Judith

Capítulo 9 – Foguete


Felicity Smoak

Já revirei o closet de cabeça para baixo, mas não consegui encontrar nada que se adequasse perfeitamente ao jantar de Thea. Não pode ser nada muito elegante ou formal demais só que chegar ao vestido ideal não é fácil, preciso de tempo, ir ao shopping e pegar algumas referências, afinal de contas, Thea nos pegou de surpresa. Então decidi não arriscar muito escolhendo um vestido azul marinho que desenha bem as curvas do meu corpo, os meus pés vão ser massageados por Gucci’s e o cabelo solto com cachos tímidos sobre os ombros.

Eu não deveria estar tão animada assim para esse jantar, porque de certa forma o meu acompanhante da noite é o irmão da anfitriã e, bom, eu só tive a noite mais constrangedora da minha vida com ele. Oliver e eu não nos vimos desde o acontecido, a única vez que trocamos poucas palavras foi durante o telefonema nessa tarde e eu juro que tentei esconder a vergonha que sufocava a garganta. Porém, mesmo de baixo de toda a tragédia confesso que estou animada com a ideia de voltar a vê-lo, oh céus, estou muito ferrada é como se um comichão viesse desde o fundo da minha alma atingindo em cheio o meu peito.

Lá vem o meu problema, ele está com Judith em um dos braços que usa um vestidinho dourado estilo ao da princesa Bela. Os dois estão conversando sobre um dos desenhos favoritos de Judith, chega a ser assustador como Oliver lida bem com esses assuntos, ele sabe tudo sobre animações e as suas discografias. Eu continuo descendo as escadas com cautela por conta do salto-alto, o olhar de Oliver se torna fixo quando me encontra e, novamente, estamos caindo naquele looping terrível.

— Quer uma mãozinha? — Oliver brinca ainda de maneira tímida oferecendo a mão macia.

— Por favor. — seguro sua mão até conseguir terminar o último degrau. Judith sorri quando me encontra levanto os braços em festa e Oliver continua vidrado sem perder nenhum dos meus movimentos.

— Acho que estamos combinando.

Oliver sorri.

E não é que estamos mesmo?

Ele veste um conjunto social azul marinho extremamente alinhado, a camisa branca com botões pretos. Eu deveria me jogar em uma fogueira assim como faziam com as bruxas na época da Idade Média, porque tenho que ser terrivelmente sincera ao concordar com a minha pobre consciência que grita o quanto Oliver está lindo. Nada de blusões xadrez, boné surrado de basebol ou àquela jaqueta horrível de badboy destemido.

— Aconteceu alguma coisa com você? Andou tendo contato com alienígenas?

A minha pergunta é séria, arrancando uma confusão de Oliver.

— O quê? Não aconteceu nada.

— Você está usando um clássico, as roupas estão passadas, aquele boné não está na sua cabeça... Se isso não são alienígenas tomando o poder da sua alma com certeza é alguma virose.

Meu comentário também sério quebra o climão com risadas divertidas de Oliver.

— Thea não é de organizar jantares para a família então concluí que seja algo importante. — a boca se aproxima do pé do meu ouvido, eu me seguro para não arrepiar, mas é tarde demais o sussurro é atormentador — Pode acreditar, por de baixo dessa roupa de coxinha estou uma pilha, algo me diz que Thea está tramando alguma coisa da qual não vai me agradar.

O sexto sentido de Oliver é afiado, porque é claro que Thea não está montando esse circo de graça. Ela sabe que o irmão é o maior cabeça dura e que não aceitaria facilmente o pedido de casamento feito por Roy, nada como a família inteira reunida para facilitar as coisas.

— Sério? Sua irmã não seria capaz. — ironizo. Sem querer.

— Por que algo me diz que vocês estão juntas nessa? — Oliver espreme os olhos.

— Quer uma dica? As meninas sempre estão juntas, aquele lance de ninguém soltar a mão de ninguém.

— Eu sabia!

Os seus olhos arregalam.

Ah não, eu prometi a Thea que o levaria ao bendito jantar.

— Como assim?

— Thea está grávida? Essas últimas semanas descobri que ela anda fazendo coisas que adultos fazem... E você sabe que quando essas coisas acontecem, bebês podem acontecer também.

Tentei.

Juro que tentei.

Mas meu diafragma nunca doeu tanto quanto agora, as risadas escapam facilmente.

— Acha que Thea está grávida?

— E não está?

— Fique quietinho, você fica mais bonito de boca fechada.

— Felicity...

