

— Vai precisar fazer melhor que isso, palhaço. – Eagle me encara inexpressivo por alguns segundos, logo depois abrindo uma grande gargalhada e soltando meu rosto.

— Parece que temos alguém bem duro na queda aqui. – suas feições mudam para fúria e ele acerta um violento chute contra meu estômago, meu corpo se torce de dor e cuspo sangue, caindo com o rosto no chão. – Vamos ver se você continua tão resoluto de sua resposta depois do que faremos ao seu tão amado orfanato hoje á noite. – uma sensação de desespero fortíssimo se espalha por meu corpo ao ouvir aquelas palavras, não posso deixar que eles toquem nos garotos do orfanato! Eu não posso deixar isso acontecer!

Tento inutilmente me levantar, meu corpo parecia não ter mais força restando, ergo minha cabeça, o sangue embaçava e prejudicava minha visão, mas posso ver com sucesso os quatros homens se afastando, voltando para dentro da cidade, pelo menos por enquanto o orfanato não estava em perigo.

Que droga... Não pude fazer nada contra eles... Um mestre da Marui não pode ser derrotado por uma luta sem estilo como a que venho usando... Minha única chance de lutar contra eles é usando o estilo do Leão... Não. Não posso fazer isso. Eu nunca mais usarei aquele estilo de novo. Nem que eu precise morrer para isso.

Sinto um frio incômodo recair sobre mim, primeiro em forma de pequenas gotas de chuva e logo após por uma furiosa torrente de água, poças de água rapidamente se formavam no chão, o cheiro de terra molhada se ergue, um leãozinho do tamanho de uma formiga corria desesperado, buscando algum lugar para se abrigar. Aquele leão devia entender o que eu sentia, sentindo-se tão pequeno e fraco diante dos fenômenos que se mostravam diante de si, talvez eu devesse fazer como ele... Desesperar-me em busca de um refúgio.

— Ei, se levanta. – uma voz feminina se ergue à minha frente, me chamando duramente, ergo a cabeça com dificuldades, vendo apenas a silhueta da ruiva. – Quanto tempo pretende ficar deitado aí? Levante-se, temos que ir pro orfanato e nos prepararmos pro ataque deles.

— Você... O que faz aqui? – tento me pôr sentado, mas acabo precisando da ajuda dela para tal.

— Vim te acordar. – ela responde duramente, me ajudando a levantar. – Se você pretende parar aqueles caras, precisa voltar.

— Eu não vou conseguir sozinho.

— Cala a boca e para de se lamentar. – fito-a, seus olhos eram intensos e ela parecia zangada. – Você me disse que construiu aquele orfanato para ajudar as crianças que precisavam de ajuda, e agora pretende deixar que esses caras venham aqui e façam o que quiser com ele? Se toca! Você precisa se reerguer, só você pode defender o orfanato, e se você não o fizer, o que vai ser das crianças que ainda precisam da sua ajuda? Vai deixá-las abandonadas à própria sorte? – um silêncio incômodo se instala entre mim e ela.

— Você está certa... Não posso fraquejar agora... – ela põe meu braço ao redor de seu pescoço, me apoiando com seu corpo.

— Ótimo, agora, vamos voltar.

— - Continua - -