Acordei eram 6hrs da noite, queria dormir mais, mas escutei um barulho vindo da cozinha. Só poderia ser o Shou, não tive tanto descanso quanto achei que teria. Decidi ficar mais tempo na cama pensando na vida, na minha e na que estava crescendo dentro de mim, as coisas foram acontecendo tão rápido que não pensei em nomes, sei que ainda está cedo, mas é melhor adiantar as coisas. Pensei em quais seriam os nomes que o Ren talvez fosse gostar, não que eu fosse o deixar escolher, mas talvez deixasse ele dar palpites, eu com certeza escolheria o nome. Não vou carregar uma criança na barriga por 9 meses e deixar ele escolher o nome, eu tenho todo direito de ser egoísta nesse momento. Eu quero um menino, mas se for uma menina vou ama-la do mesmo jeito.

Pensei em alguns nomes se for menino, não quero nomes japoneses. Se for um menino pode ser Jason, ou James, ou Antonny, ou Peter, ou Oliver, são tantos. Já se for menina tem um nome que eu sempre gostei, vi uma vez em um livro, mas não sei se vai agradar a todos. Será Christa, soa bem, Christa.

Não vou pensar em nomes agora, melhor deixar pra depois. No momento a melhor coisa que tenho a fazer é comer, e tentar me livrar dos problemas, começando pelo Shou e sua mania de dormir aqui, isso tem que parar.

Quero resolver as coisas logo com o Ren, mas isso é complicado, eu sou complicada. Tenho medo das coisas que podem acontecer, ele não é nenhum santo, mulherengo. É o homem mais desejado do país, todas as mulheres dariam tudo pra ter ele apenas por uma noite, como logo eu iria ficar com ele, sem chance. Verdade que ele quer ficar comigo, mas é por causa do bebê, não por outro motivo.

~

Estou na sala, sentada ao lado do Shou, assistindo a um programa de tv qualquer. Fazia um tempo que estávamos assim, já que ele disse que não ia embora. Não posso fazer nada, porque o apartamento é dele, eu simplesmente perguntei se ele poderia me deixar sozinha por pelo menos um mês, e ele disse que não. A única coisa que posso fazer é aceitar isso.

Ele está muito calado hoje, não entendo por que, já que ele nunca foi assim de ficar muito tempo em silêncio, especialmente comigo.

– O que aconteceu, Shou? - decido acabar com o silêncio incômodo.

Ele olha pra mim por alguns instantes, depois volta a dar atenção a tv, como se ela fosse mais importante do que. Hã? Como assim?

– Não sei se você percebeu, mas eu te fiz uma pergunta. – Falo já irritada, como se ele podesse dar mais atenção a uma tv do que a mim.

Ao que parece eu sou muito insignificante mesmo, ou ele está tentando me irritar por eu ter pedido que ele fosse embora. Desisto de perguntar qualquer coisa, ele só vai me ignorar mesmo. Levanto-me e vou pra cozinha, preciso comer de novo, estar grávida dá fome. Pego algumas pipocas no armário e coloco no micro-ondas, vou na geladeira pra conferir se tem algum refrigerante, e só tem uma coca-cola que com certeza não fui eu que comprei, deve ter sido ele.

Enquanto eu estava esperando a pipoca ficar pronta, pego alguns doces que tinha na geladeira e começo a mastiga-los. De repente ouço os passos do Shou em direção de onde eu estava. Ao que parece ele decidiu dar o ar de sua graça.

– Kyoko, eu vou sair. Não sei que horas volto, qualquer coisa ligue pra mim.

Ele simplesmente disse isso e saiu, não me deixou falar nada.

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Já fazia algumas horas que o Shou tinha saído, eu estou na minha cama tentando dormir, cansada eu estou, mas não consigo dormir. Com certeza aconteceu alguma coisa que o Shou não quer me dizer, mas não faço ideia do que seja. Antes ele confiava em mim pra dizer qualquer coisa, mas agora parece que nossa amizade realmente mudou, achei que poderíamos voltar ao que éramos antes, mas eu não estaria apaixonada por ele, não de novo.

Não sei pra onde ele foi, estou muito preocupada, não sei por que já que não era pra eu me importar tanto. No momento eu deveria apenas me importar com o meu bebê e comigo, nossa saúde, nada mais.