— Vamos nos atrasar, mas pode deixar que eu dirijo já você não anda muito bem.

~~~

A casa de Robert são só algumas quadras da nossa, o silêncio dentro do carro só não existe porque Judith resolveu cantar durante o trajeto inteiro, as palavras ainda são desconexas e confusas mas aos poucos vão criando forma. Oliver está no banco carona com a feição pensativa, ele realmente acha que Thea está grávida? Eu deveria ter embarcado mais nessa loucura, ele subiria pelas paredes. Ao chegarmos me deparo com os convidados, somente os mais chegados como Thea havia mencionado mais cedo. Donna está abraçada por Robert no canto enquanto Roy conversa com Thea próximo à mesa do jantar.

— Pensei que vocês não iriam vir mais! — Thea me puxa pelas mãos em um abraço forte ela é animada como sempre.

— Thea, precisamos conversar. — Oliver não abaixa a guarda.

— Ollie, podemos deixar as perguntas difíceis para depois? — Thea dá um beijo estalado no rosto do irmão.

— Não, nós vamos conversar agora! — Oliver bate o pé.

Respiro fundo.

Será que Oliver nunca vai aprender a ser menos turrão?

— Você não ouviu Thea? Deixe para depois, agora estamos em família. Se Thea marcou esse jantar foi para dizer algo e você vai esperar até que ela esteja pronta. — minha voz é calma, mas mantém Oliver e Thea extremamente interessados.

Oliver tenta abrir a boca para argumentar, mas eu o reprimo.

— Sem mais! — volto a ordenar.

— Desde quando? — Thea espreme os olhos.

— Como? — agora sou eu quem fica confusa.

— Desde quando você está transando com o meu irmão? — Thea cruza os braços.

Oliver suspira.

— Eu não estou transando com o seu irmão! — engulo a seco. De onde Thea tirou essa ideia sem cabimento? Só foi uma vez, uma única e última vez. Meu Deus, será que está tão na cara? Se Thea descobrir aí sim será o meu fim.

— É. Não estamos. Eu e Felicity não estamos fazendo isso. — Oliver é robótico enquanto responde, nos desmascarando na cara dura.

— Boa noite, família! — Roy nos interrompe animadamente, ele tem uma taça de espumante em uma das mãos explicando o fato de tamanha animação.

Sou salva por breves segundos.

Família? — Oliver range os dentes.

— Cheguei em uma boa hora? — Roy diminui o tom de voz e o sorriso dos lábios desaparece momentaneamente.

— Em ótima hora. — murmuro.

— Agora você vai poder me explicar direitinho o que está acontecendo aqui! — Oliver lança o olhar intimidador, mastigando Roy em pensamento. É trágico? É. Mas poderia ser engraçado também.

— Ótima hora, querido — Thea sussurra sem tirar os olhos dos meus — Roy, que tal levar Oliver para conversar um pouquinho com o papai? Conversa de meninos?

— Ainda bem que eu tenho seguro de vida... — Roy brinca, mas o seu tom soa bem sério.

Thea empurra Oliver em direção a Robert que estava com mamãe, espero que Roy consiga sair vivo dessa. Espero ainda mais que eu saia viva também, mas o grito histérico de Donna quando me encontra me diz que não terei chances. Será tipo uma carnificina. Ela me abraça forte balançando nossos corpos de um lado para o outro como fazia quando eu era mais nova.

— Que saudades! — Donna sussurra entre o abraço de urso.

— Mamãe, nos vimos não tem nem uma semana. — murmuro com o que me sobra de ar.

— Meninas, vocês me ajudam na cozinha? — Thea está com aquele sorriso angelical nos lábios de quem diz que vai arrancar até a minha alma para conseguir o que quer.

Eu não preciso concordar, porque as duas me arrastam até a cozinha.

Thea abre uma garrafa de vinho tinto.

— Não estou podendo beber, Thea...

O queixo de Thea cai.

— Como eu pude ser tão burra? Você está grávida do meu irmão!

— GRÁVIDA? — Donna grita.

— Meu Deus! Eu não estou grávida, ok? Só estou dirigindo. — respiro fundo. Eu só preciso respirar fundo.

— Você e o garotão estão tendo alguma coisa? — minha mãe pergunta surpresa.

— Não, mamãe!

Merda. Merda. Merda.

— Estão sim, vocês estão transado... Meu irmão abaixou o rabinho e o colocou entre as pernas assim como Roy faz quando tenta falar mais alto do que eu. — Thea lança o olhar dominante.

Oliver fez isso?

Eu não percebi.

Geralmente ele faz isso, fica quietinho e me respeita, mas isso já acontecia antes da fatídica noite acontecer.

— Que pena... Me daria netos tão lindinhos. — Donna faz uma voz infantil.

— Vocês estão me deixando com dor de cabeça! — roubo a taça de cristal com o vinho das mãos de Thea — Acho melhor voltar de táxi essa noite.

— Nunca imaginei que conversaria por mais de dez minutos com alguma mulher que tenha passado a noite com Ollie. — Thea dá de ombros.

— Só foi uma noite, Thea! Está feliz? Uma única noite. — explodo. E lá se vai a minha credibilidade. Sim, descendo pelo ralo escuro e úmido de uma perdedora que se rendeu ao charme do badboy de Starling City.

Thea volta a pegar a taça da minha mão dando um bom gole.

Donna levanta a sobrancelha esquerda preprando a série de perguntas maléficas.

— Eu sabia... — Thea volta a murmurar.

— Foi na noite dos girassóis.

Já estou fracassada demais, para que mentir?

Preciso desabafar para alguém que não seja um robô programado para dizer exatamente o que tanto procuro escutar: você não é a culpada, Felicity Smoak.

Então que venham mais garrafas de vinho.

— A ideia dos girassóis foi minha... — Thea levanta o dedo indicador acanhada.

— Mentira? Quantas vezes eu te falei que era alérgica a girassóis? — pergunto boquiaberta. Thea não engana a genética, é tão desligada quanto Oliver e não faz isso de propósito, às vezes, preciso repetir diversas vezes a mesma coisa e mesmo assim eles acabam não fazendo ou fazendo errado. Que ódio.

— Então era você que tinha alergia a girassól? Sabia que estava fazendo alguma confusão. — Thea murmura.

— Estou um pouco perdida. — Donna pergunta sem entender. Mas quando é que minha mãe entende alguma coisa de primeira?

— Sua filha transou com meu irmão e não me contou. Eu poderia ficar muito chateada com você, sabia? A sua sorte é que de você eu gosto. — Thea analisa as unhas enquanto fala comigo. Ela está pouco se importando com o que aconteceu entre eu e Oliver, pobre coitada, ela não sabe de toda a história. Os mínimos detalhes.

— Ele é grandão? — Donna pergunta maliciosamente.

— Mamãe! — reajo incrédula.

Eu é que não vou ficar falando sobre tamanhos. Isso é ridículo.

Se bem que não tenho muito parâmetro.

— E você gostou? — Thea pergunta mordendo o lábio inferior.

Eu ruborizo.

— Docinho, não precisa ficar desse jeito... Conversa de meninas! — pronto, agora mamãe pegou a mesma mania de Robert. Para completar, ela quer falar sobre minha vida sexual que para chocar um zero número de pessoas não é nada movimentada quanto pensa.

— Não vai acontecer mais. Foi um erro.

Ótima saída Felicity, você arranjou uma bela forma de dizer nada com nada.

As duas ainda vão continuar infernizando a minha vida.

— Ollie acha que foi um erro? — Thea pergunta.

— Oliver não tem que achar nada, ele é um completo idiota. — dou de ombros.

— De novo? Acho que alguém aqui continua pegando pesado. — Donna me dá aqueles tapinhas no ombro dos quais não suporto.

— Quer um conselho de futura cunhada? — Thea estuda o que vai dizer — Nossa, nunca imaginei sendo a cunhada de alguém, acredita? — em poucos segundos vem um grito histérico — Oh meu Deus, Felicity Smoak minha cunhada? Meu irmão fez alguma coisa certa pela primeira vez nada vida! Como funcionada aquele ditado mesmo? Ah sim, azar no jogo e sorte no amor?

— Não preciso de conselhos! Primeiro... — tento iniciar um argumento que não entregue o quanto sou uma fracassada, mas o celular na minha bolsa começa a vibrar.

— Como vocês jovens costumam dizer, eu shippo. — Donna suspira.

— Não somos um casal! — bato os pés.

O celular continua vibrando.

— Você não vai atender o maldito celular? — Thea pergunta impaciente.

— Oliver pode até parecer um homem difícil, mas se ele é filho de Robert, com certeza herdou um coração do tamanho do mundo. Você já parou apenas para pensar sobre isso? O quanto vocês dois são parecidos?

Parecidos?

Só se for nos fios dourados.

Mas nem isso, afinal eu pinto o cabelo.

— Oliver e eu não somos parecidos e ele não faz o meu tipo! Nós apenas somos os tutores da Judith, esse é o espaço que ele ocupa na minha vida. O que aconteceu entre nós foi um erro movido pelo álcool que não vai se repetir!

As duas paralisam enquanto cuspo palavras de forma ríspida.

A boca de Thea entreabre querendo complementar algo, mas a impeço assim que atendo a porcaria do celular que está me tirando os nervos desde quando começou a vibrar dentro da bolsa.

O que é? — grito.

Felicity?

A voz é conhecida.

Ah não...

James?

Parece que n-n-não liguei em uma boa hora! — o tom de voz de James é envergonhado.

Não, na verdade, foi na hora certa. — levanto uma das sobrancelhas e sorrio de lado à medida que observo Thea e Donna assistirem o meu show.

Será que você poderia me fazer um favor?

Quantos quiser. — a minha voz é sensual.

Que brincadeira é essa?

Estou me jogando encima de James propositalmente apenas para que Thea e minha mãe possam ver que o que aconteceu com Oliver realmente foi acidental e que não alterou nada na minha vida. Mas não faz diferença alguma, porque estou mentindo descaradamente caindo em uma furada que eu mesma estou criando na minha cabeça pelo simples fato de querer me auto-convencer de que Oliver não faz e nunca vai fazer o meu tipo.

Amanhã à noite talvez você con-cons-consiga me ajudar. — James ri.

No que você está pensando? — pergunto curiosa.

Quando v-v-você for minha amanhã à noite, vai saber. — as palavras me trazem um arrepio momentâneo.

É que não estou acostumada com surpresas.

Até mais Felicity.

James desliga.

— Que safada! — Thea me dá um beliscão.

— Eu não sabia desse seu lado, bebê! — os olhos de Donna não piscam.

— Vocês realmente pensaram que Oliver tinha vez? — dou de ombros.

Não há pior erro do que enganar a si mesma.

Estou cavando minha própria cova.

— O conselho que você não quer ouvir, mas que como futura cunhada me sinto na obrigação de te dizer é: não falar palavras que não condizem com o que os seus olhos estão gritando para fora — Thea suspira — Pense bem, talvez Ollie não esteja pensando o mesmo.

— Thea... — murmuro.

— Vai por mim, Ollie não é de fazer para outras mulheres o que está tentando fazer por você.

— Geralmente você não costuma me dar ouvidos — mamãe me abraça por trás entrelaçando os braços cheirosos na minha cintura, o queixo se apoiai no meu ombro — Mas essa confusão aqui dentro — uma das mãos desliza até a altura do peito esquerdo massageando a região — Só você pode ser capaz de desfazê-la e não vai ser tentando substituir o que está sentindo colocando outra pessoa no lugar. No final, quem vai acabar saindo perdendo e machucada é você, apenas você minha querida.

Suspiro pesadamente.

A conversa saiu de uma atmosfera aterrorizante de um filme de suspense com toque de terror para um daqueles clichês românticos em que sua mãe desesperada tenta mostrar o quanto você está errada, mas a ignorância é tanta que meus olhos continuam se mantendo fechados por pura birra. O que essas duas estão esperando? Que eu corra por essa porta e grite a Oliver que estou apaixonada e que nunca alguém conseguiu mexer comigo de tal maneira? Isso é bizarro. Não há essa possibilidade. A vida não é um filme de comédia romântica em que em um passe de mágica todos os problemas são resolvidos e a mocinha então pode curtir o final feliz com o protagonista Hollywoodiano.

— Meninas, muito obrigada por esses breves momentos de psicologia barata, mas eu estou bem. É sério. — meus lábios forçam um sorriso.

— Não, você não está bem... Quem transa com meu irmão não bate muito bem da cabeça. — Thea brinca fazendo uma cara de nojo.

Nós três rimos.

— Não volte a me lembrar disso! — me rendo à piada.

— Me lembre de cortar você da minha lista de pessoas que admiro a inteligência! — Thea volta a ironizar.

— Oliver tem pênis, meninas... Até Einstein ignoraria a inteligência. — Donna dá de ombros.

Albert Einstein? — Thea e eu perguntamos ao mesmo tempo.

— Uh é, esse não é aquele ator que estava passando naquele canal de fofocas? — minha mãe continua com a feição séria.

— Mamãe... — comprimo meus olhos.

— Sua mãe é o máximo, Felicity! — Thea cai na gargalhada.

— Agora é a minha vez — Donna começa a sussurrar — Robert tem uma disposição de colocar qualquer novinho no chinelo...

Meus olhos arregalam.

Se já não bastasse falar sobre a minha vida sexual meramente fracassada agora também vou ter que ouvir minha própria mãe falando das suas aventuras? Meus ouvidos irão sangrar.

— Não! Por favor, não me faça ter pesadelos essa noite! — Thea reage assustada.

— Mamãe, chegar por hoje, ok?

— E aquele papo de conversa de meninas? — um ponto de interrogação surge na testa de Donna.

A porta da cozinha se abre e lá está Roy.

— Amor, precisamos de mais garrafas de vinho! — Roy sela os lábios de Thea com um beijinho singelo.

Aff. Esses dois não existem.

Inveja branca.

— Parece que fomos salvas! — Thea brinca.

— Você não sabe o quanto me sinto agradecida. — embarco na brincadeira.

— Qual a graça?

Donna pergunta ainda perdida.

É, parece que essa é a minha mais nova família.

~~~

O jantar é animado, fora a cara fechada de Oliver desde que nos sentamos à mesa, tudo está correndo como Thea esperava. Algumas garrafas de vinho tinto e espumante estão vazias, Judith brinca no colo de Robert e nós continuamos com conversas aleatórias à medida que Roy sua frio esperando o melhor momento para ser jogado na cova dos leões. Parece que enquanto conversávamos na cozinha o pediatra bonitão não conseguiu seduzir seu mais novo cunhado, porque Oliver não está nem um pouquinho relaxado.

Três toques com uma colher são dados em uma taça de cristal.

— Eu gostaria de dizer algumas palavras — o senhor de barba grisalha abraça Judith à medida em que enche os pulmões — Quando eu iria imaginar essa mesa de jantar repleta de pessoas tão importantes depois de tantos tempo? Lembro-me do dia em que perdi Moira, desde que a vi pela última vez pensei que não voltaria a sentir o que transborda do meu peito como está acontecendo nesse exato instante — os olhos azuis idênticos ao de Oliver procuram pelos da minha mãe que estão fixos e interessados em cada palavra de Robert — Então em um dia qualquer esbarrei em você Donna, uma mulher com a alma mais divertida que eu poderia pensar existir. Encontrei em você o que jamais cogitei encontrar de novo, você é a luz e o porto seguro que faço de morada todos os dias. Hoje eu tenho a sua família se tornando a minha também, Felicity e Oliver que foram pegos de surpresa pelas brincadeiras do destino hoje lidam com as dificuldades que sabiam que iriam existir desde o primeiro momento! Minha netinha adotada tem o sorriso de quem foi escolhida pelas pessoas certas. E essa noite tenho a oportunidade de compartilhar um dos momentos mais importantes de Thea e Roy... — ele pigarreia — Roy, que você continue sendo um dos responsáveis em manter o sorriso instalado nos lábios da nossa menina por toda a eternidade.

MEU DEUS.

Robert Queen é o meu novo Sugar Daddy.

Oliver bate palmas lentamente quebrando o momento encantador.

— Agora alguém pode me explicar o discurso Miss Universo do papai? — ele é mau-humorado.

— Oliver — Roy também levanta do acento, respira fundo — Thea e eu vamos nos casar!

— O quê? Cadê as câmeras? Isso é pegadinha? — Oliver volta a nos encher de perguntas de forma incrédula. Está acontecendo o que previ desde o momento em que Thea inventou essa história de jantar, é claro que Oliver não aceitaria a ideia tão fácil quanto ela estava pensando, até parece não conhecer o irmão turrão que tem.

— Você pode ter certeza que vou cuidar muito bem de Thea. — Roy finaliza. O coitadinho está com as mãos trêmulas, mas também diante do olhar fulminante de Oliver eu não esperaria outra reação.

— Cuidar de Thea? Você caiu de paraquedas em nossas vidas, parece que foi ontem que o encontrei se atracando com a minha irmã no sofá da sala e agora você me diz que a pediu em casamento? Eu não te conheço! Cadê os seus pais que não estão aqui em um momento tão importante? — Oliver continua, desta vez, soando totalmente grosseiro o que me faz apertá-lo por debaixo da mesa.

Se ele não parar de falar tanta besteira vai acabar transformando o jantar em uma guerra.

— Roy... — Thea sussurra com os olhos cheios de lágrimas.

— Tudo bem, amor. — Roy assente a cabeça antes de continuar — Meus pais são adotivos desde os meus três anos de idade quando fui deixado na porta deles dentro de uma cesta pelos meus pais biológicos. Mamãe é desembarcadora e meu pai a acompanha durante as viagens, mas assim que surgir um espaço na agenda ela disse que vai adorar conhecer o restante da família.

Engulo a seco.

Alguém me ajuda a calar a boca de Oliver?

— Sabem o que não entra na minha cabeça? O momento em que passei a ser o último a saber das coisas. Speed, pensei que eu fosse o seu cara... — os olhos de Thea se quebram rapidamente — Quer saber? Preciso de um pouco de ar!

— Ollie! — Thea o grita.

— Pode deixar, eu cuido dele. — murmuro.

Oliver está na varanda, o vento aqui fora é gélido impactando meu corpo quente assim que encosto a porta de vidro. As suas mãos seguram com firmeza o ferro da grade que nos separa do jardim, a cabeça abaixada se levanta assim que sente minha presença.

— Você sabe o que significa quando uma pessoa diz que precisa de ar?

— O que foi aquele show lá dentro?

— Ainda pergunta?

— Jogar a sua frustração encima dos outros não vai fazer com que se sinta melhor!

— Do que você está falando?

— De nós.

Oliver se vira, automaticamente nossos olhos tomam a mesma direção.

Ele bufa.

— Felicity, isso não é sobre nós.

— Naquela noite foi você quem escolheu jogar o problema inteiro nas minhas costas enquanto eu estava disposta a te entender. Poderíamos, sei lá, ter conversado sobre o que havia acontecido ou poderíamos apenas rir da situação, mas não, você preferiu o seu egoísmo.

— Ah, então agora quer conversar sobe isso?

— Não é só sobre isso, é sobre a forma como você canaliza os seus sentimentos. Sempre diante de um problema você decide se afastar ou tirar o corpo da reta nos deixando sem saber o que fazer. Estou cansada de ter que esperar por suas escolhas, de assistir a maneira como trata as pessoas achando que o mundo tem que girar em torno do seu umbigo. Será que você nunca vai crescer? Deixar de ser imaturo e enfrentar seus medos de frente?

Oliver respira fundo voltando a me dar as costas.

O silêncio só não é maior do que o som dos grilos que passeiam pelos arbustos no jardim.

— É isso que você acha? — o murmuro em forma de pergunta é baixo.

— Nunca fui tão clara.

— Naquela noite você mal me deixou terminar o que eu estava tentando dizer, Felicity! Você me acha imaturo porque é a única coisa que consegue enxergar enquanto eu tento a todo custo me tornar pelo menos um terço do homem que você merece.

Meu coração palpita assim que Oliver termina o seu xeque-mate, a vontade de ceder é tentadora, eu poderia facilmente dizer que ele está enganado, que o que me chama atenção é justamente o seu jeito teimoso. Mas seria fácil demais fechar os olhos para o restante de nós, pois no primeiro obstáculo eu não sei se poderia contar com Oliver, não sei se ele iria voltar a passar pela porta me deixando sem respostas. Eu preciso de um homem que me passe confiança, em que eu possa confiar de olhos fechados e que suas mãos sejam a única maneira de me guiar quando eu estiver me sentindo sozinha. Mergulhar nesses olhos azuis perdidos camuflados pela escuridão seria estar me perdendo também, jogando fora a oportunidade de encontrar a solução em outros olhos.

— Eu não posso.

Abraço o corpo tentando amenizar o frio que está me atingindo massageando minha própria pele. O frio aqui fora é surreal, os dedões dos pés eu já não estou sentindo há um tempo. Aff, escolher brincar de discutir relacionamento de um relacionamento que não existe de baixo do frio não é uma boa ideia, por que não poderíamos estar fazendo isso lá dentro ao lado da lareira?

Oliver suspira. — A verdade é que você não acredita em mim. Ninguém acredita. Na manhã em que eu quase implorei que ficasse com Judith, você riu. Caramba, você cagou na minha cabeça quando eu disse que se tratava de um emprego. Sabe qual foi o teste para conseguir o musical em Central City? Que eu não me atrasasse. E sabe quem propôs o teste? O meu pai. — ele meneia a cabeça sem acreditar — Agora é a vez de Thea... Se casar com Roy não é o maior dos problemas, mas quando você passa a ser o último a saber, dói. Eu fui o cara que a levou no supermercado para escolher sobre absorventes, ela preferiu aqueles com as abas. Foi para mim que ela contou sobre o primeiro beijo no oitavo ano do fundamental e sobre a aprovação em Medicina. Quando a mamãe morreu, foi eu quem fiquei sentado por horas encostado na porta de madeira fria do quarto até que ela resolvesse sair para comer alguma coisa e quando ela saiu quieta, eu compartilhei um silêncio que ela guarda até hoje. E de repente ela me aparece dizendo que vai se casar? Há quanto tempo eu dormi? Por que ela não me contou quando o conheceu, aonde o conheceu, como foi o pedido de namoro? Por que não me contou sobre o maldito pedido de casamento?