Por alguma razão eu acabo me lembrando dos pais do Shou, e de antes de virmos pra cá, de alguma forma éramos felizes, era bom estar com ele, com eles. Faz tempo que não nos falamos, não tenho nenhuma notícia deles, e não sei se o Shou ainda mantém contato, ele nunca me falou nada sobre isso, e eu também nunca perguntei. Talvez eu devesse ligar pra ele pra saber como estão, e quem sabe um dia eu poderia visita-los com minha filha.

Reviro minhas coisas tentando achar o número deles, nem sei se ainda tenho, espero que sim. E talvez nem queiram falar comigo depois de tanto tempo sem manter contato. Talvez devesse lhes contar tudo que passou até hoje, porque eles, de algum modo, são minha família. Acho o número deles embaixo de umas fotos antigas que estavam dentro de uma caixa.

~

Faz 1hr que estou com o telefone na mão, já disquei o número deles várias vezes, mas estou nervosa demais pra ligar. Não sei se ele estão chateados ainda, claro que estão. Reúno toda coragem que tenho e coloco pra chamar.

Tuu~ Tuu~

– Alô?


~


Estou correndo, correndo de um jeito que não poderia. Chamei o primeiro taxi que vi na rua, sem nem ao menos saber pra onde iria, só sei que tenho que encontra-lo agora. Por que ele não me contou? Por que aguentou esse tempo todo sozinho?

Liguei pra ele nas pressas, preciso saber onde está, e pra onde estou indo.

– Shou, onde você está? - Pergunto antes mesmo que ele tivesse a chance de falar qualquer coisa.

– O que foi, Kyoko? Eu estou no meio de uma entrevista. – Diz marrento, como sempre.

– Apenas, apenas me diga onde você está, Shou. – Quase não consigo segurar as lágrimas que ameaçam cair.

– Tudo bem, eu estou no estúdio xxx.

Respiro fundo, e digo ao motorista onde ele deve ir.

– Ok, eu já estou chegando aí. Não saia, Shou. Por favor, só me espere, eu estou chegando pra você. – Digo e desligo.

~

Entrei como uma louca no estúdio, não queria nem saber. Perguntei a algumas pessoas onde estava acontecendo à entrevista, apontaram pra um local e fui correndo até lá. Chegando lá o vi sentado num sofá, acho que ele estava respondendo alguma pergunta, não sei. A única coisa que eu vi foi ele, então eu corre e o abracei, sabia que nós estávamos sendo filmados, mas eu não poderia me controlar, não agora. No momento, ele precisa de mim mais do que qualquer pessoa.

O abracei com todas as minhas forças, enquanto pessoas murmuravam e se perguntavam o que estava havendo. Ele também está confuso.

– Kyoko, o que aconteceu? - Ele perguntou, mas eu só poderia abraça-lo mais forte, queria poder transmitir o quanto de amor que ainda restasse dentro de mim pra ele.

– Eu sinto muito, Shou. Eu sinto muito. – Disse enquanto chorava. – Por que você não me contou? Por que você aguentou isso sozinho? Como você está conseguindo controlar essa dor?

Acho que agora ele sabe do que estou falando, pois ele me abraçou com todas as forças que tinha e chorou, chorou como eu nunca o vi chorar antes. Chorou como se o mundo dele tivesse sido completamente destruído, e eu acho que foi.

– Por quê, Kyoko? - Gritava enquanto chorava e se agarrava ainda mais em mim. - Eu não pude nem me despedir, será que fui tão mal assim? Por quê, hein? Por quê?

Eu não poderia aguentar aquilo, estava tentando ser forte por nós dois, mas está muito difícil. Tenho que confortá-lo de alguma forma. Só quero que ele saiba que pode contar comigo de novo, eu vou ficar ao lado dele pra sempre, se for necessário.

– Não se preocupe, eu sempre vou estar aqui com você, eu vou cuidar de você. Pode chorar, querido, eu estou aqui, você pode confiar em mim. Eu sempre vou estar aqui quando você precisar, você sabe disso.

Ele não conseguia para de chorar, e todas as pessoas nos olhavam sem entender nada, algumas até choravam junto. Com certeza não teria como elas não chorar, dava pra sentir a dor e a tristeza dele só de olhar, mas não poderíamos nem imaginar a dor que ele estava sentindo, isso só ele sabe como é, só ele sente.

Fazia carinho em sua cabeça enquanto, cantarolava uma música que antes sua mãe costumava cantar para fazê-lo dormir.

Mesmo que o sol não nasça está manhã

Mesmo que a lua não surja está noite

Eu nunca poderia ficar triste, pois vejo seu brilho de anjo todos os dias...