Oliver tem tanto rancor.

As íris azuis obscuras fazem meu peito despedaçar.

— Thea ama você.

— E o que você sabe sobre o amor?

A sua pergunta me pega desprevenida.

— Amor é se importar com as pessoas.

— Assim como James se importa?

— O quê?

— O seu cara. — Oliver dá um passo a frente me engolindo com a sobra que seu corpo faz, os olhos em um profundo azul escuro me toma deixando meus os sentidos embriagados. Ele levanta as sobrancelhas parecendo esperar por algo, encarando cada curva do meu rosto e a respiração fragilizada acerta a ponta do meu nariz.

— Por que tem tanta certeza de que ele é o cara certo? — a voz sai vergonhosamente quebrada e eu agradeço pela neblina da noite encobrir meus olhos que se esforçam para segurar as lágrimas salgadas de deslizarem pelas bochechas rosadas do meu rosto. Sentir essas emoções me trazem um formigamento desagradável nos calcanhares, costumo me sentir assim sempre que estou muito perto de Oliver. As mãos dele escorregam pelo próprio blazer o retirando, elas seguram o tecido acolchoado e o coloca ao redor dos meus ombros gelados, aquecendo-me indiretamente com o seu calor. Os passos são dados na direção oposta, ao mesmo tempo em que meu corpo quer gritar para segurá-lo pelo antebraço e puxá-lo para me aquecer com o seu próprio corpo, minha consciêcia escolhe por deixá-o ir.

— Talvez a minha certeza seja a mesma que a sua.

Agora sim.

Ele vai embora mais uma vez.

~~~

Oliver Queen

Passei a noite no sofá de Dean depois de bebermos duas garrafas de uísque, o bafo alcoólico dele bate contra meu rosto, os braços pesados estão atracados na minha cintura – não pensem maldade, o meu amigo parece um garanhão, mas não passa de um cara inseguro que acha que passando a imagem de cafajeste vai suprir suas próprias necessidades. Pobre garoto –, estranho, parece que acabei de descrever o cara que já fui um dia.

Ou que sou?

Deus, isso é muito confuso.

— Qual é Dean, você está babando! — sacolejo ele que responde mau-humorado.

— Você ficou falando da Felicity a noite inteira e eu não reclamei. — a voz é sonolenta.

— Foi o álcool.

Dou de ombros.

— Ótimo resposta! — Dean se levanta bambeando até cair largado sobre a poltrona.

— Acabou.

— O álcool? Depois de ontem o estoque acabou mesmo.

Não estou falando sobre o estoque de bebidas de Dean, mas sim sobre a vida que estou acostumado a levar. Chega de tantas confusões, estou morando com Felicity cerca de um mês e a convivência com ela me abriu muito os olhos para o cara que eu sou, para o cara que desejo me tornar. Até ontem minha irmã fazia o meu café enquanto eu descartava mais uma das meninas que tinha caído nas minhas garras, fazia uns bicos com o papai para garantir a grana para as bebidas na Verdant e era só, um ciclo vicioso que me afundava todos os dias. De repente me vi perdendo o meu melhor amigo e ganhando um presente que não esperava, afinal eu não mandei cartinha para o papai Noel pedindo um bebê, mas ainda assim Judith veio para nós. Hoje, aprendi a lidar com a situação e a vontade de aprender cada vez mais me instiga a ser uma pessoa melhor. Só que é impossível negar que o tempo passou, eu não ofereci a minha melhor versão para as minhas garotas e até que eu me torne quem elas merecem, preciso de um tempo e eu darei a elas o tempo necessário.

— A produção da Sony music me chamou para morar em Central City. — murmuro.

— Como é que é? — Dean pula da poltrona — E o lance com a Felicity? E a Judith, mano?

— Felicity não vai sentir a minha falta, ela não vai estar sozinha! Judith é a minha garota, eu nunca, jamais, vou deixar ela desamparada. Assim que passarmos pelo julgamento da tutela com o Conselho Tutelar de Starling, vou me mudar para Central City, lá a cidade é mais movimentada e parecem que eles gostaram do meu trabalho.

Suspiro.

O meu coração está apertado, a garganta me sufoca.

— Está sentindo esse cheiro? — Dean pergunta.

— Que cheiro?

— Dá merda que você vai fazer.

— Preciso resolver uma coisa.

— Brother, se eu te disser que está colocando os pés pelas mãos você vai me ouvir?

— Hoje não Dean.

~~~

A porta do consultório de James está aberta.

Dou toques até uma voz permitir que eu entre.

James digita intensamente em seu notebook, ele ao menos levanta a cabeça para visualizar quem acabou de entrar. O cheiro aqui dentro é diferente do que encontro nos corredores lá fora, acho que é de lavanda, não tem cheiro de morte. As paredes são claras e há vasinhos com plantas coloridas na janela por onde raios solares tímidos adentram. O dr. James realmente segue a linha da Felicity, porque tudo é perfeitamente organizado, as canetas, os lápis, as planilhas e os prontuários.

Pigarreio.

— Olá. — finalmente James resolve me dar atenção.

— Oi.

— Você é o... — ele busca pelo meu nome.

— Oliver Queen. — sento-me na poltrona de frente para a mesa.

— Cl-claro! O irmão de Thea. — James fecha o notebook.

Esqueci o fato de James ser gago.

Céus.

— Sim.

— Posso te ajudar em al-algu-alguma coisa?

— Felicity.

Quando eu era mais novo nunca aceitei muito bem as derrotas, meus pais não eram culpados, pelo contrário, eles tentavam me ensinar que perder era natural. Mas o meu gênio teimoso se negava a aceitar a perder, era no basebol, com as mulheres e até nesses simples jogos de cartas, foi quando perdi minha mãe. Não há forma mais dura de aceitar a perder, porque eu a perdi e o que ela tentava me mostrar se tornou uma dura realidade. Moira tinha razão, porque a vida me ensinou direitinho que perder fazia parte, ela só não me avisou que seria da pior forma possível. Vir aqui conversar com James é a prova de que perder faz parte, não que eu já tenha ganhado Felicity alguma vez, mas de qualquer forma estar aqui significa que a perdi.

— Aconteceu alguma coisa? — James pergunta preocupado.

— Você precisa saber que Felicity é a pessoa mais engraçada que existe na face da Terra, não é porque ela quer parecer engraçada é só o seu natural mesmo. Às vezes, ela cai nas próprias frases que acabam tendo duplo sentido sem que ela ao menos se dê conta. Ah, ela também sente cócegas e a risada fácil parece de uma criança ingênua, é difícil querer ouvir outra coisa depois que ela começa a rir. Ela ama fazer o bem, mas sempre garante que isso não vaze para os jornais, não que ela seja tímida, ela apenas acha que não precisa ganhar os créditos por estar fazendo o que precisa ser feito — rio baixo quando me lembro do fiasco com os girassóis — Não se esqueça, ela é alérgica a girassól... Tente dar a ela tulipas, ela ama tulipas. Você vai ganhar pontos se a levar no restaurante Holt’s, a comida de lá te faz ter orgasmos múltiplos e, bom, Felicity adora comer. Outra coisa que adora são espumantes, mas ela ultrapassa alguns limites depois da segunda garrafa... — meu sorriso vai desaparecendo momentaneamente — Ela adora crianças, os olhos de Judith brilham quando ela chega depois de um dia estressante da Smoak Technologies, mas mesmo assim o sorriso nos seus lábios vai ser o mais grato quando encontrar a pequena — me ajeito sobre a poltrona, desta vez, encaro James que está interessado em cada palavra — Quando aqueles olhões azuis hipnotizantes decidirem engolir você, não tenha medo. Porque ela precisa de um cara que não ultrapasse a linha, que não fuja.

O rapaz suspira.

Pego no bolso um papel amassado.

Me levanto ao passo que deixo o papel dobrado de baixo de um copo de vidro com canetas, dando as costas assim que o deixo ali.

— Oliver! — James me chama — Por que está me dizendo tudo isso?

— Porque Felicity merece um cara melhor.

~~~

Felicity Smoak

Depois que Oliver me entregou o blazer para que eu me sentisse aquecida, não deu nenhuma outra notícia até a metade do dia de hoje. Eu estava dando a última colher de papinha à Judith quando a porta bateu de forma conhecida nos alertando sobre a sua chegada, ele encontrou ânimo assim que avistou Judith fazendo a festa que sempre faz ao vê-lo. Oliver a pegou no colo enchendo a menina de beijos e ganhando em troca risadas gostosas, meu coração apertado me fez reagir deixando o potinho da papinha de legumes cair no chão.

— Merda. — murmuro me abaixando para catar toda a sujeira.

— E a regra sobre não falar palavrões? — Oliver pergunta assim que se abaixa para me ajudar.

— Droga! — volto a murmurar.

— De novo...

Nós dois sorrimos amarelo.

Ele me ajuda com a sujeira e eu respiro fundo antes de avisar sobre Judith ficar com nossos pais enquanto janto com James essa noite, tentando ignorar o transtorno da noite anterior quando ele saiu me deixando parada feito um poste mais uma vez. Tentando ignorar ainda mais a vontade de perguntar onde foi que passou a noite, o porquê das olheiras fundas embaixo das pálpebras e os ombros caídos de forma cansada, porque não é da minha conta. Nunca foi.

— A mamãe vai passar aqui para ficar com Judith essa noite. — as palavras voam. Apenas voam.

— Algum problema? — Oliver me dirige aqueles olhos de preocupação.

— James.

Ele engole a seco.

— Algum problema? — torna a perguntar.

— James me chamou para jantar.

— Eu poderia ficar com a Judith, aos sábados temos maratona no Cartoon Networok.

Oliver tenta esconder o baque que sentiu quando o disse sobre James, mas os seus olhos são transparentes demais para esconder o quanto foi atingido.

— Mamãe fez questão... Você entende, não é? — dou de ombros.

— Tem razão. — de novo um sorriso amarelo. Tudo, menos esse sorriso amarelo. É constrangedor.

— Você está bem?

Sim, eu quero morder minha própria língua agora.

— Eu não pareço bem?

Não, você não parece bem e eu também não estou se é que você se importa.

­É o que eu gostaria de dizer, mas peixes sempre morrem pela boca.

O meu relógio apita, impedindo que eu eu haja igual a um peixe desesperado pelo suicídio.

— Preciso me arrumar, mamãe vai buzinar três vezes e, por favor, não deixe que ela buzine a quarta vez... Minha mãe está trabalhando o lance da paciência. — sorrio forçadamente.

— Antes da segunda buzinada Judith será entregue. — Oliver assente.

O clima é pesado.

Meus pés correm agitadamente pelas escadas até o closet que tem a porta recoberta por espelhos onde consigo ver o meu reflexo neles. Os olhos seguram de novo as lágrimas que não caíram ontem à noite, mas que agora escorregam com facilidade pelo meu rosto. Sabem àquela vontade de querer apenas colocar tudo para fora? A minha garganta chega a soluçar em alguns momentos, porém permaneço com os pés firmes à medida em que assisto a forma com que cheguei ao fundo do poço. De um lado me encontro chorando por um cara do qual sempre detestei, mas que em um mês plantou sementes cheias de confusão dentro da minha cabeça que estão dando frutos no meu peito e, do outro lado, tenho o homem que se encaixa perfeitamente no que sonhei.

Não seja uma boba, Felicity.

Não seja uma boba.

Repito até que minha consciência aceite.

Limpo o rosto molhado enquanto respiro fundo procurando por uma roupa que consiga esconder a minha péssima cara, na tentativa de resgatar o interesse que já tive por James durante o jantar. Se eu focar no homem que vai estar comigo e esquecer por um só momento Oliver, já vai ser um passo e tanto. Durante a caçada à roupa perfeita ouço as buzinadas de Donna me avisando que a essa hora já está levando Judith, então resolvo ignorar qualquer outro pensamento que não seja o que estou fazendo. A escolha do modelito não foi tão difícil como imaginava, então finalizo com a loção que amo e assim que abro a porta do quarto para esperar por James na sala, esbarro com Oliver que também está saindo do seu quarto.

Nós nos olhamos por breves segundos.

— Que horas o Dr. Amor chega? — ele pergunta tentando quebrar o clima de mais cedo.

— A qualquer minuto. — o ignoro, descendo as escadas — E para de chamar ele assim!

Parece que essas horinhas serviram para trazer o lado babaca de Oliver novamente.

Pelo menos isso vai me ajudar a nutrir o ódio por ele mais facilmente como nos velhos tempos.

— Espero que ele não se atrase por uma hora. — Oliver ri sarcasticamente.

— Ele não é como você! — murmuro.

— James te chamou para sair, isso pode entre médico e paciente? — novamente o tom de Oliver me incomoda.

— Bom, ele é neurologista e eu não me encaixo como uma de suas pacientes. Logo, não vejo problema algum!

— Entendi.

Ouço a campainha.

Rapidamente minha mão alcança a maçaneta e o corpo de Oliver bate contra o meu, o que me faz bufar, mas neutralizo a vontade que tenho de enforcá-lo assim que abro a porta encontrando James.

— Oi! — sorrio tentando ser totalmente natural.

— Oi! No-n-nossa você está... — ele faz uma pausa — É melhor eu não dizer nada e ficar com algumas cartas na manga.

O típico fofo.

A gagueira diminuiu.

James continua. — E aí, Oliver! — ele estica a mão para um cumprimento.

— E aí doutor. — Oliver assente ao cumprimento. Menos mal.

— Obrigado por dar a ela uma f-f-folga. — James complementa.

— Ela experimentou tudo que tinha no closet, é meio impossível que essa não dê certo. — o engraçadinho está tentando me provocar, se James não me arrastar daqui agora, não garanto responder por mim.

— Chega, Oliver! — minhas mãos entrelaçam o antebraço de James — Vamos.

— Ela não faz isso há muito tempo! — Oliver implica.

— Para com isso! — sussurro.

James ignora.

— Me liga se precisar! — Oliver volta a fazer piadas, mas dou com a porta em sua cara.

~~~

James começa acertando logo de cara, ele me trouxe ao Holt’s¸ não tem como errar quando o cara acerta o restaure preferido da garota. Ele puxa a cadeira para que eu possa me sentar, como um verdadeiro cavalheiro, encima da mesa há um pequeno vaso com tulipas brancas.

— Tulipas? — pergunto à medida que dobro o guardanapo sobre as pernas. A minha respiração se torna agitada quando me lembro da noite trágica em que Oliver encheu a casa com girassóis, eu havia o dito que na próxima vez aceitaria as tulipas que ele tinha oferecido. Como pude ser tão boba ao ponto de achar que teríamos uma próxima vez?

— Digamos q-q-que eu tenho um bom sexto sentido! — James brinca.

— Você acertou. — sorrio.

O garçom se aproxima trazendo na bandeja uma garrafa de espumante estupidamente gelada, só de imaginar as borbulhas passando pela minha garganta os cabelos dos meus braços arrepiam.

— Só não me deixe permitir que você passe da segunda garrafa. — James brinca.

— O seu sexto sentido é muito bom.

Estou sonhando ou James é realmente o meu cara?

Não é possível.

O jantar segue tranquilamente, James tem um bom papo e decide contar um pouquinho sobre a sua vida. Eu descobri que James já foi casado, mas que não deu certo porque a mulher o deixou, ela não aguentava quando James a trocava pelo trabalho. Ele mora em Starling City somente alguns meses desde que o casamento acabou, sou a primeira mulher que ele sai depois do divórcio. Eu queria estar mais animada, mas por muitas vezes me vejo perdida no assunto e quando percebo acabo o pegando no ar, ficando um pouco desnorteada.

— Como aconteceu? — James pergunta do nada, resgatando-me de mais um dos meus devaneios.

— O quê? Como assim?

— Eu soube que estava ap-apai-apaixonado pela minha ex-esposa assim que a vi e-e-entrar pela porta da aula de anatomia humana no segundo ano de Medicina — ele limpa a garganta — Perguntei sobre quando você se deu conta de que estava apaixonada por Oliver.

Meus olhos arregalam.

— Não estou apaixonada!

— F-Felicity, você se importaria se pedíssemos a conta? — James sussurra.

É sério isso?

O cara que estou saindo para tentar esquecer o cara que estou vivendo sob o mesmo teto tem a propriedade de dizer que estou apaixonada? Quem ele pensa que é? A gente só deu uns pegas na última vez que nos vimos, foi bom, é, até que foi bom. Mas mesmo assim não quer dizer que ele tenha o direito de dizer por quem estou apaixonada quando eu não estou apaixonada.

Apaixonada?

Ah não Felicity...

James pede a conta.

Agora estamos caminhando quietos, a porcaria do silêncio é o meu pior inimigo.

— O restaurante, as flores, o espumante... Foram dicas do Oliver! — James dá de ombros.

Espera aí.

Dicas do Oliver?

— O que você quer dizer com dicas do Oliver, ele não sabia que iríamos jantar.

— Ele não precisou saber. — James volta a dar de ombros o que me deixa extremamente puta. Então, me enfio na sua frente impedindo que ele dê mais um passo.

— Você e Oliver resolveram criar um grupo no bate-papo para zombarem de mim? É isso?

Uma ruga aparece do meio das sobrancelhas de James.

— Pelo visto, Oliver e-esque-equeceu de me avisar sobre o seu gênio do-dominante!

— James, o que está acontecendo?

Ele ri.

Só ri.

— Oliver apareceu hoje no meu consultório, ele me disse quase todas as suas versões da forma mais apaixonante que já ouvi alguém dizer. Só esqueceu de falar sobre a sua te-te-teimosia!

— Não pode ser.

Oliver apaixonado?

Conta outra!

— Alice terminou comigo porque eu me neguei a enxergar o que estava a-aconte-acontecendo! Me negava a acei-ace-aceitar que passei a viver para o trabalho... E a p-p-perdi — James volta a suspirar — Não feche os seus olhos como fechei os meus.

— Você diz tudo com tanta certeza.

— Oliver me entregou esse papel, talvez seja a certeza que você precisa.

O papel está amassado, mas a letra bagunçada confirma ser a de Oliver.

Cada palavra me faz respirar com mais intensidade, o meu coração está tão acelerado que as paredes do meu peito acompanham as batidas. De repente um filme começa a passar dentro da minha cabeça, ele começa justamente na noite em que vi Oliver pela primeira vez, Caitlin vivia falando sobre ele na tentativa de formar o casal do ano, mas naquela época a Smoak Technologies estava em ascensão, não havia tempo para relacionamentos. Donna e Caitlin não sossegaram até que eu conseguisse uma noite, apenas uma única noite e, bom, Oliver não ajudou muito. Lá estava ele me deixando plantada por exatamente uma hora o esperando, mas quando o vi naquela motocicleta e o sorriso galante nos lábios percebi que tinha caído em uma cilada. Depois do trágico encontro Caitlin e Barry nos contaram sobre Judith e óbvio que isso iria tornar Oliver e eu mais próximos do que nunca. Ele era insuportável o dia inteiro com suas piadas de mau gosto e o típico jeito de cafajeste irresistível quando não perdoava nem a garçonete que nos servia o café e pão na chapa pela manhã, Barry ficava constrangido, mas sempre dizia que por de baixo de toda àquela máscara havia um grande coração.

A morte dos meus melhores amigos não estava nos planos, nos tornarmos tutores de Judith menos ainda. Porém, o pouco tempo que pude passar sob o mesmo teto que Oliver me fez enxergar o seu grande coração que Barry havia dito uma vez. Tudo bem, ele quebrava as regras na maioria das vezes, mas no final a gente acabava fechando a noite com boas risadas. E teve o beijo, não aquele primeiro beijo roubado no dia da festa de um ano de Judith que só me fez querer arrancar sua cabeça e servir aos porcos, mas estou me referido ao beijo da noite que se tornaria a nossa noite. O gosto da sua boca marcou a minha, o seu toque se tornou parte de cada partícula do meu corpo e isso aconteceu quando eu menos esperava.

Gostaria de continuar negando a mim mesma que não sinto nada pelo grandão dono dos olhos azuis mais intensos que já vi, mas seria continuar cavando a minha própria cova, afundando-me ainda mais no fundo do poço. A verdade é que ninguém consegue arrancar as minhas risadas como Oliver consegue, ele sempre está buscando me mostrar o novo, me propondo aventuras que não fazia nem quando estava na faculdade. A vida é uma balança e Oliver me traz equilíbrio, ele é a minha parte divertida de um dia estressante na Smoak Technologies e, ao mesmo tempo, também é a minha fúria quando decide quebrar as regras.

Eu quero Oliver.

Muito.

— Preciso encontrar ele... — murmuro ao ler o último parágrafo.

— Agora! — James assente.

Rio de nervoso.

Posso dizer algo estranho?

Estou feliz.

— Você se importaria se eu fosse?

— Eu me importaria se você não fosse.

O sabor de Oliver alcança a minha boca só de imaginar a saudade que sinto quando lembro da última vez que estivemos juntos. Não posso mais perder tempo, mesmo que eu pareça uma desesperada, mesmo que Oliver não entenda nada, eu preciso voltar a sentir o seu gosto o mais rápido possível.

Minhas mãos arrancam os salto-altos.

— Obrigada por me fazer acordar. — respiro fundo.

— Eu te dou uma carona!

Dos céus saem trovões.

Eu volto a rir.

— Não vai precisar, eu só preciso correr em uma direção.

~~~

Oliver Queen

O estoque de sorvete light que Felicity compra para Judith já foi todo embora, alguma coisa me diz que quando a depressão passar irei me arrepender profundamente de todas as besteiras que acabei de devorar. O sofá me engole, as almofadas estão como escombros escondendo o quanto fui idiota a partir do momento em que aceitei ter perdido Felicity para James, mas não existia outra forma de consertar tudo o que ela pensa sobre mim. Por mais que seja difícil confessar, James é um bom homem e ele saberá como conquistar a mulher que Felicity é. Não tenho dúvidas sobre isso, pois eu o dei todos os passos.

O telefone toca sobre a torre.

A minha mão o alcança, no visor vejo o nome de Thea.

O que é? — minha voz é sonolenta. Cansada.

Por que você não atende a porcaria do celular? Aconteceu alguma coisa? — a voz de Thea é pura preocupação.

Um silêncio na linha surge.

Até que a ligação cai.

Meu peito está tão apertado, a garganta coça e meus olhos secos ardem quando as lágrimas decidem dar o ar da graça. Pronto, agora estou um chorão, porque além do drama com Felicity, ao ouvir a voz preocupada de Thea me vem como uma bomba a saudade que tenho de quando éramos confidentes. É uma merda quando você se dá conta que é o cara que estragou tudo no momento mais importante de uma das suas garotas.

O telefone volta a me importunar.

555. — minha voz sai como um grunhido.

Aonde você está?

Em casa.

Não saia daí!

A ligação finaliza.

Em poucos minutos as batidas na porta não cessam, eu levanto com muita preguiça para atender o que me parece ser Thea. Ao abrir a porta a encontro ao lado de Roy, os dois me olham assustados, deve ser porque pareço inchado e com os olhos avermelhados como um dos Ursinhos Carinhosos que acabou de fumar um. Minha irmã me abraça apertado colocando a cabeça no meu peito e descansando ali por alguns segundos demorados à medida em que afogo meu rosto no seu cabelo cheiroso. Roy abaixa a cabeça, encostando a mão no meu ombro e o massageando enquanto eu e Thea continuamos abraçados.

— Me desculpa. — Thea sussurra.

Speed, você não precisa se desculpar. — sussurro de volta.

— Eu não poderia ter escondido o casamento com Roy, como nos conhecemos, mas é que tudo aconteceu tão rápido!

— Relaxa, eu fui um cuzão. — dou de ombros, afastando um pouco nossos corpos — Roy é um cara bom, ele é um dos melhores. Você tem sorte.

— Somos bons. — Roy assente.

— A história do casamento só não caiu em uma boa hora! — rio baixo — Mas, depois de tudo, se o papai não se importar... Eu vou fazer questão de levá-la até o altar. Você merece alguém que te faça feliz e se Roy é esse cara, não sou eu quem vai dizer o contrário.

— Desculpa se por algum momento pareceu que você não era mais o meu cara.

— Eu não ando sendo o melhor cara. — sorrio amarelo.

— Mas você é o nosso cara. — Thea me dá o melhor sorriso.

— Eu te amo, Speed.

Thea apenas assente com a cabeça emocionada.

Nos abraçamos apertado mais uma vez.

Mas eu não consigo parar com as lágrimas. Malditos sentimentos.

— Essas lágrimas... Elas têm outro nome? — Roy pergunta tímido.

— Felicity. — murmuro baixinho.

— O quê? — Thea grita.

— Felicity! — repito.

Thea está gargalhando.

— E qual o problema? — Roy pergunta.

— Ela está jantando com outro cara. — suspiro profundamente.

— James! — Thea arregala os olhos.

— O dr. James? — Roy também arregala os olhos.

— Com essa reação estou começando a ficar preocupado.

Será que entreguei Felicity nas mãos de um psicopata?

— É que James é um cara legal. — Roy mumura — Quero dizer! Não que você não seja um cara legal... Na verdade, você também é um cara legal. Mas é que, assim, você me entendeu?

Roy está pálido.

Eu rio.

— Eu entendi, Roy. — dou tapinhas em seu ombro.

— Não tem cara mais legal que você, maninho. — Thea dá de ombros — Você só precisa aceitar que Felicity é a garota certa.

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— E se ela não for?

Qual é Oliver? De novo?

Minha consciência é a melhor.

— Não tem chances de não ser. — Roy meneia a cabeça constatando o óbvio.

— Por que você não vai atrás dela? — The espreme os olhos em minha direção.

— Eu já disse Speed, Felicity está jantando com outro cara.

— Foda-se — Thea sacoleja meus ombros — Mexa essa bunda e vai atrás dela, Ollie!

— Precisamos conversar sobre esse linguajar! — Thea revira os olhos com o meu comentário.

— Oliver Jonas Queen, você vai engolir esse choro de um babão e vai correr atrás da Felicity. Entendeu? Agora!

O olhos penetrantes de Thea me assustam um pouco.

Mas ela está certa, não vai adiantar nada continuar aqui chorando no sofá como um derrotado, eu preciso correr até Felicity e dizer tudo o que estou guardando desde que me permiti sentir essas coisas estranhas, desde quando ela decidiu se tornar a dona dos meus pensamentos mais íntimos, desde o momento em que o seu cheiro se tornou uma parte de mim.

Preciso de mais uma chance.

Preciso dela.

— É... — busco por palavras.

— Está esperando o quê? — Roy abre a porta — A chuva?

— Não seja um idiota completo e vá atrás da mulher que te faz ser um cara melhor. — Thea sorri.

— Aproveite, porque não é sempre que costumo te dar o gostinho de estar certa! — alcanço as chaves da motocicleta.

— Vou aceitar como um presente de Natal. — Thea cruza os braços com o sorriso angelical nos lábios.

O vento balança os arbustos no jardim com força, as folhas secas estão espalhadas pela grama verdinha e lá está a minha motocicleta esperando por alguns quilômetros de aventura. Ao montar sobre ela o trovão alto me assusta, mas nada consegue desfazer a minha atenção, nem mesmo o momento em que o motor da motocicleta ruge e, assim que vou liberar a embreagem, o mesmo morre.

Eu tento a segunda vez.

A terceira vez.

Nada.

— Qual é! — sussurro enquanto tento mais uma vez sair do lugar. Não acontece nada. De novo — É uma brincadeira? — indignado levando os braços para os céus que reagem com um trovão violento.

Quer saber?

Thea está certa, foda-se.

Salto da motocicleta indo em direção ao pequeno portão que me separa da rua principal, eu olhos para os dois lados buscando a melhor opção, minhas pernas começam a traçar o caminho que vai me fazer chegar mais rápido ao restaurante favorito de Felicity. Meus pulmões se enchem e esvaziam rápido à medida em que a corrida se torna mais séria, a fumaça sai da minha boca quando respiro acelerado, os meus músculos respondem irritados ao frio que bate contra mim a cada movimento, além do vento que levanta a poeira pelas ruas por onde passo. Os trovões brilham no céu e, pronto, sinto no meu ombro a primeira gota. Não, não são passarinhos que nos premiam ao nascer do dia, isso é só um aviso de que estamos próximos a um dilúvio em Starling City.

Mas eu continuo com a corrida sem olhar para trás, cada corte na estrada que minhas pernas fazem me remetem a uma lembrança de Felicity, todas com o seu sorriso radiante que me negava a aceitar que era único. A aceitação demora, ela vem com o tempo, pensei que se apaixonar era uma utopia em que as pessoas decidiam acreditar puramente para não se sentirem sozinhas. Mas não há sentimento melhor do que esse, não existe outra forma de estar tão completo, porque é dessa forma que me sinto quando estou com Felicity. Em qualquer momento, em qualquer situação, em qualquer lugar que eu estiver.

As gotas se tornam mais firmes, as roupas já estão encharcadas pela água e meus olhos embaçados, a luz dos holofotes que iluminam as ruas é a uma das únicas formas de me ajudarem a continuar correndo, mas no final da mesma rua consigo ouvir passos, há uma sombra correndo na minha direção. De longe é notável as madeixas loiras coladas no rosto sedoso de Felicity, ela está com os sapatos nas mãos e o vestido perfeito enrugado nas suas curvas. Ela para de imediato quando de longe me enxerga correndo ainda, porque eu não vou parar enquanto não conseguir estar mais perto, mesmo que a chuva queira me impedir, mesmo que as minhas pernas cansadas queiram diminuir a velocidade. A distância se torna menor, Felicity permanece paralisada parecendo não acreditar no que vê, mas agora estou tão próximo que consigo sentir o seu cheiro mesclado ao de terra molhada pela chuva, os meus pulmões soltam o resquício de ar quando de fato a alcanço.

Paramos para nos observar, ambos com a respiração ofegante.

Nós estamos molhados pela chuva, o som das batidas dos nossos corações soa mais alto do que o barulho que as gotas fazem quando batem nos telhados das casas ao redor. Minhas pernas estão vibrantes, nada que meus pés possam ignorar para chegarem mais perto, quebrando a pouca distância de antes.

— Você atingiu a minha alma, Felicity — engulo a água gélida que escorre pelos meus lábios — Atinge todos os dias. É como um projétil quente.

— Oliver...

A impeço de continuar.

— Você é a minha garota.

— Por que não disse antes?

— Porque eu nunca soube o que é estar apaixonado.

~~~

Foguete

“Me deixe sentar esse bunda em você

Te mostrar como me sinto

Me deixe tirar isso.

Você vai me assistir? Sim, apelo massivo

Não tire seus olhos. Não tire os seus olhos dissos.

Cuidado querido, se você gostar, você pode me tocar, querido.

Você quer me tocar, querido?

Agarre firme, não largue.

Me deixe saber que você está pronto.”

Foguete - Beyoncé

Nossos corpos encharcados empurram a porta do quarto, estamos rindo divertidamente à medida que Felicity arranca o vestido ensopado do corpo. A lingerie rosa bebê úmida é transparente dando cor aos vívidos mamilos túrgidos pelo frio que ao encontrá-los os fazem arrepiar. Ela dá passos lentos até meu corpo paralisado próximo à porta, estou fascinado com cada curva impecável, os pés ficam na ponta dos dedos, as mãos abraçam a minha nuca e, agora, nossos olhos voltam a se encontrarem. As pontas dos nossos narizes roçam antes que os lábios se percam um no outro, o seu cheiro é gostoso e preenche cada centímetro me deixando entorpecido.

Os lábios avermelhados de Felicity entreabrem e o impulso para me abocanhar é travado por uma das minhas mãos que segura singelamente o seu queixo macio, dando-me um grunhido malcriado.

— Eu quero te olhar... — o meu sussurro sai baixo e rouco. Desço com os olhos até as sardinhas tímidas nas superfícies das bochechas, elas são lindas mesmo que a luz do cômodo esteja um pouco baixa dando ao ambiente um ar mais íntimo. O próprio rosto de Felicity brinca com os meus dedos, ela esfrega a pele neles e no fundo da garganta ouço um ronronar, ele é baixo e extremamente fofo o que me faz abrir um largo sorriso. De vagar a puxo para mais perto, a sua boca queima quando sente o meu hálito se chocar contra ela, a cabeça meneia e a afasta um pouco para rir baixinho, mas é quando decido tocá-la e sentir novamente os nossos sabores se misturando é que volto a ouvir um ronronar mais audível, estou saboreando lentamente o lábio inferior dando fim à saudade.

— Você promete que depois disso ainda vamos continuar sendo os mesmos um para o outro? Promete que não vamos nos tornar dois estranhos? — Felicity sussurra quando afastamos nossos lábios, os seus olhos estão abertos observando com cautela cada palavra.

— Só se você permitir que eu acorde do seu lado amanhã.

— E depois de amanhã?

— Todos os dias até você enjoar de mim.

Felicity pisca duas vezes.

As mãos acertam as pontas da minha blusa molhada a levantando com deliberada lentidão, nossos olhos só se desconectam quando a ajudo a tirar o tecido úmido pela cabeça. Os dedos com unhas afiadas deslizam de volta pela extensão do meu peito que estremesse até sentí-las agarrando a fivela do cinto, as mãos brincam por ali, tarde demais para conseguir me manter afastado, porque decido engolir Felicity de pressa, os meus pés empurram a porta atrás de mim, os meus braços agarram a cintura pequena a prendendo com propriedade. Nossas línguas traçam movimentos em perfeita sintonia à medida que passos nos levam até a cama, onde Felicity cai deixando com que meu corpo pesado se encaixe no meio das suas pernas nuas.

A tensão já recobre cada pequeno espaço de mim, eu garanto de mostrar o quanto estou animado entre as pernas as suas pernas, agarrando com a mão em forma de garra a coxa que entrelaça meu torço, deixando-me brincar com movimentos vagarosos simulando investidas que mantém uma fricção quente. Um chiado de desejo escapa da boca de Felicity durante o beijo que é finalizado com uma mordida ardente no meu lábio inferior que consegue me arrancar um gemido pela ardência que logo é amenizada com a língua molhada de Felicity percorrendo pelo local intumescido.

Percorro com a boca pela pele fina do seu pescoço deixando marcas por ali, não perdendo a oportunidade de roçar a barba rala por cada extensão que a faz erguer o corpo com uma risada gostosa por cada lugar que passo. As mãos acariciando meu cabelo enquanto vou descendo cada vez mais traçando o caminho da barra da lingerie que é arrancada com facilidade, as pernas torneadas de Felicity também ganham a minha atenção com beijos demorados, mas é a sua boca que me chama quando ela volta a me puxar para a entrada receptiva entre as coxas gostosas. Agora são as suas mãos pequenas que percorrem por de baixo do meu corpo de volta à fivela, ela desfaz com rapidez, o barulho do zíper sendo aberto é inaudível devido ao barulho que nossas bocas fazem no momento em que nos afundamos um no outro. O tecido de algodão da box é invadido e o calor das suas mãos me tocando me faz urrar, porque os movimentos são maliciosos, ela explora com delicadeza o quanto estou grande me colocando para fora em sua direção molhada.

Puta que pariu.

Não existe lugar melhor do que esse.

Tudo é vibrante, parece que nos conhecemos há muito tempo.

As pernas em forma de pinça alcançam as laterais da calça jeans a abaixando de forma que minha bunda fique exposta, desta vez, os braços que entrelaçam minha nuca enquanto sugamos o oxigênio um do outro permitem que as mãos façam um carinho gostoso nos meus cabelos curtos. Os lábios ferventes se desfazem para buscar ar depois do início que nos mostra o tamanho do caos que estamos dispostos a correr em direção.

— Você bem? — está escuro demais para que possa enxergar com mais clareza os olhos azuis de Felicity que pergunta com a voz de quem busca ar depois de uma profunda apneia. As suas mãos escorregam para o meu maxilar que contraem ao toque, ali ela deixa um carinho cheio de doçura enquanto espera com ansiedade por alguma resposta.

— Um pouco acelerado.

— Se for preciso eu posso te esperar... — o sussurro é angelical. Felicity é um anjo.

Uma das mãos continua escorregando atingindo o lado esquerdo do meu peito, ela se assusta com o trepidar, os seus lábios sorriem ao encontrar a minha testa onde deixa um beijo demorado.

— Eu só quero garantir que seja a sua melhor noite. — engulo a seco.

— Já está sendo.

O meu torso toma impulso, a entrada é receptiva me deixando invadir o seu o mais íntimo, a forma como sou abraçado me faz comprimir os olhos. É visceral a forma como pegamos fogo e eu ao menos me mexi dentro dela, eu poderia ficar parado aqui dentro e já seria o melhor lugar do mundo. No entanto, as unhas afiadas cravam a minha bunda a empurrando para si, ela quer que eu me movimente, então é o que eu faço rápido, lascivamente até o seu limite, arrancando o primeiro gemido audível, estou ardendo, a cada investida eu entro em auto-combustão como a fénix, ressurgido das próprias cinzas. A força contrária de Felicity nos faz virar o jogo, agora ela está por cima arrancando o que restou das minhas roupas, ela senta sobre mim, nos encaixando de novo, os meus olhos comprimem com força quando o corpo suado decide começar cavalgadas lentas sem deixar de me olhar.

A minha boca volta a deslizar pelo pescoço o fazendo meu, as cócagas que faço arranca risadas gostosas no pé do meu ouvido enquanto Felicity se mexe com sensualidade. Com mãos desesperadas arranco a última peça de roupa que esconde os magníficos seios túrgidos que imploram pela minha boca, quando abocanho com desejo um deles a nossa fricção aumenta, torna-se mais seca e ansiosa. Mas eu dou atenção a cada um, deixando-os avermelhados, inchados e sensíveis aos meus dentes, no entanto amorteço a ardência com beijos cuidadosos que a faz suspirar alto.

— Não tire os seus olhos de mim — a voz de Felicity é um misto de rouquidão a um sussurro fascinante. Estar dentro dela, ser mantido em um calabouço diante da sua escuridão úmida é viciante, eu quero colocar como uma regra me alimentar dela todos os dias da minha vida.

— Você vai me transformar em poeira, baby!

Ela ri.

As reboladas me fazem estremecer.

— Está sentindo? — o sussurro é mortal.

— É como uma explosão.

As paredes quentes travam, me apertam com força de forma que a cabeça de Felicity caia para trás e volte com a boca entreaberta junto dos olhos azuis transparentes, ela contrai a primeira vez abraçando meus ombros com as unhas que cavam a pele com vontade. Eu a agarrao, fazendo a cintura se manter intacta me levanto ao ápice mais alto que alcancei, Felicity está me punindo cada vez que se mexe com malícia, mas o meu olhar implora para que ela continue com a bunda gostosa se esfregando, amenizando a forma trêmula como meu corpo reage quando nos encontramos em sintonia.

Molhados.

Cansados.

~~~

As nossas respirações de vagar se restabelecem, dedos suaves brincam de desenhar no meu peito nu enquanto a cabeça descansa no meu ombro. Estamos cobertos por um lençol transparente, as coxas entrelaçadas na minha cintura impedindo que eu vá a qualquer outro lugar, feito uma fechadura que teve as chaves jogadas pela janela. O cansaço é notável, meus olhos por muitas vezes pescam, é quando a loira de cabelos esvoaçantes apoia os cotovelos no meu abdômen e os seus olhinhos inchados me encontram sem pressa, ela toca os lábios na altura da minha clavícula direita depositando um singelo beijo ali.

— Então nossas próximas noites serão assim?

— Durante o revezamento com as mamadeiras de Judith pela madrugada?

Nossos narizes passeiam um pelo outro.

Felicity faz beicinho. — Eu tinha me esquecido...

— A gente pode dar um jeitinho.

— Um jeitinho? — a sobrancelha dela arqueia.

— Garanto que consigo ser melhor do que oito segundos. — seguro a risada.

Felicity gargalha.

— Com certeza você conseguiu ser melhor do que atraente. — a voz provocante de Felicity está novamente no seu timbre.

— O que é ser melhor do que atraente?

— É me fazer chegar onde nenhum cara conseguiu me levar. — Felicity ruboriza, as bochechas dela estão avermelhadas e as sardinhas queimam junto. Em movimentos rápidos ela esconde o rosto no acesso do meu pescoço, mas estamos tão interligados que logo ela volta a me olhar, a velar cada movimento que faço.

— Isso é verdade?

A encaro.

— A mais pura. — nossos lábios se encostam.

— Eu costumo mandar bem.

Me gabo.

Felicity abre a boca em “O”.

— Claro, os oito segundos de pura emoção daquela noite me mostraram bem isso. — ela zomba, enrolando o lençol pelo corpo torneado de curvas pelas quais me perco. O dourado da pele é hipnotizante e o contraste que faz quando o lençol branco passeia pelo corpo a deixa como uma pintura.

— Volta aqui... Pensei que passaríamos a noite juntos!

A minha voz sai vergonhosamente como de uma criança.

Caramba, aonde é que vou parar desse jeito?

Felicity mexe em sua bolsa parecendo procurar por alguma coisa, ela surge com um pedaço de papel. Os passos de volta são rápidos, ela mergulha sobre meu corpo prendendo as pernas ao redor do meu torso, a bunda gostosa risca meu membro que se prepara para a ativa a qualquer momento, o que me faz deixar o corpo ereto sobre a cama para abraçar a sua cintura à medida que as mãos sedosas desfazem o amassado do papel.

A loira pigarreia limpando a garganta.

Primeiro passo: sempre a faça sorrir, não importa o que você precise fazer para arrancar a risada mais incrível daqueles lábios mágicos. — a voz parece desequilibrar ao ler, mas nada que a impeça de continuar — Segundo passo: o trabalho é importante para ela, sempre procure ouvi-la.

Terceiro passo: a leve para jantar no Holt’s, ela adora se sentir alimentada.

Quarto passo: não a deixe se sentir sozinha e, nunca, em hipótese alguma, cruze a linha.

Estamos lendo os passos um de cada vez.

Suspiramos juntos.

Em sincronia.

Quinto passo: procure mostrar o quanto se dedica a Judith mesmo que precise quebrar algumas regras.

Sexto passo: a mostre todos os dias o quanto a deseja, o quanto a sua alma está marcada por ela e, não se esqueça, mergulhe de cabeça sem que o medo o faça querer recuar. — Felicity finaliza com àquela vozinha embargada de desmontar corações.

— James é um traidor. — murmuro.

— Vocês escreveu isso?

— Dean me ajudou, quero dizer, a primeira garrafa de uísque me deu certa inspiração.

— Você ainda tem medo?

Os seus olhos azuis é que estão conversando comigo.

Meu Deus, ela é linda.

Felicity é a melhor parte de mim.

— Preciso adicionar o último passo.

— E qual é?

Sétimo passo: Babaca, não deixe de cumprir o sexto passo. É uma ordem.

Nós dois acabamos em uma risada divertida.

E mais um vez iniciamos um beijo que consegue ser o melhor de todos.

Como se fosse a nossa primeira vez.